O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, outubro 31, 2014

A sociedade de conquista

OS PARADOXOS SOCIAIS
DA SOCIEDADE DE CONSUMO


 A mulher expõe o corpo de consumo e diz: "eu não mereço ser estuprada" - ela "oferece" (assim é a sua imagem a nu na sociedade de conquista por qualquer preço, na sociedade que usa e abusa o que é do outro/a, nomeadamente da mulher como sua propriedade) e a pobre coitada não entente porque é violada, uma vez que o nu da mulher e o próprio corpo por si só é um simples produto de conquista (material) do possuir e ter do homem dono na sociedade patriarcal. rlp
 
 

   


"As mulheres, sem se aperceberem, são o mais fiel retrato da sociedade de conquista e consumo criada pelo homem. Sociedade esta que por endosmose, opera no campo energético sensível da mulher.

O paradigma da conquista e consumo passou a permear o quotidiano uma vez que foi incorporado na identidade psicológica individual de maneiras que estão longe de ser evidentes. O verbo "conquistar" é na sua natureza diametralmente oposto à espiritualidade feminina que está intrinsecamente ligada à diversidade da vida como reflexo da biodiversidade da Mãe Terra, ao espaço para respirar, à liberdade de espiritualidade. A raiz da palavra espiritualidade é "spiritus" a palavra latina para respirar, a essência de Vida de que a Mulher é o Cálice.

A aderência aos grupos New-Age do Sagrado Feminino parecem ser um esforço desesperado de mulheres que tentam encontrar a sua identidade numa civilização que se afirmou como cultura dominante. A dinâmica de sobre-poder da actual civilização é um produto da conquista e subjugação que cresceu no feudalismo europeu, no patriarcado, na ditadura teocrática, na possibilidade de exercer o poder sobre outros seres. O que aprendemos sobre o conceito de civilização é a soma de histórias de conquista escrita pelos conquistadores. A espinha dorsal do materialismo e da psicologia materialista é o elemento da conquista que permite aceitar outras pessoas como objectos que podem ser manipulados para ganho egoístico. Esta conquista, passou a incluir para algumas mulheres as outras mulheres, as suas ideias e os frutos das suas ideias.

E não ficou por aqui...
O elemento de conquista que caracteriza o materialismo da sociedade ocidental tornou-se num fundamento que passou a contaminar as inclinações espirituais, perdendo-se a possibilidade de relacionamento com pessoas e objectos que não seja o de um sistema dissimulado de conquista aplicado ao que se entende como espiritual. O sentido da Vida e de realização pessoal manifesta-se no "Eu" e no "Meu" em termos de poder, querer e ter mais coisas. Isto significa a possibilidade de apropriar-se da espiritualidade de outras culturas, depois de desperdiçado e profanado fatalmente o património matriarcal primevo numa atitude materialista de conquista e posse.
Nesta busca por uma nova identidade cultural revivem-se antigos cultos ou opta-se pelo facilitismo da apropriação da sabedoria de antigos mestres, adopta-se a espiritualidade de outras culturas. A busca espiritual transformou-se em conquista, saque, estupro de outros legados culturais e espirituais.

Temas relacionados com a Nova Era do Sagrado Feminino passaram a ser objectos de consumo, enfatizando simultaneamente que a integralidade de se ser Mulher pode ser adquirida num produto vendido em forma de livro, encontro, formação ou workshop. E assim, são oferecidas às mulheres técnicas atraentes que as levam a enveredar pelo trilho da ilusão de um estado superior da conciência de si , saltando de uma prisão para outra, descobrindo que, após o fascínio desgastado num curto período de tempo, continuam profundamente insatisfeitas, sentem que algo está errado mas estão tão absorvidas em escapar à dor que não suportam a ideia de centrar-se o tempo necessário para aprender a verdadeira natureza da doença . A Pedra de Toque não está à venda nem pode ser adquirida por processos de troca materialista em cursos de xamanismo, yoga, tantra, anjos, astrologia, danças, cânticos, tendas vermelhas, oráculos. É possivel apenas adoptar temporariamente uma maquilhagem e ser a caricatura desajeitada de uma personalidade sacerdotal de outra cultura para, no final, retornar ao ponto de partida, a um estado de insatisfação omnipresente.
Frustrado o intento, voltam à mesma rede de comércio, um sub-produto da cultura do materialismo para atender à angústia pessoal, perpetuando um círculo de enganadoras e enganadas.

O estado superior de consciência da Mulher Integral é uma etapa posterior à consciência do estado actual, que examinou a natureza dos sentimentos, a causa dos sentimentos, a cultura e a estrutura social que os produziu. A Mulher Integral venceu a necessidade de afirmação como desenvolvimento de poder pessoal para passar a abordar a cura da sociedade feminina como um esforço colectivo."


ANANDA KRHISNA LILA

2 comentários:

Ná M. disse...

Pois é ! Sim ! Somente com a conscientização feminina da sua divisão entre a santa e a prostituta é que podemos começar a reintegrar nossa psique e voltarmos a ser respeitadas e valorizadas socialmente

rosaleonor disse...

Obrigada Ana!