O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, julho 31, 2014

O MITO DA BELEZA

OS PONTOS CEGOS DE UMA INDUSTRIA FEITA A CUSTA DA ALIENAÇÃO DAS MULHERES...


"E a alucinação inconsciente adquire influência e abrangência cada vez maiores devido ao que hoje é uma consciente manipulação do mercado: indústrias poderosas — a das dietas, que gera 33 bilhões de dólares por ano, a dos cosméticos, 20 bilhões de dólares, a da cirur- gia plástica estética, 300 milhões de dólares e a da por- nografia com seus sete bilhões de dólares — surgiram a partir do capital gerado por ansiedades inconscientes e conseguem por sua vez, através da sua influência sobre a cultura de massa, usar, estimular e reforçar a alucinação numa espiral econômica ascendente. Esta não é uma hipótese de conspiração. Não precisa ser. As sociedades contam para si mesmas as lendas necessárias, da mesma forma que o fazem os indivíduos e as famílias. Henrik Ibsen as chamou de "mentiras vitais", e o psicólogo Daniel Goleman as descreve como de- sempenhando no nível social função igual à desempenha- da no nível familiar. ' 'A cumplicidade é mantida pelo redireccionamento da atenção para longe do fato assustador, ou pela transformação do seu significado em algum formato aceitável." Segundo Goleman, os custos desses pontos cegos no campo social são ilusões coletivas de natureza destrutiva. As possibilidades para as mulheres se tornaram tão ilimitadas que ameaçam desestabilizar as instituições das quais depende uma cultura dominada pelos homens; e uma reação coletiva de pânico por parte de ambos os sexos forçou a busca de imagens contrárias."
(...)
Quando uma mulher moderna tem a ventura de ter um corpo que pode se movimentar, correr, dançar, brincar e levá-la ao orgasmo; com seios sem câncer, um útero saudável, uma vida duas vezes mais longa do que a da mulher vitoriana média, longa o suficiente para que o seu caráter se exprima no rosto; tendo alimento suficiente e um metabolismo que a protege distribuindo carne onde e quando ela precisa; agora que ela tem a bênção de uma saúde e bem-estar maiores do que as expectativas de qual- quer outra geração anterior, a Era da Cirurgia desfaz essa sua sorte imensa. Ela decompõe em componentes defeituosos o dom do seu corpo vital e sensível e a individualidade do seu rosto, ensinando-lhe a vivenciar essa bênção vitalícia como uma maldição vitalícia. Em conseqüência disso, mulheres plenamente capazes podem estar menos satisfeitas com o próprio corpo do que pessoas incapazes.

"Os deficientes físicos", afirma um recente estudo publicado no The New York Times, "geralmente exprimem uma satisfação geral com seus corpos", enquanto sabemos que mulheres fisicamente aptas não o fazem. Uma mulher em cada quatro moradoras da região da baía de San Francisco se submeteria a cirurgia estética se tivesse a oportunidade. O termo "deformado" não é mais usado em discurso educado, a não ser para designar o rosto e o corpo de mulheres saudáveis normais, enquanto o jargão dos cirurgiões estéticos elabora a partir de nós o novo espetáculo de aberrações da natureza. "

NAOMI WOLF
 

A VIOLÊNCIA MASCULINA QUE IMPERA NO MUNDO


Elizabeth Stanton, nasceu em Nova Yorque, em 1815, e dedicou a sua vida à causa da emancipação das mulheres e participou activamente no movimento abolicionista. O discurso foi lido na Convenção Sufragista, 1869, em Washington, e foi considerado um dos 50 melhores discursos da História.    

 


VERDADES QUE NÃO FORAM ULTRAPASSADAS
 
 " O elemento masculino é uma força destrutiva, inflexível, egoísta, ambiciosa, amante da guerra, da violência, da conquista, geradora, tanto no mundo moral como no material, de discórdia, desordem, doenças e morte. Basta ver o rasto de sangue e crueldade que as páginas da História revelam! Com quantas escravaturas, massacres e sacrifícios, com quantas inquisições e prisões, dores e perseguições, códigos negros e credos sombrios a alma da humanidade se debate há séculos, enquanto a compaixão virava a sua face e todos os corações estavam mortos para o amor e para a esperança! O elemento masculino tem desfrutado de uma verdadeira folia carnavalesca.
Desde o início, foi crescendo descontroladamente, sobrepondo-se em todo o lado ao elemento feminino e esmagando as qualidades mais sublimes da natureza humana, até que, hoje, sabemos muito pouco sobre a verdadeira masculinidade e feminilidade- sobre esta, practicamente nada, pois mal foi reconhecida como uma força até ao séc passado   A sociedade não passa de um reflexo do próprio homem, intemperada pelo pensamento feminino, é o rígido pulso de ferro que sentimos na Igreja, no Estado, no Lar. Não é de admirar a desorganização e o estado de fragmentação em que tudo se encontra se pensarmos que o homem, que representa apenas metade de um ser e tem apenas meia ideia sobre cada assunto, assumiu o controle absoluto de tudo o que se passa sobre a terra........" Dizem que o direito ao sufrágio vai tornar a mulher masculina" Esta é exactamente a dificuldade com que nos debatemos hoje em dia. Apesar de privadas de direitos cívicos, temos poucas mulheres na verdadeira acepção da palavra. O que existe são apenas reflexos, variações e diluições no género masculino. As características fortes e naturais da feminilidade são ignoradas e reprimidas devido à dependência, pois enquanto for o homem a alimentar a mulher ela tentará agradar ao dador e a adaptar-se às suas condições. Para conseguir conquistar uma posição na sociedade, a mulher deve  parecer-se o mais possível com o homem, reflectir as suas ideias, opiniões, virtudes, motivações, preconceitos e vícios. Deve respeitar os estatutos masculinos, embora a despojem dos mais elementares direitos alienáveis e contradigam a lei superior escrita pela mão de Deus na própria alma da mulher. A mulher tem de aceitar as coisas como são e tirar delas o melhor partido possível   até que chegue a hora dum novo evangelho de feminilidade que exalte a pureza, a virtude, a moralidade e a verdadeira religião para elevar o homem a planos superiores de pensamento e acção..."
O grande curador que é o amor feminino, se lhe fosse permitido manifestar-se livremente, como seria natural, contra a opressão, a violência e a guerra, restringiria as forças destrutivas, pois a mulher conhece o custo da vida melhor que o homem e, com o seu consentimento, nem mais uma gota de sangue seria derramada, nem mais uma vida sacrificada em vão.

