O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, janeiro 26, 2015

A MULHER ESTÁ EM RISCO DE EXTINÇÃO...


SERÃO AS MULHERES CAPAZES...

SEI que sou um pouco radical demais por vezes para a maioria das mulheres que me lê...
Como sei que quase todas as mulheres preferem os "meio termo" e idealizam uma realidade social de acordo com as suas ideologia de partidos...ou correntes ou modas e outras - uma minoria -  se adentram nas correntes espirituais "new age" com uma tónica forçada na compaixão e no perdão ou na sexualidade "sagrada" ...como as outras acreditam na politica e nos ideais ou então na "liberdade de expressão" - afinal em dizer barbaridades ou escrever livros de pornografia - mas este é todo um mesmo movimento gerado pela matriz de controlo - o domínio secular do Sistema em aprisionar a mulher. E eu não acredito que um movimento de mulheres da política ou da ribalta, por muito bem intencionadas que sejam, possam fazer a diferença, seja qual for o seu propósito, porque essencialmente buscam protagonismo, afirmar as suas ideias, e nós vemos o mundo gira todo à volta dos écrans e dos artistas e essas mulheres novas sonham quase todas apenas com a cena mediática...seja ela política ou social: querem ser jornalistas e escritoras  e acabam por ser exemplos nefastos para as mulheres em geral...
Elas querem  promover uma liberdade e uma emancipação da Mulher=homem, sim da mulher macha...da mulher com "tomates" em vez de ovários e útero...

Afinal esta falsa emancipação das mulheres modernas, a da linguagem quase pornográfica, a apologia da violência sexual, como o texto que lemos recentemente do "fodamos" escrito por uma jovem muito desempoeirada de cabeça e frigida sentimentalmente, que nega abertamente o SENTIR FEMININO...E embora apregoe o sexo a bandeiras despregadas, sem quaisquer inibições, vê-se que de sentimentos e emoções nada lhe resta...Mas estes exemplos mais não são do que o caminhar para a destruição completa dos sentimentos e respeito pela mulher; esta afirmação machista na linguagem utilitária dos sexos e das pessoas, o apelo à fornicação, é uma luta sem sentido que castiga ainda mais as mulheres que, sem qualquer contacto com a sua essência e menos ainda digamos com o Sagrado Feminino, se podem completamente perder.

Eu sou e sempre fui adversa a essas correntes modernas ou ditas de vanguarda e estou como sempre estive à margem de tudo isso e não creio que algum dia me possa inserir nesta sociedade que fomenta a anulação da mulher...e a promoção do sexo objecto.

Ainda ontem ouvi uma mulher nova, deputada do PS  (no programa "Barca do Inferno" - em que quatro mulheres de diferentes partidos políticos,  discorrem sobre a vida política e dão as suas opiniões, totalmente mentais e com um discurso masculino na ponta da língua), dizer que... o amor era ideológico... Isto mostra como estão longe estas mulheres quer do sentimento profundo do Ser em Si quer do Coração Inteligente...e o mais grave ainda fora de qualquer dimensão do SAGRADO...marxistas por ideologia e feministas materialistas, só vivem no plano do corpo sensações e da mente racional. Aquela coisa do "PENSO LOGO EXISTO"...

 

Há algo de muito perigoso a desenrolar-se no mundo e com o que está a acontecer no universo dito feminino cada vez mais inexistente; em todo o lado e em todo o mundo se vê esta alienação do SER MULHER
Ela  começou com a moda em geral e é veiculada incessantemente através do cinema e telenovelas e também das revistas e dos Mídea, e desde logo a partir das garotas nas escolas e liceus com essas imagens grotescas da mulher criada pelos Midea como o é a Violeta-barbie-sucesso-competição-fama e outras epidemias televisivas que ameaçam completamente o que resta da identidade da Mulher. Por outro lado a maior promiscuidade sexual nos jovens rapazes e raparigas, na total falta de respeito pelo corpo das raparigas e de um modo geral pelas ralações afectivas que passam todas a ser  genitais, sim, a forma como as raparigas se dão com os rapazes é logo à partida abjecta e elas votadas ao desprezo.  Por isso a violência começa no namoro.
A linguagem das adolescentes é pura ordinarice e a maneira como se comportam na rua, nos estabelecimentos,ou  nos transportes e mesmo nas escolas é grosseira e vulgar;  toda esta inversão dos valores "antigos" (normais) e os ditos comportamentos "livres" dá esta inversão da mulher e da rapariga normal ou comum que passa agora por ser  uma mulher "moderna" e é manifestamente provocadora, promiscua ou pornográfica e defende uma imagem e um comportamento da "outra" - a puta. Fala e comporta-se  agora como a prostituta de rua...e para elas isso é ser livre... 

Pais e educadores ou professores, esmagados pelo seu egoísmo, a indiferença ou o alheamento da realidade, alienados de si mesmos em nome da  crise e da economia, não têm qualquer consciência do que se está a passar.
A mim vão-me achar reacionária e retrógrada...por dizer estas coisas, mas eu vejo o perigo que a mulher e a jovem estão a correr ao se transformarem em meros corpos de prazer aleatório em nome do sexo livre.

Por tudo isto para mim é mais importante do que nunca e URGENTE que a mulher perceba que existem em si essas duas mulheres divididas ou cindidas, a dita "santa e a puta" e  que todas elas vivem essa dicotomia dentro de si na sua grande maioria sem sequer perceber o seu conteúdo psíquico e por isso optam por ser ora uma ora a "outra", inconscientemente, e andam por aí, vendidas à corrente maciça de espectáculos degradantes que as manipula e deixam completamente à deriva.

Por outro lado em termos mais subjectivos temos as mulheres sempre rivalizando entre si, em competição cega, em negação uma da outra, e sem compreender que a mulher é as duas em si - e que deve haver uma espécie de integração/fusão desses estereótipos que cada uma  deve unir essas  duas mulheres numa síntese e ser um só MULHER inteira (a mulher autêntica, natural e equilibrada na sua atitude quer como mãe quer como amante, unindo os aspectos sensuais e os aspectos maternais) e não ser   apenas...uma face de si, ou uma deusa...mas basicamente dividida entre  a santa e casta esposa de um lado, ou do outro a puta, a mulher fatal, a cabra, aderindo sem discernimento a esses  estereótipos que a sociedade elege porque  continuam a fomentar  a divisão e o drama da mulher que está todo em germe, desde a origem deste cisma feminino,  nessa cisão secular dentro de si mesma...
Para compreender a mulher não se trata de saber quais as faces das deusas que nela se manifesta - porque há sempre essa dicotomia em cada mulher e se não se entender essa dicotomia e a sua oscilação, as faces da Deusa são só coisas vagas e vans...a ter em conta!
Não se trata portanto de perceber apenas que a mulher tem uma faceta emocional Afrodite, caracter de  Atena ou manias de Héstia ou daquela...mas que a mulher, toda a mulher,  sofre essa divisão intrínseca das "duas mulheres"  e que a divide dentro de si, patologica e psiquicamente e é isso que a antagoniza com as outras mulheres e a destrói paulatinamente na maior inconsciência de si...e o que causa a grande maioria das doenças de foro feminino...

Este é sem dúvida o tempo e um momento de grande alienação e loucura humana, mas é a mulher quem como sempre na história do homem, mais sofre a aviltação do seu ser, pela exploração sexual, pela perseguição ideológica, pela condenação religiosa e cada vez mais corre este risco brutal de feminício...que é ser morta só porque é mulher... 

A  MULHER NÃO SABE...MAS ESTÁ EM RISCO DE  EXTINÇÃO...

rlp

EM QUE SOCIEDADE VIVEMOS


O MODO DE SER DE UMA SOCIEDADE DOENTE:

ETOS: Modo de ser; temperamento ou disposição interior; aquilo que é característico e predominante nas atitudes e sentimentos dos indivíduos de um povo, grupo ou comunidade, e que marca suas realizações ou manifestações culturais.

