O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, agosto 25, 2014

A OPRESSÃO DO SER HUMANO

 

 
E A ESCRAVIDÃO DA MULHER


 Este mal que assola o mundo de hoje ainda vem e é perpetuado desde sempre tendo a mulher como vitima de todas as tiranias e opressões ao longo do séculos. Se a Mãe do Homem é destituída de ...valor em si, se a Mulher é escrava sexual do homem e a humanidade reduzida a uma metade que domina a outra metade, nunca o Homem poderia respeitar outro ser humano se a sua própria Mãe o não foi...

rlp
 

A BUSCA DO GRAAL...



"Nessa altura, Morgana sente o poder da Deusa invadindo-lhe o corpo e a alma, inundando-a. Ela segura a taça e fala com a Deusa: Sou todas as coisas - Virgem e Mãe e Aquela que dá a vida e a morte. Ignorai-me e poreis a vida em risco, vós que invocais outros Nomes... sabei que eu sou a única -. E, então, a taça, a âmbula e a lança, as Sagradas Insígnias da Deusa, desaparecem, por magia, levadas para Avalon de forma a não serem jamais profanadas por sacerdotes e homens que a A negam e os cavaleiros espalham-se pelos quatro ventos em busca do Graal"

Jean Shinoda Bolen - Travessia para Avalon

AS RAPARIGAS DE HOJE...E DE ONTEM...

O PAÍS DA RAPARIGA BREVE

De Portugal diz-se normalmente que é o país mais antigo, ou um dos mais antigos, do mundo ou pelo menos da Europa. Ele é o país da Anciã, da velha Deusa Cale, Beira, Calaica, uma Velha muito velha, mais antiga que o tempo, e muito sábia porque a sua longuíssima, eterna, vida lhe ensinou tudo o que havia para aprender e sobretudo lhe permitiu viver tudo o que havia para viver, todo o sucesso e toda a derrota, todos os ganhos e todas as perdas, todas as ilusões e desilusões, todas as mortes e renascimentos. Vezes sem conta. Estão a ver a Velha matreira, picante, das histórias populares, a que muda de forma, a sem forma, a que rola encosta abaixo dentro duma cabaça? É Ela, Aquela que coloca desafios e apresenta enigmas insondáveis que fazem perder a pose e a compostura e ter consciência das nossas humanas limitações e ralações, A que foi transformada na Bruxa Má (Bruxa tudo bem, mas “Má” já é simplória desinformação da propaganda patriarcal). Muito sábia e capaz do amor maior e da maior compaixão, pode perceber-se a Sua maravilhosa energia numa Grande Avó que fosse livre e tivesse real poder.

Apesar disso, neste país tão antigo é confrangedor ver o modo como as pessoas se tornaram descartáveis. Todas poderosas na sua juventude, vão paulatinamente perdendo viço e colorido, exuberância e visibilidade, voz e poder à medida que o tempo vai passando. O que viveram e experienciaram não conta mais para nada.

Este tornou-se o país da rapariga, que em vez de sábia é “sabida”, ou arrogante, e sumamente ambiciosa. A sua arrogância e ambição crescem na exacta proporção da sua confrangedora ignorância e falta de mundo. Mas sabe de computadores, de aipades, aipedes e aipodes e telemóveis de última geração e conhece o jargão que permite manter o contacto sem ter de basicamente dizer nada de relevante e muito menos de novo e de pensado. Sabe de celebridades, de marcas, de moda e decoração e fez longos estágios no shopingue. Tudo coisas que a sua mãe desconhecia quando tinha a sua idade, o que lhe dá sobre ela um vertiginoso ascendente. À mãe resta agora a hipertensão, o colesterol e a diabetes, se tiver sorte, e as novelas, que já não são apenas brasileiras, mas sobretudo um glorioso produto nacional de última geração.

Isto não é um exclusivo nem nacional nem das raparigas, óbvio (veja-se o fenómeno futebol) e parece que é o resultado da tal era tecnológica ou tecnocrática em que a técnica e o técnico de informática são quem reunirá as melhores condições para formar governo.

