O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, dezembro 31, 2017

mergulho na quase dor...



Estremeço de prazer por entre a novidade de usar palavras que formam intenso matagal. Luto por conquistar mais profundamente a minha liberdade de sensações e pensamentos, sem nenhum sentido utilitário: sou sozinha, eu e minha liberdade.
É tamanha a liberdade que pode escandalizar um primitivo, mas sei que não te escandalizas com a plenitude que consigo e que é sem fronteiras perceptíveis.
Esta minha capacidade de viver o que é redondo e amplo - cerco-me por plantas carnívoras e animais legendários, tudo banhado pela tosca e esquerda luz de um sexo mítico.
Vou adiante de modo intuitivo e sem procurar uma idéia: sou orgânica. E não me indago sobre os meus motivos. Mergulho na quase dor de uma intensa alegria – e para me enfeitar nascem entre os meus cabelos folhas e ramagens.


Clarice Lispector...

sábado, dezembro 30, 2017

NOVO ANO?


O Novo Ano

"Eu desejaria que o Novo Ano trouxesse no ventre morte, peste e guerra. Morte à senilidade idealista e à retórica embalsamada; peste para um certo código cultural que age sobre os grupos e os transforma em colectividades emocionais; guerra à recuperação da personalidade duma cultura extinta que nada tem a ver com a cultura em si mesma.
Eu desejaria que o Novo Ano trouxesse nos braços a vida, a energia e a paz. Vida o suficientemente despersonalizada no caudal urbano ...para que os desvios individuais não sejam convite ao eterno controlo e expressão das pessoas; energia para desmascarar o sectarismo da sociedade secularizada em que o estado afectivo é mais forte do que a acção; paz para os homens de boa e de má vontade."

AGUSTINA BESSA LUIS
(31 de Dezembro de 1979)
Quadro de isabel de sousa pinto

quinta-feira, dezembro 28, 2017

A CORUJA...



"A medicina da coruja inclui a sabedoria, furtividade, sigilo, silêncio, movimentação rápida e visão aguçada.
A habilidade de enxergar por trás das máscaras, vendo o que realmente se esconde sob a superfície, de avisar sobre presságios, mudando de forma. Representa a ligação entre o mundo escuro e invisível e o mundo da luz. Também o conforto com a própria escuridão, com a magia da lua, com a liberdade, com as decepções, com a compreensão, visões e presságios.

A coruja simboliza o feminino, a lua e a noite. Elas são os pássaros das profecias e sabedoria, assim como da magia e escuridão. São ligadas à Athena, e por vezes referidas como águias da noite, mensageiras da escuridão e guias através de todos os mistérios presentes nela. São caçadoras noturnas e, portanto, possuem a habilidade de ver o que não vemos. A coruja lhe concederá o dom de ver o que se esconde abaixo da superfície e de não ser enganado pelas aparências.

Às vezes, são citadas como gatos com asas. Essas duas criaturas são conectadas à magia, possuem sensos e intuições aguçadas, e mais sabedoria que as outras criaturas. Como os gatos, as corujas possuem ótima audição e visão no mundo da noite –um lugar muito temido. Esse medo também pode nos fazer dar uma sensação de desconforto perto de criaturas noturnas. A razão para isso é que a noite é escura e simboliza o desconhecido –que nós não podemos, ou não queremos ver."



VOLTANDO A REALIDADE


A MENTIRA SOCIAL E POLÍTICA
E AS SUAS LEIS...

Por trás de um grande homem, diz-se que há uma grande mulher.
Muitas vezes atrás de uma grande mulher, não há ninguém
. - G. Keith


A religião e a política, em  diferentes planos e épocas, aparecem ao ser humano como uma promessa de salvação ou de justiça, respectivamente, como modos operandi de satisfazer e organizar a sociedade a nível material e espiritual, mas nem a religião nem a política – DENTRO DO SISTEMA PATRIARCAL – nunca o fizeram de forma justa, equitativa, porque sempre se baseou na exploração implícita do homem pelo homem e na anulação da mulher como ente, esta sempre olhada ora como mãe ora esposa, ou prostituta caso não alcançasse um contrato de casamento realizado em nome do Pai e do filho, para perpetuar nome e herança familiar.

Porém, dentro do sistema patriarcal autoritário e hierárquico, que se diz democrático, baseado no poder exclusivo do homem em todos os domínios da sociedade, nunca a mulher poderia ser autónomo e livre e por isso nunca se poderia criar uma sociedade justa nem livre a partir do momento em que ele aprisionou a mulher e a dividiu em duas espécies e cuja ordem familiar se baseia na submissão da mulher à ordem patriarcal enquanto explora a mulher em casa e a prostituta na rua ou no Bordel… Por mais que se tenha tentado mascarar a situação com a “liberdade da mulher”- através do emprego fora de casa e do acesso a profissões masculinas - o facto é que por muito que aparentemente tudo tenha mudado para essas mulheres, a sociedade  não mudou muito de fundo nem na prática… Apesar dessa aparente liberdade e das leis serem hoje supostamente democráticas, ainda hoje em pleno sec. XXI também os juízes absolvem maridos criminosos e violentos e julgam as mulheres como adúlteras…com os mesmos códigos “morais” da idade média…
Toda a gente pensava que sim, e diz-se, que isso era antigamente, mas nada mudou na mente colectiva e nas mentes retrogradas (mesmo dos mais cultos) de quem continua a deter o poder. Por mais discursos feministas que se façam e supostas mudanças sociais na prática pouco ou nada mudou e tudo o que se faz em termos de propaganda cultural é iludir as mulheres que se julgam emancipadas por poderem ter amantes e fazer sexo a torto e a direito, mas mais não fazem do que as enganar ao oferecer soluções fictícias como o é a Lei, quando nada muda de fundo nas mentalidades: elas continuam a ser consideradas putas e adulteras se o fizerem. E ao contrário do que nos dizem os Media e o que vemos nas televisões e telenovelas é a fuga sistemática e o branqueamento dessa realidade social e fica tudo a fingir que vive em democracia e igualdade e que a justiça se faz…mas tudo não passa de uma mentira geral ou global.

Os que antes nos enganavam com promessas de mudanças – mudanças de regime e revoluções - hoje já vemos sob o véu das suas mentiras as suas máscaras caíram completamente por terra. O que agora vemos são todas essas mentiras desveladas e de forma incontrolável e assim mais do que nunca está as claras a propalada mentira religiosa e política que controla as populações e as mantem na ignorância, através dos seus pódios de propaganda e de domínio social e psicológico, agindo unicamente em defesa dos seu poder e interesses – suportados pelos Midea e o cinema, os jornais, os Partidos, os Governos, o Vaticano continuam a controlar as massas pela mentira e pelo consumo e a alienação, afastando o ser humano das suas questões essenciais , do seu verdadeiro drama, que é a falta de amor inicial da Mãe e do respeito da mulher – abordada sempre como objecto sexual, mesmo no trabalho - e portanto de uma verdadeira justiça social de igualdade de géneros.

rlp

Como exemplo do que digo acima deixo o excerto de um artigo publicado hoje em Capazes. Um grupo de mulheres jovens jornalistas que denunciam situações e factos, mas sem uma verdadeira consciência do que está por detrás destas situações  - o facto de não ter havido nem ser possível uma verdadeira igualdade no sentido estrito, profissional e humano na nossa sociedade moderna, regida ainda pelos moldes antigos.


O TERROR DAS ENTREVISTAS PARA MULHERES
– por Diana Lima

(…)
“Mulheres, não é normal sermos interrogadas sobre a nossa vida privada, sobre as nossas rotinas pessoais, sobre a nossa orientação sexual, sobre os nossos parceiros (ou a inexistência deles). Não é normal (como já me aconteceu) fazerem perguntas como: “É capaz de trabalhar sem recorrer ao álcool?” , “Consegue trabalhar à noite sem consumir drogas?” , “Se a equipa for toda constituída por homens, acha que se consegue não envolver sexualmente com os colegas?” .