No mundo natural, com toda a sua violência e agitação, assistimos a um esforço constante para manter um equilíbrio de forças. A Natureza, qual mãe carinhosa, está constantemente a tentar manter nos seus respectivos lugares a terra e o mar e as montanhas e os vales, a apaziguar os furiosos ventos e vagas, a temperar os excessos de calor e de frio e de chuva e de seca, para que a paz, a harmonia e a beleza possam reinar supremas. Há uma espantosa analogia entre a matéria e a mente, e a actual desorganização da sociedade avisa-nos de que, com a destruição da mulher, libertámos os elementos de violência e destruição que apenas ela tem o poder de controlar. "

segunda-feira, julho 28, 2014

A PALAVRA NEUTRA


 A Bela de Vermelho e o Cavalo de Branco
« sem qualquer sombra, e por mais difícil que seja dizer para si mesmo frontalmente, há esse desejo de encontro, essa falta interior do Outro. Esse Outro.... »

e acabo aqui, o que ia escrever...  mas antes quero dizer algo, para depois escrever sobre o que me fez interromper o texto acima:  
(...)

Agora sim, vou escrever o que me fez parar a crónica da Bela Vermelha e do Cavalo Branco. fui desviada, é verdade!!
 

mais uma vez me falta a palavra neutra, para aplicar tanto à mulher e ao homem... a existir esta separação na linguagem, obriga a uma cisão, a colocar-se entre margens. Esquece-se que em ambos os sexos, há elementos que lhe são comuns e que não parte de géneros, e ter que ver-me obrigada a usar uma expressão feminina ou masculina causa-me «danação». É mais fácil falar de coisas do reino inanimado, porque eles não se vão ofender, julgar... podemos dizer-lhes o que apetece. Se é um armário, podemos embelezar ou desconstruiu-lo de todas as formas. Agora, ter-me que me dividir e aplicar o meu dirigir à Outra, ou, ao Outro empobrece-me. Quando eu, não quero isso, em absoluto!!

Sou uma Contadora de Histórias; uma Fazedora de Crónicas; uma Narradora de Emoções e Relacionais!! Nunca fui de causas masculinas e nem femininas... obviamente, que não é por isso que menosprezo as visões patriarcalistas; e nem é por isso, que também ignoro as visões matriarcalistas. Ambas estão em opostos terríveis e, se devorando tanto no plano consciente como no inconsciente. Posto que a verdade, é que há uma sombra, e se uma fica como predominante, há nos bastidores, outra que funciona no mais profundo dos silêncios... porque de facto, nada morre e o Universo, diz que, o caminho será para a integridade, custe o que custar, mesmo que os patriarcas berrem para manter os seus valores conceituais; e as matriarcas se esfolem para prevalecer a sua natureza ... porque há-de chegar um tempo, que ambas as serpentes enroladas no caduceu, haverão de se engolir uma à outra. Nenhuma do que era, ficará... não haverá prevalência nenhuma. Posto que duas cobras ou serpentes (depende do nível psíquico delas) que se devoram uma à outra ao mesmo tempo, não terá e haverá vencedoras. Ambas se prostrarão aos pés do caduceu, sem nada. Infalivelmente MORTAS.
Muitas vezes, sinto que pertenço a uma outra sociedade de valores, cultura e educação que não existe ainda... nasci a dançar, gostava de fazer coisas em alegria pura... e sempre disse para mim, que nascera nos tempos e vida errada!!! Vejo-me, contudo, presa nesta sociedade geracional que sempre tende a formatar e dirigir a Mente Humana para os seus interesses, nunca favorecendo a Liberdade e sim, criando condições à Libertinagem e que, é senão mais que o aniquilamento do ser-se um individuo inteiro, para cair na desmembração de todas as actividades atávicas, que geram assim, uma falta de ligação e um sentido e uma compreensão abrangente da vida e de Si Mesmo. As matriarcais querem o sentido da Vida e da unidade sendo expresso; as patriarcais negam a ligação do Homem e da Mulher ao Espírito Maior da Vida, e prendem o homem às leis da sociedade, e com isso todos acabamos por ser animais internos... ou seja, o Leão mata com a boca sem palavras e com as patas sem dó; o Homem usa a boca com palavras para desferir por todo o lado a raiva e todas as expectativas e, com as mãos mata com prazer ou raiva consciente.
Depois pelo meio, há esses fundamentalismos: Machistas e Feministas; exacerbação do Ego Masculino sobre tudo e, ausência total de Ego Feminino _ lá está, sim, também há Ego Feminino, só que totalmente ausente nas sociedades actuais, que é exclusivamente Patriarcal, e ainda dizem, os homens, que estão a ser desvalorizados dentro do reino que eles próprios conceberam?!

Com se vê, gasta-me energia ter que ficar entre estes dois fundamentos, duas legiões, duas metrópoles (uma visível e outra invisível)... daí, querer uma palavra neutra, para expressar algo que não é medido em termos de ideologias de género. As duas linguagens, Outro e Outra estão gastas pelo tempo, e tudo o que já foi dito, já foi escrito muito antes... repetir à exaustão não me parece resolver as coisas. Não passamos de Indivíduos sob forças para além de nós, essas que ocorrem nos bastidores da nossa realidade! Também, esquecemos que a Mente, é a maior predadora, já que dela se origina o Caos, a Desordem... nela se infiltram processos oriundos de coisas sem nome, os quais denomino, em parte, de controlo por Ondas Alfa e que escapa à consciência. Não somos donos dos nossos pensamentos - Não nascemos com eles à partida! É importante que se saiba isso, por isso, a mente é essa coisa que está aberta a ser penetrada e ser absorvida por tudo o que lê e ouve...
Homem e Mulher são um produto do que lhes foi imposto... portanto, nada lhes pertence... são vasilhas de processos mentais absorvidos de qualquer Artigo, Livro... completamente estatelado de informações e manuais de sobrevivência - já que julga que o próximo é um animal que o vai devorar, e ele não pensa que também é um animal -. Do que adianta saber toda a história do mundo, de como todas as guerras foram perpetuadas, se depois de se saber tudo, continua-se a agir como um animal, a processar os mesmos erros; a tratar o próximo com mais selvajaria? É esse que é o Grande Conhecimento que Liberta? Ou isso, é o Grande EGO que se assenhora do Conhecimento (possível) para destruir tudo o que é vida, inclusive essa experiência que é Amor, Paz, Sabedoria, Sensualidade, Vida...

«são os actos que denunciam, e a esquizofrenia de palavras entre o que se pensa e o que se diz e depois o que se faz!!! as pessoas deviam nascer Surdas, porque isso permitia-lhes observar mais os actos e percebiam que a palavra, sempre é um punhal em riste para destruir e não alquimizar!!!»
No fim, como irei arranjar essa forma, essa palavra neutra para escrever?? Sem ter que me dirigir, é para o Homem é para a Mulher!! Há coisas que quero escrever sem esta dualidade e tão separada que engendra toda a espécie de dramatismos. Não, não é ignorar a dualidade, e nem é não aceitar... é apenas mudar o discurso já tão velho!!! Isto vai ser como encontrar uma agulha em palheiro!!! Daqui a pouco vou começar a dizer EU. Já que é tão abrangente, e quando alguém lê, lerá Eu... sem sexo algum, apenas Eu."

in naosoueaoutra

OS AMORES E AS AMIZADES...



