O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, junho 06, 2015

A MULHER INTEIRA E INTEGRADA



UMA LEITORA...

"Também nunca entendi essa história de se falar em sagrado masculino num estudo que deveria estar centrado na Deusa. Não é negar ou excluir a parte masculina pois é urgente que o homem se encontre e seja íntegro. Só que fica parecendo que estes grupos femininos estão dando um passo maior do que a perna. Como falar em integrar feminino e masculino, seja lá o que for que isso significa, se a maioria das mulheres sequer têm conciência do seu feminino ou do que fazer com ele? E que masculino é esse, se não nos reconhecemos, como identificar o masculino diante de nós?
Somos nós mesmas nossa primeira e maior referência, se não temos consciência do que há de mais precioso e viceral em nós, nossa deusa interna, nossa própria sacralidade, como seremos capazes de reconhecer o sagrado no homem?
Penso que temos que ir com calma, começar com o básico. Há lugar para esses estudos para aquelas mulheres mais adiantadas contudo acho que sejam pouquíssimas. Vejo pressa nos outros, parece uma coisa fast food da Deusa. Naturalmente, falo como mera observadora pois venho buscando informações sobre Ela e vejo muitos estudos tendo como uma das premissas essa tal integração fem-masc e nem sempre encontro a conexão pura que a Deusa precisa para nos tocar. Sinto que não estão pavimentando e honrando corretamente o caminho para Ela.

Falam que a "força" é característica masculina, tendo sido as mulheres alijadas dela, buscar o masc. em si seria uma maneira de desenvolver esse lado. Mas será mesmo que a Deusa carece de força própria? Será que precisamos ir buscar no "vizinho" a nossa força? Raciocínio análogo também serve para os homens, se bem que eles tem a questão de terem seus corpos gerados e alimentados por uma mulher-deusa, da mesma forma que as mulheres, essa ligação é muito forte e primitiva. Mas mesmo assim penso que eles têm suas próprias versões do que é sutil, amoroso, intuitivo, acolhedor etc.

Enfim, acho que tudo o que buscamos sobre a Deusa está em nós mesmas e nas outras mulheres. Aceitar, reconhecer e interagir com o masculino é um processo necessário mas secundário." - Liana
***

RESPOSTA REVISTA E ACRESCENTADA...

SIM, É urgente estarmos atentas a mais este atentado muito subtil e tentador feito pelas próprias mulheres em nome da deusa...
Na verdade elas nem se apercebem que isso serve  apenas para nos afastar da nossa busca de integridade em nós mesmas e  caíram mais uma vez na armadilha do homem e não tem consciência nenhuma disso...Elas não percebem sequer como devíamos e devemos buscar e seguir sim, uma via verdadeiramente feminina e ontológica da qual se perderam e nõa buscar a nossa força no homem.
Isso seria não só impensável, voltar a  ir buscar a nossa força ao masculino, como algumas mulheres promulgam nesse sentido e, como disse muito bem, no  fast food da Deusa, como seria totalmente absurdo pois corríamos o risco de continuar sob o jugo do patriarcalismo, mais uma vez e outra vez!
E essa visão redutora do poder intrínseco da Mulher em si - transformada em objecto de procriação e objecto sexual - que a reduziu a uma dupla função e portanto a uma divisão do seu ser em duas - é essa a cisão de que falo - e da sua força interior mutilada não é mais do que  um novo atentado à busca da integridade da mulher e um deturpar mental e masculino do seu poder interior e ctónico que tanto temem os homens. A meu ver não há um "masculino sagrado"...mas um Feminino Sagrado, apontado por todas as tradições antigas tendo a Mulher como iniciadora do homem de um feminino que o homem deve integrar em si...e aí sim, ele pode aceder ao SAGRADO EM SI...através da mulher e não entre homens como movimento ou círculo - porque eles trabalham em pirâmide e em hierarquias e as mulheres em círculo = óvulo = utero... como as mulheres buscam hoje.
O que acontece é que eles procuram agora desse modo, imitando mais uma vez as mulheres em circulo,  fazer tal como o fizeram os padres da igreja católica, copiando os paramentos e vestes das mulheres, tal como fizeram com o feminismo, adoptando-o e deturpando-o,  para impedir de novo a mulher de mergulhar no seu verdadeiro SER, como MULHER INTEIRA, sem cisão e portanto uma mulher plena e integral.  