É também o tal culto da juventude. Está tudo ligado, óbvio, e tudo pensado na óptica do mercado, e a situação parece complicar-se dado o poder crescente de que gozam as crianças desde o berço, como se duma forma inesperada e sumamente perversa tivéssemos alcançado já a tal Idade do Espírito Santo, aquela utopia do Joaquim de Fiore em que a imperadora ou o imperador serão… uma criança…

Este estado das coisas, se não é criado por, é pelo menos mantido, entretido e entretecido pela televisão omnipresente. Não existe neste país espaço urbanizado onde se esteja a salvo da estridência duma tvi, com vários ecrãs se for preciso num mesmo espaço. Ora, em tempos e lugares assim não precisamos de ter vida própria, que dá muita chatice, é um enorme gasto de meios, comporta inúmeros perigos e não oferece nenhuma garantia de sucesso, nem dela nunca sairemos viv@s, como se sabe. Basta vê-la na televisão. 

De resto que espécie de vida poderia competir com a excitação, a frescura e o glamur da que aparece nos ecrãs da televisão, devidamente condimentada com doses massivas da adrenalina do crime passional ou dos gangues dos shopingues? Não senhora, podemos viver perfeitamente nas novelas que se sucedem pelo dia fora, e essas sim com gente a sério, viva, jovem e de última geração, lembrando aqueles insectos duma beleza estonteante que subitamente e apenas por um brevíssimo instante eclodem em toda a sua glória à luz do dia.

Se espreitarmos por um bocadinho que seja esses dramas da juventude das novelas, entretanto, como já me aconteceu, havemos de constatar incrédulas que são os mesmíssimos dos respectivos progenitores só que em cenários ligeiramente diferentes, mais modernizados pelos estilo ikeia.

E porque os aipades, aipedes e aipodes não têm como explicar as armadilhas onde vão perder a pose e o brilho, as raparigas vão sendo substituídas por outras cada vez mais novas e mais arrogantes e engrossar o lote das mulheres transparentes, hipervulneráveis, serviçais, desautorizadas e resignadas, que suspirando e desculpando-se com os picos da tensão e diabetes se recostam nos sofás da casa deleitando-se com a vida das raparigas das novelas como quem se refastela com os restos dum banquete do qual se foi inexplicavelmente, mas também não faz mal, banid@...

Luiza Frazão
 

quinta-feira, agosto 21, 2014

EROS E PSIQUE



“Eros que personifica o amor divino, apaixonou-se por Psique, que representa a alma humana. Levou-a para um palácio encantado, onde a visita todas as noites. Todavia, é-lhes colocado um interdito: ela nunca deve ver o rosto dele (*). As irmãs de Psique murmuram-lhe que, se assim é, dever-se-á certamente ao facto de Eros ser um monstro. E esta dúvida insinua-se em Psique, a qual não aguentando mais, acende uma lâmpada de azeite para poder confirmar, por si mesma, a beleza do seu amante. Mas no instante em que ela o descobre maravilhosamente belo, uma gota de azeite cai da lâmpada e acorda-o imediatamente. Eros e o palácio desaparecem. E Psique fica sujeita ao poder da ciumenta Afrodite, que a leva consigo para os Infernos.
    Apesar de tudo, a história terá um fim feliz: Eros conseguirá recuperar Psique, mas “com o favor do sono”, e Psique permanecerá para sempre unida ao amor divino.

O que surge duas vezes sublinhado nesta história – através do interdito de ver o rosto, e depois pelo sono que permite os reencontros – é a necessária aceitação no outro de uma identidade que lhe é própria, de uma radical alteridade.

    Pelo contrário, os Infernos simbolizam um universo no qual o outro não tem direito de ser outro: qualquer alteridade, qualquer diferença não fazem senão atiçar o fogo da inveja; Afrodite, tal como a serpente, reúnem assim toda a sua energia com o fim de nivelarem e reduzirem no exterior delas tudo aquilo, que, não se lhes assemelhando, ataca a sua identidade.

