O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, junho 13, 2018

Os destruidores vieram do deserto.




"A Chegada das Trevas" é a história largamente desconhecida – e profundamente chocante – de como uma religião militante pôs deliberadamente fim aos ensinamentos do mundo clássico, abrindo caminho a séculos de adesão inquestionável à “única e verdadeira fé”. O Império Romano foi generoso na aceitação e assimilação de novas crenças. Mas com a chegada do Cristianismo tudo mudou. Esta nova fé, apesar de pregar a paz, era violenta e intolerante. Assim que se tornou a religião do império, os zelosos cristãos deram início ao extermínio dos deuses antigos – os altares foram destruídos, os templos demolidos, as estátuas despedaçadas e os sacerdotes assassinados. Os livros, incluindo grandes obras de Filosofia e de Ciência, foram queimados na pira. Foi a aniquilação. Levando os leitores ao longo do Mediterrâneo – de Roma a Alexandria, da Bitínia, no norte da Turquia, a Alexandria, e pelos desertos da Síria até Atenas –, "A Chegada das Trevas" é um relato vívido e profundamente detalhado de séculos de destruição"

Os destruidores vieram do deserto.

Os seus ataques eram primitivos, brutais, e muito eficazes. Estes homens moviam-se em matilhas.
Os seus alvos eram os templos...Grandes colunas de pedra que se erguiam há séculos caiam numa só tarde...
A estátua fazia eco de outras que se erguiam na Acrópole se Atenas...esta versão em especial tinha sido criada numa oficina a centenas de quilómetros de Palmira, transportada e seguida para ali com dificuldades e despesas consideráveis, de modo a criar uma pequena ilha de cultura greco-romana junto às areias do deserto sírio.
Ter-se-ão os destruidores apercebido disto, ao entrarem?
Terão eles, nem que fosse por um momento, admirado a perícia necessária para crias uma boca de aspecto suave, que apetece beijar, com o mármore duro?
Aparentemente, não. Pois, quando entraram no templo, os homens pegaram numa arma e atacaram a parte de trás da cabeça de Atena com um golpe, tão violento, que decapitaram a deusa. A cabeça caiu no chão, perdendo o nariz, esmagando as faces outrora suaves.
A mera decapitação não foi suficiente. Seguiram-se mais golpes, tirando o escalpe de Atena, arrancando o elmo da cabeça da deusa, partindo-o em pedaços...A estátua tombou do seu pedestal, depois os braço e os ombros foram cortados. O corpo foi deixado sobre a terra, de barriga para baixo...
Só então estes homens - estes cristãos - se sentiram satisfeitos, pois o seu trabalho estava terminado. Voltaram a desaparecer no deserto. Atrás deles, o templo caiu no silêncio. As lâmpadas votivas de quem já ninguém cuidava, apagaram-se. No chão, a cabeça de Atena começou, lentamente , a ser coberta pelas areias do deserto sírio.
O "triunfo" do Cristianismo tinha começado.

Excerto do prólogo do livro "A chegada das trevas"
Como os cristãos destruíram o mundo clássico
Da autora Catherine Nixey

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