Mas há situações piores, principalmente em entrevistas dirigidas apenas por homens. E conheço alguns casos abafados por vergonha.
Se achávamos que perguntarem o nosso estado civil ou se tencionávamos ter filhos era discriminação, agora a situação passou mesmo para outro patamar. Já não nos podem excluir por isso, mas podem humilhar-nos, fazendo-nos desistir porque nenhuma de nós deseja estar inserida num ambiente profissional assim:
“A sua vida sexual é ativa?”, “Sente-se feliz sexualmente?”, “Costuma masturbar-se? Quantas vezes por dia?”.
O que é que nós respondemos? Silêncio! Só nos apetece enfiar num buraco com a vergonha que nos fazem sentir. Não a devemos ter, não somos nós que estamos a agir de forma errada, e a nossa reação não deve ser o medo.
No meio disto tudo, ouvir e ver os risinhos entre eles ainda nos mete mais nojo. Chegamos mesmo a especular que as entrevistas são falsas e que só nos querem humilhar, só se querem divertir às nossas custas ou que há outras intenções.
A juntar a estas situações, ainda há aquelas entrevistas em sítios recônditos ou não profissionais (como os hotéis) em que damos de caras com um sujeito que nem sabe o nosso nome, não viu o nosso currículo e que a sua conversa é pura tentativa de sedução, com um convite para ir ver mais uns documentos ou assinar o contrato ao seu quarto ou “escritório”.
Quantas mulheres já tiveram coragem de se levantar e ir embora? Nunca saberemos a resposta, nem nunca saberemos quantas mulheres já sofreram estes e outros abusos em silêncio.
Hoje, o que resta a muitas de nós, que lutam por uma carreira, é ter um telemóvel por perto e coragem.” (…)

domingo, dezembro 24, 2017

UMA LAGRIMA TUA



"Uma só lágrima tua, sobre a minha fronte, acordaria os anos adormecidos que me habitaram. Sim! Há coisas que nos toldam... E não têm matriz ingénua!
Deixa cair a tua lágrima salvífica sobre a minha fronte."
...

A. F. Ceramica J.


in Rostos de Marfim Roubados
Inspirado nesta imagem

MUITOS MISTÉRIOS...



DESEJO-VOS PAZ E HARMONIA
NÃO MAIS HOJE DO QUE ONTEM NEM AMANHÃ...

"Estou no teu sorriso e na tua lágrima, no teu sonho realizado e na amargura do teu fracasso. Sou companheira de todos os voos da tua alma. Vivo no silêncio secreto da tua intimidade e conheço todos os teus gemidos mais íntimos. Para mim sempre foste de cristal…
Já ouvi várias vezes a tua história, pois foste tu mesmo que a contaste. Sempre estive mais disposta a ouvir do que a falar.
Sou o teu confessionário secreto e, portanto, a mais fiel das testemunhas de quem realmente és por trás da máscara da personalidade e do teatro do mundo. De mim não precisas esconder nada, pois sei tudo.
Sou dona de teus mais caros segredos, mas os respeito com a dignidade de um confidente silencioso. Afinal, existe mais sabedoria no silêncio do que nas palavras…
Muitos mistérios compõem o meu próprio mistério. Assim quis o Grande Arquiteto que me criou com a Magia dos Quatro Elementos que latejam em teu corpo e no meu."


EXCERTO- Sheik Al-Kaparr

O AMOR



SE O AMOR TE FERIU...

"Se o amor te feriu ou invalidou por longos períodos de tempo e precisaste de uma longa convalescença para conquistar a tranquilidade perdida, não deixes que isso impeça que o continues sentindo por outra pessoa ou por toda a humanidade.
E que isso não te pareça estranho, porque existem diferentes formas legítimas de amar e ser amado. Assim, sê corajoso e bate em todas as portas sem medo de quaisquer julgamentos.

O amor oferece ao homem e à mulher exercícios um tanto complexos dentro do contexto das relações humanas. Como aluno deves estudar e praticar o amor em todas as sua formas porque és fruto do AMOR UNIVERSAL e o AMOR UNIVERSAL age em todos os planos como um camaleão cósmico.
Procura lembrar-te sempre que não és o corpo que vestes nem o que os espelhos refletem. Sente-te, pois, livre de amar e ser amado mesmo das formas mais inusitadas. Ouve esta verdade pouco conhecida: todos os amores são legítimos porque todos são ramificações do AMOR UNIVERSAL."


(EXCERTO) Sheik Al-Kaparr

terça-feira, dezembro 19, 2017

in MEMORIAM


O TEU NOME

"Não me digas o teu nome. Apenas existo na solidão dos cheios de alma. Trago a memória naufragada de amores intensos. Hoje, sou apenas Eu, mais inteira e, contudo toda nua.
Esperar por um homem, é uma batalha perdida; devíamos esperar por algo maior que nos faça inteiras. Temos essa capacidade, se tivermos a ousadia de quebrar o nosso apego. Se os homens têm a arrogância de dizer que, a mulher é apenas mulher, então, a mulher deveria ter a coragem de não o esperar e focalizar-se naquilo que lhe dê uma dimensão mais abrangida de si mesma.
Nunca deixes que te suguem até aos ossos. Há vampiros invisíveis que se travestem de madames poderosas e belas e amáveis. Eles se alimentam na noite, em solo inconsciente, e nunca o fazem à luz do consciente. Estes são os poderosos vampiros, que nunca comprometem a sua avidez à claridade de um sol. Nunca deixes suas antenas sintonizar o teu solo sagrado."


NãoSouEuéaOutra in ''Crónicas Rápidas e Curtas''

Ana Ceramica

"O corpo feminino é um labirinto no qual o homem se perde."



"A PASSAGEM DO CULTO DA TERRA AO CULTO CELESTE DESLOCOU A MULHER PARA A ESFERA INFERIOR”*.

“É correcta a identificação mitológica entre a mulher e a natureza. O contributo masculino para a procriação é fugaz e momentâneo. A concepção resume-se a um ponto diminuto no tempo, apenas mais um dos nossos fálicos pico de acção, após o qual o macho, tornado inútil, se afasta. A mulher grávida é demonicamente (diamon), diabolicamente completa. Como entidade ontológica, ela não precisa de nada nem de ninguém. Eu defendo que a mulher grávida, que vive durante nove meses absorta na sua própria criação, representa o modelo de todo o solipsismo, e que a atribuição do narcisismo às mulheres é outro mito verdadeiro. A aliança masculina e o patriarcado foram os recursos a que o homem teve de deitar a mão a fim de lidar com o que sentia ser o terrível poder da mulher. O corpo feminino é um labirinto no qual o homem se perde. É um jardim murado, o hortus conclusus do pensamento medieval, no qual a natureza exerce a demónica feitiçaria. A mulher é o construtor primordial, o verdadeiro Primeiro Motor. Converte um jacto de matéria expelida na teia expansível de um ser sensível, que flutua unido ao serpentino cordão umbilical, essa trela com que ela prende o homem.”*

POR UMA QUESTÃO DE CLAREZA

Percebo que tanto homens como mulheres se sintam muitas vezes incomodados por eu “defender” exaustivamente as mulheres e por isso me acusam de radicalismo, feminismo ou quando não de outra coisa qualquer. Tanto os homens como as mulheres reagem às minhas tomadas de posição e me acham exacerbada ou tendenciosa…


Quero por isso deixar claro que não pretendo criar antagonismo nem divisão entre o homem e a mulher. Não. Essa divisão existe por si há séculos. O meu trabalho nada tem a ver com oposição ou antagonismo em relação ao ser homem. Não é aí que está o cerne da questão A questão coloca-se no facto de a mulher estar em desvantagem em termos de identidade da mulher como mulher e não na mulher que vive em função do homem. Por isso penas trabalho com a consciência do ser mulher em si dado o afastamento da mulher comum da Mulher original, dessa mulher que a grande maioria das mulheres não sabe que é...coisa que os próprios homens não podem entender à partida e naturalmente julgam-se injustiçados por eu defender as mulheres sem evocar os homens bons ou justos…os homens femininos…