Nicole Jeammet O Ódio Necessário Editorial Estampa

(*) Não ver o rosto é também não possuir o outro... em que cada um pode ser ele próprio, no segredo do seu próprio coração.

quarta-feira, agosto 13, 2014

MORRER DE AMOR...

As pessoas morrem por causa da paixão.
As pessoas morrem por causa da paixão. Morrer de amor.

Isto pode ser entendido de tantos modos, pois a força da paixão é fonte para o bem e para o mal, é a árvore do conhecimento.

A paixão não é apenas fator desestrutarador do ego que conduz a deliciosas loucuras. É mais do que isto. É como disse Eliphas Levi: a vênus física é a morte travestida e mascarada de cortesã.

Se as pessoas fosse imortais não haveria a necessidade de paixão, pois o instinto sexual que conduz a reprodução da espécie deixaria de ter sentido. Perpetuar a espécie seria desnecessário.
Mas esta eternidade sem paixão não seria o inferno?

Ou o inferno é um nome para paixão frustrada?

A morte seria um preço justo pela paixão?

E quantas mortes a paixão frustrada provocou?

Viver eternamente ou abraçar à Vênus física?

Os filhos dos deuses não se enamoraram pelas mulheres da Terra? E isto não foi a queda dos anjos? O amor terreno é incompatível com o amor celeste? Quem pode conciliar em si o céu e a terra em tremenda alquimia?

Jesus morreu por causa da paixão, não só por Madalena, mas pela humanidade. Maria Madalena expressa a humanidade com todas as suas qualidades. Paixão sublime e paixão humana em cruz. Morte na cruz, símbolo da união entre o masculino e o feminino, entre o falo e o útero, a paixão crística, o caminho gnóstico.

Adão e Eva morreram por causa da sedução da serpente ao serem expulsos do paraíso por um deus que os impediu de provar da árvore da vida, geradora do fruto da eternidade. A partir daí eles geraram filhos e filhas e por isto que o primeiro livro chama-se gênese. Gênese da queda, da morte e da dor da separação. Gênese 3, três, a Imperatriz do Tarot, a geratriz.

A serpente é o símbolo clássico da libido, da força geradora, da energia criadora. Em sua forma de Ouroboros é o símbolo da eternidade. A serpente tentadora é também redentora, pois caímos por onde se pode subir. A paixão nos precipita e nos arrebata.

Aqui há mistério, há desafio, arcanos dentro de arcanos: Morte, Temperança e Diabo; 13, 14 e 15. 13 + 14 + 15 = 42 = 6. Os Amantes, os Enamorados, Adão e Eva diante da escolha entre o vício e a virtude, entre a serpente tentadora e a serpente redentora. Só a consciência unificadora da dualidade permite uma escolha precisa, equilibrada e vitoriosa, pois as duas serpentes são uma só força. Quem poderá compreender isto?
 
fernando augusto
in ROTA DO TAROT

sexta-feira, agosto 08, 2014

HOMEM - ACÇÃO - MULHER - EMOÇÃO?



A "SENSIBILIDADE GROSSEIRA" DOS HOMENS - a que ainda não evoluiu para um estado homogéneo"- ou a falta de sensibilidade (do lado feminino) no homem?


..."um homem heterossexual que só mantinha relações de amizade e de intimidade emocional, com homens, e com as mulheres, relações desprovidas de convívio e intimidade, mas reservando para elas, a componente sexual, e a sua vontade, não conseguida, de alterar esta condição. Podemos catalogá-lo como um individuo cindido, fragmentado, ou à luz da diferenciação emocional, um individuo que apresenta fixidez - sensibilidade grosseira - e que (ainda) não evoluiu para um estado homogéneo, maturo, socialmente mais ajustado e desenvolvido cognitivamente e emocionalmente - sensibilidade discriminada." - Cristina  Simões

O que esta observação me sugere...e traz à tona a minha ideia é que de facto entre homens e mulheres há um fosso emocional...ou por outra,  que entre os homens e as mulheres em geral não há uma troca emocional equivalente ...mas sim, um relacionalmente estritamente sexual; e que essa emocionalidade dada como uma suposta "sensibilidade" também não existe comumente entre homens...a não ser nos homossexuais, à partida...

