O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, maio 11, 2015

A VIDA PSIQUICA DA MULHER



EM QUE quadro se pode identificar a vida psíquica de uma mulher, a qual está totalmente fora do quadro psíquico e cultural e histórico do homem e  por ele estudado?

Em que medida a Psique feminina é possível de identificar com a masculina e em que medida as características da psique feminina foram desvalorizadas como infundadas por serem de ordem intuitiva e emocional...? Não estaremos por isso quando falamos de Psique do Homem apenas a confundir e sobrevalorizar as faculdades cerebrais  do lado esquerdo do cérebro, do Homem, precisamente, sem ter em conta o exercício respectivo de ambos os hemisférios, o direito feminino e intuitivo e o esquerdo masculino racional, como acividades naturais inerentes a cada um e comuns aos dois quando equiparados e desenvolvidos em igual?

Se lermos este texto abaixo referido, podemos ver até que ponto a mulher pela sua idiossincrasia está dele ausente (não incluída) e é quando muito um presumível e secundário objecto, ainda que muitas vezes inspiradora e Musa,  na vida dos grandes homens...e da sua culpa cristã, da qual ela é imputada ao fim e ao cabo?
Que papel tem uma mulher neste quadro de análises psicológicas e nestas obras e diante deste homem e mesmo do psicólogo que o retrata? Em que medida pode uma mulher identificar-se com a leitura deste texto sentindo-se apenas vagamente "incluída" (não importa se muito se pouco) como ente subalterno e aglutinada ao Homem, no mero papel de esposa de amante ou de filha de tal e tal?

Estuda-se a Psique do Homem e onde se estuda a Psique da mulher?
 
Tem a mulher duas dimensões da sua vida psíquica - a busca do prazer e a luta pela adaptação à sua realidade específica muito diferente da do homem, e sofre ela essa dicotomia entre bem e mal e como, senão mesmo sendo a grande vitima do mal de que é acusada subliminarmente em tudo o que é cultura e arte?
Onde está pois o drama existencial da mulher?
Onde está a sua história por ela contada na literatura e na psicanálise? 
E que homem é este, que conta a história senão o homem secular, "o homem Tolstoi cheio de aversão às mulheres, carregado de culpas, com a necessidade de expiar, de mortificar a carne." - passa-se o mesmo com as mulheres?

É a temática de vida da Mulher igual à do Homem - ou é de facto a mulher secundarizada em tudo o que o homem investe estuda e cria à sua imagem? Continua-se a estudar  e a falar do Homem incluindo as mulheres sem ter em conta o seu próprio psiquismo? Podemos ir para lá do bem e do mal sem compreendermos os diferentes aspectos da Psique humana, incluindo para isso a especificidade do hemisfério direito  diminuído na cultura e na ciência e que torna o drama  da mulher tão particular?

O HOMEM CULPADO, QUE CULPA A MULHER DA SUA CULPA EM TODAS AS CULTURAS...

(…)  minha afirmação é simplesmente de que a presença de desarmonia e conflito entre os dois territórios da personalidade pode não sufocar a produtividade de um indivíduo dotado; que essa desarmonia talvez possa servir de estímulo para respostas criativas - ainda que a disputa entre os dois territórios permaneça sem solução por toda uma (infeliz) vida.
A vida de Tolstoi foi uma luta sem fim entre o Homem Culpado trabalhador que buscava o prazer e o Homem Trágico criativo que buscava a auto-expressão. Finalmente o Homem Tágico predominou durante períodos suficientemente longos para que ele criasse novelas que, como todas as grandes obras de literatura, revitalizam todos aqueles que se deixam atingir por elas. As profundas reverberações dos nossos selves nucleares, à medida que participamos da obra dos grandes romancistas ou dramaturgos, intensificam nossas reacções ao mundo e com isso fazem crescer a nossa autoconsciência. As obras dos grandes romancistas e dramaturgos conferem-nos a capacidade de experimentar mais plenamente nossa existência, de participar mais profundamente do ciclo eterno de vida e morte. Mas também havia outro Tolstoi que pode ser claramente percebido a partir dos dados biográficos e de alguns dos seus escritos (menores). Esse é não somente o Tolstoi jogador, bebedor e galanteador, mas também ao contrário, o homem Tolstoi cheio de aversão às mulheres, carregado de culpas, com a necessidade de expiar, de mortificar a carne. Quando predominava o Tolstoi criador, o imenso talento de escritor era aproveitado na tarefa de lançar um vasto projecto que havia sido elaborado pelo seu vulcânico self criativo. A maior parte do panorama não-moralista do mundo contido em Guerra e Paz é certamente a manifestação máxima do Tolstoi Trágico, profundamente sintonizado com o drama da existência humana, apesar do fato de mesmo essa obra-prima conter algumas passagem e alguns capítulos que são verdadeiros sermões – manifestação do Homem Culpado. “* 
Heinz Kohut  Self e narcisismo Zahar Editores
 
*Texto retirado do Blog  incalculável imperfeição de Cristina Simões

1 comentário:

Ná M. disse...

Rosa nos ilumine....