O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, junho 07, 2018

...estes tempos saturados de androcracia


 QUAL A LIBERDADE DAS MULHERES?


 


 Primeiro as mulheres quiserem agradar desesperadamente aos homens (as donas de casa desesperadas da série americana) e de todas as maneiras, agora querem ser como eles de todas as formas e a qualquer preço...Cada dia mais a mulher é menos Mulher...e mais igual ao homem...só mantem uma aparência "feminina" - digo, de travesti (o espelho) - de acordo com a moda dos estilistas gays...que a representam ou esquelética e maria-rapaz...sem seios nem barriga ou quadris, e, embora neste momento as coisas pareçam estar a inverter-se nas passerelles, já desfilam mulheres mais cheias e de seios nus ou praticamente nuas…  Mas não há nada que  toque alma nem a psique, nem a Natureza instintiva da Mulher, da mulher primordial! A mulher no geral é um mero objecto de prazer visual ou sexual - ou então objecto de reprodução ou barriga de aluguer…
Mas há também mulheres corajosas que escapam a estes estereótipos e que se aventuram no resgate da sua essência e feminitude...porque o feminismo em geral...é só de e sobre as questões materiais de "direitos e igualdades", nada de essências...nada de interioridade, nada sobre uma mulher integral, uma mulher plena e não essa mulher dividida nestes estereótipos que a perseguem em todo o lado…
É certo que eu aqui e em geral não abono  muito a "favor" dos homens…, não que eu sofra de misandria,  mas paciência, não vem aqui para o caso. Este Blog trata apenas de mulheres e é escrito para mulheres...Porém sei que há mulheres que me leem que se podem ressentir disso,  mas eu não só não confio de toda a vida em nenhum homem do lado da mulher, como tenho todos os exemplos como maus, mesmo apesar dos meus irmãos e amigos, que sempre gostei, e dos homens que amei, sei que nenhum homem no fundo deixa de ter esse sentimento de posse e do uso da mulher a seu belo prazer...e simultaneamente uma espécie de raiva que facilmente se transforma em ódio em desprezo e  agressão a curto ou longo prazo e falo dos maridos...dos amantes etc..
Sei também que esta cena recente (de há uma ou duas décadas) de as mulheres começarem a abordar e ao trabalharem o "Feminino Sagrado" incluírem na roda e no circulo os homens, aceitando muitas vezes a sua tutela,  é porque não conseguem ir mais fundo em si mesmas nem criar a sua independência do macho. Sim, mesmo dentro destes círculos elas são incapazes de ir ao mais fundo de si mesmas e terem a maturidade de se olharem ao espelho umas das outras e lidarem com os seus fardos e feridas, culpas e medos, revoltas, dores e complexos e assim, continuam a buscar o consolo junto dos homens que se impõem e ficam a espera de protecção. O velho romantismo ainda impera. O circulo fica assim mais uma vez preso ao domínio dos homens e na submissão das mulheres; é isto que as mulheres fazem antes de se encontrarem como mulheres e indivíduos; em vez de se buscarem a si mesmas nessa natureza instintiva como mulheres, vão em busca do dito "masculino sagrado", em busca afinal de parceiros, futuros pais dos seus filhos etc.. O facto é que a matriz de controlo patriarcal é de fundo  a mesma e os padrões mãe-amante-filha fica no mesmo quadrado...e podem à vontade papaguear o nome da Mãe e da Deusa mas quem comanda é ainda o homem o Pai e o avozinho também…
O que se manifesta neste círculos viciosos diria,  é a continuação do domínio patriarcal e a vontade secular e sexual do homem sobre a mulher, seja o padre e a sua moral (antigamente) seja o instrutor da new age, que seguem cegamente.
Dessa maneira a mulher continua a fugir do seu poder interior  evitando enfrentar os seus abismos e medos e solidão para se refugiar no amor do homem, na busca do homem ideal, seja a que nível for, sexual, místico ou espiritual. Nestes contextos as mulheres assumem automaticamente a sua função  de mães e amantes, seja como as cristãs seja na versão pagã, sempre no papel de nutridora na maternidade ou na sedução-submissão, como a amante sexual e não conseguem passar dai sem  sequer nunca perceber a sua cisão interior  nem o seu conflito psicológico, a sua divisão interior entre a santa e a puta que gera o antagonismo umas com as outras.
Estar só com mulheres e passar todo o processo de autoconsciência e cair em si é muito doloroso e exige muito trabalho interior da parte da mulher, e eu vejo sobretudo as mulheres mais novas,  como fogem a esse processo e se procuram enganar a si mesmas nestes círculos que deviam ser só de mulheres. Círculos onde as mulheres se encontram a si mesmas e trabalham entre si espelhando-se nas diferentes mulheres a integrar e a compreender o seu outro lado, a sua sombra como objectivo principal. Isto não nega nem impede que a mulher madura, a mulher inteira, não seja mãe e amante mas precisa de estar consciente de quem é antes de tudo, como ser humano independente e um individuo integral e manter essa sua integridade nas diferentes situações da sua vida. Ao longo dos anos e em quase todas as situações que vivi sempre que a mulher está diante de um homem, não consciente de si ainda, o padrão dominador-predador  é activado e vejo as mulheres renderem-se muito subtilmente e a anularem-se mais uma vez, renegando a sua natureza selvagem e intrínseca...e esse é o grande perigo dos círculos mistos...ou místicos...onde o homem volta a reinar e não a mulher.