Eu não estou a contrapor a minha ideia à da autora deste texto, aqui descontextualizado, mas que poderão ler na integra no poste anterior a este e totalmente independente deste. Eu apenas quero salientar que a cisão ou fragmentação não se dá no homem mas sim na mulher e que isso acaba por se reflectir nas relações entre homem e mulher e especialmente no casamento ou nas relações amorosas em geral.

Se partirmos do princípio que cada um dos sexos está condicionado por um comportamento estereotipado, tipo, "Mulher de Vénus e Homem de Marte", em que o homem luta e faz a guerra e não pode nem deve manifestar emoções, que são uma fraqueza por serem originalmente atribuídas à mulher e femininas na sua essência, Vénus, faz amor e também "protege"... assim, como se diz, que "um homem não chora", também ele não deve ter emoções...daí que seja e de acordo em parte com a sua natureza e o tipo de "sensibilidade grosseira", a masculina, então não há homogeneidade emocional entre homem e mulher.  Tendo a acção e objectividade de um lado, o homem, e do outro,  a passividade e subjectividade, a mulher,  como princípios - não se encontrando ambos com a outra parte de si não integrada (o feminino nos homens e o masculino nas mulheres), o que eu constato como facto e falando em geral,  é que o homem  também por princípio não expressa a suas emoções nas relações (dito isto grosso modo) e  daí não conseguir ser emocional tanto com as mulheres como com os outros homens, reservando entre si (homens) alguma intimidade cúmplice mas não baseada em sentimentos recíprocos, mas sim normalmente em afinidades de grupo predador/abusador das mulheres...e por isso estabelecerem relações  com as mulheres sem emoções porque elas são social e psicologicamente inferiores precisamente por não serem racionais nem logicas nas suas manifestações amorosas ...Os  homens não só  não as compreendem emocionalmente uma vez que as consideram - caprichosas, irracionais,  sentimentais em excesso, histéricas etc. - como não têm regra geral  paciência para esse tipo de manifestações. É evidente como em  tudo há as excepções...

Entender as ligações entre homens e mulheres nesta sociedade patriarcal, em que o imperativo do falo e da posse da mulher objecto, com o domínio de um sobre o outro, é fundamental para entendermos as respectivas psicologias assim como a psicologia do casal heterossexual, em que o fosso emocional é enorme e por isso mesmo as relações do casal são meramente sexuais, embora cultural e idealmente se pretenda hoje em dia uma igualdade de géneros - em que homens e mulheres são homogéneos na sua interecção, o que só seria possível  tendo ambos o seus lados feminino/masculino integrados - o que não é de todo o caso ainda! Sendo assim, não se pode considerar uma cisão no homem nem uma fragmentação porque a meu ver ele não tem nem partilha emoções (que são sempre uma vergonha para si) entre homens ...nem  com as mulheres...ou raramente...
Temos de ver sim e ter em conta que essa cisão/fragmentação de facto  corresponde a uma divisão da psique feminina em duas mulheres, dois estereótipos, uma "mulher frigida e pura" por um lado de forma estanque e do outro lado a outra "quente e impura"...(as Afrodites e as Héstias e Aquelas...) dividida a mulher na sua capacidade de ser sensual e maternal em simultâneo e  mantendo-a sempre presa a um dos lados do estereotipo de acordo com o papel que a sociedade e a lei lhe quer dar...Ora por comparação  o homem não é dividido em si na sua natureza intrínseca e identidade sexual e erótica como a mulher o é para dar lugar ao homem  sério e fiel...bem pelo contrário. Quantos mais mulheres o homem tem mais viril ele é, enquanto que a mulher se tiver mais de um homem é uma puta e uma devassa etc.mesmo que seja consensual a ideia de que ela é livre e poder ter amantes,  a dura realidade é que ela acaba por ser sempre punida pela família sociedade por isso ou mesmo  ser morta pelos maridos amantes e  companheiros...

Então como é que vamos sair deste impasse?

