O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, outubro 18, 2016

A MULHER ESSÊNCIA


Eu sou Lilith a  sina dos iniciados
A impetuosa perdida a conhecida e a obscura
Os livros descreveram-me e vocês não me leram
Eis as minhas visões
Na crista da onda  do sétimo dia *

A grande maioria das mulheres ainda não tem o sentido da verdadeira partilha entre si, integradas que estão no sistema patriarcal, ainda as move, primeiro que tudo os seus objectivos mundanos ou familiares, naturalmente, ou então dentro destes meios ditos "alternativos"  e new age, fazem-no quase sempre por interesse próprio, carreira versus profissão, de forma  egoísta ou por interesse material, simulando o ideal sem serem de facto solidárias ou terem qualquer espirito, como gostam tanto de dizer, de sororidade...Estamos muito longe disso, muito muito longe ainda...

Vê-se isso facilmente, se formos ao fundo das aparências e dos trajes, das sais e dos xailes e dos tambores...podemos verificar que são raras as mulheres que têm realmente esse espírito de partilha, desinteressadas ou abnegadas e com um interesse genuíno pelas outras mulheres, dando-se e preocupando-se com o seu sofrimento ou com as suas carências. Estão bem mais interessadas com as propagandas do que fazem e do que vendem nos seus "pacotes" de cura.  Elas servem-se  inclusive das outras mulheres em  beneficio próprio  para se afirmarem e não em beneficio das outras mulheres, desinteressadamente e nem sequer se apercebem da diferença... Tem seguidoras que incitam  sem escrúpulos  a vender também por sua vez as suas "especialidades". E assim, umas se tornam  devotas cegas e outras mestras.
Elas cantam e dançam, tão alienadas como em um qualquer baile de máscaras ou de carnaval...
Quase todas elas se dizem dedicadas à deusa mas na verdade apenas estão a apostar nas suas terapias ou nas suas curas ou nas suas vestes...mais por afirmação egoica, do que por dádiva e amor, e o que ressalta é: "eu sou a curadora, melhor que tu, eu sou deusa, maior do que tu"...e isto está a acontecer por todo o lado, criando-se uma nova seita de mulheres "terapeutas e de medicina", que embora falem do útero e do sangue, não têm consciência nenhuma do que é efectivamente o feminino sagrado ou a verdadeira identidade da mulher; não, não fazem ideia da mulher cindida nelas, e por isso tanta rivalidade, tanta disputa de egos, e tanto ódio por vezes. Elas entraram nesta Roda (ou círculos) em busca de protagonismo - seja uma posição de superioridade seja  um saber que lhe dê importância, destaque, ou que lhes dê a fama de única e especial para assim reverter em dinheiro, ou qualquer outra mais valia, em beneficio próprio apenas.


"Un sabio como yo no debe cobrar por sus servicios, no debe lucrar con su sabiduría. Quien cobra es un mentiroso. El sabio nace para curar, no para hacer negocio con su saber."*

Bem sei que não sou nativa de um pais que vive assim e que vivemos noutros tempos e tudo é diferente,   com sei que vivemos num mundo onde o dinheiro é rei...e faz a lei, e sei que também precisamos dele, mas temos de ter muito cuidado como ele nos pode fazer perder tudo o que ansiamos e somos de verdade...mesmo  sendo sinceras.
O verdadeiro Dom é dádiva e sendo um dom não se vende e ele só se revela, assim como o colmatar do nosso potencial divino em nós, quando somos humildes e nada queremos para nós, quando servimos e entregamos à Deusa o nosso ser e só assim a verdade em nós pode transparecer e veicular como Palavra e sermos fiéis aquilo que somos em essência.
Acontece porém, está a acontecer por todo o lado, muito oportunismo por parte de mulheres que usam a Deusa para fazer negócio e muitas vezes sem qualquer escrúpulo. São como os vendilhões do Templo e em nome da Deusa vendendo tudo e até a alma ao diabo...

O que se passa é que nós levamos para um novo mundo ou paradigma as ideias patriarcais e os seus vícios e não vimos a diferença.
Mas há apesar de todo este folclore mulheres veradeiras que se unem de coração e se dedicam sinceramente à causa da Deusa e da Mulher!

OLHEMOS POIS PARA O QUE NOS UNE E NÃO PARA O QUE NOS SEPARA


Há um centro e uma essência que nos liga e identifica a todas como mulheres - apenas nas crenças, nas ideias e nas diferentes facetas da nossa natureza idades e personalidade nos diferenciamos, mas quando passamos acima das ideias e crenças e o que quer que seja o que nós defendemos intelectualmente porque acreditamos, a verdade que nos interessa diz sempre respeito a todas, e se assim não for é porque não é verdade...

Tudo o que nos separa em vez de nos unir... não é a Deusa Mãe, mas um simulacro qualquer que nos afasta desse centro e desvia desse amago!

rlp

 *1 Joumana Haddad - Le Retour de Lilith

*2 Maria Sabina mulher indígena

COMENTÁRIO DE UMA LEITORA:

Não é propriamente surpreendente que a área da "espiritualidade" e das "terapias" seja a área de eleição de narcisistas e sociopatas. Em que outra área humana se pode conseguir o grau de adulação, poder sobre o outro, afirmar as coisas mirabolantes que afirmam, etc., sem nunca serem questionada/os? Ou se alguma vez o são, obliteram/ridicularizam/manipulam/uma qualquer outra solução que lhes traga mais vantagem no momento, quem o faz. Muito poucas...

Neste momento sinto que só posso encontrar o que nos une no silêncio (e quando ninguém está a ver ou a fotografar!). Será uma fase... entretanto vou lendo, e observando, com muito interesse e curiosidade.

Sónia

4 comentários:

Anónimo disse...

Não é propriamente surpreendente que a área da "espiritualidade" e das "terapias" seja a área de eleição de narcisistas e sociopatas. Em que outra área humana se pode conseguir o grau de adulação, poder sobre o outro, afirmar as coisas mirabolantes que afirmam, etc., sem nunca serem questionada/os? Ou se alguma vez o são, obliteram/ridicularizam/manipulam/uma qualquer outra solução que lhes traga mais vantagem no momento, quem o faz. Muito poucas...

Neste momento sinto que só posso encontrar o que nos une no silêncio (e quando ninguém está a ver ou a fotografar!). Será uma fase... entretanto vou lendo, e observando, com muito interesse e curiosidade.

Sónia

rosaleonor disse...

Pois não, nõa é nada surpreendente...A Sonia é muito clara na sua observação - providencial - se não se importa vou destaca-la como contributo a um trabalho de desmistificação de tantos narcisistas e sociopatas, como diz...
Também gostei do que simplifica nesta frase: "Neste momento sinto que só posso encontrar o que nos une no silêncio (e quando ninguém está a ver ou a fotografar!)." Concordo inteiramente consigo!
Grata por contribuir com tanta precisão uma questão tão camuflada por todos...
rleonor

Anónimo disse...

Com certeza.

Há tanta coisa nesta "nova era" que me choca ou deixa estupefacta. Choca-me que o abusador se desresponsabilize do abuso que perpetrou e que diga que é o karma da pessoa, que foi a pessoa que atraiu a situação de abuso para si, logo a culpa é dela (e que nem ouse queixar-se!), por exemplo, entre tantas outras coisas...

Mas já chega de desabafos, obrigada por estar desse lado. Gostaria, sobretudo, que nenhuma mulher voltasse a cair nestes jogos, nesta espiritualidade que de espiritual não tem nada.

Sónia

Ná M. disse...

ROSA pf ajude