Eu podia dizer que sou uma Mulher com um masculino integrado, mas é como mulher que reflicto e expresso o que sinto. Falo por isso da natureza do ser Mulher em si e independentemente do meu lado masculino. Não entendo como há mulheres a falar sobre a natureza dos homens nem como há homens a falar sobre a natureza das mulheres porque obviamente são naturezas distintas e reflectem aspectos opostos da vida ainda que complementares, no caso de ambos os seres estarem em paridade interior digamos o que não acontece em geral.
O que acontece historicamente com a mulher, do meu ponto de vista e entendimento - e não com o homem (embora ele também sofra as consequências dessa divisão na mulher que ele criou - é que ela está dividida em dois aspectos de si – de um lado o aspecto maternal e do outro o aspecto erótico-sensual – e isso causou uma cisão na própria mulher que a divide em duas mulheres distintas social e psicologicamente.
Pretende-se hoje essas diferenças já não existam, mas é pura ficção. Será assim tão difícil o que estou a dizer sendo tão óbvio na nossa sociedade a existência dessas duas mulheres? Não é assim que vemos de um lado a pobre prostituta e a desgraçada, a mulher da rua ou a mulher fatal e do outro lado a mulher honesta, séria e recatada a do lar, ainda hoje? …
De onde vem essa divisão e essa distinção e essa separação; onde é que ela começa senão na cabeça dos homens que a projectaram nas mulheres considerando uma mulher boa e outra má e pecadora de acordo com os conceitos religiosos de quase todas as cosmogonias e o pecado (a sujidade da mulher associada ao sangue da vida… e não da morte) e toda essa inacreditável pregação milenar religiosa que sempre perseguiu as mulheres? É mentira que a Inquisição existiu? Que perseguiram e mataram milhares de mulheres em fogueiras os cristãos? Que a percentagem de mulheres e homens queimados faz a diferença abismal dos 90 por cento ou mais?
Eu não estou com isto a acicatar as mulheres contra os homens nem a culpá-los individualmente. É uma realidade histórica abafada tal como história da Deusa Mãe o foi. Se os homens se sentem discriminados ou fora do texto, é porque não querem ver onde e como o mundo subjugou a mulher e a manipulou e ele próprio se sente ainda tão senhor de si mesmo que nem pensa ou olha para os factos reais.

Na minha escrita eu procuro apenas trazer à mulher uma consciência de si que ela não tem e que se perdeu nos confins do tempo através dessa saga milenar de luta do homem contra a natureza e a mulher pelo medo de ser submerso pelas forças instintivas da Natureza. Trata-se de resgatar a consciência do seu ser em profundidade, a parte que a sociedade patriarcal de facto conseguiu suprimir e alienar na mulher, tornando-a um ser metade de si mesma. Este aspecto que eu foco nada tem a ver com a dualidade na manifestação, nem com a dualidade do ser humano, mas com a cisão da mulher . Isso acontece porque a mulher na sociedade ocidental, pela força e influência dos arquétipos ainda em vigor, tendo a Virgem de um lado e a Pecadora do outro, ela própria está dividida em dois estereótipos ou mais que a dilacera e nem ela mesma tem consciência disso e é por essa razão que assistimos a tamanhas discrepâncias na sociedade em relação ao ser mulher e a própria mulher aceita submissamente toda essa divisão, não compreende o seu conflito, julgando que ela é sempre a senhora e a outra é que é a prostituta e a culpada.
Mas digamos que não há culpados nesta história mas sim responsáveis…e no caso específico do nosso mundo é o homem quem assumiu o controlo da natureza e da mulher a seu belo prazer e isso são só os factos históricos. Tudo o que pretendo é que a mulher perceba a sua divisão e que tudo faça para integrar as duas mulheres divididas sem as separar o lado maternal do lado sensual. Por isso temos de olhar e ver o que está por detrás dessa história é algo muito mais atávico e que se baseia no medo da morte e na incógnita da vida e do mistério da Natureza que o homem não conhece e a qual a mulher está indissociavelmente ligada…Ela tem o poder de dar vida...

Por alguma razão entre os dois seres calhou à Mulher ser o espelho da Natureza cíclica e ctónica, por isso obscura e temível, e o homem por medo das forças incontroláveis da natureza, ele reflectiu o seu medo da mulher no desejo de controlar o que lhe escapava ao seu domínio procurando ter poder sobre a mulher e a Natureza ao mesmo tempo…Como diz Camile Paglia "O corpo feminino é um labirinto no qual o homem se perde." E onde nunca se encontrou...
Penso que é nisto que temos de reflectir e ver a como a nossa divisão nos empobreceu e tirou o poder de sermos inteiras...
rlp
*camile paglia - personas sexuais

terça-feira, dezembro 12, 2017

QUANDO UMA MULHER DIZ BASTA!



“Quando uma mulher toma a decisão de abandonar o sofrimento, a mentira e a submissão. Quando uma mulher diz do fundo do seu coração. `Basta, até aqui cheguei´. Nem mil exércitos de ego e nem todas as armadilhas da esperança poderão detê-la na procura da sua própria verdade.
Aí se abrem as portas da sua própria Alma e começa o processo de cura. O processo que pouco a pouco lhe trará de volta a si mesma, a sua verdadeira vida. E ninguém disse que esse caminho será fácil, mas é “O Caminho”. Essa decisão em si abre uma linha direta com a sua natureza selvagem, e é ai que começa o verdadeiro milagre”.


Clarissa Pinkola-Estés

QUE MULHER SOMOS



ACABEI DE ENCONTRAR ESTE TEXTO (PARCIALMENTE) PUBLICADO POR UMA AMIGA...e achei oportuno publicar de novo hoje aqui entre nós...

...A mulher que hoje conhecemos é uma mulher doente...que sofre todo o tipo de doenças porque não se conhece nem sabe qual a sua verdadeira identidade...ela não se revê senão como  mãe ou como  filha, como amante ou como esposa, mas nunca como indivíduo em si, uma mulher que só por si tem valor. Não. Ela só vive em função de outros. Não sabe nem consegue viver por si mesma...

A mulher que não consciencializa e não repara - cura -  a sua grande ferida interior como mulher e tudo o que sofre do que  lhe é infligido nesta sociedade falocrática que a aprisionou em conceitos redutores sobre si mesma e a impediu de aceder à sua natureza intrínseca, ela  nunca poderá reunir as partes de si que a  religião separou em muitos estereótipos, mas basicamente como digo sempre entre a "santa e a puta". Ela pode até bem relacionar-se com todas essas facetas ou com as faces da deusa na mulher e buscar qual a deusa que lhe corresponde, a deusa Afrodite, sobretudo, que buscam aqui e ali, ou as deusas dos muitos altares e mundos, a deusa de todos os tempos, a Grande Mãe, cuja representação sofreu grande alteração e deformação da deidade feminina e do seu princípio, assim como todas as deusas ou a única deusa em muitos lugares transformadas em santas pelo catolicismo e que na nossa época acabam por corresponder apenas à fragmentação da mulher e da deusa que  vem desde há seculos e foi  feita ao longo de centenas ou milhares de anos após a dominação patriarcal...
Assim também  me parece um erro pensar que ao nos tornamos sacerdotisas da deusa e do amor através de rituais e práticas esporádicas, encontros de mulheres, usando magias e feitiços, baseando-nos nesses fragmentos que restam da Grande Deusa e de ideias absurdas adoptadas aqui e ali de outras práticas antigas, sem se ser uma mulher consciente dessa divisão e inteira primeiro, sem se SER a Mulher integral, a mulher consciente do seu ser global, de muito pouco serve todas essas praticas por mais bem intencionadas que sejam...
Para mim isso é continuar a enganarmo-nos e a sermos apenas pedaços de nós mesmas, como é sermos muito brilhantes talvez aqui ou ali...fantásticas na cama, ou no palco, boas mães ou excelentes amantes e claro podemos ser especialistas em medicina e engenheiras e de grande capacidade no trabalho, sermos deputadas  e ministras, como podemos continuar a ser boas cozinheiras ou boas dançarinas professoras ou enfermeiras...Mas sempre fragmentadas. Sempre umas contra as outras...em competição ou em adulação...
Sim fala-se tanto e escreve-se hoje sobre as Deusas ...mas nenhuma mulher será Deusa sem SER essa Mulher por inteiro primeiro.

Meu Deus...será que  estamos a procura de uma Deusa em substituição de um Deus...?

Não creio que possamos estar a colocar as qualidades de deus na deusa ...e a trocar uma coisa pela outra...à procura de uma religião ou de uma fé, um Dogma. Nem creio no sentido católico, de a mulher se integrar na Igreja que a condenou ao pecado; não adianta estarmos a querer ser deusas à sua imagem e semelhança como uma "deusa" no céu...ou num altar ... e rezar-lhe a pedir favores humanos...

Outra coisa que eu vejo é como agora as mulheres que dizem seguir a deusa é se que desviam delas mesmas, da sua realidade concreta, a nível emocional e psicológico e social assim como de uma consciência ontológica, aprofundada, como fogem do seu conhecimento interior intuitivo, não querendo ir ao fundo de si mesmas fazer esse trabalho psiquico de si para si, para em suma descortinar o fundo dos seus complexos e medos, fobias e rejeições, para aderir exteriormente a qualquer culto folclórico ou sexual aos ritos e aos transes...dizem, da deusa...

