O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, março 08, 2017




A MULHER PRECISA DE REINVENTAR A LINGUAGEM

De acordo com Soshana Felman, " o desafio com o qual a mulher é hoje confrontada é nada menos do que o de "reinventar" a linguagem...o de falar, não só contra, como também fora da estrutura falocêntrica especular, o de estabelecer um discurso cujo estatuto não seja definido pela falácia do significado masculino" ...

E o pensamento dominante na mente feminina, é masculino...

Ao longo da minha vida e da minha experiência,  sobretudo ao longo das minhas incursões e busca de um feminino verdadeiro, palestras e escritos e alguns trabalhos para interagir com mulheres nestes contextos ditos do “feminino sagrado”, na tentativa de aflorar um novo universo de mulheres supostamente conscientes de si, por assim dizer, em que a esperança de uma nova consciência da Mulher é emergente na Terra, e que devia ser a ultima coisa a morrer, confesso que me sinto muitas vezes abalada pela ineficácia da minha tentativa de chegar a todas as mulheres de boa-fé e de coração aberto...

Na verdade o que eu vejo mais frequentemente e constato é que de facto é muito difícil as mulheres saírem da sua  zona de conforto e de tutela patriarcal (do marido-amante ou do Pai e do filho) e dos conceitos e preconceitos que predominam ainda sobre o feminino em geral – tendo em conta a ignorância absoluta da cisão da mulher - que nos aprisiona no pensamento falocrático. Como é o caso sempre que se trata de expandir a consciência da sexualidade-sensualidade da mulher. Para elas só há sexualidade se houver um membro eréctil, um sexo de afronta, dominador... onde não entra a sensualidade, nem a emoção nem muitas vezes o respeito ou uma verdadeira sensibilidade feminina...

Esse pensamento dominante na mente feminina corresponde à predominância e domínio do Homem e desses valores, no discurso masculino dentre os quais os estritamente sexuais, os mais valorizados e exaltados e que são de domínio e abuso sobre a mulher, o corpo e o sexo, os mesmos que imperaram durantes milénios.
Sem falo a mulher não existe - não tem voz, diz Lacan?
Assim, quando falo e tento romper essa barreira dos conceitos e preconceitos sobre a sensualidade da mulher que é marcadamente masculina, a que visa o prazer exclusivo do homem e não da mulher,  em que as mulheres estão quase todas  formatadas e viciadas pela mente e cultura (moda-cinema-arte-pornografia) masculina, em que baseiam as suas ideias de  amor e vivem as suas relações, casamento família e sociedades, e até em grupos orientados para uma Nova Era, pretensamente libertadora da mulher (tantra-dança-massagens-terapias) e não são senão variações do mesmo uso da mulher baseado no medo e no tabu ancestral que pesa sobre as mulheres.

Impossível ainda pois criar uma energia comum, de cumplicidade feminina e independente do homem, sem que os preconceitos redutores das mentas cativas das mulheres não se manifestem de forma preconceituosa; impossível assim  criar sinergias entre as mulheres através da possibilidade de criar um vazio mental – uma espécie de “desorientação” mental, abertura para a experiência de dentro, do centro e do coração -, a fim de deixar que algo novo as surpreenda e assim poder deixar fluir a Consciência inata, ou deixarem-se invadir por algo que não se capta pela mente-intelecto, nem pela razão. Mas lamentavelmente o que tenho verificado é que acabo quase sempre por ser mal entendida e passar por "suspeita" (ah não "gostar de homens"!). 
Tudo isso é natural dado os diferentes níveis das pessoas que me ouvem e consequentemente da sua consciência desperta ou não para as subtilezas do ser superior e da mulher verdadeiramente livre. Normalmente (a normose) pauta pela mediocridade dos julgamentos dentro da dualidade bem e mal. Ai a sexualidade é a mais sacrificada e reduzida aos estereótipos citados. AS pessoas filtram tudo com a mente dual (rasa e baixa) e raramente conseguem ler ou ouvir com o coração inteligente...para lá dos conceitos, tantas vezes mesquinhos e redutores da pessoa humana nomeadamente sem atingir o propósito de alcançar essa beleza e grandeza que é apanágio da Mulher Integral.

Desta maneira e sucessivamente tenho-me vindo a aperceber que não posso fugir a essa matriz de controlo nem ao velho paradigma que as domina e que continua a ferir as mulheres (já não falo dos homens) no seu amago – não as deixando fluir na sua intuição – mas criando resistências através de ideias geradas no seio da sociedade conservadora e na família tradicional e que veiculam inconscientemente contra elas próprias o sentimento de negação da sua liberdade de ser em nome de deus ou do diabo, do bem e do mal.

Sim apercebo-me de que afinal não posso ignorar, na minha boa-fé, nem mesmo diante da boa vontade das outras mulheres, as mais empenhadas na consciência de si mesmas, a forma como as mulheres em geral ainda estão dominadas pelas velhas fórmulas tradicionais e conceitos religiosos que as formataram e como cada uma faz a leitura desta abordagem de  acordo com os seus conceitos e preconceitos, dependentemente do seu nível de consciência e isto é fatal como o destino...
Na verdade sempre que me exponho a falar em público corro esse risco, o de ser mal interpretada e tenho-o feito em diversas plateias e palcos e em diferentes momentos da minha vida e em diferentes intervenções, desde há muitos anos, sendo que nos últimos anos o tenho feito, não em nome de algo ou de alguém, mas daquilo que eu própria escolhi como caminho para mim mesma.
Falar às mulheres da sua cisão interior e de abordar Lilith numa perspectiva mais conceptual e psicológica, sem recorrer a ideias mirabolantes e sem me deixar influenciar por nenhum tipo de devaneios ou ideias transcendentais…seja por meio de canalizações ou iniciações, ou escutar vozes de antepassados anjos ou seres de outras dimensões ou galáxias… 
Há por ai tanta "informação" vinda de planos e dimensões - há por ai tanta "sabedoria" forjada na imaginação e na demência megalómana de criaturas insanas e ignorantes...de si mesmas, que se dizem canais ou interpretes do divino e de entidades, que por vezes penso que o melhor é ficar calada!

O que eu digo e escrevo ou defendo vem de dentro de mim mesma e é o meu discernimento pessoal, o meu conhecimento próprio SEM FONTES OUTRAS que não as humanas e que se obtém do somatório do que aprendemos ao vivo e por experiência própria; o que eu penso é  a expressão de uma faculdade cognitiva que  manifesta por palavras a experiência do meu ser nos diversos aspectos da sua manifestação e através de vivências seja a nível emocional sentimental ou físico…e também espiritual, quando essa união entre o corpo alma e o espirito se faz neste plano.

Portanto falo, escrevo e digo por conta própria e risco e não me sirvo de nenhum outro meio para o fazer, nem falo em nome de ninguém, que não seja a consciência que tenho da minha própria existência e da minha vida vivida e todas as implicações que resultam da nossa estadia na Terra, dimensão em que vivo e em exclusivo, sem me transladar para mundos fictícios e ideias transcendentais que não são o da realidade que vivo com os pés assentes na terra Mãe; não vivo nem falo baseada numa teoria de uma qualquer visão alterada. Falo de uma visão espiritual natural sem interferência de conceitos ou ideias pré-estabelecida pelos manuais nem nenhum livro sagrado…

rosa Leonor pedro




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