UMA REFLEXÃO SOBRE AS RELAÇÕES "PRÓXIMAS"


- encontrei este meu texto no blog de uma amiga e resolvi reler...e não é que fiquei espantada com a sua actualidade?


Nós não somos seres perfeitos…mas podemos ser verdadeiros…essa é a grande vantagens que temos…em relação a todas as incongruências da vida e a todos os reveses que enfrentamos. Contra uma cultura de medo e alienação. Pela verdade e pela sinceridade, custe o que custar.
As relações humanas tem muitas variantes e níveis...Não podemos equiparar uma relação de amizade com uma relação amorosa, nem uma amizade com uma relação formal de alguém que conhecemos mal...Nem podemos confundir as relações de trabalho com relações pessoais ou mesmo as relações entre um grupo de terapias, com o médico ou com o merceeiro. Pois há em todas essas relações circunstâncias que pedem, digamos, normas de relacionamento adequado e uma descrição ou reserva do indivíduo a nível pessoal de acordo com o que lhe é pedido ou exigido na circunstância. Com um psicanalista é totalmente ao contrário…se não dissermos tudo como os malucos…não há análise possível…Mas como em tudo e no geral é sempre uma questão de bom senso. Não podemos é meter tudo no mesmo saco e dizer que eu sou verdadeira com toda a gente porque isso é impossível e contraproducente. Não podemos dizer que pelo facto de não dizermos ao merceeiro que temos um amante estamos a mentir. E claro há aquela situação caricata ou anedótica de a mulher (a esposa) não poder dizer ou o homem claro que tem uma amante ao fim de uma vida matrimonial longa e…acabada…porque considero o casamento uma quase hipocrisia…e não estou a falar de instituições, mas relações de verdade! Portanto é sempre relativo e aí temos não a mentira mas a omissão da nossa intimidade ou da nossa vida privada – no caso da pessoa estranha - o que é perfeitamente normal e aceite. Portanto não podemos exigir uma transparência, nem uma verdade absoluta de cada pessoa em todas as situações da vida, e esta noção é elementar…depende do nosso discernimento e da nossa consciência.
Assim, nas situações comuns da vivência em grupo e da vida em sociedade eu não sou obrigada a expor-me de forma alguma e é de bom-tom ser-se reservado e discreto…Portanto a mentira ai não conta nem entra. A não ser, claro, quando o indivíduo faz de conta que é rico ou nobre ou tem uma profissão que não tem etc. Mas não é isso que nos interessa aqui. O que nos interessa aqui é a verdade entre amigos/as e entre amantes…Aí é que a verdade a transparência, a honestidade, a confiança contam porque a relação de VERDADE depende inteiramente desses factores…e é ai que a mentira e a omissão estão e entram para minar a relação porque em qualquer uma dessas relações, embora com diferentes intensidades, depende da verdade de cada um na sua troca e evolução, para ser uma relação saudável e profunda.
É verdade que nas relações, em que os afectos são privilegiados, mais no amor do que na amizade, existe o risco da posse e do ciúme…e aí vem o controlo do outro e a obsessão por vezes na busca de saber tudo da vida do outro e se existe alguém ou alguma sombra de traição etc. Claro que todas nós sofremos em um grau maior ou menor de posse e ciúme…e para mim não depende da auto-estima da pessoa sentir ou não ciúmes, mas da confiança que o outro inspira…das bases de verdade e confiança que se geraram, porque os ciúmes e a posse (dentro dos seus limites) são até poderia dizer, saudável e naturais e diria mesmo até legítimos…numa relação a dois… senão passa a suposta aceitação da liberdade do outro o admitir de outros parceiros que para mim simplesmente passa a promiscuidade…
Não sou dada a relações abertas nem a aceitar 3ªs pessoas numa vida íntima…e nas amizades, embora não haja esse sentido de exclusividade,  nem sempre é fácil ser preterida ou trocada e mesmo traída, porque não sendo tanto como na paixão, em que há partilhas do mais intimo do ser, na amizade , sendo ainda uma  relação de duas pessoas, existe, embora em  muito menor grau, os mesmos ingredientes que no amor…porque afinal é afecto…e os afectos afectam-nos sempre…
É verdade que há pessoas que podem ser mais independentes que outras e não se importarem aparentemente com o que o outro faz ou se anda com outra pessoa etc., mas todas as relações intimas e próximas trazem estes sintomas e nem todos são patológicos a não ser se forem despropositados ou em excesso. Mas considero que é normal haver toda essa mescla de emoções um pouco conturbadas nas relações e não é a mentira nem é a omissão caridosa que ajuda o ciumento e o possessivo a libertar-se, mas sim a transparência e a verdade por mais dura que seja…
Numa relação íntima, se um dos dois se apaixonar por outra pessoa e omita esse facto ao parceiro e queira manter as duas relações isso não é só uma mentira fatal como uma traição enorme e geradora de patologias, porque o outro sente e de algum modo sabe que está a ser traído e se essa verdade lhe é negada em nome da privacidade ou da soberania do indivíduo, entre o intuir e o ter a percepção da mentira isso é uma coisa dolorosa e grave que confunde enormemente o ser quer a nível emocional quer a psicologicamente; o que “trai” mesmo que já não ame a pessoa e tenha pena dela e por isso não a quer enfrentar ou fazê-la sofrer, a meu ver, deve sempre dizer a verdade e deixar o outro fazer o luto e também, caso necessário afastar-se. Tantas vezes queremos fazer do ex-amante um amigo sem deixar fazer a transição, sem dar tempo ao luto! Não se pode transitar de uma relação íntima e profunda para uma simples amizade só porque uma das partes deixou de amar a outra ou encontrou outra paixão… e quer ser só “amigo”… Não. Tem que haver um luto ou um afastamento. Porque justamente a amizade vai depender dessa transparência e por mais dolorosa que seja a verdade, tarde ou cedo haverá entendimento e aceitação…dos factos.
Na amizade já é um bocadinho diferente, mas parecido…menos intenso menos conflituoso mas é parecido às vezes…Há grandes amizades que são amorosas quase…
Mas na amizade não havendo nem a posse nem o ciúme no mesmo grau não só não se justifica a mentira ou a omissão, como é absolutamente essencial a transparência e a verdade e qualquer mentira por mais insignificante que seja mina a relação…porque precisamente não se justifica que exista e não tem razão de ser pois já bastam por vezes as incompreensões provenientes das diferenças entre os seres e os equívocos, que se manifestam mesmo sem mentiras para toldar uma amizade se esta não for verdadeira. Essas amizades só singram por um enorme esforço de verdade e confiança mútua sem a qual não se pode consolidar esses laços de amizades duráveis entre as pessoas. As vezes e por esse esforço mesmo duram a vida toda.
Portanto Verdades e Mentiras…são fáceis de destrinçar…saber onde são necessárias e onde e como as apanhar…digo eu…porque só no campo muito íntimo das amizades profundas e das relações amorosas elas por vezes são paradoxalmente necessárias quando não se tem a honestidade nem a coragem de enfrentar as situações e as suas alterações que os afectos sofrem. E nada é fácil na verdade…nem na mentira…tanto uma como outra podem trazer sofrimento, mas a verdade cura e mentira mata… a verdade constrói sempre e a mentira destrói mais tarde ou mais cedo.
rleonorpedro