O que acontece de facto, é que enquanto não entendermos que homem e mulher são  diferentes e sendo opostos são complementares, ou enquanto se pretender uma pretensa igualdade de géneros não se pode ver que quem vive uma cisão em si e que a mutila de uma totalidade é a mulher e como elemento complementar do homem, ela está cindida em duas... então nem o homem nem a mulher poderão efectivamente ser um par ou o casal alquímico...
Daí que a enfase do que escrevo esteja posta quase exclusivamente na necessidade da mulher ter uma consciência de si e do seu feminino profundo, da sua ferida no amago de si mesma, para poder fazer a ligação à mulher original que desconhece - uma vez que nem enxerga a sua divisão em duas mulheres antagónicas dentro de si e sempre em luta  -  e  parte para a relação a dois sempre em desvantagem e presa dessa dicotomia (a quente e a fria, a boa e a má) - sem perceber que não fazendo sse trabalho consigo mesma o  par almejado nunca é alquímico e complementar, mas manco...uma metade mulher...que nunca sabe de que lado dela está...e é imprevisível, e se revela a curto ou longo prazo na relação como histérica e maníaca ou doente, bipolar, com uma neurose grave...disfunção da personalidade etc. Talvez um cancro na mama ou do útero do qual ela esteve toda a vida separada  ao fim e ao cabo.

rlp

quinta-feira, agosto 07, 2014

A prostituição é um dos principais produtos do casamento civilizado



A FALTA DE MATURIDADE DOS HOMENS
E A PROSTITUIÇÃO VERSUS CASAMENTO:


 

"A grande maioria dos homens no nível cultural presente nunca avança além do significado maternal da mulher e esta é a razão pela qual a alma raramente nele se desenvolve além do nível infantil, primitivo da prostituta. Como consequência, a prostituição é um dos principais produtos do casamento civilizado."
 


C. G. Jung

...emoção e atracção sexual...?



O que é uma relação de amizade e uma relação amorosa? Há pessoas que têm dificuldade em distinguir isto.”

António Coimbra de Matos* (psicanalista)

"Fala-se de se ser capaz, ou não, em discriminar, entre a diversidade de emoções que envolvem uma relação de amizade, das nuances que envolvem uma relação amorosa.
A importância de se ser específico: naquela relação, sentimos raiva, ou vergonha? Ou raiva, porque na realidade, sentimos culpa? 
Para melhor compreendermos de que estamos a falar, há dias perguntava a alguém “Estás triste?”, ao que ela me respondeu: “Não. Estou desiludida comigo”, e acrescentou: “Porque sei que podia ter feito melhor.” 
É revolucionário o quanto esta complexidade em distinguir os sentimentos e as significações pessoais, poderão ajudar-nos a lidar com os problemas e a melhorar a vida. É um tipo de inteligência emocional. 
Revolucionário, também o conceito, se tivermos em conta que todos nós evoluímos desde bebés, de uma sensibilidade grosseira para uma sensibilidade descriminada, na vida adulta - processo de diferenciação emocional -, e que nem todos lá chegamos, àquele estado de exatidão na distinção dos sentimentos.
Continuando, não deixei de me surpreender com Coimbra de Matos,  naquela conferência, com o exemplo que escolheu para ilustrar as dificuldades no dito processo: um homem heterossexual que só mantinha relações de amizade e de intimidade emocional, com homens, e com as mulheres, relações desprovidas de convívio e intimidade, mas reservando para elas, a componente sexual, e a sua vontade, não conseguida, de alterar esta condição. Podemos catalogá-lo como um individuo cindido, fragmentado, ou à luz da diferenciação emocional, um individuo que apresenta fixidez - sensibilidade grosseira - e que (ainda) não evoluiu para um estado homogéneo, maturo, socialmente mais ajustado e desenvolvido cognitivamente e emocionalmente - sensibilidade discriminada."   

A EVOLUÇÃO nas palavras de Coimbra de Matos:
 
 “Nos primeiros tempos de vida extra-uterina o bebé vive um estado de indiferenciação anímica - uma sensibilidade geral de tipo protopática (grosseira, difusa, sincrética, não discriminativa), desenvolvendo-se na sequência, e a pouco e pouco, para a sensibilidade diacrítica (descriminada, ou seja, consciente das diferentes subtilezas das emoções e sentimentos).”

