O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, março 03, 2017

MULHERES APENAS, NEM BRANCAS NEM PRETAS...


LUTAR POR UM SIMBOLO? POR UM TURBANTE? 



É  CIMENTAR O ÓDIO ENTRE BRANCAS E NEGRAS  E DIVIDIR AINDA MAIS AS MULHERES NO MUNDO

O Sistema teve como fundamento de base desde o seu inicio dividir as mulheres dentro e agora tem como fundamento psicológico continuar não só a dividi-las como voltar as mulheres umas contra as outras e as mulheres que viveram sempre em conflito umas contra as outras, assim que o patriarcado as instiga elas não hesitam e entram em guerra logo contra as próprias mulheres. Se é mulher séria e do lar é contra a vadia e a puta, se é feia é contra a bonita...se é pobre é contra a rica...se ...é rica é contra a criada, se é branca é contra a escrava e se é escrava contra a branca...

 Neste momento no Brasil o Sistema patriarcal aproveita-se deste ódio secular, assim como desta rivalidade de fêmeas, sempre em luta pelo macho, e vira-as agora em força, mais uma vez umas contra as outras: mulheres negras contra brancas - por um Turbante?

Se as mulheres no mundo percebessem como poderiam mudar a face da Terra em vez de se dividirem e digladiarem entre si ...tal como se pode ver nesta marcha das mulheres unidas na América contra Trump, podiam ser a força mais poderosa no planeta. Mas elas preferem ainda estar em guerra umas contra as outras, tal como os homens afinal de contas se bem que mais solidários entre si.

De facto os homens unem-se entre si e são cúmplices dentro de um mesmo País contra as mulheres...as mulheres são rivais entre si (por causa do homem) e lutam umas contra as outras no seio da própria família...

A GRANDE FALTA DE CONSCIÊNCIA DAS MULHERES...

A Guerra dos Turbantes entre mulheres negras e brancas, no Brasil faz-me lembrar aquelas cenas de filmes e telenovelas em que duas mulheres lutam e se arranham por causa de um vestido (ou de um homem) e que puxando cada uma para o seu lado o acabam por rasgar ao meio e nenhuma fica com o vestido. Esta é uma questão tão idiota como caricata e só mostra como o Sistema manipula as mulheres para as dividir entre si. Assim se desviam as atenções das coisas graves como a violação o estupro e o feminicídio...
Digam-me lá se o Sistema e as Elites não são espertas???

E não pode haver nada mais hipocritamente correcto do que a esquerda ao defender as classes e os pobres e os mais desfavorecidos do Sistema, tão cega como a direita que só teoriza e especula para como dizemos em português "para inglês ver " - lá deve ser para americano ver que falam... 

Que discurso é este em nome de um TRAPO?

"Viver em um turbante é uma forma de pertencimento. É juntar-se a outro ser diaspórico que também vive em um turbante e, sem precisar dizer nada, saber que ele sabe que você sabe que aquele turbante sobre nossas cabeças custou e continua custando nossas vidas. Saber que a nossa precária habitação já foi considerada ilegal, imoral, abjeta. Para carregar este turbante sobre nossas cabeças, tivemos que escondê-lo, escamoteá-lo, disfarçá-lo, renegá-lo. Era abrigo, mas também símbolo de fé, de resistência, de união. O turbante coletivo que habitamos foi constantemente racializado, desrespeitado, invadido, dessacralizado, criminalizado. Onde estavam vocês quando tudo isto acontecia? Vocês que, agora, quando quase conseguimos restaurar a dignidade dos nossos turbantes, querem meter o pé na porta e ocupar o sofá da sala. Onde estão vocês quando a gente precisa de ajuda e de humanidade para preservar estes símbolos?"

O Sistema dividiu a mulher , toda a mulher em duas, depois dividiu-a em classes e agora quer dividir as mulheres negras e brancas porque se se juntassem no mudo as mulheres Brancas e Negras então ai sim, o Mundo estaria salvo - mas o sistema sabe o que faz e as mulheres divididas dentro de si mesmas longe do sua essência e sem consciência da sua cisão que as tornou sim, escravas concubinas e prostitutas DE TODAS AS CORES E EM TODO O MUNDO -  ele sabe bem como atacar pela raiz as mulheres e agora divide-as por um TRAPO - um pedaço de pano enrolado na cabeça - ...um trapo colorido na cabeça e elas defendem agora como um símbolo de dignidade ou de raça, nõa se percebe esta loucura...o Turbante usa-nos os muçulmanos e os indianos há séculos e claro que os africanos e afrin«canas também, mas fazer disto agora uma guerra de mulheres... voltando-se umas contra as outras mais um vez...Grave, muito grave para o Brasil com uma população maioritariamente negra, penso, que as mulheres TODAS nõa se unam e se ataquem agora por nada...

