sexta-feira, maio 03, 2002



ODE À NOITE (início)

(áLVARO DE cAMPOS)

Vem, Noite, antiquíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com estrelas lantejolas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.

Vem, vagamente
Vem, levemente,
Vem sòzinha, solene com as mãos caídas
Ao teu lado, vem,
E traz os montes longínquos para o pé das árvores próximas,
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faze da montanha um bloco só do teu corpo,
apaga-lhes todas as diferenças que de longe vejo,
Todas as estradas que a sobem,
Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe
Todas as casas brancas com fumo entre as árvores,
E deixa só uma luz e mais outra,
Na distância imprecisa e vagamente perturbadora,
Na distância subitamente impossível de percorrer.

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