*Psicanalista, na conferência “Promoção da Saúde Mental na Criança”, organizada pela CPCJ, que decorreu no Funchal no passado dia 27.6.2014

 in INCALCULÁVEL IMPERFEIÇÃO

quarta-feira, agosto 06, 2014

"Eu sinto, logo existo"

 

 
AS MULHERES SENTEM-SE? 

"As mulheres, de maneira geral, são condicionadas desde a infância a depender de membros do sexo masculino de nossa sociedade para conceptualizar e iniciar as mudanças. Os feiticeiros, a cujo treinamento me submeti,... tinham opiniões bastante definidas a este respeito. Consideravam indispensável que as mulheres desenvolvessem seu intelecto e ampliassem sua capacidade de análise e abstração, a fim de obterem uma melhor compreensão do mundo à sua volta."*

- Sim, isto é verdade em parte e em alguns lugares remotos do mundo, mas para as mulheres ocidentais, as mulheres ditas civilizadas, não, pois elas desenvolveram de há quase um século a esta parte, precisamente o seu intelecto e a sua capacidade de análise exclusivamente em detrimento da sua intuição e capacidade de síntese...e isso fez com que afinal as mulheres se perdessem da sua essência, da sua natureza profunda, ctónica e visceral, viradas apenas para o mundo objectivo e a ciência em vez de ter em conta a sua subjctividade e ir além dos cinco sentidos... e assim vivam completamente dependentes, ainda, não só dos homens, como da sua maneira de ser e pensar que é estritamente masculina e tem a ver com todos os padrões e referências de conduta social e moral que aprisiona a mulher de forma ora ostensiva ora subtil!
Assim como as universidades e a formação académica é apensa e só o pensamento do Homem que a omite simplesmente da língua e não fala em momento algum do Ser Mulher e ignora totalmente uma maneira diferente de ser e de sentir e até de se expressar. A mulher é aglutinada na linguagem e em todas as suas expressões que caracterizam o cérebro direito...usando como os homens apenas o cérebro esquerdo...que deu no "Eu penso logo existo" - que no caso da mulher seria: "Eu sinto, logo existo"...e desta forma vemos que as premissas todas desta humanidade está falha e desequilibrada e daí o caos e a ignorância - nomeadamente o ódio à mulher - que reina neste mundo racional e lógico e falocrático, que é o Sistema social político e religioso patriarcal.
Não digo com isto que seja um hemisfério apenas a estar activo, e imperar o da mulher...Não, mas os dois (esquerdo/activo/positivo e direito/passivo/negativo) em equilíbrio...como é "lógico"...e com isto podemos ver que o ser lógico é muito redutor ou muito estúpido...

rosaleonorpedro

*in Taisha Abelar, Travessia das Feiticeiras

segunda-feira, agosto 04, 2014

A deusa electriza a mulher moderna...




O ORGULHO DA DEUSA VIVER EM NÓS…
*

“O simbolismo da deusa electriliza a mulher moderna. A redescoberta das antigas civilizações matriarcais nos dá um senso profundo de orgulho, de ver a nossa capacidade como mulheres em criar e produzir cultura. Denunciar os erros do patriarcado nos dá um modelo de força e autoridades femininas. A deusa arcaica, a divindade primordial, a senhora dos caçadores da idade da pedra e das primeiras sementeira de grão, sob cuja inspiração os animais foram domesticados e as plantas medicinais descobertas, aquela cuja imagem deu origem ás primeiras obras de arte que foram criadas, para a qual foram erigidos os megalitos, aquela que inspirou a música e a poesia, é novamente reconhecida hoje.”
*
“Na Witch craft, Caminho da Deusa”* nós não cremos na deusa, nós nos religamos a ela através da Lua, das estrelas, do oceano, da terra, através das árvores, dos animais, dos outros seres humanos, através de nós mesmas. Ela está aqui, ela está no coração de todos e de tudo. A deusa existe antes de toda a Terra, ela é o obscuro, a mãe que nutre e que produz toda a vida. Ela é o poder fecundante da vida, o útero, mas também a tumba que nos recebe, o poder da morte. Tudo dela provem, tudo a ela retorna…Ela é o corpo, e o corpo é sagrado. Útero, seios ventre, boca, vagina, pénis, ossos, sangue; nenhuma parte do corpo é impura, nenhum aspecto do processo de vida é manchado pelo pecado. O nascimento, a morte e a dissolução são três partes sagradas do ciclo. Quer comamos, façamos amor ou eliminemos os dejectos de nosso corpo, sempre manifestamos a deusa.
*
Seu culto pode assumir qualquer forma, em qualquer lugar; ele não requer liturgia, nem catedral nem confissão. (…) O desejo é a cimento do universo, ele vincula o electrão e o núcleo, o planeta ao sol, ele cria as formas, ele cria o mundo. Sigam o desejo até ao seu termo, unam-se ao objecto desejado até se tornarem esse objecto, até se tornarem a deusa.”

