O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, janeiro 28, 2017

ESCRAVOS DO DINHEIRO


O CAPITALISMO

UM RETRATO PERFEITO DA SOCIEDADE CAPITALISTA

De RAQUEL VAARELA - historiadora


O dono da padaria portuguesa diz que vive em concorrência, não pode pagar muito mais do que o salário mínimo, e quer os trabalhadores disponíveis a qualquer hora para ele, se não a empresa fecha e os trabalhadores perdem o emprego. O dono da padaria portuguesa tem que pagar o lucro do proprietário de terra que faz trigo; o lucro da empresa de transportes que o transporta para a cidade; o lucro da Galp onde a empresa mete gasóleo; o lucro da EDP; o lucro da Bosh que lhe vendeu... o forno e os frigoríficos; o lucro dos accionistas bancários que vivem da dívida pública via impostos ao Estado que paga o dono da Padaria; o lucro do banqueiro que lhe emprestou dinheiro. Cansados? Ele ainda tem que pagar pelo menos o lucro a mais 100 empresas (fruta, leite, sumos, vidros, janelas, pinturas, alumínio, limpeza…). E todo este lucro vem do meio de uma relação entre um pão e o consumidor. Chama-se capitalismo, fazer dinheiro com serviços básicos e elementares, ou, na versão ideológica não científica «o sistema económico» – assim, o «sistema», até parece cientifico e eterno, estilo lei da gravidade. O corajoso empreendedor vive aterrorizado com medo de ser esmagado pela concorrência e ficar endividado ao banco a quem pediu dinheiro, com juros, para intermediar o consumo de pão e sumos. O banqueiro também tem medo porque pediu ao outro banqueiro mais dinheiro, a juros também. O dono da padaria quer ter menos medo, o banqueiro não gosta de sustos, flexibilidade é bom mas só se for para os outros, para nós segurança, máxima! E qual é o selo de emprego para a vida do dono da padaria? Os 500 euros que paga aos seus trabalhadores. O dos banqueiros já sabemos, somos nós os contribuintes. Emprego para a vida está-lhes garantido pelo Estado, que lhes protege as dívidas. Não se vá dar o famoso «risco sistémico». Mais seguro ainda, explicaram, é se os trabalhadores da Padaria Portuguesa ficarem lá até às 11 da noite – nem com o padeiro dormem as mulheres! Amor, isso é?! Deixa-me pensar…Vida própria? Família, lazer, pieguisses… Pagam 400 euros de casa, 100 de passe social e vão mendigar o cabaz social e a tarifa social da electricidade e a isenção das taxas moderadoras ao Estado, dobrando-se na frente da assistente social, que lhes vasculha a vida, humilhando-se – a isto chama muita gente, defendendo a assistência social, «dignidade», ou seja trabalhar e não conseguir sequer comer e pedir ao Estado comida, no século XIX. Perdão, queria dizer XXI.
Marcelo Rebelo de Sousa tira selfies. Dá abraços e pede paz social.

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