A mulher está efectivamente hoje muito mais ligada ao seu lado masculino, como não podia deixar de ser numa cultura dominante e totalmente masculina, e isto durante séculos, muito mais do que  jamais neste tempo todo esteve ligada ao seu feminino ontológico no qual perdeu a sua inteireza diria. Sim, o Grande Feminino, tal como a Grande Mãe, perderam-se completamente nos confins dos tempos, alienando a mulher desse seu poder interior e da sua consciência da Deusa Mãe, para se vincular e servir o Pai e o filho, em detrimento da filha e dela mesma!
O feminino que a mulher usa hoje, com que se julga e afirma ser ela mesma...e na forma como ela se expressa, é um falso feminino, é um feminino diria algo travestiado, resultado do que o homem pensa e tem definido (e escrito) sobre a mulher através da cultura e da arte há dezenas de anos.
Nós não sabemos nem estamos em contacto com o nosso verdadeiro feminino, o feminino de profundidade, o feminino sagrado, o feminino ontológica o da Matriz da nossa história. 
Apesar do trabalho das feministas sobre a mulher social e política e de lhe devermos muito, elas não contribuiram também em nada para essa consciência (que não tiveram - mesmo mulheres psicólogas de renome) da divisão das mulheres em si e aceitaram sempre como inevitável essa cisão e divisão das mulheres em duas, entre a "santa e a puta", como se fosse natural haver duas espécies de mulheres!

Por isso todo o esforço do nosso trabalho deve ser feito agora  nesse sentido de unir esses dois aspectos da mulher dentro dela (o sensual e o maternal, o instintivo e o sexual) - IR AO SEU ENCONTRO AO ENCONTRO DA MULHER ANCESTRAL - e não integrar mais masculino sobre masculino (a mulher j´está totalmente masculinizada)  sem fazer a descida ao nosso centro, ao funda da terra, ao magna das suas terras uterinas às suas águas primordiais) ao nosso fundo mais fundo do SER MULHER, esse incomensurável universo feminino puro...que nos foi interdito e inacessível durante séculos.
O medo secular e atávico do patriarcalismo do Poder da Deusa e da Mulher é aquilo que os homens mais recearam  desde o princípios dos tempos e que receiam ainda...Vida e Morte sempre associadas, o oculto e o transcendente, a mística e a sacralidade da maternidade, tudo isso o afronta e por isso esta investida perigosissima se volta a manifestar contra a força natural da Deusa e da Mulher que desperta para ela mesma, afirmando-se que o poder da mulher está na sua força masculina...
A Grande Deusa e a Verdadeira Mulher, estão indissociávelmente ligadas, e o Aparecimento de uma, passa pelo re-aparecimento da outra...
Quando a mulher encontrar o seu verdadeiro feminino, e para isso ela tem de "esquecer" e ignorar completamente nessa descida o masculino, o pai e o filho, para assim poder mergulhar no seu fundo abissal do qual foi desviada precisamente pelo masculino (servir pai filho e família) para poder ser assim ser dividida e dominada à vontade pelas forças involutivas de controlo do mundo.

"Uma verdadeira capacidade de relacionar-se tem uma dimensão sagrada. Entre indivíduos é um Eu-Tu, um reconhecimento de alma para alma, e não existe nenhuma hierarquia..."*
 
Rosa Leonor Pedro

*In As Deusas e a Mulher Madura
de Jean Shinoda Bolen

5 comentários:

Noctur Spectrus disse...