quinta-feira, julho 24, 2014

PRECISAMOS DA GRANDE MÃE

 
 
URGENTE UM NOVO PARADIGMA
PARA A PAZ NA TERRA


“ACHO que não vale a pena a mulher libertar-se para imitar os padrões patristas que nos têm regido até hoje. Ou valerá a pena, no aspecto da realização pessoal, mas não é isso que vem modifica
r o mundo, que vem dar um novo rumo às sociedades, que vem revitalizar a vida.
A mulher deve seguir as suas próprias tendências culturais, que estão intimamente ligadas ao paradigma da Grande Mãe, que é a grande reserva, a eterna reserva da Natureza, precisamente para os impor ao mundo ou pelo menos para os introduzir no ritmo das sociedades como uma saída indispensável para os graves problemas que temos e que foram criados pelas racionalidades masculinas.
É no paradigma da Grande Mãe que vejo a fonte cultural da mulher; por isso lhe chamo matrismo e não feminismo.
É aquilo a que eu chamo o cansaço do poder masculino que desemboca no impasse temível do tal equilíbrio nuclear que criou uma situação propícia a que os valores femininos possam emergir, transportando a sua mensagem.”

NATÁLIA CORREIA, in Diário de Notícias, 11-09-1983
(excerto de entrevista concedida a Antónia de Sousa)
 

Precisamos "sobreviver na selva patriarcal New Age"


 
 
"A ABENÇOADA RAIVA"
Precisamos "sobreviver na selva patriarcal New Age" L. Frazão

É tempo de as mulheres expressarem a sua raiva ou a sua cólera, com CONSCIÊNCIA porque as liberta...hoje mais do que nunca, face a esta agressão milenar da e na Guerra contra as mulheres!
É muito importante que se não perca o sentido do nosso poder interior, dessa força, do nosso fogo, da nossa expressão própria que é a da nossa dignidade como mulheres e não só claro, mas essencialmente na expressão dos nossos sentimentos e que quando as coisas não correspondem à nossa verdade profunda não as podemos calar. Não é em nome da "paz interior" ou do "amor ou do respeito" do “outro” ou de um suposto caminho (deus ou mestre) que devemos abdicar do que sentimos e do respeito que devemos ter por nós mesmas e pela nossa intuição!
Acho igualmente que muitas das teorias do “ser positivo” e olhar só “o lado bom das coisas” também pode ser uma armadilha a fim de não olharmos o lado que precisamos de facto olhar pela maneira preconceituosa como nos negamos a encarar a nossa sombra e a dos outros. Ora a sombra é indispensável para integrar os aspectos opostos da dualidade. E não é omitindo a sombra e não a querendo ver que saímos da dualidade e entramos no caminho do uno, com fizeram durantes séculos os cristãos, sempre em oposição e antagonismo entre o bem e o mal sem nunca discernir que ambas os aspectos estão em cada indivíduo. O que eu acho é que muitas das novas teorias, terapias e canalizações nos incitam a uma aceitação e apatia ou mesmo a uma alienação idêntica à das velhas religiões. E poucas dúvidas me restam que pertencem a uma manobra do patriarcado para nos tolher e são mais uma ameaça disfarçada á liberdade da Mulher. É importante perceber que muitos ou quase todos os conceitos "Nova Era" são os mesmos preconceitos religiosos de sempre disfarçados de novos, em que realmente o ser humano se vê obrigado a manter uma atitude passiva e humilde de não ser nada e não ousa dizer o que pensa ou sente, por medo do castigo e do pecado; Antes era o medo de não ir para o céu...agora é o medo de não ascender... 
 
RLP  


 
 
 

 

quarta-feira, julho 23, 2014

QUANDO O FEMININO NÃO É VALORIZADO A TERRA MORRE...



“O desequilíbrio das nossas instituições fundamentais, que reflectem um Deus pai no topo de uma trindade totalmente masculina, teve uma influência devastadora no mundo Ocidental. Com o rápido desenrolar dos acontecimentos devido a avanços da ciência nos últimos trezentos anos e especialmente nos últimos cinquenta, a fractura na sociedade Ocidental e na psique humana tornou-se cada vez mais evidente. A poluição do planeta e o abuso flagrante das nossas crianças estão intimamente relacionados com esta falha fundamental .
(...)
Uma das realidades mais tristes da nossa cultura é que a ascendência do masculino ferido levou à exaustão emocional. Onde o feminino não é valorizado, um homem não tem verdadeira intimidade com o seu oposto, a sua outra “metade”. Muitas vezes, não pode canalizar as suas energias na direcção de uma relação amorosa visto que o seu parceiro, supostamente, não tem valor. Privado do seu oposto igual porque o feminino é visto como inferior, o macho frustrado predominante fica esgotado: “onde o sol brilha sempre, há um deserto”. As florestas secam, os rios secam, o solo estala. A terra morre.”