Para mim isso não é a DEUSA...são meros rituais...por mais sinceros que sejam!

O que eu creio na verdade ser importante e urgente para a mulher de hoje - para todas as mulheres - era activar essa outra parte de si oculta e que é interior e transcendente e que lhe dará a plenitude como mulher e lhes pode dar essa Chave do Ser Mulher total, unindo as duas mulheres que o patriarcado separou...ESSA parte de nós que foi esquecida e que pode de novo unir a Terra e ao Céu...para que assim seja na Terra como no Céu...

Rosa Leonor Pedro

O texto foi corrigido por mim e actualizado...

RESPOSTA A UMA AMIGA:



"As mulheres contra mulheres"? 

E porque é que eu acho que estás a acusar aquilo que denuncias todo o tempo e de que aparentemente também tu mesmo padeces? Sim Rosa existe e pode ser! Mas como tu dizes e muito bem no que refere a outros aspectos, consequência do machismo, etc. das mulheres pensarem e reproduzirem o que está socialmente transmitido. etc. Querida, neste aspecto, contradizes-te completamente (no meu entender) e eu cá, que não tenho pretensões a mudar as mentalidades, sendo que gostaria muito de ter a tua coragem para o tentar fazer, fico mesmo chocada! Muito! Por exemplo com este post. E arrepio-me assim tanto, tanto mesmo, como com todas as brejeirices que ouvi e li ao longo da minha vida, com qualquer coisa e aquelas mais subtis, que denigrem as mulheres.

Talvez Rosa essa história de que as mulheres são as maiores opositoras das mulheres esteja certa, talvez. Mas eu, "terrivelmente ingénua", (será?) não acredito! Rosa é mais outra história que nos contaram, como essas todas que denuncias."
- Em primeiro lugar agradeço-te imenso a tua missiva e as tuas palavras e me transmitires a tua opinião e parecer...aceito e entendo o que dizes...mas não é fácil falar e escrever sobre as mulheres...sabes que tenho um Blog sobre a temática de Mulheres & Deusas e que ninguém mais do que eu, posso garantir-te ama mais a mulher e se expos ao longo da sua vida em sua defesa mas não de qualquer maneira...Não defendo as mulheres só porque são mulheres, mas apenas e sobretudo sobre o que seja a verdadeira mulher  e a ESSÊNCIA dessa MULHER.

Desse Blg nasceu um livro do mesmo nome...onde tudo o que eu penso e repenso está lá e tem ajudado muitas mulheres no processo de consciencialização do que é a Mulher em si - depois de durante séculos o feminino ter sido completamente deturpado ao ponto de chegarmos a esta aberração de dizer que a mulher não nasce mulher e se faz (pela cultura e a sociedade o que é só em parte verdade, mas não no aspecto biológico, e nesse sentido todo  é escamoteado) assim como o homem.

Na base do que digo há anos e anos de aprofundamento da questão e acredita que já dei todas as voltas possíveis ao texto e quando falo da mulher "inimiga da mulher" esse é o facto mais gritante e também branqueado pelas ideólogas marxistas ou feministas quando na verdade e na prática é o que acontece. E na base dessa inimizade está a chave que pode esclarecer o porquê dessa inimizade e antagonismo grosso modo e na grande, grande maioria de mulheres.

Há décadas que trabalho com mulheres...exclusivamente. Sei o que as divide - falo dessa cisão dentro delas...a da santa e da puta (a Virgem santa e serva do senhor (o deus homem) e a Madalena arrependida, a pecadora a prostituta e a devassa - ainda agora ouvi sem querer uma missa na radio...era tal e qual, a virgem serva do senhor oremos à mãe imaculada...e sei como esses arquétipos digamos se alternam e altercam entre si...o olhar da mulher para a "outra" é sempre condenatório, da mãe e da sogra para a nora e a ameaça de roubar são casar com o filho ou essa "outra" que ameaça roubar-lhe o namorado ou o  marido ...etc. Esses arquétipos são a fundação da moral e da família e do casamento e estão em vigor desde sempre no Patriarcado - lembra-te do juiz que recentemente condenou a mulher vitima de violência doméstica como adultera...

Ora encarar estas duas mulheres...e vê-las em separado, como distintas irremediavelmente seria fatal e foi fatal é precisamente dai que eu quero que elas saiam...acredito que a consciência dos factos da história e da psique pode ajudar as mulheres a sair desse impasse e divisão. Não falo mal das mulheres gratuitamente nem me cinjo a casos concretos mas à generalidade dos factos  que minam a sociedade e vida de cada mulher...enfim, tenho muitas mulheres conscientes deste processo em consequência do que escrevo e da minha luta por um SER MULHER INTEIRA... e é nesse sentido que continuo a lutar mesmo sabendo que a única coisa que me interessa a nível espiritual digamos é a MINHA CONSCIÊNCIA DO SER, como ser humano, mas aqui é a minha causa, a causa que defendo,   e só persisto nela porque tenho o exemplo de muitas mulheres que me agradecem e se sentiram salvas - imagina e isto é forte - dos condicionalismos vários a que estavam presas sem saber o porquê... o resultado é menos doenças, menos sofrimento...mais paz...enfim, pode parecer-te pretensão minha, mas sempre fui muito lucida...
Não ganho nada com isto...porque o armar-me em arauto de uma verdade, não me serve de nada, digo ao meu ego, já que ele não tem grande papel na minha vida...talvez o ressentir-me ainda da ingratidão ou da falta de educação seja um reflexo dele...mas essencialmente estou focada no  meu ser  (dentro de mim) e a minha alma está em paz com isso - nem sequer tenho a ilusão de que estou a salvar ninguém - não, não me coloco no papel da vitima nem do algoz e menos ainda do de salvador...sou apenas uma mulher talvez com um objectivo único: ajudar as mulheres a verem a causa do que as divide e do seu sofrimento singular .
Se me lesses a fundo e não apenas no facebook talvez pudesses compreender o que eu queria dizer quando falo das duas faces da mulher e como elas se manifestam e o que as impede de serem solidárias e fraternas umas com as outras - o que não quer dizer que muitas vezes não o sejam mas mais idealmente ou teoricamente do que na prática - tudo o que se diz e propaga por ai é como os Prós e Contras...não aprofunda - a dualidade está em tudo e muitas vezes pareço paradoxal, mas esta é a linguagem humana e não se consegue falar do uno em palavras... e a coisa mais difícil para a mulher é perceber que ela é as duas ao mesmo tempo e que devia integrá-las sem se dividir nesses estereótipos...Cada mulher contem em si o espectro da outra...seja a puta a santa, seja a santa a puta...porque essa divisão aconteceu porque o cristianismo dividiu a mulher em duas espécies de mulheres...Começou há uns séculos e a sua pregação e catecismo contra as mulheres continua...etc.
Quanto ao meu poste a que te referes  e ao que aconteceu com a mulher que me "agrediu" na conferência há dias tinha a ver com todo o seu contencioso  interior das duas mulheres e porque não admite essa divisão em si...etc.
Olha, agradeço o teu cuidado.
Sabes, para finalizar, tenho 71 anos...já sou mesmo velha....e desde sempre andei as voltas deste assunto. O Conhecimento Superior não mental  (uma iniciação?) e durante muitos anos a prática da Meditação  deu-me as bases que me permite ter a Consciência da Consciência e por saber que tudo é relativo e este mundo uma ilusão, sei o lugar das coisas, mas enquanto aqui estamos, fazemos o que podemos tentamos decifrar o porquê das nossas manias...obsessões ou sonhos...O meu sonho é este...
Unir as mulheres...
 ...
rleonor pedro


