quarta-feira, julho 30, 2003

NAS MARGENS ALTAS DESPONTAM GRÃOS DE OIRO...


SAFO - Fragmentos (de uma alma eterna...)






Talvez um de nós morra até hoje.


Talvez de noite regresse a casa e se aparceba da desintegração gradual dos objectos, do remoinho que reúne as partículas nos rítmos particulares que são as coisas. Talvez o teu corpo astral esteja ferido. E se chorar cair-lhe-á dos olhos uma lágima invisível porque o corpo é o leito onde dormimos permanentemente até ao momento de sabermos que estamos abertos para a cegueira irreal, a única verdadeira.

E se o deslumbramento cessa, cessa o canto.

Tanto labor consome a busca que em cada instante eu sei que vou ficando mais, pois antes que oráculo significasse resposta já uma pluma era o signo de verdade.
Enquanto o ouroboros continuar doemindo nós seremos sempre corpos de uma outra cabeça.
De cada vez que uma só gota do teu íntimo se escape verás que ela se condensa e de tal modo se adensa que entre ti e aquele entreviu apenas um só cílio do teu íntimo se erguerá uma grade, uma barreira, uma lança.
E essa lança a ti próprio te fere.
Íntimo é aquele ser laborioso de incompreensível substância, lagarta em permanente metamorfose de que tu és apenas o invólucro, a segregação visível da glândula Íntimo e as suas metamorfoses são as tuas


ANA HATHERLY
SIGMA




Porque é culpa, se alguma coisa é culpa,
não multiplicar a liberdade de um ser amado
de toda a liberdade que em nós possamos achar.
Onde amamos, temos apenas isto:
deixar-nos uns aos outros; porque prender-nos
é-nos fácil e não é preciso aprendê-lo.


RAINER MARIA RILKE (1875-1926)
Tradução de Paulo Quintela

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