"O patriarcado é o sistema de dominação masculina ancorado num etos de Guerra que legitima a violência, santificada pelos símbolos religiosos, no qual os homens dominam as mulheres através do controlo da sexualidade feminina, com a intenção de legarem a propriedade aos herdeiros masculinos, e no qual os homens, heróis de guerra, são instruídos para matar homens, autorizados a violar mulheres, a apoderarem-se da terra e das suas riquezas, a explorarem recursos e a apropriarem-se ou dominarem por qualquer meio os povos conquistados".  Carol P. Christ


Poderá haver quem pense que eu estou em "luta" e contra o homem, ou que estou contra os homens, a lutar com fantasmas do passado, ou ainda a acicatar o ódio ou a “revolta” numa espécie de "guerra de sexos" como se gosta tanto de dizer e ficar com a ideia errónea de estou a suscitar qualquer antagonismo entre mulheres e homens, mas não é erdade. Eu só quero que vejam o óbvio e destacar as respectivas diferenças para que homem e mulher não se confundam, como hoje acontece por todo o aldo, mesmo a nível psicológico e académico, as teses e mais teses como toda essa confusão estruturada acerca dos géneros...e dos "transgéneros"...afinal para mim e tout court só há mesmo dois sexos à partida e o andrógino é ainda um mito, um ideal psíquico, uma totalidade espiritual na obra alquímica, tal como o hermafrodita, ou ainda os casos  dados com patológicos que é um ser  nascer com sexo indefinido ou ter os dois sexos morfologicamente.
 
Para mim toda esta confusão deriva da falta de  uma vivência e consciência autêntica do Ser Mulher e daí graves distúrbios e anomalias que podem surgir, tirando a homossexualidade que é  também comum ao  homem e à  mulher, mas em que cada um dos sexos sente  atração por pessoas do mesmo sexo, sem que por isso signifique ser doutro género nem tenha de mudar sexo. Mudar de sexo é tentar corresponder a estereótipos, isso sim, produto social e cultural de uma sociedade doente e falocrática que não respeita nem valoriza a mulher e o resto são variações de uma enorme confusão inicial sobre o sexo em si e o feminino versus/masculino e as suas respectivas naturezas a priori!
 
A minha intenção aqui neste Blog é e sempre foi apenas mostrar que as coisas não são como se pretendem ver na teoria sobretudo no que diz respeito à mulher  e na minha perspectiva, que é ter a consciência da dicotomia e divisão intrínseca da mulher em si e por isso qualquer filosofia ou espiritualidade dentro deste sistema falocrático não permite a Mulher total, a mulher integral, impedindo-a de chegar ao conhecimento de si mesma essencialmente,  porque a dissocia da sua natureza intrínseca no caminho dito espiritual ou  mesmo nas ditas iniciações em geral, que não tendo em conta essa dicotomia na mulher  esse caminho não chega para a mulher se encontrar na sua totalidade, pois continua dividida sem o saber.
 
Portanto o que eu digo e sempre realço nos meus textos é que sem a identidade feminina de base, e a integralidade da mulher como Ente, antes de ela se iniciar em qualquer caminho espiritual, é fundamental, tal como para o homem é essencial, que eles tenham consciência do seu ser enquanto homem e mulher de per se e das suas diferenças, assim como as diferenças entre o princípio masculino e o princípio feminino e os respectivos hemisférios cerebrais. Temos sempre de ter em conta a falta do princípio feminino no mundo, a sua negação como princípio e o apagamento da sua história ancestral. É preciso que ambos os sexos percebam de que ponto partem e como o mundo está manco…e não é fingindo que tudo está bem, idealizando ou teorizando, sem querer reconhecer como a mulher  é apenas uma metade de si e dividida em duas espécies - como um subproduto da sociedade machista e patrista e dentro deste sistema não podemos de todo esperar  que a espiritualidade a eleva acima da sua condição que a Humanidade atingirá o seu equilíbrio!
*
Rosa Leonor Pedro
 

A ALIENAÇÃO DAS MULHERES




Há quem me pense anti-feminista e há quem me julgue feminista ferranha...ou radical...Não sou uma coisa nem outra, por isso cito tantas vezes Ana Hatherly quando diz: "não sou feminista, sou antropologicamente lucida" ou como Natália Correia: "É no paradigma da Grande Mãe que vejo a fonte cultural da mulher; por isso lhe chamo matrismo e não feminismo."

Portanto eu não estou contra "O Feminismo" histórico e social - mas não aceito nem me identifico com o feminismo em geral e que hoje em dia se transformou numa bandeira de todas as mulheres que lutam por se afirmarem económica e socialmente ou em nome de igualdades sexuais, incluindo transexuais...e isso eu não entendo nem aceito porque o drama da sexualidade, seja do homem seja da mulher, tem todo a ver com a falta de identidade da Mulher, a sua divisão ou indefinição, e o peso de todos os estereótipos que ela carrega ou defende, mas sobretudos com a falta de respeito e dignidade da Mãe à partida!

A forma como a sociedade e os homens tratam a mulher e a mãe logo de inicio, e de origem, desclassificando-a e anulando a sua vontade e voz própria, quer por preconceitos religiosos quer por preconceitos científicos ou sociais, o facto é que esses conceitos são algo inerente ao sistema e à educação dos homens e crianças - tratar os meninos e as meninas de forma hierárquica...valorizando tudo o que é masculino e desvalorizando tudo - isto durante séculos - o que é feminino é a causa imediata de tantos distúrbios e complexos que geram confusão identitária - tanto nos homens como nas mulheres vivendo de acordo com ideias extremadas que os separam e distanciam - e daí a procura e justificação filosófica e psicológica de géneros, novos "sexos", intermédios, subprodutos de uma sociedade doente onde nem homem nem mulher se encontram no seu potencial genuíno e em que ninguém sabe ao certo quem é quem  e agora querem resolver psicoses e neuroses ou narcisismos, complexos anais e outros, seja o de Édipo ou de Electra, assim como tantos outros dramas de identidade sexual...com teorias e filosofias estapafúrdias.

Portanto parece-me absolutamente ultrapassado o sentido de feminismo a que estamos habituadas e que se não sairmos deste impasse com uma nova saída para cima e não para baixo...digo, sem nos nivelarmos ao nível dos sexos apenas...mas a níveis bem mais altos de compreensão e empenho que para mim é e continua a ser a Consciência Psicológica e transcendente do Ser Mulher em si.
O feminismo quer queiramos quer não, é sempre e partida a contrapartida do machismo...é uma oposição ao machismo...vive em função e defesa dele...e isso não nos trouxe nada de profundo nem de libertário no sentido da nossa essência nem da nossa alma ou identidade!
 
O QUE DIZ UMA AMIGA:

"O feminismo (políticas para mulheres) é social como o matrismo (diga-se as filosofias e religiões da mãe) é para o espiritual. As duas atividades em pratica não podem ser isoladas para a vida que busca equilíbrio. A melhor luta de cada uma é a vivencia – seus atos correspondendo suas ideias – a escolha de seus instrumentos ou estratégias deve ser usado a favor e positivamente em pro de sua superação e não contra os caminhos distantes ou ideias não acreditáveis; isso é desgaste de energia. Vamos continuar a falar do lado sagrado de cada experiência mesmo que se torne quase impossível separar o lado social – porque no mais mínimo ato existe a influência sociocultural e o mais importante que nesse pequeno agir existe o perfume da nossa alma." L.I. L.

- Nesta perspectiva eu concordo com esta visão, mas eu não separo o social do sagrado (não religião que é negada pelas feministas em geral) como vivência como fazem efectivamente as feministas ou fizeram a partida sendo quase sempre (filosoficamente) marxistas - a ideologia politica que as anima directa ou indirectamente. Portanto para mim o que está em causa no feminismo é precisamente essa separação do sagrado da vida em si e que a mulher representa na base, alienando-se desses valores para os converter todos ao social e político. O ideal seria juntar as duas coisas...mas acontece que o Sistema todo, como Paradigma, seja comunista ou capitalista é sempre patriarcal e a o matrismo não existe na realidade ou então dá-se como um registo mítico, tendo sido negado e ocultado da história e a vida das mulheres. Assim qualquer luta das mulheres dentro deste Sistema é corrompido, desvirtuado e usado contra as mulheres a curto ou longo prazo. Quer isto dizer que eu não dou qualquer valor nem lugar ao Sistema que de si é sempre fomentador da divisão e exploração da mulher, quer como objecto sexual e reprodutor quer como objecto de trabalho e produção ao serviço da máquina. Não há duvida que o social/politico  e o psicológico como produto cultural desta sociedade patrista influencia tudo na vida da mulher actual, mas o feminismo não muda nada ai...só lhe dá ou deu mais "liberdade" de sexo ou mais dinheiro; direito ao consumo directamente ligada a produção alienação do mundo materialista que tem como único propósito: produzir consumir e morrer; assim a mulher pode comprar carros  casas e roupas, fazer operações plásticas  etc. NÃO LHE DÁ CONSCIÊNCIA NENHUMA DO SER e essa consciência  não implica uma vida espiritual dogmática como elas pensam,  mas sim e apenas a CONSCIÊNCIA DO SAGRADDO EM NÓS, como seres vivos e cujo potencial dá vida e isso será sempre um Mistério e um Milagre - porque a ciência nuca irá dissecar nem entender nem explicar o Mistério da Vida nem da Mulher que a concebe. Por isso a Mulher era vista como Deusa Mãe.