In MARIA MADALENA E O SANTO GRAAL Margaret Starbird

terça-feira, julho 15, 2014

IMPORTANTE SABER DESTINGUIR

 
 
A dimensão do Sagrado versus Profano…

Muitas vezes quando me expresso acerca da dimensão do Sagrado e do Feminino Sagrado fico a pensar na legítima confusão que surge na comparação do termo com a ideia que temos de sagrado associando-o à religião. E desse modo, sem reflexão, esta expressão é rejeitada ou negada quer por religiosos quer por ateus… Ora o que eu quero justamente salientar aqui é que a dimensão do sagrado para mim e na minha perspectiva está muito mais perto do que as religiões patriarcais consideraram Profano do que do religioso como ritual, dogma e preconceito milenar contra a Natureza, as mulheres e o instintivo…

O Profano afinal não é senão a Porta que antecede o Sagrado, sendo essa Porta a Mulher essencial, a mulher das profundezas, a mulher consciente do seu poder inato, realizada na sua interioridade; não a mulher comum dividida em duas, fragmentada na sua essência, mas a Mulher igual á Deusa, consciente de si mesma como um ser inteiro, unidas as duas mulheres que se digladiavam entre si atemorizadas, em luta pelo filho e pelo pai…

Urge pois Voltar à Dimensão do Sagrado, voltar a enaltecer os valores da Terra Mãe e por isso da Mulher também, a mulher que encarnando na sua totalidade A Natureza, fiel aos seus ciclos e senhora da vida e dando à Luz, também pode por consequência, iluminar o homem.
E foi esse poder de iluminar e essa evidência que o poder patriarcal deitou por terra subjugando e destruindo a mulher e com isso foi destruindo a própria Natureza-Mãe…

A Mulher é assim A Porta do Sagrado e encarna por isso o Profano que é negado pelos patriarcas enquanto iniciadora do fogo instintivo e libertador…Prometeu é um fogo-fátuo, enquanto que a mulher é fogo original…Por essa razão ela foi destronada da sua magnificência de mulher e deusa iniciadora, condenada a subespécie, uma espécie de pecadora inveterada. Foi dividida em dois estereótipos opostos na sua expressão de virgem imaculada e prostituta através do “cristianismo” adulterado pelos padres do deserto.

O facto de os católicos terem destituído de valor transcendente e significado profundo a Mulher e a Terra-Mãe, para enaltecer exclusivamente os valores do Pai e do Céu, os valores ditos “espirituais”, negando assim toda a Natureza, o corpo da mulher e o sexo, destruíram os alicerces da manifestação divina na Terra. Ao negar a mulher considerando-a um ser inferior e baixo e castrando os homens numa suposta ascese, sem considerar a sexualidade como motor de evolução espiritual, anulando o verdadeiro casamento entre o que está em cima e o que está em baixo, respectivamente o homem e a mulher na sua relação alquímica, ambos como representantes dos dois pólos complementares, impediu assim a consumação da Grande Obra do Criador…
Sendo a mulher a representante e mediadora das forças cósmica ou telúricas, ela é essencial, tal como o Princípio Feminino, para o homem realizar a Grande OBRA na união sagrada do polo masculino céu, que ele representa, ao polo feminino terra, que a mulher é expressão… profana (portal) sagrada (altar) …

Portanto para mim o Sagrado, independentemente da ideia que se possa ter de Deus/a ou da transcendência, e de uma linguagem considerada mística, não é senão o valor da própria manifestação do poder da Vida na Terra e da existência humana. Porque essa manifestação na sua infinita grandeza não pode ser abarcada pela mente racional por mais instruída que seja e por isso não há nem religião porque dogma, filosofia ou ciência que o revele, se ele não se revelar dentro de cada ser e através da Mulher da qual todos nascemos…

Qualquer ser humano que tenha um mínimo de lucidez e sensibilidade poderá perceberá que a Terra-Mãe-Natureza na sua expressão luxuriante e no expoente do seu esplendor não pode ser senão SAGRADA e como tal vivida. E isso nada tem a ver religião nem rituais…
rlp
 
(republicando)

segunda-feira, julho 14, 2014

Hoje lembrei-me de Morgana...





Hoje lembrei-me de Morgana...

 Morgana a Grande Mulher inconformado do patriarcalismo nascente, na Lenda do Rei Artur que aparece associada às trevas, e ao mal, já está contaminada pelo cristianismo nascente e Guinevere e o exemplo da mulher educada nos conventos, a santa, e como cristã, casta e fiel esposa, é eleita rainha e de quem Lancelot se apaixonou e ama como sua rainha de um amor platónico...ele também já  incapaz de amar e de enfrentar uma mulher inteira, a Grande Sacerdotisa Morgana que não cedeu ao controlo do irmão...
Ela a mulher livre...não contaminada pelo cristianismo...
Mas tanto Morgana como Viviane já aparecem na lenda  sujeitas ao controlo de Merlin...supostamente o tutor de Morgana e apaixonado ou dado como amante de Viviane...e portanto são já os homens que controlam as mulheres na lenda como também podemos ver a divisão das duas mulheres que se dá entre Morgana a bruxa (a mulher renegada e perseguida) e Guinevere, a esposa dedicada, a Rainha.
Portanto a Busca do Graal, que à partida é a busca da Deusa dos primordios, o Cálice, acaba debaixo do domínio da Espada quando o próprio rei trai a sua consagração e a espada lhe é entregue pela Grande Sacerdotisa da Deusa, Viviane, para ele servir o reino da deusa e do deus em simultâneo...e tudo depois foi deturpado.
A busca do Graal deixou de ser a busca da Mulher e da Deusa para representar a busca do sangue real...o sangue de Cristo e os seus supostos descendentes...quando o sangue era o Sangue vital e da Deusa, do dar a vida que é o sangue da mulher e não da morte do homem, filho do Pai, nem do crucificado...
Isto foi o que me ocorreu quando esta manhã relia um livro da Fada Morgana...a inconsolável amante que foi desdenhada por o falhado Lancelôt, o triste cavaleiro fiel do rei, em nome dos novos valores cristãos...misógino e talvez impotente...valores que emergiam e soterraram a Deusa e a Mulher...
Isto é o que não devemos esquecer...
Morgana, irmã de Artur foi a vítima desta história de algum modo e para mim ela encarna Lilith e a raiva ancestral da mulher prisioneira do Pater...a mulher amante a quem o homem traiu ou a quem cortou as asas...fez-me também ver alguma semelhança com Maleficente...
Afinal de contas...todas nos encontramos na mulher traída a quem os homens cortaram as asas...e queremos reconquistar o nosso poder interior, doa a quem doer...e sem mais tutelas de ninguém..pater filho ou padre, seja ele o grande Merlin seja ele Freud...
rlp

segunda-feira, julho 07, 2014

MALEFICENT - MAGNIFICENTE...