E como nos diz Eiane Pontiguara, escritora brasileira - falando desse poder genuíno esquecido da mulher moderna, que a mulher indígena - e assim deveria ser a negra -  preservou porque se manteve em contacto com as forças do seu passado assim como manteve vivo o espírito de ligação à natureza...e não por um turbante ou uma forma de vestir...

SIM, o Sistema nos quer fazer esquecer é que:

"... a mulher é uma fonte de energias, é intuição, é a mulher selvagem não no sentido primitivo da palavra, mas selvagem como desprovida de vícios impostos pela sociedade, uma mulher sutil, uma mulher primeira, um espírito em harmonia, uma... mulher intuitiva em evolução para sua sociedade e o bem-estar do planeta Terra.
Essa mulher não está condicionada psicológica e historicamente a transmitir o espírito de competição e dominação segundo os moldes da sociedade contemporânea. O poder dela é outro. Seu poder é o conhecimento passado através dos séculos, e que está reprimido pela história. A mulher intuitivamente protege os seios e o ventre contra seu dominador, e busca forças nos antepassados e nos espíritos da natureza para a sobrevivência da família. Assim é a Educação Indígena. Todos esses aspectos foram mais preservados na mulher do que no homem."*

rosa leonor pedro

*Eliane Potiguara

2 comentários:

Anónimo disse...

Compreendo e respeito o seu ponto de vista a respeito do assunto, mas a questão no Brasil vai muito além de um simples turbante... e quando a polêmica vem à tona e gera discussão e debate isso pode ser salutar sobretudo a tratar de questões muito, muito mais importantes do que um mero retalho de tecido... distante da realidade brasileira talvez não seja possível compreender... mas de toda forma deixa-me pontuar que está longe de ser uma forma de dividir as mulheres ou rivalizar brancas e pretas, bem ao contrário disto, é dar visibilidade a elas e buscarem o respeito e a comunhão... depois do primeiro momento que pipocaram as polêmicas, veio o diálogo e a compreensão de umas com as outras, suas demandas e suas reivindicações e motivos... e estão buscando este entendimento, com femininas resoluções, consensos e harmonias, que é o que sempre desejamos... bem haja!
Nana Odara

Anónimo disse...

Se os homens não devem se sentir autorizados a falar sobre a mulher, como muitas mulheres pensam, e seguindo essa mesma 'lógica', pessoas brancas não devem igualmente se sentir autorizadas a falar de racismo... é algo bem simples de entender... vejamos, quantas mulheres negras aparecem nas tuas fotos de facebook contigo? quantas mulheres negras fazem parte do teu ciclo social e da mesma classe social que tu? o que vc conhece na prática sobre a vida das mulheres negras e pobres de seu bairro, sua cidade ou país? Qual o diálogo que tens com as mulheres negras dos bairros de lata de Lisboa e arredores, elas não precisam de religar as duas mulheres dentro delas? só as brancas ou ricas é que tem ou podem fazer este trabalho de consciência?
Não, não venha falar de racismo quando vc não vive nem sabe o que é essa realidade! Tenha respeito quando as mulheres negras pedem visibilidade aos seus símbolos sagrados, não são elas que estão pedindo pra separar, são as brancas que se negam a ouvir e dialogar, mesmo que o assunto seja um reles "trapo" - o quw é trapo pra vc está sendo reivindicado por outras como símbolo sagrado, ouça, respeite, não precisa abraçar esta simbologia, mas apenas respeitá-la. Vá ao encontro das mulheres negras de Portugal, vá ao encontro das mulheres pobres de Portugal pelos bairros de lata, leve sua mensagem de consciência do feminino a elas, elas tbm precisam religar e unir as duas mulheres dentro delas, diante dos homens e das patroas... Vá conhecer a cultura delas, as deusas delas, seus mitos seus arquétipos femininos de sua matriz africana, berço do mundo... e depois disso falaremos sobre turbantes!!! Não pode haver união entre as mulheres se não houver respeito e horizontalidade entre todas nós...
Nana Odara