Este Caminho da Mulher para si não se fará pelo intelecto, mas pela via do Coração inteligente - ligação às forças telúricas e ctónicas e união com o Céu e a Lua...sabendo pensar evidentemente. É uma coisa muito subtil; é  um Germe de Vida que também gera a Consciência do Ser Mulher  e esse despertar da Natureza intrínseca da mulher dá-lhe à acesso a essa fonte primordial que É a Mãe e a Deusa e...não, não entra aí a razão do clitóris nem qualquer outra razão nem entra na logica redutora do manuais académicos...
 
E no  fim destas décadas de luta feminista o que eu contato é como as mulheres preferem ter a ilusão de serem emancipadas e livres à conta dessa programação ilusória em grande parte a terem consciência da sua realidade, que é viverem ainda sobrecarregas e exploradas em todos os meios e de todos os feitios...outras, as new age,  preferem seguir o sha lá lá espiritual a enfrentarem a sua "inferioridade" e dependência de mestres e senhores...Umas fazem tudo em troca de poderes as outras de milagres...
E a conclusão é simples, como diz uma outra amiga: "Abdicar de uma igualdade fictícia que só escraviza mais a mulher mas que ao mesmo lhe dá a sensação de um ilusório poder, não é facil de desconstruir presentemente ...há muita ilusão em jogo e embora os estragos sejam mais que muitos, o medo de ser considerada fraca ou diferente ainda é muito grande..." Grimoire Marques
 
rlp

domingo, janeiro 25, 2015

NOTAS À SOMBRA DOS TEMPOS: MANIFESTO ANTI-VIOLETTA

NOTAS À SOMBRA DOS TEMPOS: MANIFESTO ANTI-VIOLETTA:   Violetta é mau! Voletta é triste e alienante, provinciano, telenovelas...

Violetta é mau!
Violetta é triste e alienante, provinciano, telenovelesco, gritantemente mediocre
.Violetta é consumismo!
Violetta é o estado do mundo, das mulheres e homens frouxos que deixam os seus filhos beber de mais uma poção que os distrai de si mesmos e lhes impinge as velhas, desgastadas tretas disfarçadas de pseudo-alegria e juventude.
Violetta é mais do mesmo!
É droga barata – perdão, bem cara, mas que um país endividado e em crise se dá ao luxo de pagar.

Violetta é tudo esgotado, a peso de ouro, mais a minha paciência que se esgota também.
Violetta é sarna para a alma, ela é justamente o contrário do que a alma pede para se expressar.
Violetta é estreiteza, manipulação, retrocesso, mentira.
Promover as Violettas deste mundo é pecado, como sempre foi, mas ninguém parece dar por isso.
Violetta é noutra língua, para quem nem a sua sabe bem falar.
Violetta é uma grande negociata!


Violetta é a anti-mulher!

terça-feira, janeiro 20, 2015

ONDE A MULHER AUTÊNTICA?






 AS MULHERES "MODERNAS"  - materialistas, mentais (ou intelectuais) e falocráticas, na sua grande maioria, traem-se na sua essência feminina que ignoram e estão cada vez mais longe se saber quem são...por isso hoje em dia elas são um perigo iminente para as mulheres que  ainda conseguem ter intuição e estar perto da sua natureza primordial. 
Na verdade eu, tal como o autor refere..."temo que as mulheres que se mantiveram intactas (autênticas) à sua maneira sejam postas em perigo por (essas) outras mulheres. É que já não se tratará apenas de se defenderem dos homens, como também daquelas mulheres que adoptaram a concepção masculina da liberdade...." in “A TRAIÇÃO DO EU “ ARNO GRUEN autor do livro “A LOUCURA DA NORMALIDADE”



...Assim a mulher que vemos a actuar nos nossos dias e depois de duas a três décadas se expressa e se impõe no mercado de trabalho e nas instituições públicas e privadas, é uma mulher que não se afirma na sua verdadeira feminilidade, mas actua apenas como uma réplica do macho, exibindo uma sexualidade deformada pelo conceito que o homem tem da mulher e desvirtuada da sua essência - porque sem alma - impelida pela força do imaginário masculino que a transforma num seu travesti…de mil faces, todas fictícias...Como as mulheres que vemos nos filmes e as modelos dos estilistas gays que são sem dúvida as mulheres que eles sonhavam ser …e que nada têm a ver com a verdadeira mulher. É essa mulher estereotipada e masculina feita à imagem e semelhança do homem que as mulheres fazem esforços desesperados para se tornaram e poucas ou raras souberam ou puderam desenvolver as suas qualidades intrínsecas de um verdadeiro feminino.
 

É justamente aqui que se torna imperativo para a mulher tomar Consciência da Deusa dentro de si, da grandeza da sua ALMA, do seu poder interior e ancestral, que é um poder inato em cada mulher, e que se pode tornar numa manifestação de poder de amor nas sociedades, através de valores reais do feminino essencial, o que significaria uma nova relação com o seu corpo e o seu sexo e o seu sangue, criando uma nova dinâmica com a Natureza viva, as árvores, as plantas, as flores, em suma, toda a flora e a fauna. Sendo a Mulher de novo livre como amante e mãe, poderia organizar a vida de forma mais equitativa e justa e distribuir as riquezas do Planeta sem olhar o lucro e a posse e fazer prevalecer o amor e o afecto, paz duradoira que só pode acontecer quando a mulher a tiver dentro de si assim como o homem e por isso mesmo se respeitarem mutuamente.
A Deusa é o Princípio Feminino e os seus aspectos de harmonização e inteligência que faltam desenvolver e fazer actuar no Planeta para que possamos sair do caos actual.
Sem estabelecer o equilíbrio dos polos opostos complementares dentro de cada indivíduo não haverá Obra realizada, nem Humanidade verdadeira!



Rosa Leonor Pedro In Mulheres & Deusas
(excerto)

segunda-feira, janeiro 19, 2015

UM PERIGO REAL




O GRANDE E IMINENTE PERIGO DAS MULHERES VAZIAS que  buscam o poder do macho...

(...)
"Quando vejo aquelas mulheres que pensam que emancipação significa a liberdade de serem tão ambiciosas e sedentas de poder como o mais macho dos homens, temo que as mulheres que se mantiveram intactas (autênticas) à sua maneira sejam postas em perigo por outras mulheres. É que já não se tratará apenas de se defenderem dos homens, como também daquelas mulheres que adoptaram a concepção masculina da liberdade. A “...liberdade” de perseguir o poder para não terem de saber do medo torna-as cúmplices com o desprezo que os homens costumam ter pelo sexo feminino. Um Eu que foge do desamparo só até certo ponto pode aspirar a saber algo dos seus processos interiores. Não sabe lidar com os próprios horrores e inseguranças, só os pode negar pelo desprezo e pela perseguição da invulnerabilidade. Essa perseguição é evidentemente um esforço inútil para ambos, já que para os homens e as mulheres o desamparo espreita atras de cada esquina, justamente porque ela é temida. As suas consequências são paranoia, defesa, ameaças de guerra e a loucura da corrida aos armamentos.
A dependência da admiração, isto é, o sermos admirados, parece prometer a força desejada. O homem quer ser admirado pela sua “força”. E esse estado do ser admirado chama-se amor, embora ele tenda mais a asfixiar o amor autêntico. A maior parte das vezes não é essa a intenção consciente, mas isso não altera nada os resultados."
(...)
In “A TRAIÇÃO DO EU “ do autor do livro “A LOUCURA DA NORMALIDADE”
ARNO GRUEN – Professor e Psicanalista de origem alemã

domingo, janeiro 18, 2015

El amor se aprende de la madre





EL AMOR...