segunda-feira, dezembro 11, 2017

POSITIVO E NEGATIVO




 Há dias  fui agredida violentamente ao nível verbal e das energias...por uma jovem mulher desconhecida, a quem algumas palavras proferidas por mim (sobre a cisão da mulher?) - vá-se lá saber o porquê de tanto ódio acumulado - quando numa palestra a que assisti e no fim expus a minha ideia da causa do conflito e do antagonismo entre as mulheres, essa mulher deu um grito estridente e de agressão a minha pessoa - fui atingida como por um dardo de ódio como nunca senti na minha vida.... Fiquei tão perplexa como abismada de tanto ódio e por ter ali a  prova provada, de repente, inesperadamente, de como a mulher se submete tão facilmente ao homem (o orador) e ao mestre ou ao amante e recusa visceralmente a palavra ou o saber de outra mulher neste caso, de uma mulher de idade - sem sombra de respeito pela idade e a experiência vivida...
Um belo e perfeito exemplo de como as mulheres são na verdade ainda  inimigas umas das outras...
Depois disto e nestes dias, após sofrer essa  violenta agressão "psíquica" e energética (que energias densas se moviam ali) de outra mulher em publico, revi o confronto e a agressividade de algumas mulheres comigo no facebook, assim como me lembrei de algumas agressões em comentários nesta página...e sobretudo da parte de mulheres o que mais me espanta; não sei se me leem desse modo e se ressentem ou reveem para me responderem com agressividade ou se eu sou agressiva para elas, quando falo sobre os "defeitos e qualidades" da mulher em si e da sua divisão intrinseca, e que perante a crueza dos factos enumerados ou relatados que não querem ver, acabam por reagir de forma agressiva e às vezes violenta contra mim, mas o certo é que da minha parte em momento algum eu pessoalizo as minhas questões...
Não estou contra ninguém...nem quero visar ninguém em particular. Tão pouco me  considero boazinha nem mazinha, apesar da minha "sósia" aparecer muitas vezes por aqui de vassoura em riste, mas eu mantenho-me apenas como uma mera observadora e intérprete de uma certa realidade sobre a qual me debruço. Nada mais - nada tenho, sublinho, contra as mulheres nem contra os homens, não me move qualquer animosidade, bem pelo contrário...sinto-me uma pessoa pacificadora e acolhedora por mais paradoxal que possa parecer. Só não sou hipócrita nem finjo o que não sinto...

Acontece que no facebook e em grupos, mais do que aqui no Blog, tenho verificado o quão difícil é para as mulheres compreenderem e aceitarem essa sua divisão intrínseca, psiquica, e por isso a negam mas que está bem patente na rivalidade que manifestam com as outras mulheres e como se afirmam opositoras umas das outras. Elas não sabem o porquê dessa divisão na vida real...e por isso seguem os homens como seus "salvadores" - é fácil verificar como é mais fácil seguirem processos ditos espirituais, vias masculinas de submissão ao homem, aceitando mentores ou mentoras que apresentam as  suas teses acerca do feminino ora de forma "construtiva", muito certinhas e bonitinhas e incutem no espírito das mulheres a ideia das energias positivas, ou a serem sempre positivas e passivas ...ou então o que me parece ter sido o caso em questão, são apologistas das "energias negativas",  satânicas ou demoníacas, nos casos de certos grupos esotéricos de magos negros etc. ou ainda  são todas muito felizes e estão sempre do lado do "bem e da luz", cheias de amor e luz etc.

Ironicamente nem as mulheres se apercebem que elas são o polo dito negativo, o feminino como princípio e que a Sombra e o lado escuro, a Lua, se opõem ao dito positivo e ao Sol, ao princípio masculino...e que em qualquer processo de evolução elas não tem senão que assumir esse lado escuro e irem ao fundo de si mesmas buscar primeiro essas suas reservas, ir ao inconsciente e aceitar esse lado aparentemente negativo como qualidades complementares e que são as suas inerentemente à sua natureza de fêmeas, mas que foram sempre nelas reprimidas porque associadas ao diabólico...ao selvagem...
Assim, verifico que mesmo nos ditos "processos espirituais" as mulheres são desviadas de si mesmas enquanto seres da Sombra...e das profundezas,  usando os seus poderes sombra como seres representantes do polo feminino explorando apenas o lado  negativo, tanto como o seu contrário, quando na verdade seria necessário unir os dois lados, o negativo lado  obscuro e noturno e o lado diurno e solar, em função da sua evolução e Consciência individual como Mulher  e não em função do homem ou exclusivamente nas suas relações com o homem...
Na verdade poucas mulheres integram os dois lados de si, sombra e luz, negativo e positivo, dentro de si, nem sequer  trabalham a sua psique, mas sim e mais uma vez colocam-se do lado masculino, ao serviço  da sociedade patriarcalista, ao serviço da sociedade que a domina e perverte essa sua natureza instintiva e intuitiva, usando-o para o "mal" ou mantendo-a ao serviço da espécie e do Homem, sempre submissa e submetida....mesmo que grite aos quatros ventos que é livre, não passa de uma escrava.

Há ainda outras mulheres, mais intelectuais,  que procuram na erudição e o saber no conhecimento mental e dentro da cultura vigente ou na psicologia patrista, dita cientifica, estimuladas a  encontrar soluções culturais e socias para melhor servir a sociedade, mas ainda aí ou sobretude aí...elas não percebem que seguem os caminhos da sua negação individual enquanto Mulheres e Mães cientes de si em negação da linha matrilinear e na negação da sua Matriz, para cederem de novo ao Pai e aos Mestres...seja através da Família da Filosofia seja da Psicologia ou mesmo da Metafísica e do Esoterismo...Elas seguem CEGAMENTE o pensamento e as palavras do homens que as exclui até da linguagem...todas elas dizem orgulhosamente e do cimo da sua sapiência: "O Homem..."

rlp

PARA A MAIOR PARTE DOS HOMENS...


O CONHECIMENTO DE SI?


"PARA A MAIOR PARTE DOS HOMENS, aquilo que eles classificam de consciência é o registo de noções, de impressões e de convicções compostas pela reflexão cerebral e pela educação. EssaS formações são tão fugitivas como o reflexo das nuvens num espelho. Elas não nos pertencem de si, porque podem ser modificadas pelas mais diversas influências. Nada, neste conjunto de ideias e conceitos, sobrevive à dissolução do ser físico, emocional e mental. É uma consciência que não se inscreve no nosso ser imortal.
Quantos homens na Terra acordaram em si a Consciência real, aquela que os tornará "conscientes e responsáveis"? É portanto necessário, para falar "conscientemente", entendermo-nos quanto às palavras, depois considerar os meios de acordar essa consciência".
(...)
In L' OUVERTURE DU CHEMIN  de ISHA SCWALLER DE LUBCZ

Não posso deixar de mencionar um aparte...

Falta ainda as MULHERES ACORDAREM PARA SI...e que diferença faria se elas acordassem para a sua Consciência de serem Mulheres...

rlp

domingo, dezembro 10, 2017

A MULHER INTERIOR



Hoje desde de manhã cedo que queria escrever sobre a mulher interior, a grande importância da mulher interior  - essa mulher que quase não existe e que praticamente desapareceu do mapa, dando origem a toda esta salganhada que é a ideologia de género que defende esta coisa bizarra e ridícula de que "não existe apenas o gênero "masculino" e "feminino", mas um espectro que pode ser livremente escolhido pelo indivíduo de acordo com o que ele ou ela se sente...ora esse sentir é tantas vezes difuso e complexo e confuso,  face a uma sociedade falocrática e machista que vive de estereótipos e que desvirtuou por completo a ideia do que é ser mulher e a fez perder a sua identidade.

A ignorância do ser mulher, do que é e SENTE, deriva da falta dessa interioridade na mulher, de uma profundidade ontológica e até de uma mística feminina completamente varrida da cultura superficial e pelo culto da vulgaridade-superficialidade  que predomina nas sociedades materialistas, consumistas e alienadas do ponto de vista de uma verdadeira espiritualidade. 
A ausência de dimensão espiritual e humana  gera uma grande  falta de consciência do que é ser uma mulher em essência, uma mulher inteira. Não se pensa no facto  de a mulher ter sido separada da sua natureza intrínseca, da sua natureza instintiva,  e a forma como a religião e a sociedade a dividiu em dois tipos de mulher, de um lado  a mulher sexual e do outro lado a mulher maternal  (a puta e aa santa ) -  toda essa alienação da mulher de si e em si  fez com que as mulheres do ponto de vista cultural e histórica, e ainda  psicologicamente  se tenham perdido da sua psique e da sua origem e do seu estado natural.
O que aconteceu de dramático e ao mesmo tempo consentâneo foi que a mulher, ao lutar por uma igualdade e num mundo racional,  se identificou quase exclusivamente, social e culturalmente,  com o ego masculino, e que ao recalcar o seu feminino profundo fez nascer esta desordem psicológica e sexual e que por sua vez levou às ideologias de género que afastam ainda mais a mulher e o homem da sua natureza biológica e natural.

rlp

UMA LONGA APATIA de 1933 a 2017

(...)
"O recente despertar da mulher da sua longa apatia trouxe à tona poderes latentes que, muito naturalmente, ela está ansiosa por desenvolver e aplicar na vida, tanta para sua própria satisfação e vantagem, como para aumentar a sua contribuição à vida do grupo. Esse passo adiante no desenvolvimento consciente não acontece sem dificuldades e obstáculos. Ela afastou-se da velha e bem estabelecida maneira de conduta e adaptação psicológica da mulher, e se acha hoje atacada por problemas que nem ela mesma e nem as mulheres pioneiras que iniciaram o movimento pela emancipação da mulher previram. Essas mudanças tem produzido para a mulher um inevitável conflito interno entre a necessidade de se expressar através do trabalho , como um homem faz, e a necessidade interior de viver de acordo com a sua própria natureza feminina. Esse conflito parece condicionar toda a experiência de vida para todas aquelas mulheres modernas que estão totalmente cientes de si mesmas como indivíduos conscientes. Para elas uma vida unilateral não é suficiente; o conflito entre as tendências opostas do masculino e do feminino dentro delas tem de ser encarado. Não podem resumir os valores do feminino àqueles velhos padrões instintivos e inconscientes. Conseguindo um novo grau de consciência, saíram do fácil caminho da natureza. Se pretendem ter contacto com o seu lado feminino perdido, isso preciso ser feito pelo duro caminho de uma adaptação consciente.