“Para a mulher, a deusa simboliza o seu ser mais profundo, o poder libertador, nutritivo e benéfico. O cosmo é modelado como um corpo de mulher, que é sagrado. Todas as fases da vida são sagradas. A idade é uma bênção, não uma maldição. A deusa não limita a mulher a ser um mero corpo, ela desperta o espírito, a mente e as emoções. Através dela a mulher pode conhecer o poder da sua cólera, assim como a força do seu amor.”

Star Hawk - hoje em Portugal...na Senhora da Azenha - 
(Com muita pena minha não poderei estar presente...)

*
Citações tiradas de:
Tantra – O Culto da Feminilidade - Outra visão da vida e do sexo
André Van Lysebeth

sexta-feira, agosto 01, 2014

UM ESBOÇO AÉREO

I-REFLEXÕES...

Oh amo-te tanto, tanto, tanto, mas  tanto, que te odeio...

O amor e o ódio:

São as duas faces da mesma moeda...ninguém odeia verdadeiramente ninguém sem primeiro a amar...e quanto mais amar mais odiará, para isso basta-lhe a dúvida ou a suspeita de poder ser abandonado ou ser traído...
No amor em geral e diante da ideia da perda ou da traição, não raramente o amante que se sente enganado ou preterido, diz odiar o rival mas na verdade não faz mais do  projectar nele o ódio que sente do amante tentando preservá-lo da destruição iminente ou da culpa porque querer salvaguardar ainda a posse desse amor...
Enganamo-nos todos filosófica e culturalmente ao querer pensar que o amor é apenas amor e que o ódio é apenas o ódio...mas não. No caso, e em geral,  até pode o amor ser só um ideal a atingir e se pensa que o que se imagina é o que se sente ou ser só um mito e vivermo-lo como tal e assim o equacionamos...e com o qual nos engarmos com ideais mansas e poéticas mornas; assim como não queremos ver ou aceitar o ódio como parte integrante do amor pela sua intensidade ou ainda não querermos ver que o ódio à partida (sem amor)  possa ser a grande falta de um amor, desejo de amor que se não teve ou não tem...e que sendo de alguém que nos rejeitou daí ter nascido o ódio, seja à mãe - primeiro objecto de amor -  ou ao pai, ao irmão...e esse ódio é posteriormente projectado  no próximo, na humanidade em geral...tal como no rival e por isso se diz e tenta manter esta assimetria: "ama o próximo como a ti mesmo", mas se o ser humano não conhece senão a face do ódio... como amar...senão só com ódio?
Claro que há uma carga enorme e pejorativa, castradora da ideia do que é ódio...que é uma rejeição mental do visceral...como da MULHER ctónica, e da Natureza instintiva...abissal, da Morte...

Porque é que Sócrates teria afirmado que:

"se deve temer mais o amor de uma mulher, do que o ódio de um homem"?

Porque a mulher não há dúvida está muito mais perto dessa intensidade dramática, desse paroxismo que é o amor/ódio  do que o homem que racionaliza e divide...enquanto a mulher não, ela sente a totalidade, faz a síntese e só pode ser a expressão dessa totalidade.