“El amor es un método que se aprende de la madre, de cada madre concreta y personal, cuando se aprende a hablar. Se aprende este método incluso cuando a una o a uno le parece que su madre apenas le amó; pues, si lo piensa dos veces, tendrá que reconocer que le amó lo suficiente –y es mucho- como para enseñarle precisamente a hablar, y, hacerle viable en la vida al inculcarle los fundamentos de la competencia del estar aquí en el mundo.
Después de esta experiencia fundadora de cada existencia humana, hay quien, con el paso del tiempo, olvida que aquello que entonces experimentó era el amor; y reemplaza el amor con otras cosas , que pueden ser la indiferencia, la dominación, una ideología, el nihilismo, la queja, el dinero o la guerra; o sea, haciendo algo que se suele llamar abyecto, que quiere decir, “separado de la raíz”: una raíz que es frágil, porque ser madre es muy difícil, ya que el amor soslaya las medidas de fuerza, y sin amor, la vida desfallece. Hay, en cambio, quien no lo olvida, y logra, siendo fiel al punto de vista de su origen que el amor sea su recurso y su guía en lo que ella haga en la vida”

María Milagros Rivera Garretas
Prólogo de Un cuarto propio , Virginia Woolf
Ed. Horas y Horas

sábado, janeiro 17, 2015

A nossa trágica herança grega...continua...


Maneiras Trágicas de Matar uma Mulher

de Nicole Loraux

(...)
o paradoxo da morte gloriosa das mulheres é que a única morte bela é a viril; também, para conquistar a inatingível ¡déos gynaikon, esposas e moças exercitam-se na andreia; ora, é precisamente aqui que a feminilidade as espreita e, sem que elas o saibam mas para maior edificação dos espectadores, as domina num instante, o momento de uma palavra, de uma escolha muito significativa do texto trágico. (...)
(...)
É então pela garganta que, em Eurípides, Neoptólemo, como bom sacrificador, imola a virgem, golpeada no ponto fraco das mulheres. Sem dúvida não estava ao alcance da tragédia destruir um discurso predominante: não é ainda na garganta ou, se se preferir, no pescoço, que desde a época arcaica Aquiles fere mortalmente Pentesiléia?* A garganta ainda e sempre, na guerra como no sacrifício: escolha significativa, sem dúvida, numa tradição nutrida pela epopéia, onde o corpo viril se oferece inteiro aos ferimentos fatais. Para esclarecer a regularidade – dir-se-á a monotonia? – dessa reiteração, sem dúvida seria necessário procurar-lhe a lei fora do universo trágico, junto à reflexão ginecológica dos gregos onde a mulher é imaginada entre duas bocas, entre dois colos, onde o comportamento errático da matriz embarga brutalmente a voz na garganta das mulheres, onde muitas moças em idade de ser nymphai se enforcam para escapar à sufocação temível que as enlouquece no interior de seu corpo. (...)
(...)
se o historiador se chama Tucídides e seu assunto é a Grécia; relato de guerra e de decisões políticas, a historiografia tucidídia nada tem a ver com as mulheres, mesmo em vida. Acredita-se que Heródoto era menos categórico a esse respeito, mas, de maneira igualmente previsível, ele se interessava apenas pelas mulheres bárbaras ou esposas de tiranos, e por sua morte só quando violenta – ou pretexto para alguma exposição sobre um rito fúnebre anormal; mesmo nestes casos, trata-se de menções breves, não decorrentes de uma elaboração mais desenvolvida. Há, porém, um gênero cívico que, comprazendo-se institucionalmente em confundir a fronteira do masculino e do feminino, libera a morte das mulheres dos lugares-comuns onde a confinava o luto privado. Falo da tragédia, onde, como é verdade em Heródoto, as mulheres só morrem de morte violenta- (...)
(...)
As mulheres trágicas morrem violentamente. Com maior exatidão, uma mulher conquista sua morte nessa violência. Morte que não seja somente o fim de uma vida exemplar. Morte que lhe pertença como sua, como a Jocasta de Sófocles, que a infligiu “ela mesma a si mesma”, ou que, de modo mais paradoxal, lhe foi imposta. Uma morte brutal, cuja comunicação se faz sem frases – assim, para a esposa-mãe de Édipo, “basta uma palavra, tão curta para dizer quanto para ouvir: está morta, a nobre figura de Jocasta” – mas cujas modalidades, dolorosas ou chocantes, ensejam uma longa narração.(...)
(...)
na tragédia, a morte das mulheres tem acesso ao discurso tanto quanto a dos homens, convém observar que no interior do espectro das modalidades de morte violenta se opera de fato uma distinção entre homens e mulheres: aparece então uma ruptura do equilíbrio entre os sexos.
Do lado dos homens, a morte, salvo algumas exceções – a de Ajax e de Hêmon, que se suicidam, a de Meneceu, que se oferece para ser a vítima de um sacrifício – toma a forma do assassínio: assim, é de fato um assassínio – oikeios phonos, morte em família – a morte formalmente guerreira dos filhos de Edipo, que se matam mutuamente no campo de batalha. Quanto às mulheres, apesar de eventualmente serem mortas, como Clitemnestra, como Mêgara, é muito maior o número daquelas que recorrem ao suicídio como a única saída numa desgraça extrema: Jocasta e, ainda em Sófocles, Dejanira, Antígona e Eurídice; Fedra e, também em Eurípides, Evadne e Leda, no segundo plano da Helena; no caso das moças, o cútelo do sacrifício é o instrumento privilegiado da morte, podendo-se acrescentar à coorte das esposas suicidas o grupo de virgens sacrificadas, de Ifigênia a Polixena, passando por Macária e pelas filhas de Erecteu. Não estarei aqui privilegiando o assassínio, entretanto, não me impedirei de evocar suas formas trágicas: por ser mais equitativamente partilhado entre homens e mulheres, sem dúvida o assassínio é um critério menos pertinente da diferença dos sexos em sua relação com a morte. Sendo assim, no tocante às mortes femininas, darei relevo principalmente ao suicídio das esposas e ao sacrifício das virgens.
(...)
Trechos do Livro: Maneiras Trágicas de Matar uma Mulher,
de Nicole Loraux

Pentesiléia?* - Rainha das amazonas

sexta-feira, janeiro 16, 2015

A cumplicidade e intimidade entre mulheres...

UMA CONTRA-REVOLUÇÃO SEXUAL
 por Cacilda Rodrigañez Bustos: 


 "Afirmou Ernest Borneman que o surgimento do patriarcado foi uma contrarrevolução sexual, na qual se perderam os hábitos sexuais das mulheres (désaccoutumance sexuelle, na versão francesa da obra); que as mulheres só puderam ser subjugadas despojando-as da sua sexualidade, o que é consistente com os mitos originais dos heróis solares e santos, que matam o dragão, a serpente e o touro. O rasto destes hábitos sexuais, que nos chegam através da arte e da literatura, é muito importante porque nos dá uma ideia do que se destruiu com a contrarrevolução sexual.
Um lugar-comum dos hábitos perdidos são os círculos femininos e danças do ventre universalmente encontradas por todo o lado, desde os tempos mais remotos (pinturas paleolíticas como as de Cogull (Lérida) e Cieza (Múrcia), cerâmica Cucuteni do 5.º milénio a C., arte minóica, etc.), que nos falam duma sexualidade auto-erótica e partilhada entre mulheres, de todas as idades, desde a infância. Entre os testemunhos escritos, cito os versos de Gongora sobre as mulheres que habitavam as nossas serranias ainda no séc. XVI, e que se reuniam para bailar:


En los pinares de Júcar
Vi bailar unas serranas,
Al son del agua en las piedras
Y al son del viento en las ramas.
No es blanco coro de ninfas
De las que aposentan el agua
O las que venera el bosque,
Seguidoras de Diana:
Serranas eran de Cuenca,
Honor de aquella montaña,
Cuyo pie besan dos ríos
Por besar de ellas las plantas.
Alegres corros tejían,
Dándose las manos blancas
De amistad, quizá temendo
No la truequen las mudanzas.
¡Qué bien bailan las serranas!
¡Qué bien bailan!
(…)

