O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, fevereiro 17, 2016

SENTIMENTOS...

Bert Hellinger - o mentor das Constelações familiares




 "Sentimentos primários e secundários:


A diferença principal entre sentimentos primários e secundários é que o primeiros estimulam a acção construtiva, enquanto que os secundários consomem a energia que, de outro modo, iria estimular mudanças. Sentimentos que geram acção efectiva fortalecem as pessoas. Os que embaraçam ou substituem a acção efectiva, ou ainda que justificam a omissão, enfraquecem-nas. Chamo, pois, os sentimentos que geram acção construtiva de sentimentos primários, e os outros de sentimentos secundários.
Os sentimentos primários são simples e não exigem descrição minuciosa. São fortes sem ser dramáticos ou exagerados. Por isso, embora excitantes e vívidos, trazem uma sensação de segurança e calma. (…)
Muitos sentimentos com que lidamos em terapia são secundários. Sua função principal consiste em convencer os outros de que não podemos encetar acção efectiva, razão pela qual têm de ser sentimentos dramáticos e exagerados. Quando sob o império de sentimentos secundários, somos fracos e os demais presentes sentem a necessidade de ajudar. Se as emoções forem suficientemente dramáticas, os que pretendem ajudar não percebem que, na verdade, pouco há a fazer em tal situação.
Quando as pessoas cultivam sentimentos secundários, evitam contemplar a realidade. Esta compromete as imagens interiores necessárias para manter esses sentimentos e prevenir mudanças. Quando essas pessoas “trabalham” com terapia, frequentemente fecham os olhos e se recolhem ao seu mundo particular. Respondem por outro lado ao que lhes é perguntado, mas quase nunca percebem o que fazem. Convém lembrá-los de que devem abrir os olhos e observar o mundo. Eu costumo dizer-lhes “Olhem para cá. Olhem para mim.” Se conseguirem abrir os olhos e ver realmente, mas ainda assim continuam com o mesmo sentimento, é porque se trata de um sentimento primário. Mas se o sentimento lhes fugir logo mal abrem os olhos e começarem a ver, podem estar certos de que foram envolvidos por sentimentos secundários.
Quando sentimentos primários emergem na terapia ou na vida, os presentes demonstram naturalmente compaixão, mas sentem-se também livres para responder de maneira adequada. A pessoa que ostenta esses sentimentos mantém-se forte e capaz de agir efectivamente. Dado que eles conduzem a um objectivo definido, não duram muito tempo: surgem, executam o seu trabalho e vão embora. Não fazem rodeios. Resolvem-se graças a uma expressão apropriada e a uma acção efectiva, correcta.
Os sentimentos secundários, por sua vez, duram mais e pioram com a expressão, ao invés de melhorar. Esse é o motivo básico pelo qual as terapias que encorajam a expressão de sentimentos secundários são demoradas.
Desejo corrigir também outro conceito erróneo sobre a perda de controle, é algo eu aprendi com a Terapia Primal. Muitas pessoas supõem que curvando-se a uma necessidade ou sentimento premente, perdem o controle. Não é verdade. Quando acedemos a um sentimento primário – por exemplo, à dor elementar de uma separação, a uma cólera justa ou a um forte desejo -, e confiamos plenamente nesse sentimento, tanto esse quanto a necessidade são naturalmente controlados.
Os sentimentos primários vão até onde convém. Ninguém fará nada vergonhoso por causa de um sentimento primário, pois este sabe reconhecer os limites da vergonha. É muito raro que se zombe de uma pessoa que exibe um sentimento primário. Ao contrário, os outros em geral se comovem profundamente e participam da experiência.
Isso se aplica apenas aos sentimentos primários. Os sentimentos secundários não conhecem os mesmos limites à vergonha e é muito fácil passar por idiota expressando-os. Não se pode confiar neles.
Mas os sentimentos secundários têm o seu fascínio. São dramáticos, excitantes, dão a ilusão de vida. Todavia, o preço dessa vida é as pessoas ficarem eternamente fracas e indefesas.
(…)
O luto, por exemplo, pode ser primário ou secundário. O luto primário nada mais é que a dor lancinante da separação. Se nos submetemos à dor, permitindo que ela execute o seu trabalho, o luto finalmente encontra a sua própria saciedade e nós ficamos livres para começar de novo. Muitas vezes, entretanto, as pessoas recusam a submissão ao luto, transformando-o, ao contrário, em sentimento secundário, auto-piedade ou tentativa de atrair a piedade alheia. Esse luto secundário pode durar a vida inteira, inviabilizando uma separação limpa, e negando a evidência da perda. Trata-se de um mau substituto para o luto primário.
A culpa primária conduz à acção saneadora. Se aceitamos a culpa, fazemos naturalmente o que é possível e necessário para corrigir os erros, endireitar a situação e viver com o que não pode ser mudado. A culpa secundária transforma acção em preocupação. Não promove mudanças: na verdade, previne-as. As pessoas podem remoer um bom problema durante anos, como o cão rói seu osso, mas nada muda. Atormentam-se e atormentam os outros, sem nenhuma alteração produtiva. As pessoas que precisam evitar mudanças positivas, por uma razão qualquer, devem converter a culpa primária em culpa secundária.
O desejo de vingança pode ser também primário e secundário. A vingança primária possibilita a reconciliação porque liberta tanto a vítima quanto o agressor. A vingança secundária preserva a agressão e o desequilíbrio sistémico, impedindo que se chegue a uma solução. Exemplo disso são as lutas de clãs herdadas de gerações anteriores. Os vingadores se acham no dever de cobrar prejuízos que não sofreram e seus actos se voltam quase sempre contra os que não fizeram nenhum mal.
A cólera tem formas primárias e secundárias. A cólera primária purga um relacionamento e passa sem deixar cicatrizes. A cólera secundária contra alguém frequentemente se segue a um dano que lhe infligimos, e o ofendido tem boas razões para odiar-nos. Ficando encolerizados, rebatemos seu ódio. A cólera secundária, como a culpa secundária, é muitas vezes um pretexto para não agir. Nos relacionamentos, a cólera costuma ser utilizada para não pedir o que se quer, como: “Você nunca percebeu que eu necessitava de alguma coisa.” (…)
Quando o sofrimento é primário, os clientes suportam o que tem de ser suportado para, em seguida, juntar os pedaços de suas vidas e começar de novo.
Quando o sofrimento é secundário, iniciam outra rodada de dores. Queixar -se de algo não passa, geralmente, de uma distorção secundária da aceitação da realidade.
A diferença entre o que fortalece e o que enfraquece aplica-se também a várias outras áreas, como o conhecimento e a informação. Podemos perguntar-nos:
“Esse conhecimento facilita uma solução ou a impede?
Essa informação estimula a acção ou a embaraça?
O que está a acontecer fortalece ou enfraquece as pessoas, impulsiona ou anula a acção efectiva em prol de mudanças?”
Estou menos interessado em ajudar pessoas a “pôr para fora os seus sentimentos” do que em promover mudanças construtivas.
Extravasar sentimentos às vezes é bom, mas frequentemente obstrui a mudança.

Bert Hellinger
In, A Simetria Oculta do Amor

1 comentário:

Vânia disse...

deixa ser... deixa te falar no silêncio da presença na acção... é uma espécie de dinâmica e movimento em q a dinâmica é natural e tranquila... é como a vida de um rio ou cascata, a água se mistura harmoniosamente sem complicar... e eis q chegamos a um equilíbrio. ah isto sou eu aqui só a falar. perdida à procura dos primários..