O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, fevereiro 01, 2016

SERMOS VULNERÁVEIS...



ENTRE MULHERES...


Hoje acordei com uma enorme tristeza e ao mesmo tempo muita vontade de escrever em busca da razão deste meu sentir...e como não sei o que virá, resolvi escrever pelo seguro primeiro só entre amigas...porque talvez fale sobre a amizade, não sei...talvez fale sobre o respeito, não sei...ou talvez diga sobre as nossas inseguranças e medos, face ao tema vital das relações humanas em geral que é tudo o que nos move, sejam elas quais forem as relações...
Penso no que nos motiva permanentemente a procurar atenção e afecto ou a ter necessidade da compreensão dos outros/as... até mesmo quando já sabemos que ninguém nos entende ou percebe realmente a não ser por sua livre e espontânea vontade e até distracção, justamente quando não se está a pensar, nem se tem conceitos sobre a outra pessoa, quando não se "conhece" a outra pessoa (ah, como é fatal o "já te conheço"!)...Sim, é mais fácil que nos entendam e faça eco o nosso sentir quando falamos para alguém que não nos conhece nem tem ideias sobre nós...e isto claro parece uma contradição, mas não é...
Alguém entender-nos é um Milagre...é como diz um Mestre é um Momento um Estado e um Lugar...diz ele,  que é a lei da Ressonância Vibratória e portanto algo que acontece muito acima da "compreensão" (e dos conceitos e ideias) do nível mental-intelectual...
 
Esse entendimento-fusão também parece acontecer quando se ama subitamente alguém, o famoso "Coup de foudre" - quando se abre uma cortina...e tocamos a essência de alguém...Esse é outro milagre...mas não é a nossa REALIDADE. É um acontecimento,  um empolgamento, um estado alterado...é um estado que dura o que dura - como uma Visão - e depois o que fica? Fica a amizade, diz-se...a confiança...mas...há sempre um mas... Sempre que há uma certa confiança (a mais) entre as pessoas, diz-se que não há grande respeito, sobretudo isso acontece, o que é uma contradição, nas relações mais íntimas, de facto...é como se a intimidade fosse quase um abuso, qualquer tipo de intimidade...e que não suportamos à luz do dia...e por isso se agride tanto a pessoa mais próxima; no meu caso, uma vez que nunca vivi com ninguém o tempo suficiente, mas mesmo assim comprovo o facto...lembro-me mais todavia de como toda a minha revolta ia para cima da minha mãe ...toda a irritação a descarregava nela ou no meu irmão mais novo. Não sei porque será, mas os mais próximos são sempre as "vitimas" preferenciais dos nossos humores e assim nos nossos amores...
Pessoalmente cheguei a uma idade em que de facto já não acredito que se possam fazer novas amizades (e menos ainda amores), porque a amizade faz-se ao longo da vida e das situações partilhadas, coisas vividas em comum, sobretudo nas situações de dor e sofrimento, de provação,  em que as pessoas normalmente fogem de chatices e só ficam mesmo as amigas(os). Não estou aqui a falar dos familiares agora porque esses são como que obrigados e isso não vale para o caso, tal como referi mais acima. Falo mesmo das pessoas com quem à partida julgamos que temos afinidades...e nos abrimos e nos confiamos e até podemos confessar coisas que nunca ousámos dizer a ninguém antes...e de quem ficamos de algum modo cativas, e assim quando algo inesperado vindo de uma amiga (ou amigo) nos magoa...ou fere...sentimo-nos traídas de alguma forma... É como - Ó meu deus eu julgava que esta pessoa era fiável e me conhecia...mas não.  Aqui também não falo propriamente da relação homem e mulher que exige uma atenção mais particular, porque tem aspectos que pertencem a outro tipo de entendimento/desentedimento que deriva dos polos opostos e da sua interacção, da atracção-repulsão inerente à paixão...embora fale do amor em geral e quando as pessoas se apaixonam esse Milagre permite um entendimento pontual e breve, enfim, até pode ser mais longo, no caso dos sexos opostos. E aqui também teriamos de perceber se o homem em algum momento é amigo da mulher, mas não me quero alongar por ai...
Seja como for a verdade dura e crua é que ninguém conhece ninguém... e era aqui que eu queria chegar...Porque a questão é, se eu não me conheço a fundo se eu não me sei, se eu não me entendo a mim própria, como é que eu vou entender uma outra pessoa? Não, o que se passa, e isto é comum a todos os amores, é que apenas nos espelhamos pessoas umas às outras seja nos defeitos seja nas qualidades...nas projecções que fazemos ou nos sonhos que temos, identificamo-nos com o que julgamos ser a outra pessoa ou o que ela diz ou faz, mas não a compreendemos nem a sabemos enquanto não nos conhecemos em ESSÊNCIA - E AQUI COMEÇA A NOSSA VERDADEIRA HISTÓRIA. Era realmente aqui que eu queria chegar...
 