As Serranas, como as chamadas Amazonas em outros lugares do mundo, eram mulheres que iam viver para o monte para preservarem os seus hábitos sexuais. Durante séculos, e com ligação a redutos do antigo paganismo, sobreviveram entre a cumplicidade e a calúnia (como a do Romance de Serra da Vera, que apresenta estas mulheres como salteadoras que sequestravam homens para saciarem a sua lascívia, matando-os em seguida). No entanto, a realidade podia mais do que qualquer deformação, calúnia e mitologia juntas, e a sua existência contaminava a das outras mulheres que abandonavam as aldeias pela calada da noite para se juntarem a elas.
No séc. XVII, desencadeou-se, como se sabe, uma campanha de extermínio contra estas mulheres, que passaram à história convertidas em bruxas. A natureza sexual dos jogos e círculos femininos foi também estudada a partir das letras das suas canções que chegaram até nós (1). O hábito quotidiano das mulheres se juntarem “para bailar”, e para se banharem, é ancestral e universal, e dá-nos um vislumbre do espaço colectivo de mulheres impregnado de cumplicidade e baseado na intimidade natural entre mulheres, que hoje apenas prevalece em recônditos lugares do mundo. Em África, existem aldeias onde as mulheres ainda se reúnem à noite para dançar (bailes claramente sexuais, como se pode ver numa reportagem do Sudão (2). A imagem das mulheres do quadro “o Jardim das Hespérides”, de FredericK Leighton (séc. XIX) é outro vestígio dessa relação de cumplicidade e de intimidade entre mulheres.

Os hábitos sexuais das mulheres remetem-nos para a sexualidade não falocêntrica das mulheres; para a diversidade da sexualidade feminina, e a sua continuidade entre cada ciclo, entre uma etapa e outra. Uma sexualidade diversa e que se diversifica ao longo da vida, cujo cultivo e cultura perdemos. (…) Vivemos num ambiente em que o sistema libidinal humano, desenhado filogeneticamente para travar relações humanas, está congelado. Hoje as mães vivem longe das suas filhas e as avós vão de visita a casa d@s net@s; a pessoa de família que nos dá a mão quando adoecemos vive no outro extremo da cidade, e mal conhecemos o vizinho ou a vizinha" (…)

QUANDO A MULHER NÃO SABE QUEM É A MULHER...



NG:  (...) Você tem falado sobre um “feminismo que não abarca a Mulher, mas é para mulheres”(2004: 329). Em que se baseia exatamente tal feminismo?


DH: Bom, isso é um assunto complicado e apenas podemos seguir algumas discussões. Nos termos de bell hooks, feminismo diz respeito ao movimento de mulheres, como um verbo, e não a algum tipo de dogma particular.  Eu estava entre as muitas que foram arrebatadas pelos movimentos de mulheres da minha geração.  Engajei-me na política do movimento de libertação de mulheres que surgiu no final dos anos 1960, e daí proveio uma herança muito pessoal, que tem a ver com suas segmentações de classe e de raça: minha compreensão do poder e dos limites do meu próprio feminismo histórico, em meus pequenos mundos coletivos.
Mas daí veio também uma herança muito maior, que é tentar lidar com a esperança impossível de que a desordem estabelecida não é necessária. Essa herança vem da teoria crítica e vê o feminismo como um ato de recusa ao sofrimento profundo e histórico nas vidas das mulheres em toda parte, ao mesmo tempo em que lida [com o fato de] que nem tudo é sofrimento. Há algo na vida das mulheres que merece ser celebrado, nomeado e vivido, e há entre nós algumas necessidades culturais e organizacionais urgentes – quem quer que “nós” sejamos.

O feminismo foi uma herança complicada, um lugar de políticas urgentes e um lugar de prazeres intensos por ser parte do movimento de mulheres. E aproximei-me de tudo aquilo como cientista, não com qualquer velho modelo de cientista, mas como uma bióloga; e como uma católica que recusa a igreja, mas é incapaz de se tornar uma humanista secular. A semiose é de carne e sangue e sobrevive de algum tipo de incapacidade de se contentar com uma semiótica que trate apenas do texto em alguma forma rarefeita. O texto é sempre de carne e costumeiramente não-humano, inacabado, não-homem. Isto era o feminismo, então, e é o que continua sendo para mim.
(...)
NG: Alguns leitores do “Manifesto” observaram que “você insiste na feminilidade do ciborgue”(Haraway, 2004: 321). Isto está correto? (...)A idéia de superar o gênero seria, então, nada mais (ou menos) que um “sonho utópico”?

DH: Não! Obviamente gênero está entre nós mais feroz do que nunca. Há algumas dobras, mas gênero se refaz em uma variedade de formas. E há um mundo trans (trans-ing) em desenvolvimento, que torna gênero o substantivo errado. Pessoas “trans” fazem um trabalho teórico realmente interessante, incluindo uma ex-aluna minha – Eva Shawn Hayward – que se recusa a fazê-lo em relação às pessoas (2004). Muita coisa interessante está acontecendo sob os prefixos pós- e trans-. Não é um sonho utópico, mas um projeto de trabalho concreto.  Tenho problemas com o modo como as pessoas se referem a um mundo utópico pós-gênero – “Ah, quer dizer que não importa mais se você é um homem ou uma mulher”. Isso não é verdade. Mas em alguns lugares de fantasia e criação de mundos (worlding), isto é de fato verdade, por bons ou maus motivos.

NG: Então, como você pensa gênero em um mundo cada vez mais transversal?

DH: Da maneira que Susan Leigh Star e Geoff Bowker me ensinaram e pensar: como trabalho categorial (veja Bowker e Star, 1999). Não divinize a categoria. Não elabore uma crítica e imagine que a categoria desapareceu apenas porque você fez uma crítica. Não basta você ou seu grupo descobrirem como a categoria funciona para fazê-la sumir; e concluir que a categoria é construída não significa que foi inventada do nada. Em alguns sentidos, estamos em um mundo pós-gênero; em outros, estamos em um mundo feroz de gêneros localizados. Mas talvez as teóricas “mulheres de cor” tenham acertado ao afirmar que estamos em um mundo interseccional. Isto é o que Leigh e Geoff queriam dizer quando elaboraram a categoria de “torção”. Vivemos em um mundo onde pessoas são criadas para viver simultaneamente várias categorias não-isomórficas, que as “torcem”. Então, em alguns sentidos, pós-gênero é uma noção significativa. Porém fico muito nervosa com o modo como essa noção se torna um projeto utópico.

NG: Então você usou o termo pós-gênero para provocar, e as pessoas o conduziram a diferentes direções?

DH: Sim. Mas e se for um mundo sem gênero tal como o compreendemos? Algumas pessoas acharam que isso significaria um mundo sem desejo, sem sexo e sem inconsciente, e eu não quis dizer isso. Mas eu de fato quis dizer que a teoria freudiana de inconsciente é apenas uma análise da vizinhança, ainda que poderosa." (...) 

Donna Haraway

QUEM QUISER LER NA INTEGRA:
http://www.pontourbe.net/edicao6-tradução
 

A MULHER NÃO TEM GÉNERO...



A MULHER...É e nasce MULHER - mas enquanto não for Mulher em Si, consciente da sua integralidade é apenas um subproduto do Sistema patrista, um ser cindido e dividido que se busca no obscurantismo religioso e ideológico, inserida no quadro académico em que está atada a ideias e conceitos, filosofias e psicologias machistas, digo, enquanto não se "desemaranha" de toda essa teia patriarcal, e da própria sua (dele) semântica...ela busca-se no vazio que de si o Homem criou e a projectou intelectualmente...SEM NUNCA SE ENCONTRAR na sua verdadeira feminilidade

 E tal como disse Natália Correia:

"Acho que não vale a pena a mulher libertar-se para imitar os padrões patristas que nos têm regido até hoje. Ou valerá a pena, no aspecto da realização pessoal, mas não é isso que vem modificar o mundo, que vem dar um novo rumo às sociedades, que vem revitalizar a vida.
A mulher deve seguir as suas próprias tendências culturais, que estão intimamente ligadas ao paradigma da Grande Mãe, que é a grande reserva, a eterna reserva da Natureza, precisamente para os impor ao mundo ou pelo menos para os introduzir no ritmo das sociedades como uma saída indispensável para os graves problemas que temos e que foram criados pelas racionalidades masculinas.
É no paradigma da Grande Mãe que vejo a fonte cultural da mulher; por isso lhe chamo matrismo e não feminismo.
É aquilo a que eu chamo o cansaço do poder masculino que desemboca no impasse temível do tal equilíbrio nuclear que criou uma situação propícia a que os valores femininos possam emergir, transportando a sua mensagem."


