O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, novembro 30, 2015

ESCREVER PARA NINGUÉM...



Hoje sinto-me particularmente ferida, enfim,  diria antes magoada, mais pela própria vida do que pelas pessoas, pelo que ela tem de cruel e irreparável...pela incompreensão profunda que nos assola a todas nesta vida do dia a dia e mesmo das pessoas amigas, sejam familiares ou conhecidas, as pessoas com quem nos confrontamos quer queiramos quer não. Como se já não bastasse a incompreensão do que é para cada o sentido da vida ou a nossa incapacidade de fazermos ou sermos aquilo que idealizamos...como é o caso  de quase toda a gente!
É sempre a mesma dor da incompreensão de nós e do outro...e a noção da nossa solidão face aos outros/as, sempre incompreensíveis e inatingíveis no seu amago...Podemos disfarçar isso, lidar com eles apenas à superfície...tentar conciliar as coisas, fazer concessões, pois somos especialistas em "estar bem", em contemporizarmos com as amizades ou os nossos interesses e dizermos a tudo que sim para não criar conflitos inúteis...ou porque não temos coragem de dizer o que sentimos e pensamos ou porque sabemos que cada pessoa tem a sua razão ou o seu nível de compreensão e experiência da vida, e não há qualquer hipótese de entendimento - por isso eu e no meu caso escrevo para ninguém...hoje escrevo aqui...e sei que de entre quem me lê habitualmente  fique a pensar...mas afinal... 
Onde está a solidariedade a fraternidade o sonho de união e a comunhão e a amizade quando discordamos e debatemos ideias e entramos em disputa pelas ideias mesmo sem querer ...?
Para mim é como se não estivesse na nossa mão controlarmos essas diferenças e a necessidade de conflito latente de extravasar sentimentos ou mesmo fazer recair sobre os outros a nossa raiva por descompressão, na busca de alívio do que nos oprime...acontece tanto entre familiares e amigos que ultrapassamos a noção dos limites...
Isso está a acontecer em geral nas relações humanas, no mundo e na sociedade e agrava-se cada dia mais e nós não escapamos ao confronto...

Ontem aconteceu comigo e uma amiga de longa data discutirmos politica... mas não era a politica nem as ideias que estavam em causa, era a oposição, a energia de antagonismo que está em nós por outras razões que se manifesta na necessidade de contrariar, de ripostar, de querer ter razão, lutar contra...Acontece tantas vezes que nem damos por isso e caímos sempre nesta armadilha...
Sim, caímos vezes sem conta neste fogo cruzado de palavras como bombas e armas que ferem, dizem-se coisas que não fazem bem a ninguém e ai podemos ver como está o mundo e porque toda a gente discute e ninguém se entende...
Há uma energia de contenda e de guerra que também nos apanha a nós...que nos domina mesmo sem querer neste momento. Tomamos partido, julgamos, condenamos, defendemo-nos, acusamos o outro de arrogância ou de cobardia...vemos as suas incongruências, os seus defeitos, como se nós fossemos melhores e isto dói tanto.

Hoje sinto-me ferida dentro desta realidade e na minha essência e por mim mesma - sei que ao entrar em combate agrido sem querer e sou agredida...Mas no fundo vejo também a minha tentativa de amar e compreender e ver que se calhar o outro pensa de mim a mesma coisa e também se sente ferido pela minha incompreensão. Que fazer para sermos realmente AMÁVEIS? Sim, sermos ou tornar-nos amáveis (dignos de amor) sem nos trairmos a nós mesmas e ao que pensamos? Sem perder o amor (?) do outro/a ou a atenção ou o respeito, enfim a amizade?
O que eu sinto é que não podemos fazer nada...e apenas perceber que esta é a humanidade que temos e não conseguimos mais nada...apenas ter a compreensão profunda de que estamos sós...e que só essa solidão nos dá a dimensão de quem somos - e se o outro/a perceber isto, enfim...temos algo em comum e do alto ou do baixo dessa compreensão perdoarmos e aceitarmos-nos todos/as tal como somos...sem julgar nem condenar, sem achar que se tem razão...aceitar esta condição...de ainda não sermos verdadeiramente humanos e menos ainda capazes de amar incondicionalmente como apregoamos.
rlp

5 comentários:

ME disse...

Humanos, demasiado humanos... cada um de nós um ponto de vista irredutível a qualquer outro, cada um de nós certo de ser o único ponto de vista verdadeiro.

rosaleonor disse...

Muito certo...mas demasiado doloroso por vezes...

Obrigada!

rleonor

Vânia disse...

É me tão visível que chega a ser dilacerante.

rosaleonor disse...

E assim que é Vania - e pouco mais podemos fazer - é o preço da consciência...saber que estamos sós e que o amor humano ainda é uma ilusão ou então uma projecção. Estamos a mãos com a nosso própria existência sem fantasias...mas cada uma paga o preço que estiver preparada para apagar...a outra possibilidade é andar de ilusão em ilusão até ao fim da vida..

abraço

rlp

Vânia disse...

Mas Rosa ter a chance de viver e Ser é algo de único!! Preparada ou não cá vou seguindo da forma como te tenho dito. Sabe me bem "colmatar" saudavelmente (risos) a solidão (fujo a 7 pés da ilusão) nas atividades que me dão realmente prazer. E sem ilusão gostava de partilhar um pouco de tudo o faço com pessoas reais, entendes? Até porque por experiência pessoal eu já sei que onde há incompreensão e conflitos desnecessários eu afirmo que é mais doloroso e dilacerante do que a solidão... essa tem a magia da intensidade do Ser que te leva a ti que estás na companhia mais amiga e segura também que alguma vez possas vir a ter , risos)o bom mesmo seria que os seres humanos se "encontrassem" no Sentido e não no significado ... porque pelo segundo não vai funcionar... talvez vá igualmente dilacerar... beijo VJ