E começar...a dizer o que queria dizer...ir mais longe...
Só nos conhecemos verdadeiramente quando vencemos as barreiras dos nossos complexos e traumas, quando ultrapassamos as nossas limitações, as nossas carências ou  os nossos  reflexos condicionados de pensamento viciado, padrões, ideias e conceitos que nos inculcaram, ou de emoções contaminadas, de reacções instintivas de defesa, quando conseguimos perfurar a nossa couraça de defesa e nos tonamos vulneráveis, sim, quando retiramos as defesas e estamos de peito aberto às balas (e porque sabemos que assim elas fazem sempre ricochete) e porque são sempre os nossos espinhos de defesa que nos magoam e não os do outro/a...
Quando atingimos um grau de maturidade e de neutralidade em relação às coisas e as olhamos de cima sem superioridade, com passividade e ao mesmo tempo muita consciência, quando já passamos por tudo e sabemos quais são as causas e as consequências dos nosso conflitos primários e internos, depois disso e só depois o verdadeiro discernimento vem naturalmente porque isso acontece sempre que alcançamos o nosso Centro nuclear...o nosso coração inteligente que é compassivo e igualmente implacável porque ele não se compadece da nossa falsidade nem do simulacro do outro, nem da nossa fraqueza nem da mentira do outro e vai directo ao ponto nevrálgico do nosso SER Verdadeiro, quer queiramos ou não, saibamos disso ou não. Ele age por si...
Queria dizer que há um caminho de solidão e amor dentro de nós e que se faz no silêncio de dentro mas que não há porém nada mais gratificante do que poder comunicar directamente do coração um sentimento vindo desse centro quando estamos finalmente libertas da nossa Sombra, digo, quando a Sombra está integrada e já dela não temos medo nem vacilamos. A verdade é aquilo que acontece quando já não estamos em conflito connosco próprias...quando as polaridades estão integradas, no nosso caso o feminino.
E "Estar relacionado com este principio significa estar orientado para aquilo que transcende ambições e objectivos pessoais, significa alcançar uma relação com um valor não-pessoal, como também tornar-se relacionado com o Logos (a Deusa) é adquirir uma relação com a verdade não-pessoal. A submissão a um dos Princípios, de facto, implica que a pessoa esteja redimida de uma orientação pessoal e egóica e de desejo de poder pessoal, e que se submeta àquilo que está para além do pessoal. Essa é a atitude religiosa." *
Como vêm isto não é nada fácil, mas é o único objectivo para quem quer pregar um Amor que está acima de todos os conceitos e dualidades pois nele tal como Eros (Afrodite) "está contido tanto o negativo, ou ódio, quanto o positivo, ou o amor." *
Assim como a integração dos polos opostos não implica a superação de uma das forças mas a concomitâncias das duas em UM, também precisamos dessa unidade em nós mesmas como seres singulares e individuais. Este é o propósito mais alto a se atingir, o de atingir objectivos não egoicos e desculpem trazer para aqui uma coisa tão inesperada como complicada...que só intuitivamente nós mulheres podemos perceber e se calhar lá chegar pois de algum modo já lá estamos...assim nos dizem OS MISTÉRIOS DA MULHER ** do livro do mesmo nome de M.Esther Harding.

PS Publiquei primeiro o texto num Grupo de mulheres e só depois resolvi publicar também o texto aqui...

Rosa Leonor Pedro
 

5 comentários:

Vânia disse...

Muito obrigada minha querida.

Vânia disse...

Muito obrigada minha querida.

Vânia disse...

Preciso de interacao em tudo isto. Mas sem telas.

Vânia disse...

"Queria dizer que há um caminho de solidão e amor dentro de nós e que se faz no silêncio de dentro mas que não há porem nada mais gratificante do que poder comunicar directamente do coração um sentimento vindo desse centro quando estamos finalmente libertas da nossa Sombra, digo, quando s Sombra está integrada e já dela não temos medo nem vacilamos. A verdade é que aquilo acontece quando já não estamos em conflito connosco próprias... quando as polaridades estão integradas, no nosso caso o feminino." E resume se a isto mas ainda é mais q isto e é tanta coisa. É tudo muito, uma abundância de muito de um pouco de tudo. Falar para alguém cá de dentro do coração, falar na escuridão é imenso imenso, mas isto só se tornou realmente imenso depois de um longo e doloroso caminho de solidão. Só realmente eu aprendi através de todas as experiências dolorosas. de facto são essas as experiências transformadoras da vida. na dor cegamos, mas se não desistirmos de procurar algo mais para alem da dor encontramos mas primeiro em nós.

Vânia disse...

A verdade é aquilo que acontece, e não como eu escrevi: A verdade é que aquilo acontece. Quando te lia no texto quase que não estava a entender te nem a concordar contigo, depois sorri e verifiquei que me distraio e eu mesma leio diferente o que me é igual.