O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, abril 29, 2014

AS MULHERES...

 
 
Críticos e criticas

 
"Depois da palavra feminista ter ficado associada a imagens de mulheres a queimarem sutiãs ou a quererem ser homens e depois desta palavra se ter tornado quase como um insulto, é natural que poucas vozes se atrevam a denunciar os desequilíbrios que ainda subsistem na nossa sociedade em relação ao género; não vá, quem abra a boca a esse respeito, ser imediatamente remetida para o caldeirão daquelas que estão mal com a sua feminilidade e que invejam o pénis… Ora, assim como os homens não gostam de ser chamados de afeminados, as mulheres também temem que as descrevam de masculinas e assim, muito convenientemente e através do medo da rejeição, se demoveu o feminino dos “queixumes” e “azedumes” inconvenientes.

 
Uma vez li num artigo de um jornalista português que “os homens tinham colonizado as mulheres”. Não encontrei até hoje uma frase que tão bem resumisse o passado histórico dos dois géneros. Só que ao contrário do que aconteceu com as várias nações, a “descolonização” das mulheres ainda só foi feita em alguns países e mesmo assim, parcialmente. Se não vejamos: aqui em plena civilização ocidental, ainda restam vários vestígios do tempo em que uma metade da população se achava com direitos superiores aos da outra metade, esses vestígios povoam as mais diversas esferas da nossa vida sem que pensemos muito nisso. A cozinha e a costura por exemplo sempre foram actividades ligadas às mulheres, porém os mais famosos cozinheiros e costureiros de hoje, são do sexo masculino. O mesmo não acontece quando as mulheres “invadem” o território dos homens, elas são normalmente recebidas com desconfiança, têm que provar que praticamente têm “testículos” para serem respeitadas e mesmo assim estarão sempre na mira quanto a algum deslize.

Assim os vestígios da “colonização” estão lá e para além das áreas mais óbvias como as do poder político, religioso ou financeiro, há ainda outras áreas, aquelas que passam desapercebidas aos olhares menos atentos mas que não deixam de contribuir para “o mundo, segundo a visão masculina”. Uma dessas áreas menores, é a dos críticos de cinema, quando pego num jornal para saber a opinião sobre um filme qualquer, lá estão os 3, 4 ou 5 críticos prontos a oferecer os seus préstimos, porem, nunca por lá vi, nenhuma Maria ou Madalena.

 Enfim a linguagem também não ajuda e tal como a palavra Homem engloba o mulherio todo mas a palavra Mulher não engloba ninguém com testosterona, também a palavra crítico é capaz de lá ter dentro alguma mulher ou outra… O que é certo é que as mulheres vêem filmes feitos (na sua grande generalidade) por homens, criticados por homens e ás vezes onde só entram homens, como nos mais variados filmes bélicos. E nós lá andamos “felizes e contentes” porque afinal de contas, o que é que isso interessa? Até há mulheres com uma cabeça de homem e vice-versa. Não sei se sou só eu, mas que há diferenças entre estar no mundo como homem ou como mulher, há e seria bom conhecermos o ponto de vista da outra metade da população ou não?

 Haveria muito mais a falar sobre o assunto mas para acabar, deixo um desafio ao jornalista Miguel Sousa Tavares, que num dia de especial inspiração, defendia que deveria haver cotas para as entradas nas universidades, para que estas não fossem dominadas pelas mulheres. Já agora, para sermos justos, gostaria que ele se lembrasse também das cotas para críticos da 7ª arte, realizadores de cinema e porque não, para o desporto mais aclamado, o futebol."

Maria Ana krupenski, Janeiro de 2014

sábado, abril 26, 2014

A ilusão das mulheres patristas...


"Acabo de ler um livro muito importante para minha formação diânica: Wildfire, de Sonia Johnson. Apesar de tê-lo achado muito agressivo, como nas partes em que ela fala que todos os nossos filhos, homens, são monstros e em outra em que ela diz que aids é doença de homossexual – ok, esse livro foi escrito na década de 1980 (rs) –, creio que é um livro muito inspirador, já que a idéia central dele é “fingirmos” que o patriarcado não existe para tentarmos criar uma realidade nova e diferente para as mulheres.

(...)
Lutamos para que as mulheres tenham direitos, no entanto não paramos para pensar que o sistema legal foi feito para manter o patriarcalismo intacto, já que as leis são feitas por homens. (Apesar de eu não votar, acredito que aqui se justifique a intenção de colocar mais mulheres na política. Aliás, numa pequenina nota de rodapé, Sonia diz que “se o voto mudasse alguma coisa, ele seria ilegal”.)
Johnson diz que o sistema tirânico que existe, de dominação das mulheres por parte dos homens, é um acordo, e que ambas as partes seguem-no “com dedicação”. Sendo assim, só conseguiremos ser livres no momento em que nós mesmas nos libertarmos.
A solução, segundo a autora, é: precisamos nos comportar como se o patriarcado não mais existisse agora, pois um dos crimes mais cruéis deste foi nos ensinar a projetar nossos pensamentos no futuro, em algo que ainda não existe. O futuro só será como queremos se agirmos como queremos que ele seja AGORA.
Uma das questões discutidas no livro, para a qual eu nunca havia tido uma resposta até agora, é o fato de algumas mulheres apanharem dos maridos e ainda assim não os abandonarem. Sei que há uma questão financeira atrás desse fato, na maioria das vezes, mas nunca entendi bem a questão psicológica, que semprei achei que existia. Ela explica que esse homem isola a mulher, para que ela só possa perceber a perspectiva dele e, quando ela sofre, mesmo que esse mesmo homem bata nela, como ela não tem nenhum outro de relacionamento para apoiá-la, como vítima, ela se agarra ao aspecto apoiador e positivo do marido.
Um outro mito interessante que a autora tenta desfazer é o da igualdade. Lutamos tanto por ela, mas toda igualdade requer comparação primeiro, e a comparação significa colocar-se diante de padrões externos, feitos por outras pessoas. Na opinião da autora, o conceito de igualdade é profundamente patriarcal e só é possível para mentes “dualísticas”.
Todos reconhecem que a mulher, atualmente, desempenha diversas tarefas, como a de mãe, profissional e amante. Esquecemo-nos, porém, que esse auto-sacrifício nos foi também imposto pelo patriarcado. Matar-se de trabalhar para ganhar dinheiro ou se matar para cuidar dos outros não são atos tão inocentes assim. A falta de tempo de que todos andamos reclamando tanto tem seu motivo, mesmo que oculto, de ser: manter todos aprisionados ao sistema patriarcal.
Precisamos parar de nos comportar como homens e aceitar que somos diferentes. Precisamos deixar de lado a culpa que o patriarcado colocou por sobre as mães. Precisamos começar a ouvir nossas próprias vozes novamente. O poder está dentro de nós. Só nós mesmas podemos mudar o mundo. Se não começarmos a nos levar a sério, ninguém o fará."