rosa leonor pedro

Para ilustrar o que digo deixo-vos um texto da autora do livro A deusa do Jardim das Hespérides publicado no seu Blog A deusa no Coração da Mulher


"Ouvi falar há dias de homens que são Facilitadores do Sagrado Feminino e um deles, que é artista plástico, disse-me que no seu trabalho pretendia “dar mais glamour à Deusa”, não achava eu que as representações das Deusas de Avalon eram demasiado “escuras”?...
.... Complicado explicar num país onde toda esta discussão passou ao lado antes do Sagrado Feminino se tornar moda…
Mas vejamos, desde o Deus da Bíblia criando Eva, uma mulher mais adequada para o seu programa com Adão do que a selvagem e indomável Lilith, até aos magos Math e Guydion que criam a donzela Blodeuwedd para o filho de Arianrod, na mitologia galesa (felizmente logo ela se põe a andar com o eleito do seu coração), passando pelos gurus da moda e pelo lobby da indústria farmacêutica, sem falar nos padres da igreja, nem nos talibãs, nem no Zeus de cuja cabeça saiu a sua filha Atena, o que é que mudou realmente?

Não faço ideia de qual seja a abordagem dos homens que “facilitam” o Sagrado Feminino, mas imagino que muitas mulheres até devam achar o máximo serem a “deusa” do seu guru, que, provavelmente, qual Pigmalião, vai querer transformá-las na mulher perfeita, insuflando vida na estátua perfeita, tornando-se assim, à falta de útero, num criador que dá à luz com o poder do seu ideal de perfeição masculino para a mulher.
Pois eu para estes casos extremos sempre recomendo a leitura/estudo da obra de Jean Markale (um homem, certo?) La Femme Celte, em inglês The Women of the Celts, nunca traduzido para português (se estiver enganada, digam, por favor, para celebrarmos). É ele, um homem, que, daquilo que eu sei, melhor desfaz estes equívocos de homens pretendendo ensinar mulheres a serem mulheres…


Não querendo ser sexista, nem ofender ninguém (isto não é nada de pessoal), só dizer que a proposta destes tempos saturados de androcracia é precisamente para desaprendermos toda a programação masculina que recebemos até aqui e aprendermos nós, por nós mesmas e/ou umas com as outras, a sermos Mulheres. Seria aliás decente pensar que o mesmo estariam os homens a fazer uns com os outros (mas aqui desconfio que na sua grande maioria eles continuam a achar-se os perfeitos “reis da criação”, valha-nos a Deusa…). Quanto a mim, essa seria mesmo a melhor maneira de servirem a Deusa e o Sagrado Feminino (e Masculino!) nestes tempos e cultura em que se morre à míngua dum Homem que realmente o saiba ser e que tenha uma ideia justa do seu lugar na relação entre os sexos. E que a Deusa nos abençoe a tod@s. 

Luiza Frazão 

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