 
 
Onte-ontem fui ver o filme Maléfica e adorei.
Pela primeira vez vi no cinema a história inverter-se e estar do lado das mulheres...assinalando o facto de que quando Aurora nasceu toda a gente na corte começou aos gritos de contentamento a... dizer: "é menina! é uma menina, é uma menina" - ao contrario da tradição patriarcal que só festeja quando é menino! E depois vemos ao longo do filme como a Mulher má (que apenas foi ferida pela traição do homem que amava e que em busca de poder a trai e lhe corta as asas) também vemos como a sua Sombra se torna na verdadeira fada protectora e amante da menina - ao ponto de já não ser o beijo de amor que o principie lhe deu que não a acordou, mas depois o beijo de amor puro que a Fada Maléfica lhe deu de despedida e que era o amor da MULHER integrada...e as duas mulheres unem-se para se tornaram numa só ao reunirem os reinos opostos - do bem e do mal…- o da fantasia e o da realidade…etc.
Lamento ter revelado as cenas, mas é tão belo e eu intui tudo mesmo sem saber...vale pela magia e pela sensação nova de ver triunfar o amor entre as mulheres; sente-se no amor da mãe – a mulher mais velha - pela filha ou pela afilhada neste caso...como uma forma de amor genuíno, e pela primeira vez a "madrasta" ou a fada má, neste caso, revela o outro lado desta dicotomia... em que, todos os filmes de fadas e bruxas, estas são sempre representada em mulheres antagónicas, rivais, que se odeiam e que nunca são amorosas, como neste caso...e como é evidente nas cenas em que a menina conquista pela sua verdade e sinceridade o amor da mulher ferida...que a odiava…por ser a filha do Rei - o homem cobarde que usou da sua confiança e a traiu e cortou as asas…para aceder ao Poder.
rlp
 

Nota: Não gosto especialmente da atriz como mulher, mas admito que o papel lhe assentava na perfeição...e lhe dá uma dimensão mais humana do que para si mesma terá... 

na penedia do meu peito


 

 
“…Como uma rosa é o meu coração,
abrindo as asas na penedia do meu peito…"
L.C.
(na penedia do meu peito...os penedos, os penhascos,  as ravinas e as pedras...do meu peito...)

Depois de uma conversa intensa com uma amiga…senti que me devia a mim mesma uma explicação…Essa explicação para mim mesma não é fácil…tenho de ganhar balanço e recuo…Trata-se nem mais nem menos de me por em causa (a mim mesma e não ela a mim ou eu a ela como minha leitora…) quando me é dito que: “começo a constactar um desfasamento entre o que escreves e o que sentes de facto…será a tua escrita uma forma de exorcismo das tuas sombras?”
Eu, como todas as mulheres, sinto-me sujeita a todas as reveses do sentir, às contradições e paradoxos nas minhas vivências e dos meus afectos, para não falar da paixão…que isso extrapola sempre qualquer sentido de lógica e de coerência humana…e a idade já não me permite? ou as paixões são sempre cegas…tal como o amor no plano estritamente humano, quando se fala de sentimentos e emoções  à flor da pele, e não quando ele é divinizado ou teorizado, como incondicional ou superior aos instintos, onde não existe a posse e o ciúme etc.. O que não é o caso entre os seres humanos que se atraem e que se reflectem nas suas dinâmicas e que por isso trabalham as suas sombras em conflito ou confronto quase sempre…O amor tem um plano de manifestação ao nível da psique e outro diria ao nível das essências e não podemos confundir estes dois níveis embora, o primeiro trabalhe para atingir o segundo e nunca o contrário….

Talvez por isso não há amores no plano humano ao nível da psique, que sejam pacíficos e ordenados…nunca houve…nem nunca haverá no plano da nossa humanidade…embora possam haver projecções fantásticas e sublimadas…quando alguém encarna o arquétipo em falta numa das pessoas…e aí temos de lidar com transferências e contratransferências e passar por mortes e renascimentos ao nível do trabalho alquímico que o amor sempre é, porque o amor é a OBRA máxima a atingir através de todos os planos até chegar à  Monada e elevar-se ao Puro espírito?

 Creio que o amor ao nível da alma e através do reconhecimento das almas, não havendo envolvimento energético e físico, pode ser muito pacífico, isso sim e altruísta e incondicional e sem apego, mas não quando se estabelecem laços a vários níveis de envolvimento, diria que isso e quase impossível porque lida com a nossa sombra e os nossos complexos e cristalizações. Nenhum ser humano pode ter a pretensão de se encontrar num estadio de perfeição nem de “maitrise” do seu ser inferior, digamos…Pelo menos eu não tenho essa pretensão… posso aceder estados transcendentais ou ter experiências alteradas de consciência viver estados de graça e de ressonância vibratória elevados…mas volto sempre ao meu ser tridimensional….em que o corpo a alma e espírito se unem pouco a pouco através deste processo de consciência da psique humana. Porque o caminho e a integração da psique e tudo o que implica o processo vivencial são fundamentais e inaliável no plano terreno…
Ninguém sobe aos céus sem ter vivido e integrado todos os seus aspectos psíquicos e humanos na terra…
Por outro lado nenhum ser humano vive ainda inteiramente no plano da alma, nem da essência, mas sim da psique onde todo o trabalho de introspecção e interioridade e consciencialização necessária se estabelece e visa a ligação com a alma como acontece na busca do verdadeiro self. Para a Mulher não é diferente, só que no caso da mulher ela tem antes desse processo ou a par dele perceber que ela sofre de uma cisão profunda, uma divisão na sua psique original que a impede de aceder à inteireza da sua natureza feminina à partida…o que não acontece com o homem…

Mas voltando a minha possível incongruência no meu discurso sobre as mulheres que é o que me importa hoje…direi e admito haver com certeza a olho nu, contradições entre o que prego…e o que faço…entre o que verbalizo e teorizo e o meu sentir em progressão…ou o que sinto muitas vezes em contextos e vivências que me apanham a mim mesma desprevenida do que julgo saber e tenho como referências certas…e aí…sem pretender agarrar certezas eu deixo-me ir no “erro” de me sentir contraditória por que nada é estanque e é preciso ir sempre mais longe dentro de nós e não formarmos ideias fixas sobre o que é a realidade interior de uma mulher…eu falo da mulher completa e integra quando ela consegue integrar a “outra” mulher que a antagoniza e assusta e se revê nela como parte integrante de si mesma, ela pode ter acesso de algum modo a grande parte da sua psique e fazer bem mais depressa a integração dos opostos….mas nunca antes de fazer essa integração em si mesma uma vez que ela está alienada de uma parte substancial instintiva de si mesma…
Portanto é aqui que normalmente me foco e mantenho um discurso diria algo didáctico…sabendo de antemão que o caminho da consciencialização de si da mulher, como mulher, como imperativo de género, enquanto ela se busca completar na mulher integral unindo as duas mulheres separadas em funções pelo pater, é uma coisa e depois como ente, alma e ser espiritual é outra, sem que contundo deixem de estar interligadas.

Assim, direi que como ser humano eu estou sujeita às vicissitudes da encarnação e do meu processo individual de evolução, o que me fará passar pelo “buraco da agulha” não poucas vezes e sobremaneira… no amor…e na paixão… caso ainda a vida (ou Eros) me faça cair nesse “piège” (armadilha) formidável em que as almas se afundam ou submergem …nas suas misérias e grandezas …nas suas contradições e paradoxos …entre o sagrado e profano, entre o prazer e a dor…onde talvez nasça a poesia ...
rosaleonorpedro

sexta-feira, julho 04, 2014

NA SOCIEDADE FALOCÊNTRICA...