Danielle Sales

sexta-feira, abril 25, 2014

O 25 DE ABRIL TROUXE O QUÊ ÀS MULHERES?


NADA RESOLVEU O PROBLEMA DA IDENTIDADE DA MULHER...porque a revolução da mulher é outra...começa nela mesma...é a sua verdadeira identidade!

“A revolta da mulher é a que leva à convulsão em todos os estratos sociais; nada fica de pé, nem relações de classe, nem de grupo, nem individuais, toda a repressão terá de ser desenraizada.(...)Tudo terá de ser novo. E ("PORQUE") o problema da mulher no meio disto, não é o de perder ou ganhar, mas é o da sua identidade.”*

AINDA O SONHO DE ABRIL...?

HÁ ainda o sonho para alguns  mas eu vivi-o muito antes do 25 de Abril...
Muitos anos antes...e lembro-me desde criança do medo e do silêncio...E CRESCIA nesse impossível que era dizer o que se sentia ou pensava em voz alta...Sim, lembro-me do medo...da tensão e da perseguição e do pavor dos outros...de ninguém confiar em ninguém, no amigo ou no vizinho não fosse ele da PIDE...e sim, um dia uma amiga disse-me para eu ter cuidado porque o primo que era da PIDE lhe tinha dito que eu já tinha lá ficha e que eles me seguiam...e para ela não andar comigo...que podia também ser presa e torturada...
 
Não, isto não é um mau filme de ficção...eu ainda tenho medo quando escrevo fora do padrão...e sinto agora no ar a crescer o mesmo medo e a mesma sombra de uma prisão...
 
A diferença  hoje é que já não sonho...com nenhum 25 de Abril, porque já vi que, como tudo na vida,  dá a volta e volta sempre tudo ao mesmo...porque o círculo das "revoluções" sem evolução individual, sem consciência humana, nem uma mudança efectiva dos indivíduos é vicioso...e  são precisamente os filhos de Abril, a geração que nada sofreu e teve tudo e que nada sabe da vida, que são os fascistas de hoje, os imberbes e os "retornados", os filhos dos pobres e remediados, os  filhos dos intelectuais, dos burgueses,  etc. que estão no Governo e na Assembleia e destroem tudo o que utopicamente se construiu  mal ou bem  nestes 40 anos e  era suposto já não serem anos de "escravidão" ao trabalho, mas  são-no  agora mais do que nunca do dinheiro da carro e à casa, às prestações ao banco e... nem nos vale já a liberdade de dizer ou gritar por verdade e justiça porque por  mais que se diga e fale "livremente"  ficaram apenas as teorias e as leis no papel...Todos pensam que mudou o Regime e o País...mas está tudo na mesma ou pior...Aquilo que nos iludiu durante estes anos, o dinheiro que nos emprestaram os estrangeiros,  e a mania das grandezas, agora cobram-nos com juros de morte e fome...apossam-se do País e tiram-nos toda a autonomia...
 

Mas mais gritante ainda para mim é em relação à mulher, em que o abuso sexual, psicológico e físico é o mesmo ou pior...a violência doméstica não diminuiu, bem pelo contrário, o feminicídio (morte de mulheres por serem mulheres) cresceu e o uso da imagem e do corpo das mulheres pelos Mídea e as publicidades associadas à pornografia (sem censura nem moral)  na televisão e no  cinema em nada mudou, e se mudou foi bem para muito pior...
Como foi hoje dito à Lusa pela constitucionalista e deputada do PS Isabel Moreira.: "As mulheres foram absolutamente espezinhadas durante o fascismo. Sobretudo, devido a uma determinada moral e nessa determinada moral a mulher era um acessório, uma dona de casa, precisava de autorização do marido para sair do país, o marido podia, se a mulher tivesse emprego, ir ao emprego e resolver o contrato de trabalho da mulher sem autorização dela"; Corria o Ano Internacional da Mulher, quando, em 1975, é revogado o artigo 372.º do Código Penal, pondo fim às atenuantes especiais para o crime de homicídio cometido pelo marido contra a esposa adúltera, um artigo que "conferia um verdadeiro 'direito de matar'", sublinha Teresa Anjinho.
O divórcio é permitido ainda em 1975, com a reforma da Concordata, o acordo entre Portugal e o Vaticano."

*
Sim, tudo isto é verdade e  e  não quero negar as leis e o progresso que de algum modo aconteceu em relação às mulheres ao nível social e político etc.... mas não houve uma consciência que permitisse uma verdadeira evolução e coerência de princípio com as leis e as novas ideias... 
Se virmos bem a outros níveis  esta nova "liberdade" e igualdade das  mulheres levou que a nível sexual, não havendo nem censura nem moral, que sendo baixa e falsa não deixava porém a sua proliferação...Não, não digo que era  um bem, que era melhor antes...ou que devia continuar como antigamente! Não, mas agora esta pseudo liberdade da mulher é também uma nova escravidão, uma nova forma liberal... de se vender sexo de todas as maneiras...sempre contra a integridade da mulher. Não, não pensem, o 25 de Abril não trouxe nem igualdade nem liberdade e menos ainda DIGNIDADE À MULHER...como a não trouxe a Revolução Francesa há séculos...

Parece que a história das mulher não muda...só a aparência e a moda...
E nada mudará no mundo enquanto a Mulher não  encontrar a sua verdadeira identidade. Só isso mudará a face da Terra. E não se trata de voltar à imagem da antiga mulher doméstica e mãe...fiel ao marido...ou da prostituta ostracizada...mas resgatar  uma mulher INTEIRA, consciente de si e da sua totalidade como Mulher, seja ela Esposa ou Mãe solteira,  Amante ou celibatária, seja ela profissional ou dona de casa...

"Tudo terá de ser novo. E ("PORQUE") o problema da mulher no meio disto, não é o de perder ou ganhar, mas é o da sua identidade.”*
 

Olhar isto dói, se dói...