Os problemas de adaptação, surgindo da recente dualidade na mulher, tem que ser necessariamente tratados sob o seu aspecto moderno. A necessidade de reconciliação dessas duas partes da natureza feminina é um problema secular (a cisão da mulher em duas -nota pessoal); e é somente na sua aplicação na vida prática que o aspecto moderno surge. Basta olhar para debaixo do verniz da vida contemporânea para se encontrar o mesmo problema num nível mais profundo. Não é um problema de adaptação da mulher ao mundo do trabalho e do amor, esforçando-se para dar o mesmo peso a ambos os lados da sua natureza, mas sim uma questão de adaptação aos princípios femininos e masculinos que interiormente governam a sua subjectividade. Ela tem de voltar-se para quele material subjectivo que foi rejeitado, que para os cientistas do sec. XX eram somente superstição ou uma questão de humores. " *

*esther Harding - os mistérios da mulher 



EU TE APELO


HINO A DEUSA DOS ARCANOS

Deusa tremenda do Grande Mistério
Deusa reinante do Oitavo Céu
Deusa terrifica que dissimula a nascente unica
A vaidade dos seres humanos
Tu que cobriste o caminho que conduz
À tua Arca impenetrável de carvões ardentes
Para me obrigar a superar-me
Tu que concebeste doze e uma provações
Para tão Somente me tornares digno
De dirigir-te esta prece
Eu te apelo
Faz com que os meus pés não sintam o fogo
Sara as chagas envenenadas
Herdada dos combates que me impuseste
Não por piedade mas para me permitir
Prosseguir a via mágica dos heróis
Não por amor mas por respeito à tua ordem
Absoluta que é a de conquistar a Cidadela do Ser.
Remy Boyer

sexta-feira, dezembro 08, 2017

Alivia a minha alma



HOJE, A MINHA ORAÇÃO Á MÃE....

“Não, não devia pedir mais vida. Por enquanto era perigoso. Ajoelhou-se trémula junto da cama pois era assim que se rezava e disse baixo, severo, triste, gaguejando sua prece com um pouco de pudor:
Alivia a minha alma, faz com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faz com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faz com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a mor...te, faz com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faz com que eu não te indague mais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faz com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faz com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faz com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faz com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém.”



CLARICE LISPECTOR

quinta-feira, dezembro 07, 2017

QUANDO VOLTAR...



Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei.
Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão pela minha cabeça é tudo tão verdade!


ALMADA NEGREIROS

quarta-feira, dezembro 06, 2017

Os Mistérios sagrados



A NUDEZ E OS MISTÉRIOS SAGRADOS

"Chegou, talvez, o momento de considerar o sentido que apresenta a nudez da mulher divina no seu aspecto de "Durga" e que está em oposição àquele por nós examinado da nudez do arquétipo demétrio-maternal, princípio de fecundidade. É o nu abissal afrodisíaco. A dança dos sete véus, uma das suas expressões simbólico-rituais mais fortes e sugestivas está ligada na sua origem a uma dança sagrada. Pertencia ao ensinamento dos Mistérios, o simbolismo da travessia das sete esferas planetárias, no decorrer da qual a alma se desprende pouco a pouco das diferentes determinações ou condicionalidades a elas ligadas, e concebidas como outras tantas vestes ou roupagens a retirar, até atingir o estado da "nudez" completa do ser absoluto e simples, que só se encontra a si próprio quando se situa para além dos "sete". Plotino recorda, justamente, neste contexto, aqueles que ascendem degrau por degrau aos Mistérios sagrados, ao mesmo tempo que vão despindo as suas vestes e avançam nus; e, no sofismo, fala-se de tamzig, a laceração da roupa durante o êxtase. (...)

in "A METAFÍSICA DO SEXO " de Julius Evola


A CONSCIÊNCIA DA CONSCIÊNCIA


"AGIR EM SUA ALMA E CONSCIÊNCIA

A consciência não é o pensamento, porque quando estamos a pensar, não estamos na consciência. Ela não é nem a compreensão nem a análise: analisar e compreender não significa que automaticamente se tenha consciência. Não podemos aceder à consciência  nem pela raciocínio nem por comparação nem por dedução.
Um pensamento comunica-se ou transmite-se.
A consciência partilha-se, sendo um estado único para cada um@ de nós ela está para além do pensamento e da compreensão. Numa palavra, é um estado que nada tem de comum com o caminho mental: a consciência é, existe fora do tempo e do espaço.
Entre os reinos sucessivos da evolução na terra, o ser humano é o único a ter a possibilidade de aceder a este grau do ser. É ao mesmo tempo o seu privilégio e o seu fim."*


A Consciência de que falo não é portanto aquela consciência de que toda a gente  fala quando se diz de uma pessoa que ela não tem consciência disto e daquilo ou que tem uma grande consciência política e social, como é vulgar dizer-se...

A consciência em si e de si como ser ciente é algo que  todo o ser humano busca a partir do seu interior, passando pelo seu psiquismo, a partir das suas emoções e para isso precisa de se encontrar  face a face com essa parte de si antes ignorada, as coisas ocultas ou recalcadas na sua psique, as mágoas e as suas feridas, retidas na chamada Sombra e não só. É preciso ter uma grande percepção e introspecção de si como condição sine quo non do desenvolvimento pessoal e passar por todo o  processo interior, para chegar a uma verdadeira Consciência de si como individuo. Isto é válido para todos os seres humanos.  
 No caso das mulheres, que é o objectivo da minha escrita,  muitas confundem ainda a dita consciência do feminino com uma mera "consciência" de factos exteriores da vida, acontecimentos seja a que  nível for seja acerca  da história, da ciência ou da politica ou de um problema pessoal, a partir de um saber intelectual ou então quando julgam que e se sentem "realizadas" por ter uma profissão que gostam ou se entregarem a uma causa social... ou fazendo um voluntariado qualquer  ou até mesmo  ao  adoptar  uma religião, seja  da deusa, seja uma prática xamânica ou outra.  Nada disso tem a ver com a Consciência do feminino. Porque essa consciência passa por uma consciencialização de si em profundidade do Ser Mulher e o ter acesso como dizia a todos os aspectos os mais complexos do sentir essa mulher...
A Consciência de si de que eu falo, e neste caso referindo-me apenas à mulher, passa por uma consciência psicológica, mas que vai além dela, é mais uma metafisica  do ser mulher completamente alienada e esquecida pela mulher moderna e nada tem a ver com a psicologia de pacotilha do bem e do mal, da moral - da tríade: vitima carrasco e salvador (o psicólogo o terapeuta ou o médico) nem com uma ideologia ou crença ou fé em qualquer religião patriarcal.
Só a mulher que entra em contacto com o seu ser abissal e das profundidades, e passa por um feminino verdadeiro ou integral - aquilo que eu chamo a mulher-total, a mulher que integra as suas partes divididas e deixa de sofrer a sua cisão... ao contrário desta mulher moderna, que vive dividida embora seja culta e dita emancipada, é apenas uma mulher de superfície, racional,  pode atingir o seu centro, ao contrário dessa mulher fragmentada em estereótipos e mental,  que  vive de ideias e conceitos e filosofias porventura muito nobres, sejam as patriarcais sejam ainda as faces multifacetadas de uma deusa Héstia (ou aquela) ou uma Afrodite, dominadas por Zeus lá no seu Olimpo, tal como qualquer outro deus macho que governa o mundo...
 A mulher moderna e feminista não é mais do que o fruto desse esquecimento de si e dessa mulher atávica que sofreu a alienação do seu eu profundo e por mais culta que seja, por mais intelectual que possa ser, ela está alienada da sua essência e vive a pensar que ela é o que os homens disseram ou pintaram dela...
O feminismo marxista e redutor da mulher ontológica nada tem a ver com a mulher em si ou o sagrado feminino que é o contacto com essa parte sagrada da Deusa em cada mulher e é uma revelação interior que por sua vez não depende de ser culta ou ignorante nem dos "direitos e igualdades" adquiridos à partida, mas que estão cada dia mais a ser destruídos... Essa consciência de si como mulher é algo  que qualquer mulher pode  alcançar seja qual for a sua circunstância de vida, porque se  trata de uma ligação natural com a parte mais atávica da mulher ancestral em si, com o seu universo mais intimo e profundo, o seu eterno feminino, que é acessível a todas as mulheres.