Na sociedade falocêntrica, os homens são as réguas. Mesmo com todo o “desejável”, ainda nos sentiríamos inadequadas. Subvertamos esta roda retrógrada

Por Marília Moschovich | Imagem Egon Schiele, Mulher com meias verdes, 1914


Eu tenho os pés grandes. Sou bem mais alta do que a média das mulheres e do que boa parte dos homens em nosso país. Não sou gorda, mas estou bem mais longe de ser magra. Usei óculos durante toda minha vida adulta, até bem pouco tempo atrás. Tenho os quadris (bem) largos. As coxas gorduchas. Um pouco de papo. Pelos em tom escuro. Estrias. Vasinhos nas pernas. Cicatrizes.
Sempre tive – e ainda tenho – dificuldades em encontrar sapatos que me sirvam. Coloridos, diferentinhos, com pequenos charmes? Ainda menos. Roupas também, embora sapatos sejam mais fáceis. Sutiãs perfeitos? Nem sonhando. Sempre destoei, em termos de corpo, tamanho. Sempre me senti um peixe fora d’água (ou uma baleia – e nada contra as baleias, aliás, que lideram minha lista de animais favoritos junto aos elefantes, claro; questão de empatia).
Ao mesmo tempo, sempre tive outras características que me faziam nem-tão-fora-d’água-assim: não sou portadora de nenhuma deficiência física, sempre fui boa em esportes, danças e coisas que exigem coordenação motora corporal, sou branca, meu nariz está dentro de um padrão considerado bonito, não tive nem tenho orelhas de abano, tenho corpo acinturado, meus cabelos ficam entre lisos e cacheados e estão dentro do que se considera “bonito” por aí, nunca usei nem precisei de aparelho nos dentes.

Nenhuma dessas características jamais me fez sentir bem quando uma roupa não servia. Tampouco eliminou minha frustração ao comprar sapatos (se tem uma coisa que eu detesto ter que comprar, até hoje, são os malditos sapatos). Sempre achei que minha vida seria mais fácil se eu tivesse os pés menores do que 40/41 e usasse calças de tamanhos menores do que 44/46. Bobinha.Basta conversar com qualquer mulher de qualquer tamanho e ver que todas nós compartilhamos dessa exata mesma sensação. As mais altas que eu, as mais baixas que eu, as mais gordinhas, as mais magrinhas, as de pés maiores e as de pés menores. Todinhas. Inclusive – anotem aí – as modelos e atrizes consideradas “perfeitas” em nosso padrão de beleza. Pois é.
Não é novidade que a indústria da moda produz vestuário e acessórios para corpos que não existem. As numerações são em geral ridículas (que dizer de certos tamanhos G por aí? apenas: risos), a quantidade de peças produzidas e revendidas às consumidoras finais – em especial nos tamanhos “maiores” e “menores” dessa escala tosca – é sempre insuficiente para a demanda, e nem vou entrar aqui na discussão sobre a publicidade utilizada por essas corporações, nem sobre o uso de trabalho escravo ou imagens alteradas digitalmente. Todo o ponto da coisa é: por que carregamos a culpa de não servirmos nas peças criadas e revendidas nessa indústria?
A culpa de “não servir” é tanta que nos atiramos a regimes ridículos, muitas vezes arriscando nossas vidas por isso. Fazemos cirurgias plásticas de todos os tipos porque se torna insuportável psicologicamente convivermos com o sentimento de inadequação e com a autoestima destruída diariamente por ele. Essa culpa não é uma escolha voluntária, uma pedra que decidimos carregar. É uma construção de séculos na história ocidental que tem uma função social muito específica: controle.
Em O Segundo Sexo, livro que Simone de Beauvoir escreveu sem saber que era feminista (surpresa: ela só de autodeclarou feminista uma década mais tarde!), esse processo de construção do que consideramos “masculino” e “feminino” é recuperado de maneira bem acessível e interessante. Resumindo um tantão essa ópera, dá pra dizer que a filósofa mostra por meio de exemplos diversos como nossa cultura se construiu tendo o masculino como fiel da balança, como neutro. Tudo que é considerado feminino é considerado específico, particular, desviante. O masculino é considerado universal, geral, norma. Não é à toa que, numa sociedade que se ergue a partir dessa perspectiva, nós mulheres temos sempre a sensação de estarmos erradas. Mesmo quando estamos “dentro dos padrões”.
É por isso que ouvimos tanto as meninas magrinhas quanto as gordinhas contando que sofriam com apelidos na escola. Tanto as de cabelos lisos quanto as de cabelos cacheados. Tanto as altas quanto as baixas. Tanto as de corpo considerado lindo e consideradas bonitas quanto aquelas consideradas feias. Todas sempre erradas e, mais do que isso, tendo seus corpos e sua existência física sob constante patrulha. Esse é outro resultado dessa construção que Beauvoir explica (e depois autoras como Judith Butler em diálogo recente sobretudo com as teorias de Michel Foucault, organizam ainda melhor): todas as pessoas e instituições (como o Estado, por exemplo) acreditam verdadeiramente estarem no direito de controlarem, patrulharem, vigiarem e interferirem nos corpos das mulheres.
Esse processo começa na convivência infantil, e chega ao assédio que sofremos nas ruas todos os dias, passando pela briga constante sobre o aborto na esfera política, ou pelo abuso de cesáreas nos hospitais brasileiros.
Muitas vezes, cegas pela dor que a experiência individual nos causa, acabamos criando quase um clima de competição entre nós, mulheres: ser alta é pior do que ser baixa; ser gorda é pior do que ser magra; ter cabelos cacheados é pior do que ter cabelos lisos; etc. Nesse processo nos esquecemos de que mesmo que tivéssemos todas as características físicas consideradas desejáveis para mulheres, ainda nos sentiríamos totalmente inadequadas (como se sentem aquelas que temos o descaramento de chamarmos “modelos”). Nos tornamos paulatinamente parte desse ciclo, dessa roda sexista que gira a cada tentativa nossa de patrulhar o corpo de outra mulher, em vez de acolher sua experiência e sua dor com a inadequação que sentiu ao longo da vida.
Se desejamos destruir essa engrenagem, precisamos fazê-lo juntas. Compreendendo-nos, umas às outras, como mulheres. Sejamos altas, baixas, gordas, magras, dentro ou fora dos padrões de beleza, cisgênero ou trans*. Estamos todas no mesmo barco, erradas por definição nesse sistema que Freud e Lacan diriam falocêntrico.
Que partamos, então, para subverter essa roda inventada e sustentada há tantos séculos, que só sabe rodar em marcha ré.
Estou errada. Sou errada. E é nisso que reside a minha libertação.

quarta-feira, julho 02, 2014

O PESADELO DO PECADO...

