O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, setembro 16, 2014

A VERDADEIRA MULHER ONDE ESTÁ


 
“ A Deusa apaixona-se por si mesma, suscitando a sua própria emanação, que passa a ter existência própria. O amor do "self" pelo "self" é a força criativa do universo. O desejo é a energia primordial esta energia é erótica: a atracção entre o amador e o amado, da luneta e a estrela, do eléctron pelo próton. O amor é o laço que mantém o mundo unido.”
Starhwak em A Dança Cósmica das Feiticeiras

Para as mulheres, a constante busca entre espiritualidade como caminho, e a busca da sua própria identidade profunda, coloca-se muitas vezes em oposição ou como alternativa. E não é uma coisa nem outra. Porque continuamos a confundir o processo dito espiritual como uma finalidade em si, comum a todos os indivíduos e a não ver este ponto crucial da realidade da mulher de hoje que é ela estar cindida em duas espécies de mulheres...e que isso gera nas mulheres todas uma ferida do tamanho do Mundo: Ela é sempre a visada como culpada de todas as quedas do homem (a causadora da “Queda” original) dentro do Sistema patriarcal. No entanto, eu diria   que a mulher é a sua vítima preferencial, ao ser afastada da sua natureza e essência primeira, e por isso ignora-se que o caminho espiritual da mulher possa ser diferente do caminho do homem, porque - e isto é algo que não se quer ver ou sequer pensar - parte da sua espiritualidade está ligada à sua Natureza intrínseca, ontológica, ao sangue e as luas, ao dar à Luz – tudo o que faz essa diferença e é a sua essência primeira. A Mulher de hoje, não estando ligada à sua fonte interna como mulher - o que acontece regra geral na nossa sociedade, totalmente alienada dessas funções primordiais e em que todas as mulheres vivem essa divisão na sua psique, sendo apenas metade de si e uma espécie de “utensílio” ao serviço dos homens, sejam maridos e filhos, patrões ou padres  - e portanto não unindo essas  partes e não tendo acesso a essa mulher das profundezas -, a mulher estará sempre sujeita ao fracasso nessa senda do homem e consequentemente o homem também porque assim nem ele tem acesso à verdadeira mulher, a mulher  inicial, ou seja, à sua Anima ou ao seu verdadeiro feminino que a mulher lhe devia espelhar e não pode. Essa divisão-cisão na mulher não só a impede a ela de ser uma totalidade em si como mulher, como impede o próprio homem de chegar a si mesmo pois ele chega à Deusa e ao seu feminino através da Mulher...Assim eram as iniciações antigas dos homens nos Templos sagrados ao Amor da Deusa e que eles substituíram por bordéis e lupanares.

A razão de Jung ter qualificado a anima como parte integrante ou dominante do masculino e o animus parte do feminino, invertendo as polaridades,  associando esse princípio e a meu ver mal, ao Yin e ao Yang é que embora estes dois aspectos estejam em  ambos os seres, e isso é efectivamente uma verdade,  e nem um nem outro, homem ou mulher,  estão na plenitude dessa consciência cósmica universal que é representada no Tao ou vivendo a integração desses dois lados ou polos do Ser em Um só, e dai a ideia da necessidade de “completude”, na  união do par alquímico quer dentro quer  fora de cada ser. Mas parece-me um total absurdo, embora compreensível na época, designar  a anima à partida como parte integrante do masculino e o animus na mulher predominantemente.
O facto é que na época de Jung e Freud etc. se dava como natural essa cisão na mulher e o que ela reflectia dessa cisão e conflito profundo dentro de si, que era apenas considerada uma patologia, neurose ou esquizofrenia, sendo a mulher “naturalmente” por condição...uma histérica ou um mistério, um ser complexo e por vezes até um ser “desnaturado” etc. - ver como tratavam a mediunidade e a sexualidade das mulheres... Na verdade toda essa "patologia" era e é  apenas uma consequência da Psique Feminina dividida e  essa cisão manifestar-se  numa ferida profunda na mulher, sempre em luta consigo mesma, forçada pelas regras de uma sociedade paternalista e pelas leis  patriarcais  a ser uma (a esposa)  ou a “outra” (a mante) pelo facto de terem  relegado a uma inferioridade congénita diria, atribuindo-lhe  um duplo papel, o de esposa e amante, o de mulher "natural" dedicada ao homens e aos filhos,  a santa e a esposa,  e a de uma mulher promiscua, malévola, a amante, e isto ao instituir o casamento como via única para a mulher e  se esta não fosse casada e portanto pertença do Homem teria assim de se prostituir…separando a função maternal do prazer e o prazer da mulher totalmente abolido no coito marital. Mas esta ideia e preconceito milenar está tão inculcado nas cabeças das pessoas ainda, sobretudo dos homens e tão enraizado na mente colectiva, e nas próprias mulheres passivas e submissas, que nem os homens mais espertos, como os psicanalistas e médicos  deram por nada…Claro nem lhes convinha...eles próprios aprisionaram filhas e mulheres...e condenaram amantes...

E aqui começa uma nova história…Para isso há que ter em conta o branqueamento feito à mulher verdadeira, o seu apagamento como ser autónomo e livre, a mulher inteira, assim como o da Deusa Mãe, ambas banidas da história dos homens e das suas religiões – que mantêm uma “deusa imaculada” e estéril no altar das suas Igrejas e condenam a mulher real a exploração mais abjecta. Eles dominam o Planeta há milénio submetendo e explorando metade desta humanidade: as mulheres e as Mães…
rosaleonorpedro

3 comentários:

Unknown disse...

Palmas!!!

Anónimo disse...

Texto brilhante !Parabens !
Agenor.

Ná M. disse...

QUERIDA ROSA!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ESTE TEXTO É MAIS UM Q IMPRIMI !!! O HOMEM ESTA SENTINDO AFETO POR SI, MAS SÓ PQ TEM AS MULHERES!!!!! OU SEJA,ELES O SENTEM ATRAVÉS DA MULHER!!!!!!!

ROSA DO CÉU..........