segunda-feira, março 28, 2005

FADING – prova dolorosa segundo a qual o ser amado parece retirar-se de todo o contacto sem que esta indiferença enigmática se volte contra o sujeito apaixonado ou se decida em benefício de outro, seja ele quem for, mundo ou rival.

"Há pesadelos em que a Mãe surge com o rosto marcadamente severo e frio. O fading do objecto amado é o regresso aterrador da Má Mãe, o desaparecimento inexplicável do amor, o abandono bem conhecido dos Místicos: Deus existe, a Mãe está lá presente, mas eles já não amam. Não estou destruido, mas abandonado, como um detrito.
(...)
Freud, parece não gostaava do telefone, ele que porem gostava de ouvir. Talvez sentisse, previsse, que o telefone é sempre uma cacafonia e que só deixa passar a má voz, a falsa comunicação?
Pelo telefone, sem dúvida, tento negar a separação – como a criança que teme perder a mãe e brinca sem descanço com um cordel; mas o fio do telefone não é um objecto transitório, não é um fio inerte. Está carregado de um sentido que não é o de união, mas o da distância: voz amada, fatigada, escutada ao telefone: é o fading em toda a angústia”...


In Fragmentos de um Discurso Amoroso
Roland Barthes

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