A verdade é que com os tempos - na era industrial - se perderam as Damas, as  Musas, as grandes mulheres  e os grandes poetas...
O mundo moderno perdeu a grande poesia e a Mulher perdeu toda a sua dignidade e o encanto, ela perdeu-se no mundo só dos homens... quis ser "igual"...e tornou-se uma mulher objecto...uma mulher abjecta na maior parte das vezes...essa foi a sua "conquista" na luta por uma justiça... que nunca veio!
Agora ela não vai mais... "Descalça para... a fonte nem pela verdura; não vai mais fermosa, e não segura. Nem "Leva na cabeça o pote, O testo nas mãos de prata, Cinta de fina escarlata, Sainho de..." Não, ela agora vai à guerra e é polícia e política...aprendeu que não bastava só dar a vida, mas a matar...a mentir e a trair...
Hoje ela é tão igual aos homens, que já não há mulher interior nem poetas nem musas nem nenhuma beleza à superfície da Terra...toda ela cristãmente invadida e destruída pela ganância do predador Homem. Vivemos num mundo de violência, obsceno e pornográfico, vazio de ideais e de nobreza...Tudo se consome e tudo se vende - o corpo e a alma... aluga-se o ventre da mãe e transplanta-se o coração, vendem-se crianças...a própria vida e os órgãos...e chama-se a isto "liberdade", "ciência" e "evolução"...

rlp

 

*Do livro Novas Cartas Portuguesas, Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta, 1972

quarta-feira, abril 23, 2014

“COMO A MULHER NUNCA AMADA




 ...SE TRANSFORMA EM PARCA QUE CORTA A VIDA DOS HOMENS”



"O amor quando não é aceite, transforma-se em nemésis, em justiça, é necessidade implacável a que não é possível escapar. Como a mulher nunca adorada se transforma em parca que corta a vida dos homens. E assim é a retirada do divino, sob a forma do amor humano, que nos mantém condenados, encerrados neste cárcere da fatalidade histórica, de uma história transformada em pesadelo do eterno retorno.
A ...
ausência do amor não consiste, efectivamente, no facto de não aparecer em episódios, em paixões, mas no seu confinamento nesses limites estritos da paixão individual desqualificada em facto, acontecimento raro. E então acontece que até a paixão individual - pessoal - fica também confinada a uma forma trágica, porque submetida à justiça. O amor vive e respira, mas submetido a processo perante uma justiça que é fatalidade implacável, ausência de liberdade; o amor está a ser julgado por uma consciência em que não há lugar para ele, perante uma razão que se lhe negou. E assim fica como que enterrado vivo, com vida, mas ineficaz, sem força criadora.
(...)
Maria Zambrano
Para uma História do Amor

segunda-feira, abril 21, 2014

COMO ERA ANTES DO 25 DE ABRIL...



UM TESTEMUNHO VIVO DE ANTES DO 25 DE ABRIL...


UMA MULHER CONSCIENTE

Aos dezassete anos fui intoxicada com gás na casa de banho. Lembro-me de todos os pormenores. A lentidão dos movimentos, como se estivesse em câmara lenta, os meus pais por detrás da porta a comentarem que eu nunca mais saía do banho. E eu pensei,"tenho que sair daqui...". Puxei a toalha e esta caíu-me na banheira. Pesava toneladas. Desisti, levantei a perna direita e mergulhei no nada. Contaram-me dps que o meu Pai enlouquecido partiu os vidros fuscos da janela da porta e em vez de a arrombar entrou por ali. Estranhamente, sendo de alta estatura não se sabe com coube ali e não se cortou(???) Mas ao ser arrastada fiquei com alguns vidros nos joelhos. Coisa pouca. O meu Pai fez-me a respiração boca-boca. A minha Mãe gritava e batia com a cabeça nas paredes. Felizmente tinhamos uma vizinha enfermeira e outra extremamente corpolenta, a qual sob ordens da primeira, ia me enterrando os joelhos no estômago, fazendo pressão. Acordei com o médico que me ajudou a nascer e me acompanhou dia e noite qdo julgavam que eu era um bebé mais para a morte do que para a vida. Eu vi a minha vida em perspectiva. Igreja Católica, Igreja Envangélica Baptista, ateísmo, a absurdidez da DESorganização social, os livros proibidos, as condescendências, nomeadamente dos padres qdo aos 14 anos fui a uma mesa redonda falar s/os adolescente e jovens, das ameaças, após ter organizado uma greve laboral, as colegas a desviarem-se de mim pq tinha um tio exilado e tinha tido o meu Pai julgado sumariamente com dois elementos do PCP, então na clandestinidade, com o espectro da polícia política ao deitar e levantar, a morte era também uma via de acesso à liberdade...Tudo era doce e suave, eu deslizava(não esqueçamos que estava gaseada) já que esta vinha ao meu encontro eu deixava-me embalar... Suavidade, suavidade... E foi nesse momento que esse médico incansável, disponível a qq hora do dia ou da noite, Dr Laborinho, gritou angustiado: "estamos a perder a miúda!!!". Tive pena das noites dele perdidas a tratar de mim e fiz o caminho de regresso.
António Nobre disse no seu livro, "Só", "só tem medo da morte quem não conhece a própria vida". No Portugal cinzentão onde as mulheres estavam completamente sualternizadas não era fácil ser mulher com consciência. Era muito perigoso destoar. Resta-me ainda acrescentar que ao regressar senti-me aterrar dentro do meu próprio corpo. Como se houvesse caído, dentro de mim mesma, numa queda aparatosa.
Peço desculpa pelos erros. Mas não fui capaz de reler todo o comentário. A visibilidade parcial também não ajudou. Ainda gostaria de acrescentar que um destes padres era bem progressista. E logo ali me disseram que gostaram mto de me ouvir, mas que não podia falar assim em público. Foram contactar o meu avô materno para lhe dizerem que era mto novinha, mas mesmo assim poderia ser detida. O meu avô já tinha tido o genro preso, a filha vítima da polícia que carregou nela quando se precipitou para a viatura sinistra que transportava o meu Pai como um Cristo, martirizado pela tortura, com as ligaduras ensanguentadas envolvendo-lhe a cabeça (também nos trouxeram a camisa branca em tiras com sangue seco para nós vermos. Uma criança não esquece), um filho duas vezes fugido à PIDE... O meu avô respeitava-me mto e teve orgulho, apesar do medo por mim.