A mulher só se encontra através do contacto com essa parte de si, essa parte que foi esquecida e apagada pela igreja e pelo Poder do Pater para que ela precisamente não tivesse acesso a essa consciência do sagrado em si  e despertar para essa consciência de si que é inata, que lhe é inerente e que lhe dá um poder imenso sobre o homem logo a partida seja como mãe seja como amante ...

Há para além dessa consciência comum que não é pensamento nem ideia uma consciência inerente ao ser feminino e que é inato. E só acedendo a essa Consciência do Feminino integral, unindo as duas mulheres divididas,  a mulher pode aceder a essa outra consciência que é intemporal..
Se vocês pensam que é discutindo dramas e temas e ideias e problemas actuais da mulher, problemas sociais e políticos e medidas e leis,  que vão dar liberdade à mulher ..., tem toda a liberdade de escolher esse caminho, mas esqueçam a Mulher integral, a Mulher intemporal e essa Consciência primordial.
rlp
* L'  Emprente de Naissance - Jean Philippe Brebion

EU BEM SENTI...


A PALAVRA

"Eu bem senti, desde há muito tempo, que as palavras que os seres humanos trocam não passam de um longínquo reflexo de uma emoção às vezes impossível de formular. Por melhor que sejam ditas ou pronunciados, as palavras são apenas confusos balbuciamentos de adolescentes vaidosos, gagos do coração como eu ou deficientes. A verdadeira e intensa, a palavra intocável, é o mistério daqueles que tocam o absoluto. "

- Alain Cadeo, "cada segundo é um sussurro"

REVELEM-SE



MULHERES

Reajam!
Revelem-se !
Revertam e mudem verdadeiramente o mundo real!
Para os vossos fundamentos mais profundos!
Arranquem as teias de aranha que o sistema em teceu nas nossas mentes e sonhem uma nova realidade, uma nova humanidade.
Não se conformem simplesmente a ser iguais aos homens e a tomar as suas posições.
Sejam melhores, liderem a mudança que a humanidade necessita .
Pois vocês são a última esperança ...
E fazê-lo é o vosso dever .


IN GAZZETTA DEL APOCALIPSIS"

sábado, dezembro 02, 2017

AS MÃES


A FERIDA DA MÃE 


"Uma das experiências mais duras que uma filha pode ter numa relação mãe/filha é perceber que a sua mãe investiu, de forma inconsciente, na sua pequenez. Para as mulheres nesta situação, é de partir o coração aperceberem-se que a pessoa que as deu á luz, de forma inconsciente, encara o seu empoderamento como uma perda para si própria. Em ultima análise, não é pessoal mas uma tragédia muito real da nossa cultura patriarcal que diz às mulheres que elas são “menos do que”. Todas desejamos ser reais, ser vistas de forma precisa, ser reconhecidas, e ser amadas pelo que realmente somos, na nossa completa e inteira autenticidade. Isto é uma necessidade humana. A verdade é que o processo de nos acedermos ao nossa nosso verdadeiro Ser envolve sermos desarrumadas, grandes, intensas, assertivas e complexas; tudo aquilo que o patriarcado retrata como sendo pouco atrativo na mulher.Historicamente, pois a nossa cultura tem sido hostil para com a ideia das mulheres como indivíduos de verdade. O patriarcado retrata a mulher atraente como a mulher que gosta de agradar, que procura aprovação, que cuida emocionalmente, que evita conflitos e é tolerante aos maus tratos. Até determinado ponto as mães passam esta mensagem às suas de filhas, de forma inconsciente, levando as filhas a criarem um falso Ser, geralmente sob a máscara da rebelde, da solitária ou, da boa rapariga. A mensagem principal é “tens de te manter pequena, de forma a seres amada”. Contudo, cada nova geração de mulheres vem com a fome de ser real. Poderemos dizer que a cada nova geração, o patriarcado está a enfraquecer e que a fome de ser Real está a fortalecer-se nas mulheres, e está de facto a começar a assumir uma certa urgência.

O anseio por ser Real e a ânsia de mãe. Isto representa um dilema para filhas criadas no patriarcado. O anseio para viver a sua verdadeira essência e o anseio de ser nutrida pela mãe tornam-se necessidades em competição; há um sentir que tem de se escolher entre elas. Isto acontece porque o teu empoderamento fica limitado ao nível que as crenças patriarcais foram interiorizadas pela tua própria mãe e ela espera que lhes correspondas. A pressão por parte da tua mãe para que te mantenhas pequena vem de duas fontes principais: 1) o grau a que ela interiorizou as crenças limitativas patriarcais da sua própria mãe, e 2) o nível da sua própria perda que resulta dela estar dissociada do seu verdadeiro Ser. Estas duas coisas estropiam a capacidade de uma mãe em iniciar a sua filha na sua própria vida. O preço de te tornares no teu verdadeiro Ser envolve, com frequência, algum nível de “ruptura” com a linha maternal. Quando isto acontece, estás a quebrar com as teias patriarcais internas da tua linha materna, o que é essencial para uma vida adulta saudável e empoderada. Isto normalmente manifesta-se em alguma forma de dor, ou conflito com a tua mãe. Rupturas com linha materna tomar várias formas: desde conflito e desentendimento até ao distanciamento e afastamento. É uma viagem pessoal e é diferente para cada mulher. Em última análise a ruptura está ao serviço da transformação e da cura. Faz parte do impulso evolucionário do acordar feminino estar mais conscientemente empoderada. É o nascimento da “mãe não patriarcal” e o início da verdadeira liberdade e individualização. Num dos extremos, para relacionamentos mãe/filha mais saudáveis, a ruptura pode causar conflito mas, serve de facto para fortalecer o laço e torná-lo mais autêntico.No outro extremo, para relações mãe/filha abusivas ou menos saudáveis, a ruptura pode despoletar feridas não sanadas na mãe, levando-a a atacar ou renegar completamente a sua filha. E em alguns casos, infelizmente, uma filha não verá outra hipótese a não ser manter a distância indefinidamente, para preservar o seu bem estar emocional. Aqui a mãe pode encarar a separação/ruptura como uma ameaça, não o resultado do teu desejo de crescimento, mas como uma afronta, um ataque pessoal e rejeição daquilo que ela É. Nesta situação, pode ser doloroso ver como o teu desejo de empoderamento, ou crescimento pessoal, pode levar a tua mãe encare-te como uma inimiga mortal.Nestes casos podemos ver de forma exacta o custo brutal que o patriarcado exerce no relacionamento mãe/filha.“Eu não posso ser feliz se a minha mãe for infeliz.” Já alguma vez te sentiste assim? Geralmente esta crença vem dor de ver a tua mãe sofrer das suas próprias privações interiores e da compaixão pela sua luta, sob o peso das demandas patriarcais. Contudo, quando sacrificamos a nossa própria felicidade pela da nossa mãe, estamos de facto a impedir a cura necessária que vem fazer o luto à ferida na nossa linha materna. Isso só irá manter a ambas, mãe e filha, aprisionadas. Não podemos curar as nossas mães e não podemos fazer com que nos vejam com exactidão, não importa o quão arduamente tentemos. O que traz a cura é o fazer o luto. Temos de chorar por nós próprias e pela nossa linha materna. Este pranto traz uma incrível liberdade. Com cada vaga de tristeza nós reconectamos-nos com as nossas partes que tivemos de renegar, por forma a sermos aceites pelas nossas famílias. Sistemas pouco saudáveis têm de ser rompidos por forma a encontrar um novo equilíbrio, mais saudável e de mais alto nível. É um paradoxo que curemos, de facto, a nossa linha materna quando cortamos com os padrões patriarcais na linha materna, não quando permanecemos cúmplices como forma de manter uma paz superficial. É necessário garra e coragem para nos recusarmos a compactuar com os padrões patriarcais que se mantêm há gerações nas nossas famílias.Permitirmos que as nossas mães sejam indivíduos liberta-nos a nós (como filhas) para sermos indivíduos. As crenças patriarcais alimentam uma diluição inconsciente, entre as mães e as filhas na qual só uma delas pode ser poderosa; é uma dinâmica de ou/ou baseada na escassez que as deixa a ambas desempoderadas. Para as mães que tenham sido particularmente privadas do seu próprio poder as filhas podem tornar-se “alimento” para a sua identidade atrofiada e um “saco” de despejo dos seus próprios problemas. Temos de deixar as nossas mães fazerem as suas próprias viagens e de deixarmos de nos sacrificar por elas. Estamos a ser chamadas a ser verdadeiros indivíduos, mulheres que se individuam das crenças do patriarcado e assumimos o nosso valor, sem vergonha. Paradoxalmente é a nossa individualidade plenamente assumida que vai contribuir para uma sociedade unificada, saudável e integra. Tradicionalmente as mulheres são ensinadas que é nobre carregar com o sofrimento dos outros; que o cuidar emocionalmente é um dever nosso e que devemos sentir-nos culpadas se nos desviamos desta função.

