O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, julho 28, 2015

MAIS UMA FRAUDE CULTURAL...


Sartre e Beauvoir III


Eu também...

"Fico muito incomodada quando leio textos que romantizam/idealizam a relação de Sartre e Beauvoir. Mas não reconheço nesses textos uma gene...ralização ingênua, Sartre tinha consciência de que a exposição cuidadosamente controlada de sua vida afetiva ajudaria na criação de um mito. O biógrafo de Sartre diz: "essa mulher (se referindo a Beauvoir) cujo primeiro romance retratara seu relacionamento escandaloso era um 'ingrediente essencial' da estatura icônica de Sartre". Essa frase me irritou tanto, quando eu li, que precisei respirar fundo, antes de continuar lendo. Faço o mesmo agora, quando preciso reescrevê-la.
Retomando: existe uma tentativa de diminuir a importância da obra de Beauvoir, diante da construção do relacionamento dela com Sartre. Isso acontece frequentemente com mulheres, já citei aqui o caso de Martha Gellhorn, que foi correspondente de guerra por 20 anos, cobrindo os conflitos mais importantes do século XX, arriscando a própria vida. E, no entanto, é eternamente lembrada como a mulher que foi casada com Hemingway. Ainda que esse casamento tenha durado apenas 5 anos. O mesmo com Camille Claudel, Anaïs Nin, entre outras mulheres.
Mas, no caso de Beauvoir, o seu relacionamento é usado para falar de uma "ruptura com os valores burgueses". Serviu de inspiração para muitas gerações (dá para entender a origem de certos equívocos da "geração amor livre"). Mas que ruptura foi essa?

Relacionamentos são construções sociais, conjuntos de práticas e ideias, que não são naturais nem inevitáveis, É possível mudá-las. E, sim, Sartre e Beauvoir substituíram algumas dessas construções. Não se casaram, não tiveram filhos. No entanto, isso não significa que conseguiram estabelecer uma relação equilibrada ou igualitária.
Sartre preservou algumas premissas das relações dominantes, assimetrias significativas, como a subordinação do desejo de Beauvoir ao seu. Em Tête-à-Tête, a insatisfação de Simone com as premissas do relacionamento é inúmeras vezes citada. Principalmente, nos relatos sobre a obsessão de Sartre por Olga Kosakiewicz: "a relação de Sartre com Olga era devastadora para Simone". Neste ponto, é importante dizer que também era devastadora para as mulheres que, em diversas circunstâncias, participaram de triangulações com o casal. Bianca Lamblin nunca se recuperou da experiência.
Sartre afirma que amar é, em certa medida, abrir mão da condição de sujeito. No entanto, quem parecia abrir mão era Simone: "tão fascinada estava por ele, que esqueci de mim mesma, deixei de existir de forma autônoma". Isso é o que se constrói como expectativas do amor feminino ao longo dos séculos. Não há nada de revolucionários nesta forma de amar, de romantizar os sacrifícios e a dor da mulher "em nome do amor".
Aquilo que era o núcleo mais duro do "amor" e das relações como construção social permaneceu intacto. Como existencialista, Beauvoir demorou a questionar a liberdade que ela possuía era a liberdade real. Não adianta quebrar regras sem quebrar o sistema que cria essas regras."

Daniela lima

1 comentário:

Nana disse...

Sim, eh sensacional !!!!! Ele mesmo deu o pé na bunda dela, de uma forma educada, lógico, mas ela estava deixando de ser quem era pra ser a "esposa"dele. !!! E ninguém mostrou isso no documentário que fizeram dela