Desculpe este meu desabafo tão longo na sua postagem, Rosa Leonor, são estórias comuns de um passado bem recente, que pode voltar se não formos suficientemente firmes e vigilantes. Mais uma vez peço desculpa, mas uma vez aberta a cx do registo das atrocidades é quase impossível parar. E o meu Pai nem era activista, mas apenas um homem justo que nascendo filho de um patrão, e trabalhando a seu lado, não conseguia suportar que os empregados trabalhassem e não tivessem pão. Há patrões e patrões. Mas a fome é concreta e doi no estômago de quem a sente.

Rosa Leonor, estou arrepiada, emocionada!... E lamento não estar com tempo para nada. Venho aqui de fugida, e tudo me é ainda mto doloroso. Até que o meu Pai me foi literalmente arrancado da mão numa tarde de Domingo. OBRIGADA por ter lutado para que todas nós pudessemos votar. Foi duro ver, sobretudo as mulheres, trocarem a cidadania por um dia de praia. Mesmo quando se tratou de democracia directa. Terei mto prazer em que me publique, mas neste momento não estou com possibilidade. O sofrimento de tantos não pode ser em vão, devorado pelo embrutecimento induzido pelo capitalismo selvagem. Abraço fraterno!

Antígona Becca Salles Casalinho

DOM JUAN: O ÓDIO AS MULHERES DISFARÇADO DE AMOR...


DOM JUAN

O QUE O MOVE: "a agressão, o ódio e o desejo de humilhar e punir as mulheres – não os impulsos sexuais."


"Centrando numa das figuras românticas mais famosas da literatura e da ópera, o impetuoso sedutor Don Juan, a análise sociopsicológica de Winter baseia-se largamente no estudo da frequência de certos temas em documentos literários. Winter observa que, apesar da obrigatória condenação das acções de Don Juan como “perversas” e “malditas”, ele é de facto idealizado como “o mai...or sedutor de Espanha”. Assinala também que os motivos subjacentes de Don Juan são a agressão, o ódio e o desejo de humilhar e punir as mulheres – não os impulsos sexuais. Nota ainda algo de profunda importância psicológica e histórica: as atitudes extremamente hostis para com as mulheres são características de épocas em que as mulheres sofrem a máxima repressão por parte dos homens.
O caso clássico relevante que cita é o da Espanha onde emergiu a lenda de Don Juan, quando os espanhóis das classes superiores haviam adoptado o “costume mourisco de manter as mulheres em isolamento”. A razão psicológica por detrás desta hostilidade acrescida, explica Winter, é o relacionamento mãe-filho tornar-se particularmente tenso em períodos assim – a par da generalidade das relações feminino-masculino.
Contextualmente, torna-se evidente que a “motivação de poder” de Winter é, na nossa terminologia, a pulsão androcrática para conquistar e dominar outros seres humanos. Tendo estabelecido ser o rebaixamento das mulheres por parte de Don Juan uma manifestação desta “motivação de poder”, Winter tabula então a frequência das histórias sobre Don Juan na literatura de uma nação relativamente aos períodos de expansão imperial e de guerra. O que documentam as suas descobertas é aquilo que nós prediríamos socorrendo-nos do modelo de alternância gilânico-androcrático: historicamente, as estórias do mais famoso arquétipo de dominação masculina sobre as mulheres aumentam de frequência antes e durante os períodos de militarismo e imperialismo exacerbados.”


in O Cálice e a Espada, Riane Eisler, Via Óptima
Roubado a Luiza Frazao - A deusa no coração da mulher

sexta-feira, abril 18, 2014

O EQUILÍBRIO...



Alguém me disse há dias: "nunca vi mulher tão doce e tão irada" e eu fiquei a pensar...e respondi: a integração dos opostos dá na excelência dos extremos...não na sua supressão.

Compreender isto é essencial ao equilíbrio da psique no percurso interior no caminho da individuação...

 rlp

A contradição homem-mulher a partir da negação do corpo da mulher...



A MULHER MODERNA: É "Esta negação de si mesma (que) esta interiorizada em níveis tão profundos"...da sua psique...


“É necessário reconstruir a contradição homem-mulher a partir da negação do corpo da mulher, e portanto aquilo que na Psicanálise tradicional aparece como enfermidade, neurose, desadaptação, etc. converte-se numa contradição material.
 A mulher encontra-se desde o princípio sem uma forma própria de existir, como se o existir da mulher já se encontrasse numa forma de existência (mulher, mãe, filha, etc.) que a negam enquanto mulher. Ser mãe significa existir e usar o corpo em função do homem, e por isso uma vez mais carecer de sentido e de valor do próprio corpo e da própria existência a todos os níveis. 

Esta negação de si mesma esta interiorizada em níveis tão profundos que é como se as mulheres, ao longo de toda a sua história, não tivessem feito mais do que repetir esta história de autodestruição. Por consequência, o discurso sobre a violência masculina, sobre o vexame, a dominação, sobre os privilégios, etc. continuará sendo um discurso abstracto se não tivermos em conta o aspecto interiorizado desta mesma violência, a violência como auto-negação, negação duma existência própria. A negação de si mesma é posta em marcha a partir do nascimento, a partir da primeira relação com a mãe, onde esta já não se encontra presente como mulher com o seu corpo de mulher, estando ali como mulher do homem e para o homem. (…)


O facto da menina viver a relação com a pessoa do seu sexo apenas através do homem, com essa espécie de filtro que existe entre ela e a mãe, é a razão mais profunda da divisão que encontramos entre uma mulher e outra mulher; nós as mulheres estamos divididas na nossa história desde sempre, não apenas porque cada uma de nós está unida socialmente ao marido, às e aos filh@s – este é apenas o aspecto visível da separação – a divisão dá-se a um nível mais profundo, ao não conseguirmos olhar-nos uma à outra, ao não sermos capazes de contemplar o nosso corpo sem termos sempre presente o olhar do homem. (…)

Num artigo em “L’Erba Voglio”… insistia na relação interrompida com a mãe, ou no mínimo deformada desde o começo precisamente porque a mãe não é a mulher, apenas “a mãe”, ou seja, a mulher do homem. Do facto de que a mulher não encontra na relação com a mãe o reconhecimento da sua própria sexualidade, do seu próprio corpo, procede depois toda a história sucessiva da relação com o homem como relação onde a negação de tudo aquilo que tu és, da tua sexualidade, da tua forma de vida, já se produziu.”

