O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, outubro 24, 2016

O mal se destrói a si mesmo.

Da obsessão (da obsessão)

- "Kirtimukha": que o mal consuma a si mesmo! E o monstro se auto-devorou.

"Todo mundo acha que a obsessão ocorre de uma pessoa em relação a outra ou a um objeto, como a inveja de Salieri em relação a Mozart ou a cobiça fatal de Midas por ouro, mas a obsessão é como um buraco negro dentro da pessoa, um desejo da alma, um defeito psicológico e uma emoção negativa que foi tornada tão forte que galvaniza toda a vida da criatura naquela direção, fazendo-a entrar em desequilíbrio, fazendo com que todas as áreas de sua vida sejam destruídas e desequilibradas, já que o buraco negro criado na mente da pessoa é tão forte que tudo o mais não possui força frente ao poder de atração, frente a força gravitacional daquele desejo que a tudo galvaniza, a pessoa não pensa em outra coisa, não sente nada mais, fica antes de tudo obcecada por si mesma e por seu desejo fortalecido numa escala exponencial, exatamente como se houvesse um buraco negro na alma.
Assim a obsessão é antes de tudo uma forma de auto-obsessão e o obsessor mais forte é justo a pessoa que foi engolida por si mesma, por um desejo desequilibrado, por uma emoção negativa fortalecida ao longo do tempo, por um defeito psicológico que simbolicamente é como um demônio que tragou-lhe a alma.
Os casos mais flagrantes, pois são públicos, são os de políticos que ao longo do tempo, ao envolverem-se em esquemas de corrupção e no jogo do poder movidos pelos desejos mais torpes, tem a própria face desfigurada, como um reflexo da alma possuída pelo próprio desejo em desequilíbrio, sua aura aparenta desvitalização e seu olhar perde o brilho, tornando-se frio e opaco.
Mas não faltam exemplos de amigos e conhecidos que desequilibraram o seu viver movidos pela obsessão, na verdade pela auto-obsessão. Sejam motivações espirituais, políticas e pessoais, a obsessão nesses casos assumem contornos grandiosos, como causas, ideais ou projetos que por transcenderem o indivíduo o alienam de si, funcionam como um droga que fazem o indivíduo não ver seus próprios problemas para viver os problemas alheios e até os problemas da humanidade.
Aliás, a origem da palavra obsessão é latina, vem de OBSEDERE, “sitiar um local”. Já obcecado vem de OBCAECARE, “tornar cego”, de OB, “à frente”, mais CAECARE, “cegar”.
A pessoa está cega para tudo o mais, está fascinada pelo próprio desejo, como, por exemplo, no caso do invejoso, que tem mais interesse na infelicidade alheia do que na própria e não vê que isto o leva a própria infelicidade e destruição. A inveja é o próprio obsessor, um obsessor abstrato, e seu possuidor, na verdade possuído, é o obcecado, Isto configura a auto-obsessão.
Assim toda a emoção negativa cultivada, todo defeito psicológico fortalecido é a caverna do dragão, é o útero psíquico gerador de obsessores e obcecados.
Curiosamente um dos componentes da palavra obsessor e obcecado, OB, é o termo usado em magia (cabala hebraica) para indicar a corrente fatal, como nos diz Eliphas Levi em seu O Grande Arcano:
“Ob representa a vida fatal. É por isso que diz o legislador hebreu: Infelizes dos que adivinham por Ob, pois evocam a fatalidade, o que é um atentado contra a providência de Deus e contra a liberdade do homem.”
Assim todo o médium, adivinho, sensitivo fascinado por suas próprias previsões segue a corrente da fatalidade é está impregnado de Ob, vítima da corrente astral negativa.
Junte-se numa pessoa a sensibilidade mediúnica, a obsessão de que natureza for e uma personalidade em desequilíbrio e temos aí um obsessor encarnado, um portador de um buraco negro psíquico, um devorador, nas palavras da Bíblia.
O homem ímpio cava o mal, e nos seus lábios há como que uma fogueira. Provérbios 16:27
Amas todas as palavras devoradoras, ó língua fraudulenta. Salmos 52:4
Romper o círculo obsessivo e viciado na própria alma depende do quão a vontade possa estar enfraquecida e se a vontade estiver muito debilitada a única salvação é uma ajuda externa suficientemente forte para fazer frente ao buraco negro dentro da alma da pessoa (auto) obcecada, antes que ela seja devorada por si mesma.
Daí provavelmente o ditado hindu: o mal destrói a si mesmo.
Shiva, o destruidor de mundos, passeava com sua esposa Parvarti, quando de repente surgiu um monstro e disse:
- Quero que sua esposa seja minha mulher!
Ultrajado com aquele insulto, o deus Shiva criou então um monstro dez vezes maior e mais ameaçador que o primeiro, forçando este a lhe pedir clemência.
Shiva, então, poupou a vida do primeiro monstro, que passou a ser seu devoto discípulo e disse ao segundo monstro:
- "Kirtimukha", ou seja: que o mal consuma a si mesmo!
E o monstro se auto-devorou.
Hoje, a máscara do demônio Kirtimukha (imagem em anexo) serve como escudo de proteção nas casas e templos dedicados ao deus Shiva."

FERNANDO AUGUSTO

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