NATÁLIA CORREIA, in Diário de Notícias, 11-09-1983

quarta-feira, janeiro 14, 2015

A Eternidade que nos envolve É FEMININA.

A DEUSA SEM INTERMEDIÁROS
Existe um estudo muito sério a respeito do Messianismo. Vivemos isso não só nas religiões, mas também na política. É um vício existencial terrível ficar esperando que o Messias salvador venha resolver todos os problemas. A questão desse personagem central passa justamente por essa armadilha.

No Cristianismo o caso é mais sério. Se você provar que Jesus não existiu, acabou o Cristianismo. Todos os preceitos morais, toda a ideologia cristã depende terrivelmente dessa figura central. Para os católicos e cristãos fundamentalistas a dependência é ainda maior: Jesus morreu para salvá-los, assim qualquer alteração na história de Jesus, como as tradições que dizem que ele não morreu na cruz, que foi tirado antes e foi morar na Índia, onde tem até um túmulo que alegam ser dele, destrói completamente a base dessas religiões.

O Budhismo é um caso mais complexo. Como o Cristianismo, o Budhismo se desenvolveu em muitas e diferentes seitas. Temos desde escolas filosóficas como o Zen até Escolas que acreditam que basta você ficar cantando uns mantras e chamando um certo Budha ( existiram vários além do histórico Sidarta Gautama) e vc está "salvo". O Espiritismo Kardecista quando surgiu não tinha linha filosófica clara. Existem uns escritos de Madame Blavatsky nos quais ela comenta que o espiritismo é tão confuso que iria acabar adotando o Cristianismo como base religiosa... E foi o que aconteceu.

Esse papel torna Kardec um codificador, mas não o coloca numa perspectiva histórica, no mesmo patamar de Jesus ou Gautama Budha, ou Maomé, ou Krishna. Esses seres que cito foram seres semi divinos, seres cercados de uma aura que os colocava num nível muito particular. Jesus é o filho de um Deus tribal, o Deus dos Judeus, que foi imposto como Deus universal. É engraçado notar esse equívoco tremendo, quando colocam um deus tribal no lugar do conceito de Divindade Cósmica e chamam esse deus tribal de deus único e consideram esse arremedo de monoteísmo uma evolução, em relação ao panteísmo que sente a divindade em todas as manifestações da natureza ou ao politeísmo que cultua várias divindades.

O Budhismo tem uma perspectiva inicial diferente: Sidarta Gautama é um homem comum, como nós, que realiza o despertar e DESPERTANDO se torna o BUDHA, que quer dizer desperto. Ele não é diferente de nenhum outro ser humano e seu caminho pode ser trilhado por qualquer um. Enquanto Jesus "morre para salvar seus fiéis", mantendo antigas práticas mágicas do "cordeiro sacrificial", Gautama ensina um caminho para que qualquer um que se dedique também desperte.

Quando nos aproximamos da Wicca não vamos encontrar nenhum conceito de "salvação por procuração" fixado em um ser humano. Se notarmos com atenção a Religião da Deusa nunca desapareceu completamente. Esteve hibernando, esperando que o inverno árido espiritual que caiu sobre esta parte do mundo passasse, com toda sua terrível perseguição, principalmente às mulheres, que se dedicavam à ARTE.
Gardner tem acesso a uma antiga linhagem que sobrevive de forma discreta e pode então lançar as bases do que vai ser um "renascimento" público da Wicca e, por tabela, de várias outras formas de paganismo.

O que mais caracteriza o paganismo em geral? A sintonia com a natureza, o reconhecimento da divindade em cada momento da natureza, o reconhecimento desse elo profundo e intransferível que temos para com a natureza e a percepção que a Divindade, a Eternidade que nos envolve é feminina. Este aspecto é muito interessante e traz de volta uma questão muito séria. Não se trata de um simbolismo, não se trata, como querem alguns, que os "primitivos" consideravam a mulher um símbolo melhor para a Divindade. Aliás, é mesmo um símbolo mais rico, pois a mulher gera, assim a Deusa "emana" a criação de si, ao contrário das divindades patriarcais que precisam "criar", "modelar em argila" e outros subterfúgios mais para quem não tem útero. Não é mero símbolo, é muito mais que isso, de fato a Eternidade que nos envolve É FEMININA.
E isso não é apenas na Wicca, não. O Xamanismo em várias versões coloca isso da mesma forma. Vivemos num universo feminino e num planeta feminino. Isso não desmerece o homem e o masculino. Até pelo contrário, explica porque ficamos nesta condição de "reis da cocada preta", pois sendo uma energia mais rara na existência ganhamos uma proeminência que podia ter sido usada de forma bem mais inteligente e criativa que o criar dessa civilização doentia de valores pseudo-patriarcais na qual estamos inseridos.

Assim sendo, na Wicca não temos "avatares" de destaque que representam "guias" no caminho. Nosso contato é direto com a Deusa e suas várias faces, nosso trabalho é direto com a Fonte. Gardner e tantos outros são "expoentes" da ARTE, pessoas sérias que ao dedicarem-se ao estudo profundo da ARTE nos auxiliam a compreender melhor sua complexa simplicidade.

A Deusa tem várias faces e também é a SEM FACE, pura essência, que está em nós e em cada fenômeno e evento com o qual interagimos. Há uma tradição interessante, hoje quase perdida, que conta que na senda iniciática o(a) aprendiz começa por conhecer as 3 faces da Deusa: A menina, a Mulher e a Anciã. As 3 fiandeiras que tecem o destino de todos. Então, quando está pronto(a) o(a) aprendiz é levado a conhecer a face escura e secreta da Deusa, sua face negra.
Após esse momento o(a) aprendiz compreende os Quatro Cantos do Mundo e seu desafio agora é ser o Quinto ponto, o centro, após conhecer as quatro faces da Deusa é momento de ser a Quinta Essência, a Quinta face, manifestar a Deusa em SI. Quando realiza este quinto momento, quando sente e "É" a Deusa em si olha para Cima e para BAixo e encontra a Deusa nos Céus e na Terra que pisa. Realizou o Sexto e o Sétimo passo em seu caminho. É então que encontra o Oito, o infinito e todas as barreiras caem, descobre que todas as imagens que usava para representar a Deusa eram ainda pálidas aproximações da realidade, caem as máscaras e podemos então SENTIR a Deusa em SI mesma, em toda a plenitude de seu poder.
Se isto é realizado, estamos prontos para entrar na nona esfera de iniciação e então conhecer o Mistério além do Tempo, além do Espaço. E então voltamos a ser unidade ao lado do Zero, 10. Nós, a unidade, fortalecidos e "potencializados pela Orubós sem fim, a Deusa que nutre de si mesma, a Existência cíclica. Na Wicca, como em outros ramos profundos do paganismo, não precisamos acreditar em avatares dos Deuses ou da Deusa, em pessoas que criaram dogmas e regras, que tem seu papel sim, no começo do caminho, para evitar confusões, mas como aquelas rodinhas que usamos para aprender a andar de bicicleta, podem virar uma dependência limitante se não temos a coragem de quando estamos prontos, tirar tais rodinhas e andar sem as mesmas, com a certeza que se não estivermos de fato prontos, o tombo vem.

Nosso elo é direto com a DEUSA e seu Consorte, com a VIDA, e a Vida só se revela sendo vivida. Qualquer teorização excessiva é sempre sinal de fuga da vida em si, real e efetiva, para ficar justificando com elaborações racionais.

Por: Nuvem que Passa em Domingo, 04 de Agosto de 2002 - 21:17:59 (Brasília)´
 
IN PISTAS DO CAMINHO

terça-feira, janeiro 13, 2015

Quando a mulher confronta claramente o homem

 
UM OLHAR
 
E UM TEXTO CLARÍSSIMO...
 