Neste contexto, a culpa não está relacionada com consciência mas com controle. Esta culpa mantém-nos diluídas nas nossas mães, esvaídas e ignorantes do nosso poder. Temos de perceber que não há uma causa real para a culpa. Este papel de cuidadoras emocionais nunca foi o nosso verdadeiro papel. É somente uma parte do nosso legado de opressão. Visto desta forma podemos parar de permitir que a culpa nos controle. Abster-se de cuidar emocionalmente e deixar que as pessoas vivenciem as suas próprias lições é uma forma de respeito pelo Eu e pelo Outro. O nosso excesso de funcionamento contribui para o desequilibro na nossa sociedade e desempodera activamente os outros, mantendo-os afastados da sua própria transformação. Temos de parar de carregar o peso dos outros. Fazemo-lo assumindo que é a mais pura futilidade. E temos de recusar-nos a ser guardiãs emocionais e depósitos de lixo daqueles que se recusam a fazer o trabalho necessário para a sua própria transformação. Contrariamente ao que nos foi ensinado, não temos de curar a nossa família inteira. Nós só temos de nos curar a nós próprios. Ao invés de te sentires culpada por não seres capaz de curar a tua mãe e os membros da tua família, dá a ti própria permissão para seres inocente. Fazendo isto estás a retomar a tua pessoalidade e a deixar de dar poder á ferida da mãe. Em consequência estás a devolver aos membros da tua família o próprio poder de vivenciarem a sua própria jornada. Esta é uma grande mudança energética que advém de conhecermos o nosso próprio valor, demonstrando-o na forma como nos mantemos no nosso poder, apesar dos apelos para o entregarmos a outros. O preço de nos tornarmos verdadeiras nunca é tão elevado como o preço de nos mantermos no falso Ser É possível que tenhamos reações da nossa mãe (e da nossa família) quando nos tornamos mais verdadeiras. Poderemos enfrentar mau humor, hostilidade, afastamento, ou difamação. As ondas de choque podem espalhar-se a todo o sistema familiar. E pode abanar-nos ver o quão rápido podemos ser rejeitadas, ou abandonadas quando deixamos de ser o motor de tudo e todos e incorporamos o nosso verdadeiro Ser. Contudo, esta verdade tem de ser vista e a dor suportada se queremos tornar-nos realmente verdadeiras. Por este motivo é essencial ter ajuda.No artigo “Mindfulness and the Mother Wound” (Consciência e a Ferida da Mãe) Philipp Moffitt descreve as quarto funções de uma mãe. Nutridora, Protectora, Empoderadora e Iniciadora. Moffitt afirma que o papel de Iniciadora “é o mais altruísta de todos os aspectos, porque está a encorajar uma separação que a vai deixar desprovida (de filha).”Esta função é profunda, mesmo para uma mãe que tenha sido completamente honrada e apoiada na sua própria vida, mas quase impossível para mães que tenham passado por grandes tormentos e não tenham curado suficientemente as suas próprias feridas. O patriarcado limita severamente a mãe na sua capacidade de iniciar a filha na sua própria pessoalidade, porque no patriarcado, a mãe foi privada de si própria. Configura a sua filha para a auto-sabotagem , o seu filho para a misoginia e o desrespeito pelo solo sagrado do qual viemos, a própria terra. É precisamente esta função como mãe que “proporciona a iniciação” que lança a filha para a sua própria e incomparável vida, mas este papel só é possível na medida em que a mãe tenha experienciado, ou encontrado a sua própria iniciação. Mas o processo de separação saudável entre mãe e filha é grandemente frustrado numa cultura patriarcal.

O problema reside no facto de maior parte das mulheres viverem uma vida inteira á espera que as suas mães as iniciem na sua própria vida, quando as suas mães são incapazes de lhes providenciar isto. É muito comum assistirmos ao adiamento do luto da ferida materna, com as mulheres a voltarem constantemente à “fonte seca” das suas mães, em busca da permissão e do amor que as suas mães absolutamente não têm a capacidade de lhes dar. Ao invés de fazer o luto completo, as mulheres tendem a culpar-se, o que as mantém aprisionadas. Temos de carpir a incapacidade das nossas mães de nos iniciarem e embarcar de forma consciente na nossa própria iniciação.
A ruptura é de facto sinal de um impulso evolucionário para nos distanciarmos dos enredos patriarcais da nossa linha materna, quebrar com a nossa inconsciente diluição nas nossas mães, fomentada pelo patriarcado e tornarmo-nos iniciadas na nossa própria vida.
Em última instância este luto cede lugar à compaixão e gratidão genuínas para com a nossa mãe e as mães que as antecederam.
É importante percebermos que não estamos a rejeitar as nossas mães quando rejeitamos as suas crenças patriarcais que dizem nos devemos manter pequenas para sermos aceites.
O que estamos de facto a fazer é reclamar a nossa força vital aos padrões impessoais e limitativos que mantiveram as mulheres reféns durante séculos.
Cria um espaço seguro para a necessidade de mãe. Apesar de sermos mulheres adultas ainda temos necessidade de mãe. O que pode ser devastador é sentir esta necessidade de mãe e saber que a tua própria mãe não consegue preencher esta necessidade, apesar de ter tentado o seu melhor. É importante encarar este facto e fazer o luto. A tua necessidade é sagrada e deve ser honrada. Permitir abrir espaço para este luto é uma parte importante do processo de seres uma boa mãe para ti própria. Se não carpirmos a nossa necessidade de cuidados maternais directamente, ela vai infiltrar-se inconscientemente nos nossos relacionamentos, causando dor e conflitos.
O processo de cura da ferida materna consiste em encontrar a tua própria iniciação para dentro do poder e propósito da tua própria vida. Isto não é um trabalho de auto empoderamento de pouca importância. Curar a ferida de mãe é essencial e fundamental; é um trabalho de qualidade em profundidade, que te vai transformar ao nível mais profundo e te vai libertar, como mulher, dos grilhões centenários que herdaste da tua própria linha materna. Temos de nos desintoxicar dos fios patriarcais na nossa linha materna, por forma a podermos assumir na nossa própria mestria.
Do papel da “Mãe como iniciadora”, o Moffitt diz “Este poder de iniciar está associado com o Shaman, a Deusa, o Mago e a Mulher Medicina”. Á medida que mais e mais mulheres curam a ferida materna e consequentemente assumem firmemente o seu poder, encontramos finalmente a iniciação que procurávamos. Tornamo-nos capazes de iniciar, não só as nossas filhas, mas também a nossa cultura como um todo que está a passar por uma transformação massiva. Estamos a ser chamadas a procurar nas nossas entranhas aquilo que não recebemos. À medida que reclamamos a nossa própria iniciação por forma a curar a ferida materna, juntas como um todo, encarnamos progressivamente a Deusa que deu à luz um mundo novo."

Bethany Welsster