Lea Melandri, La Infamia Originaria (excertos),
 citada por Cacilda Rodrigañez Bustos em El Assalto al Hades

Copiado por Luiza Frazão
 

terça-feira, abril 15, 2014

A REPRESSÃO DO FEMININO



A REPRESSÃO DO FEMININO gerou filhas desenraizadas...gerou mulheres desnaturadas...gerou mulheres  infantis e fracas...gerou mulheres metades...gerou prostitutas e donas de casa...mulheres objectos, mulheres machos, mulheres sem identidade...histéricas, neuróticas, frustradas...



“Pela repressão a alegria do feminino foi rebaixada como mera frivolidade; a sua sensualidade expressa foi diminuída como coisa de prostituta, ou então ridicularizada pela seu sentimentalismo ou reduzida exclusivamente a instinto maternal; a vitalidade da mulher foi submetida ao peso das obrigações e da obediência. Foi essa desvalorização que gerou filhas desenraizadas e subterrâneas do patriarcalismo, separando a força feminina da paixão, tornando-a imagem dos seus sonhos e ideais de um céu inatingível mantidos pomposamente por um espírito que soa a falso quando comparado com os padrões instintivos simbolizados pela rainha do céu e da terra”.*

( *Jean Markale)

domingo, abril 13, 2014

GATOS...do meu coração


EU E A LILITH...



Hoje uma amiga pediu-me para lhe dizer o que é que eu achava dos gatos...eis o que lhe respondi...


Os gatos são pura magia quando nos ligamos a eles pelo respeito e pelo afecto e pela ternura à sua existência natural isto é se não traírmos a sua confiança e os deixamos ser livres e conduzirem os seus passos. Mais limpos e higiénicos não há outros seres nem mesmo os humanos; são impecáveis e magistrais, caminham sobre as coisas sem as tocar (caso não os assustemos com os nossos medos...) quando pulam para cima de um móvel ou estante, são claro muito curiosos, mas não precisam de ser controlados...eles sabem bem como sair dos apertos...e das situações difíceis...tem o instinto por excelência.
Eles não só comunicam connosco de muitas maneiras como transmitem algo de muito profundo e subtil que não é qualquer pessoa que pode entender ou sentir o que eles são de facto. Temos de entrar em sintonia e no seu mundo...não temos nada a perder, só a ganhar. Não é difícil porque se não resistirmos eles seduzem-nos como ninguém...eles cativam-nos com a beleza e a elegância e a doçura mais incrível que lhes é própria...
Sinto que eles são uma espécie de anjos na terra, acredite...que além de limpar as energias negativas eles nos dão um amor incondicional que os humanos são incapazes e mais incapazes quanto mais apregoam isso. O gato é um ser especial em todos os sentido...diria que perfeito...eles têm a maitrise que falta ao ser humano. Li algures e em tempos que todas as mulheres sobretudo a partir de uma certa idade deviam ter um gato...
Eles suportam a solidão como ninguém e são muito independentes, há que ter isso em conta...não somos nós que temos de os agarrar e por ao colo...eles vem quando e como eles quiserem...essencial não os chatear nem cobrar nada...
Eles são em suma uma grande lição de vida e de sabedoria se nós formos sensíveis e quisermos ser seus discípulos/as...neste caso temos o privilegiado de sermos mulheres...e de eles serem o nosso melhor espelho...eles reflectem o mais profundo da nossa feminilidade, por isso muitos homens os detestam e muitas mulheres têm medos de gatos, como tem medo da sua feminilidade instintiva e mal integrada...

Mulheres que não gostam de gatos têm grandes problemas com a sua sensualidade...
Hoje minha amiga eu não saberia viver sem a minha gata e antes desta tive um gato preto majestoso e por vezes hoje em dia tudo o que mais desejo e quero e desfruto como quase divina...é a sua companhia em paz e serenidade - qualidades que são apanágio desses seres únicos, tão mal compreendidos pela plebe neste mundo...os gatos são aristocratas...puros...nunca houve outra aristocracia a não ser a dos deuses e dos anjos, mas esses não convivem connosco no mesmo plano nem na Terra...aproveite a oportunidade se a vida lhe der de HAVER um gato a escolhê-la para ser seu dono ou dona...saiba merecer essa dádiva...

rosaleonorpedro

sexta-feira, abril 11, 2014

RAIZES NA TERRA


...E como as árvores que nos dão sombra e sorvem a luz a Mulher terá de novo as suas raízes bem fundas na Terra e o corpo erguido para o céu...
Não será mais a mulher subjugada à maternidade e ao sexo, vendida, escravizada, violada, abusada no mundo inteiro...a mulher reduzida a um verbo de encher...(rlp)
E ... ...

"Para que isso aconteça, a mulher terá de estar plenamente consciente e preparada para enfrentar os focos de resistência. A sociedade está ainda muito estereotipada e muralhada para não deixar a mulher entrar. Há um brilho especial na mulher que amedronta e coloca o homem em sentinela para lhe ceifar as raízes do seu crescimento. Mais do que consciente, a mulher terá de envergar a armadura e apontar a lança para destruir esses alvos de resistência. As enfermidades psicológicas desta sociedade só terão cura, quando a mulher resgatar a função arcaica de curandeira. Somos o depósito da água lustral que nos permite renascer, como a serpente, só temos de deixar sair a pele morta, que nos adoece e nos atrasa na caminhada da libertação."*
 

* Cristina Valquíria Valhalladur Aguiar - autora d' As Mascaras da Grande Deusa

AS "DUAS" MULHERES NA MULHER...



"SANGUE BOM..."


Há mulheres que têm dificuldade em perceber a cisão em si das "duas" mulheres...outras julgam que isso já não se vive, que já são livres e emancipadas desses estereótipos...no entanto, como por acaso, tenho-me deparado com cenas de uma telenovela, curiosamente com uma personagem feminina (uma atriz conhecida, Marisa Orth ) que vive uma dupla personalidade muito bem caracterizada em que assume ora uma ora "a outra" ou seja, a sua puta ou a sua santa em perfeita alternância...e divide-se tão bem nas suas duas personagens,  que reflectem perfeitamente  assim essa divisão interior que a mulher comum vive no seu interior e aqui também no exterior ...e ao mesmo tempo está consciente de que as duas fazem parte dela e luta assim por as "aceitar" ou integrar, sem saber bem qual das duas ser ou viver...isto é...penso que ela luta para ser mais "a puta"...como se isso fosse a "integração" das duas, ou a superação dessa cisão interior,  tal como muitas mulheres hoje em dia fazem e pensam, mas isso não é senão inverter os estereótipos...porque o que está em causa é a mulher não ser uma nem a outra, mas una...integrada, sem divisão interior ou exterior, consciente da sua natureza sensual ou sexual e ao mesmo tempo poder ser a mulher séria e terna, mãe ou não de família...em simultâneo!
De facto é interessante ver a caracterização da personagem enquanto uma é, católica e cheia de preconceitos, discreta e querendo castrar a sua sexualidade e quando é a "outra" completamente debochada, provocante e sem qualquer moral...

