O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, novembro 12, 2015

Ambígua instituição...


O CASAMENTO - COMÉRCIO

(...)

"O casamento é hoje para mim uma das formas, sem dúvida a mais ambígua de comércio com o outro. Se evolução houve, apenas teria sido no sentido de lhe provar o peso tribal, o que tem, por ser instituição, de mais amplo e restrito que coisa que apenas a dois importa.
Casamento é coabitar e ver-se pelos outros coabitando. É encontro e coacção, o que dificilmente será trágico, se o encontro é de muita esperança e a coacção forte. Quem entenderá com paciência que o muito querer seja mandado?
Qual o desejo do outro que é sempre inquirir do mais, que não se abala ao saber-se compulsivamente, que não unicamente, doméstico, domiciliado em parte certa? Em função do que está em causa quando o amor está em causa, estará assim em causa o casamento? Ou será que falando de amor e casamento conjuntamente ocorremos em lamentável confusão?
Ambígua instituição pois, que ratifica o desejo de devir conjunto, que não deve ser ratificado por mais nada que por seus frutos de aventura moral, pela esperança e promessa que sempre me parecem dever ser coisas livres ou não ser. Aventura e coisa da cidade por oferecida e exposta, não imposta."


Maria Velho da Costa,
in Caderno Casamento da Revista o Tempo e o Modo, 1968.



 

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