"A maior parte dos homens Ocidentais não se sentem nada confortáveis quando confrontados de forma clara com a situação de subjugação a que a mulher tem sido sujeita. Reagem de forma defensiva como se lhes estivéssemos a atirar pedras e eles tivessem que se defender de uma forma também ela agressiva, com uma pedra maior. Qualquer mulher que se queira ver sujeita a enxovalhos, agressões baratas, acusações machistas entre outras manifestações desagradáveis e que em nada permitem a discussão sobre o assunto de uma forma assertiva com o teor da mensagem, verbalize de forma clara o que pensa sobre a realidade da vida das mulheres nesta sociedade herdada do pensar e da ação dos homens.
Quer isto dizer que esta conversa mexe ao nível das emoções e que dificilmente homens e mulheres sem encontram a um nível de consciência que lhes permita falar das questões relacionada com o género sem os ânimos se alterarem e diria mesmo descompensarem!...
Digamos que é algo que se vivencia diariamente no nosso quotidiano, no trabalho, na família, nos convívios sociais de forma silenciosa e permissiva. Quando alguma mulher é identificada como elemento desestabilizador desta paz podre, corre o risco de ser colocada à margem por homens e mais dolorosamente pelas próprias mulheres, que desta forma não tem como esconder de si próprias e muito menos dos homens as situações de injustiça e de desrespeito social, profissional, familiar e que se reflete de uma forma dramática nas relações afetivas e sexuais que estabelecem com os seus pares. Tudo isto é vivido no silêncio das vozes, mas sentido nos olhares, nas respirações, nos bateres de coração, nas expressões e nas nossas células que não se dão nada bem com a tensão a que são sujeitas desde que nascem neste mundo hostil a tudo o que é feminino."

 
Ana Ferreira Martins
 
 

segunda-feira, janeiro 12, 2015

MULHERES & DEUSAS : SER-SE SÓ...

A RELER...





MULHERES & DEUSAS : SER-SE SÓ...:   Não, o mundo ainda não criou seres capazes de se amarem… Por isso rara é a pessoa ou o ser humano e sobretudo uma mulher que é capaz...

sexta-feira, janeiro 09, 2015

UMA NOVA MULHER E UM NOVO MUNDO


O MUNDO NOVO E O MUNDO VELHO

Estamos entre dois mundos... Um mundo velho que se esvai em convulsões e agonia, que mata os seus filhos, que dilacera, e um mundo novo que mal desponta e do qual ainda não temos senão indícios... 
 
Estamos no fim de um mundo que era só razão e excluía sentimentos e intuição e em que a luta das mulheres quase que foi em vão...Houve desvios culturais na história da humanidade que prejudicaram mais directamente a Mulher na falta de verticalidade e dignidade a que foi sujeita, mas que prejudicou directamente também os seus filhos...o que é evidente na violência e na barbárie que nos ameaça em todas as partes do mundo onde a Mãe não é respeitada nem a Mulher.
O homem sem amor que acaba odiando tudo e todos tem de recuar na sua força e prepotência, tem de abandonar a sua arrogância e a violência para aprender a amar e a respeitar a mulher, e a Mãe, sem a qual a humanidade será sempre manca. Porque sem a mulher no seu papel mais elevado de ser individual antes de ser amante ou mãe, nunca a humanidade se vai libertar da sua escravidão. Porque a Mãe da humanidade está dividida em duas metades uma contra a outra no mundo inteiro. Uma dualidade perpetuada por valores de superioridade e inferioridade cabendo à mulher sempre o papel inferior e negativo... Os homens quiseram assumir a paternidade do mundo, mas só geraram a divisão e o ódio entre irmãos... Dividiram terras, países bens e mulheres!
Este é o velho mundo do amor e do ódio sempre em alternância e sem descanso.
Todas a escravidão exercida pelo homem começou com a escravidão da mulher e porque a Mãe faltou, votada ao silêncio e ao descrédito, os homens destruíram o mundo pela guerra. A mulher sofreu tanto ao longo destes milhares de anos que nada poderá justificar, nem a razão nem o pecado, nada justifica esse sacrifício inaudito. Apenas a loucura e prepotência dos homens que não viram que o seu poder era usado em cima do sacrifício da própria Mãe e que eles seriam as SUAS vítimas mais próximas. E se houve um crucificado nesta história que tão mal nos foi contada, não foi Cristo, mas a Mulher!

Todo a face do mal deste velho mundo em estertor, dividido em duas metades, foi projectado na mulher. A mulher foi e é ainda a cobaia e o bode expiatório de todos os homens, mesmo dos escravos e é preciso que isso fique claro de uma vez por todas, pois só depois de se compreender este erro crasso contra uma metade da humanidade, em que ainda compactuamos todos, homens e mulheres, o mundo chegará a um novo consenso e atingirá uma nova consciência. Essa Consciência nada tem a ver com a velha consciência da moral e dos costumes, nem com a ordem patriarcal vigente neste podre mundo, mas com uma consciência alargada e não linear. Com uma nova visão do mundo e da mulher, um novo mundo se aproxima.

O universo dos homens foi a razão, o intelecto: análise e separação. O universo das mulheres é a intuição, o sentimento: percepção e síntese. Estes dois mundos têm de se encontrar e cruzar dentro de cada ser.
Cabe à mulher o papel de mediadora uma vez liberta das suas peias e de posse do seu dom de iniciadora, tanto do amor do filho como do amante, pois a mulher é iniciada por natureza e essa é a sua função: Amar e Ser igual a si mesma.

Precisamos lutar por um novo mundo onde a Mulher seja dignificada e não crucificada...senão este mundo velho vai ruir completamente em caos mentira e violência...
 
 REPUBLICANDO - ESCRITO EM 2002
rosaleonorpedro 

A MULHER....





"A mulher vem sendo "acrescentada" de próteses; próteses estéticas, próteses eróticas, próteses fétiches. Como se a verdade do seu corpo fosse pouca e não bastasse. Este rebaixamento atingiu tais níveis, que ela parece induzida a só conseguir exprimir o seu desejo na projecção artística das suas próteses, e não com a sua alma e carne de mulher ."

Magali Moura

quinta-feira, janeiro 08, 2015

ALGUÉM QUER PENSAR COMIGO

foto - Mizé Jacinto

O FEMININO PARA LÁ DOS SEXOS E DOS POLOS OPOSTOS COMPLEMENTARES...


Queria escrever sobre uma coisa que eu acho que é muito importante saber distinguir tanto como saber abordar quando se trata do tema da mulher, pois a confusão que se gera à volta do feminino e da emancipação da mulher é imensa e cada vez mais perigosa em que até os mais nobres e mais dignos e até intocáveis aspectos da integridade da mulher estão a ser atacados e colocados em perigo, a serem desvirtuados  por uma mentalidade dita "moderna", de "vanguarda", masculina e racional...  e isto não só da parte dos homens como da parte das próprias mulheres e que é inverterem agora os valores intrínsecos da mulher tradicional no sentido oposto ao da expressão corrente da mulher comum...e muito disso eu acuso o "feminismo" e o transformismo e toda essa amalgama a que chamam a luta pelos direitos e igualdades da mulher, e que eram legítimos no plano do trabalho e da liberdade da mulher em si, o ter salário igual e ser respeitada, mas que também se tornaram apanágio de comportamentos sexuais libertinos e promíscuos, como o dos homens.

E claro que isso se deve à grande e crescente ofensiva  dos Midea em geral e outras maquinações mais astutas a nível "conspiratório" para que as mulheres se mantenham presas ao sexo e ao corpo para o qual vivem exclusivamente e do qual vivem à conta industrias farmacêuticas e de produtos de beleza e portando agindo de forma a que estas vivam  ainda em função apenas do homem, de o seduzir ou conquistar...ou do par romântico. Assim, elas mantêm sempre esse foco na beleza e na moda ou no sexo em nome de uma suposta nova abordagem do feminino ou mesmo em nome do "feminino sagrado" ou da sexualidade sagrada...
Outra nota curiosa é que não só defendem o homem como qualquer texto mais simpático de um homem "feminista" tal como alguns se intitulam,  elas corroboram e ficam muito felizes e nem percebem como existe de facto um novo  machismo, camuflado de feminismo ...ou um neo-machismo  em marcha.
 
 ALGUÉM QUER  pensar comigo?