Mesmo na rua podemos ver como nos traços das personagens que as mulheres encarnam é evidente essa dualidade na oposição do corpo e nos gestos e na roupa...Como nas fotos de algumas mulheres e nas suas poses também é fácil ver o estereótipo da prostituta ou da mulher sensual "fácil" (ordinária)  como  da mulher que tem pruridos e é muito séria, discreta pela forma como se vestem. Por isso não entendo como é que as mulheres não entendem que estão DIVIDIDAS DENTRO DE SI MESMAS em dois estereótipos básicos e não aceitam essa evidência à vista desarmada!
Sinceramente não entendo!
 
RLP

segunda-feira, abril 07, 2014

UMA ATITUDE DEPRECIATIVA...


 
A MULHER QUE OS HOMENS NÃO RESPEITAM...

FICO francamente consternada quando "amigos" meus do face...homens que supostamente têm MÃE, filhas e mulher e que dizem respeitar MUITO, depois publicam imagens degradantes da mulher com comentário jocosos e abusivos...às vezes mesmo muito ordinários...

Isso pode compreender-se a luz da divisão secular da mulher...eles resguardam as "esposas" sérias e honestas, mas depois as "outras"...eles podem degradar ou aviltar com imagens de exploração do seu corpo exposto...pois...essas "outras" não merecem respeito...

NÃO SÃO SUAS MULHERES NEM FILHAS?

RLP
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UMA ATITUDE DEPRECIATIVA...
 
“A atitude depreciativa que muitos homens têm em relação às mulheres é uma tentativa inconsciente de controlar uma situação em que ele se sente em desvantagem; muitas vezes ele procura eliminar o poder da mulher, induzindo-a a agir como mãe. Dessa maneira ele é liberto em grande escala do seu medo, pois na relação com a sua mãe quase todo o homem experimentou o aspecto positivo do amor da mulher. Mesmo assim não está totalmente livre de apreensão, porque ao fazer com a que a mulher seja mãe dele, ao mesmo tempo torna-se criança e está portanto, em perigo de cair na sua própria infantilidade. Se isso acontece ele pode ser dominado por sua própria fraqueza, e uma vez mais deixa a mulher o poder da situação. Consequentemente, a maioria dos homens aproxima-se de uma mulher com medo, não obstante seja um medo inconsciente, ou com a hostilidade nascida do medo ou, talvez, com uma atitude dominadora, para arrebata-la de um golpe. “ *
 
*In OS MISTÉRIOS DA MULHER - de M. ESTHER HARDING 

 
 
O ATAQUE CONTÍNUO ÁS MULHERES ATRAVÉS DOS MIDEA E NO FACEBOOK... em que o machismo de esquerda também é bem visível...

Circulam imensas imagens abusivas e fotos degradantes de mulheres nuas ou quase, com anedotas e sempre de forma pejorativa da par...te de homens que se julgam honestos e íntegros? Depois, homens supostamente inteligentes e responsáveis comentam de forma insidiosa e brejeira as mesmas - esta dissociação é perversa e NEURÓTICA...

 
NÃO ESQUEÇAMOS:
 
QUE "Á força de rejeitar o que a Feminilidade traz como solução à angústia do homem, cria-se em todo o caso uma humanidade perfeitamente neurótica.(...)
Com efeito, o homem primitivo invejava à Mulher o seu mistério, a sua ambiguidade fundamental, o seu poder de dar a vida, o homem moderno porém esqueceu, pela sua educação completamente masculinizada, este desejo metafísico da Mulher Divina. Esse desejo encontra-se no estado inconsciente em todos os indivíduos. Os poetas e os artistas os traduzem nas suas obras, os outros nos seus comportamentos aparentemente inexplicáveis ou simplesmente aberrantes como é o caso da imitação fisiológica e do fetichismo do vestuário.(...)
O padre que oficia nos seus trajes de cerimónia, todos de origem feminina, e o travesti, castrado ou não, obedecem a um mesmo desejo. Destapar uma ponta do véu, descobrir o famoso véu de Ìsis. (...)
 
In LA FEMME CELTE - de Jean Markale 

ONDE LEVA O MEDO DAS MULHERES

 
 
A AGRESSÃO VERBAL E MEDIÁTICA ÀS MULHERES
OU O SEU DESPREZO INCLUINDO NO FACEBOOK, NÃO É SENÃO O MEDO ANTIGO DAS MULHERES:

“O medo das mulheres, ou ginofobia, é um mal bem conhecido que remonta de muito longe na história da criação. Deus, diz-se..., criou o homem à sua imagem. Mas seguramente não a mulher. Senão, ele não seria obrigado a renovar tantas vezes essa tentativa, criando tantos modelos de mulheres aberrantes, a acreditarmos nos múltiplos contos, lendas, mitos, midrashim e haggadah que, entre outros, nos transmitiram os Hebreus.” *

O que explica ainda que nos nossos dias a maior parte das aberrações sexuais do homem, assim como a sua misoginia, ou mesmo a violência doméstico seja baseada no flagrante exemplo das religiões que retiraram à Mulher toda a sua dimensão ontológica, como no caso da igreja católica, que retirou o poder a Maria Madalena, como discípula de referência e talvez  amante, para a transformar em “pecadora” substituindo-a unicamente pela Imagem da Virgem Mãe e da Deusa imaculada.
Daí termos uma humanidade infantilizada e uma mulher amputada de metade de si própria! Daí a agressão verbal contínua dos fanáticos e fundamentalistas a qualquer expressão diferente da liberdade da mulher na afirmação do seu ser original, até às mais leves e jocosas anedotas sobre as mulheres no mundo virtual!
É o medo das mulheres e do seu potencial reprimido que mesmo assim os assusta e faz atacar e destruir as mulheres por actos de violência gratuita ou pelo domínio económico, carros, jóias, etc. no caso dos mais ricos e moderados. Os mais pobres, limitam-se a bater nas mulheres ou a usar as prostitutas...a quem podem fazer tudo e pagar...ou não, porque afinal a mulher moderna   dos nossos dias, vai para a cama com quem quer e já nem precisa de ser paga.... é simplesmente usada...e deitada fora...mas ela oferece-se voluntária na busca do homem e do sapo que toma por um príncipe encantado...
rlp

*In LA DÉESSE SAUVAGE
de Joelle de Gavelaine 

sábado, abril 05, 2014

A PELE DA ALMA...