Eu acredito que se existe um sagrado feminino, também possa existir um sagrado masculino. Desculpa, mas eu percebi no post uma grande pitada de feminismo e discordei em diversos pontos da sua perspectiva. Quando você diz por exemplo, que "a mulher está efetivamente hoje muito mais ligada ao seu lado masculino"... Eu discordo disso. Eu acredito que todo ser humano, independente do sexo, tem seu pólo feminino e seu pólo masculino e quando se é mulher, geralmente (isso porque na minha visão, não acontece em todos os casos), o pólo mais forte é o feminino. Eu vejo o feminino como a figura intuitiva e emocional, que se liga aos poderes internos do ser. Acredito que o sagrado feminino esteja nisso. Já o pólo masculino, acredito estar ligado à intelectualidade e à visão mental e acredito também, que haja um sagrado nisso. Para mim, não é possível existir o feminino sem o masculino e vice versa. São duas coisas que se completam.

Quando você diz, no penúltimo parágrafo, que para encontrar o verdadeiro feminino é preciso esquecer e ignorar completamente o masculino, o pai e o filho, para assim mergulhar no seu fundo "abissal" do qual foi desviada precisamente pelo masculino... Percebo ainda mais um grande equívoco que você comete, ao meu ver. Este trecho, para mim, insinua que para encontrar o feminino é preciso se desencontrar do masculino. Não acredito desta forma. Não acho que este é o caminho para encontrar o feminino. Acho, inclusive que o ideal é poder unir os dois de forma íntegra e conseguir conviver com as duas partes.

Lendo o seu texto, parece que você não tem uma visão intuitiva que me traga confiança. Me desculpe falar, mas também acredito que a má crítica é um desequilíbrio do pólo masculino, e não do feminino... Quando se fala da Grande Deusa, o que vem em imagem são as figuras de crenças pagãs. Acho que fica incoerente, apontar os padres como copiadores sem apresentar evidências, fica meio que um vácuo no seu post.

http://almamorta.blogspot.com.br/

rosaleonor disse...

Vamos então ver duas cosias para começar:

Primeiro:
não leu nunca outros textos meus nem sabe ou conhece o meu trabalho para simplesmente fazer uma análise sem saber do que eu falo à partida...e de que premissa eu parto.

Segundo:
a questão dos polos feminino e masculino complementares está tudo bem, mas a questão que eu desenvolve está antes dessa premissa e precisamente a mulher demasiado masculinizada pelo pensamento materialista e feminista etc. não conhece o seu feminino ontológico. Se você for um homem é evidente que não vai perceber do que eu falo...se é mulher prova-me que eu tenho razão pois não sabe ou conhece a essência feminina que caracteriza a mulher.´

E por ultimo, só vai perceber a minha ideia se ler o que eu escrevo para trás e o meu pensamento acerca da cisão da mulher etc. Muito complicado e sem uma compreensão maior e mais profunda não vai entender nada!
Resta-me apenas dizer-lhe que algumas das minhas afirmações estão sustentadas por autores e escritores ou historiadores que sabem do que falam e que são referências sérias e que nada têm a ver com estas especulações que se fazem do sagrado feminino ou masculino. leia esses autores e não o que se escreve na Internet e nos Blogs porque é tudo muito vago e muito superficial.
Passar bem
rlp

rosaleonor disse...

E O RISCO DE UMA NOVA QUEDA PARA A MULHER...


“Alquimizar e curar a relação masculino-feminino é a iniciação do nosso tempo e o fundamento do mundo ao qual a nossa alma aspira. Para além e a através de uma união mais íntima do que o conceito solar – lunar, mulher ou homem.”

Diana Bellego


Mais do que alquimizar e curar a relação masculino-feninino, a mulher precisa primeiramente e urgentemente de curar a sua ferida milenar da cisão das duas mulheres em si. Sem que a mulher integre e se consciencialize da sua separação interior e a fragmentação psíquica que vive como mulher metade nesta sociedade há séculos – entre a mulher anima, a mulher interior recalcada e esquecida do seu lado intuitivo e instintivo, e a mulher animus, masculina e de superfície que vive os estereótipos que o poder e domínio do masculino lhe destinou, reprimindo a sua natureza ctónica e telúrica, reduzindo a mulher à função de procriadora ou de objecto de prazer, não pode haver equilíbrio entre o masculino e o feminino de per se, nem se pode alquimizar a relação.