 
UMA ANTÍTESE INVENTADA


“Entendo que essa antiga e venerável missão das prostitutas é uma ética congenitalmente feminina que só por um desvio de uma religião patrística foi reservada às sacerdotisas do amor a fim de cindir a humanidade feminina na projecção do abominável e do sublime masculino. Uma antítese inventada por esse ser eminentemente melodramático que é o homem, sem a mínima verosimilhança no cosmo da realidade da mulher que não distingue o espírito da carne. Eis porque as mulheres honestas sempre no fundo invejaram as prostitutas e vice-versa.” *
(...)
*In A MADONA de Natália Correia

FALTA AO MUNDO E AO HOMEM A MAGIA DA MÃE E DA MULHER...


M...



De Magia, Majestade, Magnificência, Matriz, de MÃE...

Mas antes de ver, temos de perceber que existimos entre entre o céu e a terra e somos nós próprios o maior milagre manifestado à face da Terra e reflexo desse mesmo incomensurável universo, quebra cabeças para a mente limitada do Homem e da ciência.
Cada dia que acordo rendo-me estupefacta ao pleno milagre de estar viva e poder respirar...este facto alheio à minha fraca vontade, é tão grandioso que as nossas pobres mentes se agarram às mais pequenas e insignificantes coisas do dia a dia e da rotina para esquecer tão impressionante facto...
Adormecer e acordar num acto de pura magia...O Ser humano é tão magnífico na sua constituição, tão assombrosamente "criado" que o Homem só pode pensar num Deus como seu Criador...Mas o que é paradoxal é que afinal de contas o Homem não consiga expressar nem viver de acordo com a sua magnificência e acabe destruindo por ignorância e cegueira a coisa mais sagrada que existe ao cimo do Planeta: Ele próprio.
Assim, o milagre incomensurável da vida humana é como que negado pela total incapacidade que o Homem-Mulher tem de se aperceber da sua própria grandeza. E ainda mais absurdo e caricato é o Homem destruir e matar as criaturas em nome do Criador...
Como pode o Ser Humano viver e sobreviver a este paradoxo?
De um lado um Corpo sustido e mantido por uma Energia, FORÇA Inteligente e Suprema, que nos mantem vivos a cada segundo e por outro, uma mente obscura e limitada que mata e destrói a prova mais incrível da sua grandeza que é a sua própria existência e a vida em si e de toda a Natureza.
Acordar e respirar o ar, ouvir o bater do nosso coração sincopado, com precisão, sentir o circular do sangue nas nossas veias, pulmões orgãos e vísceras, ver este esqueleto magistral que se ergue e caminha erecto sobre a Terra, que maior Milagre?

Não seria este o milagre mais do suficiente para que todos caíssemos de joelhos face à criação altíssima e incompreensivel para os nossos sentidos e intelecto e agradecer a nossa existência, respeitando a nossa VIDA e a de todos os seres vivos e elementos?
Se o Ser Humano conseguisse VER a grandeza do seu SER talvez percebesse que Ele próprio é um Deus/a...Mas aí é verdade, falta-lhe uma CHAVE que não está na Ciência mas dentro dele! rlp

Rosa Leonor Pedro - Apresentação



SOS ESTRELAS - UM LINDO PROJECTO DA SARA RICO GONÇALVES QUE DIANTE DE MIM ME PERGUNTOU ESTAS COISAS IRRESISTÍVEIS, COMO ELA...

...PORQUE NÃO SE DIZEM ESTAS COISAS SENÃO A QUEM SABE OUVIR DO CORAÇÃO...

terça-feira, julho 01, 2014

gato lavando-se...

Aquilo que pensamos extinto da sociedade moderna...



A MULHER E A SUA HISTÓRIA


"Durante mais de 300 anos, a mesma Europa que viu nascer a Idade Moderna e presenciou feitos como a conquista do Novo Mundo, a ascensão da burguesia comercial e o fim do domínio feudal, fez das fogueiras um instrumento de repressão e morte para milhares de mulheres condenadas por bruxaria." - Cadu Ladeira e Beth Leite


Aquilo que pensamos extinto da sociedade moderna, continua de algum modo latente no inconsciente da humanidade e quer os homens quer as mulheres vivem ainda com esses "fantasmas". E eles acabam por se manifestar de formas sofisticadas ou mesmo invisíveis...mas com o mesmo cunho de fanatismo e ódio...
Não é portanto na negação da violação e abuso das mulheres e meninas em todo o mundo ou na ocultação destas memórias que nos libertamos, mas enfrentando os nossos medos e atavismos e corrigindo os erros como que extraindo o verme da ignorância e o medo ancestral do oculto - aquilo que ainda não sabemos e aquilo que intencionalmente se branqueou!
As religiões patriarcais foram e são a forma mais desastrosa de contaminar pelo ódio, criando a separação dos sexos e todas as atrocidades seculares em nome de um credo... E em nome de um DEUS único dizimaram-se povos e civilizações, culturas e arte, referências de uma DEUSA, Mãe de toda a humanidade, primeira referência de amor; Uma Mulher que foi cindida em duas (a mãe e a prostituta) e cuja divisão originou para o próprio homem uma cisão da sua natureza: Sempre em luta contra o seu feminino o homem tem vindo a tornar-se um travesti em vez de integrar esse feminino no conhecimento da mulher verdadeira, quer em si mesmo quer fora de si. Por sua vez a mulher torna-se o travesti de um travesti que é a sua tentativa desesperada de corresponder ao ideal de mulher que o homem projecta dela e cada vez mais longe da sua essência MULHER. Por isso A Mulher está a tornar-se um ser em extinção... e o homem misógino por consequência da sua atitude histórica e religiosa, num onanista ou pedófilo... Na óbvia crise dos padres, está-lhes ainda impregnada na memória a ideia da mulher satânica e diabólica, Lilith que come  criancinhas ou  a BRUXA que atenta contra a sua castidade, enquanto que as crianças (da sua preferência) são os "anjinhos salvadores" que os levarão para o céu... O resultado dessa ignorância e divisão está à vista...
O mundo actual e a sua cultura é a consequência desta alienação e branqueamento da verdadeira MULHER, a Mulher  primordial e ancestral. 
É urgente que cada mulher se muna de um saber antigo e de um conhecimento inato, aliado a uma consciência de si mesma profunda, psíquica e ontológica,  que a defenda e salve deste ataque brutal histórico que agora se está a tornar cada vez mais letal em todas as frentes e de todas as formas subtis e vis, na "arte na cultura e na literatura"...no cinema e nas séries televisivas ou telenovelas em que a mulher é denigrida nas mais abjectas personagens e estereótipos ficando cada vez mais longe da sua verdadeira identidade...
rlp