COMO PODEMOS PERDER
A PELE DA ALMA...


"Muitas e muitas vezes perdemos a sensação de estarmos inteiras dentro da nossa própria pele em decorrência de fatos já mencionados bem como de longos períodos de coação. Quem trabalha com grande esforço sem descanso também corre esse risco. A pele da alma desaparece quando não prestamos atenção ao que realmente estamos fazendo e, especialmente, ao custo disso para nós. Perdemos a pele da alma quando ficamos muito envolvidas com o ego, quando nos tornamos por demais exigentes, perfeccionistas, quando nos martirizamos desnecessariamente, somos dominadas por uma ambição cega ou quando nos sentimos insatisfeitas — com o próprio self, com a família, a comunidade, a cultura, o mundo — e não fazemos nem dizemos nada a respeito disso; também quando fingimos ser uma fonte ilimitada para os outros quando não fazemos o possível para nos ajudar. Ora, existem tantos modos para se perder a pele da alma quantas são as mulheres do mundo. "


 CLARISSA pinkola estes

UM ALMA FAMINTA




RESGATAR O PODER DA NOSSA ALMA...


" Uma alma faminta pode ficar tão cheia de dor que a pessoa não consegue suportar mais. Como as mulheres têm uma necessidade profunda da alma se expressar em seus próprios estilos de alma, elas precisam se desenvolver e florescer de um modo que faça sentido para elas, sem serem molestadas pelos outros. Nesse sentido, a chave com o sangue poderia também representar as linhagens femininas que vieram antes de cada mulher. Quem dentre nós não con...hece pelo menos uma mulher amada que perdeu seus instintos para fazer boas opções na vida e foi, assim, forçada a viver uma vida alienada ou pior? Talvez você mesma seja essa mulher. Uma das questões menos discutidas a respeito do processo de individuação é a de que, à medida que se lança luz sobre as trevas da psique com a maior intensidade possível, a sombra, onde a luz não alcança, fica ainda mais escura. Portanto, quando iluminamos alguma parte da psique, disso resulta uma escuridão mais profunda com a qual temos de lutar. Não se pode deixar de lado essa escuridão. A chave, ou as perguntas, não pode ser ocultada nem esquecida. As perguntas precisam ser feitas. Elas precisam obter resposta. O trabalho mais profundo é geralmente o mais sombrio. Uma mulher corajosa, uma mulher que procura ser sábia, irá urbanizar os terrenos psíquicos mais pobres, pois, se ela construir apenas nos melhores terrenos da psique, terá uma visão mínima de quem realmente é. Portanto, não tenha medo de investigar o pior. Isso só lhe garante um aumento no poder da sua alma."

Clarissa pinkola estes - mulheres que correm com lobos

sexta-feira, abril 04, 2014

AS FALSAS NOÇÕES TANTRICAS ...


E OS VERDADEIROS E FALSOS GURUS...
 
"Será primeiro importante dizer o que é o guru, etimologicamente guru significa "pesado", não significa mestre nem sequer professor embora seja utilizado para definir o segundo. De entre as várias definições de mestre destaco duas que facilmente refutariam o papel que Osho tentou representar:
"A pessoa sóbria que consegue controlar os impulsos da fala, da mente, da ira, da língua, do estomago e dos órgãos genitais é qualificada para fazer discípulos em qualquer parte do mundo."
E
"Um mestre é aquela pessoa que entende totalmente as conclusões das escrituras reveladas e cujo comportamento reflecte sua profunda realização. Tal pessoa é um exemplo vivo pois ensina o significado das escrituras, tanto por palavras como por actos."
Portanto, há imediatamente uma triagem que diminui consideravelmente o universo dos gurus auto-proclamados.
Bhakti é a absorção completa expontanea, na forma de amor e em pensamento na Divindade que se escolheu para adorar.
As definições de guru e de bhakti, apesar de parafraseadas dos Vedas e dos Purunas não são sectárias, são válidas tanto aqui como em qualquer parte do mundo.
Penso que a partir na última metade do seculo XX e com a globalização alguns nativos da Índia chegaram à Europa e aos Estados Unidos, oferecendo aparentemente uma via iniciática que reconciliaria a espiritualidade com o prazer sexual, o tantra. Mais uma vez e definindo, tan significa "expandir" e tra "instrumento para" , o tantra deve ser entendido como instrumento de expansão do conhecimento espiritual.
No ponto de origem, os textos tântricos são escrituras em que Shiva instrui Durga, deram origem ao Shavismo ou tantra de esquerda ; e, os textos agâmicos são escrituras em que Durga instrui Shiva, o tantra de direita ou Shakta. Posteriormente foi incorporado no tantra de direita a ideia de magia negra e o maithuna como união sexual, mas isso é um desvio filosófico.
Para praticar o Sakta Tantra e o Saiva Tantra é preciso ter um Guru e não significa, como ensinou o Osho, simplesmente um exercicio sexual. Há toda uma filosofia a ser seguida.