E tal como diz Ovídio: 
 
"Quem põe ponto final numa paixão com o ódio, ou ainda ama, ou não consegue deixar de sofrer." e ainda aí temos na mulher o melhor exemplo do que ele diz ...e para o exemplificar temos Nietzsche a afirmar...que:
 
"onde não intervém o amor ou o ódio, a mulher sai-se mediocremente."
 
Quer dizer, só é total e grande - não medíocre - a Mulher que ama e odeia com a mesma intensidade...

E para concluir este meu esboço aéreo sobre o amor... diz Rochefoucauld:

"Se julgarmos o amor pela maior parte dos seus efeitos, ele assemelha-se mais ao ódio do que à amizade."

Portanto e de forma muito grosseira  temos á vista essa síntese AMOR/ÓDIO como verdadeira e derradeira paixão e a amizade apenas uma forma de amor nobre e morna enquanto que o amor-ódio é a grande paixão pela qual vale a pena viver e morrer...
Sim e pela qual morreram e se suicidaram imensos poetas e pares amorosos da história romântica, muito mais perto da verdade humana do que estas teorias todas recentes e "modernas" que espartilham o amor em preceitos dourados, limpos e ascéticos...como a ideia do amor incondicional etc. que tresanda a catolicismo nova era...

ADENDA:

Isto não é uma apologia do ódio per se, mas observar que quase  ninguém quer ver que é preciso amar muito para odiar...e odiar é apenas a outra face do amor...quem ama pouco nem  sabe odiar porque esse amor pouco mais é que nada...e daí à indiferença também é um nada...que é o que quase toda gente "ama"...nada; e não confundir o que eu digo com o vulgar da bestialidade da violência doméstica e da violência do homem predador da mulher ou dono da mulher enquanto tal e que muitas vezes em nome desse suposto "amor" que não é senão posse e ...ódio...diz matar por amor...
Vamos subir a fasquia um pouco mais alto!
Pode-se matar ou morrer de amor...por não ter o amor que se ama mas por AMOR E NÃO POR ÓDIO e aqui está o cerne do maior paradoxo desta Humanidade....
Paradoxo sagrado que a mente não pode converter em lógica ou razão...pois pertence à unidade á eternidade: é a nossa ferida maior da encarnação e que é a separação/cisão do Ser/alma que nasce na Terra e almeja pelo par como pela sua própria perfeição-totalidade e a projecta no outro e vê-se a braços com a dualidade...

rlp

PS
alguém quer discordar de mim?

Extremistas islâmicos do Iraque ordenam mutilação genital de mulheres em massa.

 
 
 
UM CRIME MAIS
CONTRA AS MULHERES EM PLENO SECULO XXI...

Não consigo deixar de pensar nas milhares de mulheres islâmicas que vão ser sacrificadas à mutilação genital de forma bárbara, sem que o Ocidente supostamente civilizado faça nada...
...
Isto mostra como a apatia das mulheres no mundo, já não falo do homem, e a sua falta de identificação com o Feminino Profundo as impede de se unirem em defesa das outras mulheres que tanto sofrem no Mundo.
Elas alistam-se nos exércitos e são polícias do Sistema e estão sempre do lado do patriarcado, dos pais e dos filhos, mas sem nenhum sentimento universal de irmandade de mulheres...ainda se manifestam pelas crianças, mas pelas Mulheres deixam-nas sofrer a sua agonia e tortura brutal...na maior indiferença...quando todas as mulheres do mundo se deviam unir e gritar a sua revolta. Bem sei que a impotência é geral...
 
MAS ISTO É UM CRIME MAIS CONTRA AS MULHERES EM PLENO SECULO XXI...e nós vamos consentir isso, como na Idade Media, foi permitida  sem acção das populações ignorantes e cegas pelo dogma e o medo, a  caça das Bruxas...por parte do clero. O mesmo ódio fundamentalista dos homens em nome de deus e da sua religião - sempre o ódio da MULHER...
E sem que as mulheres se interroguem a causa profunda desse ódio...

 rosa leonor pedro