Sem a verdadeira mulher não há o casal alquímico nem há a OBRA..

A Alquimia entre os opostos complementares faz-se ou realiza-se quando a mulher está na posse do seu poder interno e consciente da sua natureza profunda…Não é esta mulher de superfície nem esta mulher intelectualizada-masculinizada e pretensamente feminina para agradar ao homem que vai unir-se ao verdadeiro masculino…se que ele existe também…

De qualquer modo a questão fulcral para a mulher deste tempo e que a sua alma aspira em profundidade é o encontro com ela mesma com as suas forças e poder interiores sem qualquer outro propósito…só depois e por acréscimo…haverá casamento alquímico ou não…se essa for a sua escolha, porque a homem precisa da mulher para SER…mas a Mulher não precisa do homem para SER ELA inteira!


RLP

Noctur Spectrus disse...

Você não respondeu à nenhuma das minhas citações do seu post... em um dos seus comentários você apontou: "mulher animus, masculina e de superfície que vive os esteriótipos que o poder e domínio do masculino lhe destinou". Nesta citação fica expressa a ideia de que o animus (ou pólo masculino) da mulher é algo negativo, algo que impõe uma ideia ou uma imagem injusta. Eu não vejo dessa forma. Eu acho que o anima e animus, bem como C. Jung disse em seus escritos, são pólos da psique que se relacionam com os sentimentos e o intelecto. Eu vejo o animus como um pólo intelectual, embora masculino e que está presente em todos independente do sexo. Em outras palavras, acredito que o animus é o aspecto racional do ser.

Como seria uma mulher sem este pólo? Como seria uma mulher sem capacidade de raciocínio e de lógica? Eu acho que não é isso que ocorre e acho que você não compreendeu muito bem o que significa "animus". Mas de qualquer forma, o que quero dizer é que a mulher precisa disso, bem como o homem precisa do anima. É incoerente demais achar que apesar de pólos opostos, eles são excludentes. Novamente cito o que você disse no seu post: "Quando a mulher encontrar o seu verdadeiro feminino, e para isso ela tem de esquecer e ignorar completamente nessa descida o masculino..." até o fim do parágrafo... Você deixa bem claro essa ideia excludente. Como se esse animus devesse ser ignorado.

http://almamorta.blogspot.com.br/

rosaleonor disse...

O que eu acho é que você não entendeu nada do que eu quis dizer, porque a minha afirmaçaõ sobre o feminino ontológico, esse feminino de que a mulher está longe e por isso não entende que eu não nego nem o masculino nem o animus...- você não me entende em momento algum PORQUE não sabe do que eu estou a falar desde o principio...os polos são complementares e os princípios também - e eu defendo isso, MAS ANTES DISSO A MULHER TEM DE RESGATAR A SUA ESSÊNCIA porque só depois ela vai poder integrar os dois em um. Você não leu nada do que eu escrevi para trás e teria de voltar ao B.A.B.A da questão para que me entendesse - mas continuo a dizer-lhe que se for homem não vai entender nunca do que eu falo...se for mulher falta-lhe de facto o contacto com a sua essência - e quando falo em essência feminina ou dos hemisférios cerebrais como as suas funções relacionadas com cada sexo, nõa estou a negar tão pouco a sua ligação e função superior conjunta...portanto se quiser ler leia, se não quiser deixe para lá - ninguém a/o obriga a seguir ou a entender o que eu escrevo...na minha frase digo que para a mulher se encontrar com a sua essência ela tem de descer ao seu abismo - às cavernas ...do inconsciente e ir lá buscar a sua origem, a sua ontologia - o homem sobe a montanha a procura de deus, a mulher desce a procura da deusa e depois une-se o alto e o baixo e só assim eles são complementares, homem e mulher etc. Não a mulher subindo a montanha coo sempre fez com as religiões patriarcais...
Veja bem se a sua alma nõa está morta mesmo...porque sem ALMA sem anima nõa há vida....e a mulher representa a ANIMA e nõa o animus (embora os dois existam em cada sexo)etc.
rlp