O principio dos ensinamentos do Osho já é um desvio do desvio tântrico. O primeiro desvio considera que toda a existência é formada da combinação dos princípios feminino e masculino Purusa e Prakrti. Os praticantes alegam que é possível harmonizar estes dois princípios dentro de cada pessoa através de um assim chamado amor, o qual é produzido por uma forma de união corpórea entre homem e mulher de acordo com a Tantra Yoga. Quando Purusa e Prakriti estão em harmonia, acreditam conseguir realizar o êxtase interno ao qual chamam Jiyante Mara ou "morto enquanto vivo" e, significa a cessação de todas as actividades físicas e mentais.
É importante perceber que Tantra Yoga é uma prática poderosa que desvirtuada, um exemplo da expressão pervertida da verdade é a teoria dos cinco Makaras (Panca Makaras) Madya do vinho, Mamsa da carne, Matsya do peixe, Mudra e Maithuna.
O significado esotérico destes cinco Makaras é: "Mate o egoísmo, controle a carne, beba o vinho da intoxicação de Deus e una-se ao Senhor Siva".
Na práctica original os aspirantes devem ser puros e dedicados e devem praticar Bhuta Suddhi, Nyasa, Kavaca, Mudra e adorar um Yantra.
Os Panca Makaras na prática original Tantrica são essenciais para adorar Sakti, no entanto não são considerados na sua forma literal.
Leite, manteiga e mel são substitutos pelo o vinho, o sal, gengibre, sésamo, alho, feijões, são substitutos pela a carne. Brinjal branco, radish vermelho, masur e sésamo vermelho são substitutos pelo o peixe. Paddy, arroz, e grão são Mudras e, por ultimo, oferecer flores com um Mudra específico é Maithuna (união sexual).
Na práctica original o esposo e a esposa estão unidos pelo Samskara do casamento e são guiados por um guru tantrico. Maithuna é feito simbolicamente e o guru enfatiza o desenvolvimento dos poderes latentes dos chakras.
Por norma, todas as pessoas acreditam num amor maior, é o svabhava ou uma qualidade inerente à Alma: a conecção divina com o Divino em Amor. Conhecendo este princípio, há sempre alguém com disposição a enganar, gurus como o Osho são o epíteto disso. Um outro princípio básico que depois é travestido no amor macho/fêmea é a bem-aventurança ou a felicidade na conexão com a Alma. A carência afectiva e de auto-confiança, a dependência emocional que é projectada numa segunda pessoa (aspectos que a maioria das mulheres possui  grandemente) , a introspecção insuficiente, são caracteristicas que conduzem as pessoas à credulidade, sem inquirir e sem aprofundar.

 Mas também é necessário restabelecer a posição de quem ensina com substracto. Negar a necessidade do mestre é uma das afirmações mais pueris e inconsistentes que existem.

Inconsistente porque numa era em que clamamos pelo resgate de valores ancestrais negamos a ancestralidade da transmissão de cultura, pela via da família e da formação pedagógica; numa era em que queremos a sabedoria e os valores dos ancestrais mas as crianças vão para a escola e batem nos professores, manipulam e agridem os pais enquanto assistem aos próprios pais colocarem os avós em depósitos de velhos. Pueris porque, colocando de lado a ideia de que a palavra mestre está muito mal representada, nas nossas vidas tivemos a presença da figura da mãe, que é o primeiro mestre, depois a figura do pai, os professores e, à medida que vamos maturando em conhecimento e inteligência, vamos encontrar mais tarde alguém que é a primeira tocha de inspiração e que vai ser a nossa referência de formação pessoal, a pessoa que está mais adiante no caminho para a meta que traçámos, e este é principio muito simples. Dúvidas não há que o mestre é o coração, Paracelso descrevia a sabedoria eterna como algo "que nasce directamente da luz do Espirito Santo" mas, para os comuns mortais, o coração pode ser o desejo, ou o pensamento, ou ainda a sabedoria, mas não será com certeza a Alma auto-realizada, é aí que entra a necessidade da bússola, no papel do mestre.
Nenhuma pessoa está sozinha e em parte alguma, está escrito ou provado que a solidão é imperativa para chegar à iluminação, pelo contrário, nós conhecemo-nos em essência pelas interacções sociais, o caminho em que nos encontramos agora já começou a ser percorrido há muito tempo atrás e as pessoas que encontramos agora já nos acompanham desde há muito tempo, em interacção de partilha e ajuda. Do ventre à morte estamos conectados uns com os outros, pessoas são gregárias, é a ontologia da sociedade, grupos de pessoas com mentalidades semelhantes agrupadas em países e em nações com tecidos sociais específicos.

Ananda Krishna LiLa

quarta-feira, abril 02, 2014

HOMENS, PAREM DE TENTAR DEFINIR A MULHER




Há séculos que mestres e eruditos, sexólogos, filósofos e psicanalistas tentam definir a mulher em vão...nunca vão além do... "vão da escada"...(ou da alcova...)

rlp

UMA REALIDADE BRANQUEADA...

 
 
A ABOMINÁVEL REALIDADE EM QUE VIVEM AS MULHERES NO MUNDO...

Não podemos continuar a ignorar que vivemos numa sociedade Androcentrica e Falocêntrica, onde existem enormes pressões e pressupostos e conceitos sofre a inferioridade ou fragilidade da mulher assim como abundam conceitos e mesmo novas abordagens de cariz psicológica, sexual e até "espiritual" a corroborar essa inferioridade e sujeição (em nome da ciência até, como no parto em que são sujeitas a um sofrimento inaudito) e todos eles em detrimento da verdadeira natureza da mulher, da sua capacidade intrínseca e da sua própria verticalidade, sem ter em conta obviamente a sua divisão milenar (em duas - a santa e a prostituta, anátema que pesa a TODAS AS MULHERES INDEPENDENTEMENTE DE SEREM uma ou a outra) e a diria amputação da sua verdadeira identidade pelo poder patriarcal há centenas de anos...e que continua a acontecer nos dias de hoje é bastante gritante porque, como diz uma amiga:
 
..."as mulheres, muitas vivem amarfanhadas, gerando doenças oportunistas que as levam ao sofrimento e à morte. Umas dentro da relação com quem as maltrata, agride, desrespeita. Outras há que ao tentarem sair desse círculo vicioso de sofrimento, de anulação e dissolução, acabam igualmente sendo agredidas e perseguidas pela própria família e restante comunidade onde estão inseridas. Nos meios mais pequenos ou médios a mulher só, é o bode expiatório de todo o homem e mulher que se encontre em estado de frustração (que é a grande maioria). Mesmo nas sociedades ditas matriarcais essa ignomínia acontece. E são justamente as mulheres cativas, conjuntamente com os homem impotentes, que viram todos contra a mulher só. Mesmo quando a mulher se destaca em árias "pertencentes" e avidamente reservadas aos homens. Aliás, a mulher só, experimenta essa ferocidade falocrática, contra si própria, com muita mais intensidade aí. Por ter conhecimento desta Abominável realidade é que Repudio Fortemente tudo e todos que ponham em causa a capacidade e autonomia da mulher."* -
 
 *Antígona Becca Salles Casalinho

rlp