Vejamos, este texto surge agora  a propósito das mulheres estarem sempre a defender os homens, mais do que a si mesmas...e daí vem toda aquela questão do feminino e masculino e da integração dos dois em UM, e já se inventa um masculino sagrado a par do feminino sagrado e se exaltam os valores do Homem integral como se o homem estivesse ameaçado pela verdadeira identidade da mulher ainda oculta...e dizem que é preciso integrar urgentemente os dois em um  e que cada sexo tem os dois lados e que a complementaridade é que é a correcta e por isso não se conseguem dissociar do homem...par e complemento. Ora o que eu defendo não é a negação disso antes pelo contrário. Acontece é que a mulher cindida e fragmentada não sabe de si ainda nem da sua natureza profunda, conhecimento que se perdeu com a inflação da logica e da razão e assim não pode de forma alguma responder ao apelo do seu próprio Yin...e ser a essa parte feminina que  complementa o masculino tanto fora como dentro.

Nós não inventamos o yin nem o yang, nem fomos nós que descobrimos as polaridades nem fomos nós que agora vamos fazer alguma coisa mudar...porque essa divisão ou esse cisma é tão velho como o mundo!

Vamos lá ver então qual é o problema nesta abordagem e tentar clarificar um pouco esta questão...se isso então é tão velho como o tempo e a par disso até temos a "mais velha profissão do mundo" a começar pela Bíblia e em tempos mais recuados também as chamadas erroneamente "prostitutas sagradas" (porque se eram sagradas e o sexo também e serviam a Deusa do Amor, não havia prostituição, mas consagração à Deusa...), como é que as Mulheres são hoje tratadas e sempre o foram de "santas ou de putas" (vacas e cabras)...e porque persiste essa cisão na mulher, essa separação das "duas" mulheres e as mulheres estão em situação de inferioridade, subalternidade, de exploração e até escravidão ainda no mundo?
Muito bem, voltando ao Yin e ao Yang a ideia está certíssima, sempre esteve e não é nada nova...as abordagem espirituais em geral todas elas a fazem e defendem. A Alquimia porém, no ocidente e a mais explicita, de um certo modo, pelas gravuras do rei e da rainha exemplificam isso - mas qual mulher qual quê é que dela faz parte? Até a religião católica que nada ou pouco tem a ver com o cristianismo original, o da Gnose e da Sophia...também o diz. Mas os orientais não fazem isso melhor, nomeadamente os indianos, com a Shakti como os judeus com a Shekina...adoram a mulher divina e no altar, mas maltratam e matam a mulher de carne e osso...
E como é que isto se mantém se toda a gente sabe das polaridades e da igualdade dos sexos e da integração dos opostos etc.

Não acontece porque não há essa integração na mulher, nõa há a consciência do SER MULHER em si e porque esse velho sisma se reflectiu nas duas  mulheres cindidas... e que persistem na cultura e sociedade patriarcal.  

As Mulheres, divididas em duas, entre opostos complementares, não já o feminino e o masculino um de cada lado, mas a própria mulher dividida entre dois estereótipos que se digladiam dentro de si e fora,  o que se reflecte nesta na realidade na luta umas contra as outras porque continuam a aceitar que a outra mulher  seja a  prostituta (ou o seu contrário) enquanto ela defende o seu par, o seu homem ou o seu filho...sendo que qualquer um deles, pais e filhos,  mais a frente, antes como hoje, até vão a essa "prostituta " (que até pode ser a melhor amiga da mãe ou da irmã?...) e que a digna esposa ou filha trata abaixo de cão...e a acusa de todos os males, mas nunca acusa o homem deste vicio,  nem o Sistema falocrático; não culpa a miséria social, não culpa a ignorância das mulheres, não dá pela falta de valor da mulher em si nestas sociedade patristas sequer e então  vira-se simplesmente contra a "outra" e odeia as outras mulheres?

Digam-me como é que isto ainda se passa? Como é que ainda se convive com isto? Intelectuais, escritoras, médicas psicólogas, deputadas e estudiosas, feministas e até espiritualistas?

E agora nós, em Nome do "feminino sagrado" continuamos a fazer essa distinção na mesma?

Em nome da Deusa fazemos a mesma coisa, rivalizar e antagonizar a outra mulher que não é deusa?
Ou em nome das feministas e das mulheres livres etc?

Então o que se passa... é que as  meninas modernas e  as senhoras em geral NÃO QUEREM VER A SUA CISÃO, querem em vez disso e  como os seus defensores homens BRANQUEAR toda a questão da cisão da mulher? Não querem vê-la em cada uma de vocês e em cada mulher, não querem considerar até que ponto essa cisão vos divide e vos mata (de doenças) e separa a todas e vos faz tanto mal?

Não querem ver QUE ANTES DOS COMPLEMENTOS FEMININO E MASCULINO, O YIN E O YANG, seja o macho e a fêmea, A MULHER TEM DE INTEGRAR A SUA SOMBRA, A SUA OUTRA ELA, a sua outra metade, a mulher que foi ocultada e denegrida pelas religiões...e VOLTAR a ser una e íntegra, ser um indivíduo e não um apêndice e uma função procriadora ou de prazer?
Que diferença faz a mulher dar gozo ao homem e não ter gozo e agora por a ênfase no seu prazer e achar que chegou a algum lado e continuar a ser apenas objecto de prazer e corpo para vender ou alugar... (barriga de aluguer).
E mesmo que agora essas mulheres "modernas" e garotas invertam a sua mulher tradicional e negarem as mães e se tornem elas em putas, a tal "outra" que antes era agredida e culpada de lhes roubar os homens, elas foram a luta e transforaram elas em putas para o não perder? - mas será como dizia alguém aqui, que algum homem que as defenda queira casar com elas? (a prevalecer o casamento)  e sejam elas a falar desabridamente de sexo e foder e masturbação e escrevam textos sobre  eróticos ou pornográficos, façam a apologia do clitóris ou façam a elegia do "fodamos" como se de poesia ou pão para a boca  se tratasse - e depois querem legislar os piropos "inocentes" perante o que escrevem e que incita os homens a agredi-las e a assediá-las e depois não querem ser alvo de abusos e piropos  nas ruas...? Que loucura, que alienação ou confusão é esta?
Toda esta insanidade em marcha...toda esta contradição absurda...toda esta cegueira generalizada...foi orquestrada e manipulada toda esta degeneração perante o avanço real de uma nova consciência do Ser Mulher...

E nós, queremos ser coniventes com isto tudo?

Ou queremos ver que esta questão que abordamos aqui é a base da nossa CONSCIÊNCIA COMO MULHERES INTEGRAIS  e sem a qual tudo continuará  na mesma ou se invertem os dados e que por  sermos um perigo real para o Sistema ao sermos mulheres autênticas há tanto empenho, tanto cuidado em não nos deixarem evoluir no sentido da nossa dignidade e inteireza...e fazem ou tornam as mulheres suas acolitas até da pornografia...com as 50 Sombras de Gray...

Não nos deixarmos iludir portanto pelo  neo-machismo que é transversal às mulheres, sendo elas próprias quem mais o propaga ou mesmo que à partida também nos pareça incrível que hajam certo tipo de homens  a defender a Deusa e a Mulher e que são homens muito femininos talvez, e com Anima, mas  que no fim nos vem dizer..."afinal vocês têm sido umas mazinhas...e devem nos pedir perdão...nós até somos bacanos, nós perdoamos...e estamos a vosso lado?"

De que lado afinal e do lado de qual Mulher?

Sim, de que Feminino estamos nós a falar?

Da mulher que se subestimava e era frígida e agora se orgulha de fazer tantra e ter orgasmos e fazer a apologia da puta?

Por favor...
Vamos lá por as coisas no seu lugar.

 Eu... não estou contra a natureza das coisas, nem da vida, nem do sexo nem do feminismo em geral, nem tenho nada com as vossas vivências particulares, as vossas escolhas, mas apenas me distingo  de vocês talvez - da grande maioria das mulheres - por  uma abordagem particular que para mim é ESSENCIAL e trata-se a muitos níveis de unir as duas mulheres numa só assim como unir a  Deusa da Terra com a Deusa do Céu...
Unir Maria Madalena e Maria a Virgem, assim como unir a Mulher das profundezas com a Mulher da superfície? A mulher Útero e a mulher Anima? Pois a Mulher de superfície não conhece uma nem a outra...
A MULHER, Ela ainda não EXISTE...
Será que não me entendem?
Ou não querem perceber?

Rosa Leonor Pedro