terça-feira, abril 12, 2005

..."no começo era a Grande Deusa e a Grande Deusa era a Terra e a Terra era a Grande Deusa. As origens do culto à Grande Deusa perdem-se nos tempos pré-históricos. Sua presença durou milhares de anos. A Deusa é a figura mítica dominante no mundo agrário da antiga Mesopotâmia, do Egito e dos primitivos sistemas de plantio. Seu poder estava associado primordialmente à agricultura e às sociedades agrárias. Estava relacionada à terra, pois a mulher dá a luz assim como da terra se originam as plantas, a mãe alimenta, como o fazem as plantas. Assim a magia da terra e a magia da mãe são a mesma coisa, pois estão relacionados. Assim a personificação da energia que dá origem às formas e as alimenta é essencialmente feminina. Com o passar dos tempos, a Deusa-mãe foi sobrepujada e superada pelo mais patriarcal dos arquétipos - Javé (Yaweeh), Deus-Pai ou Alá.
(...)
O mito de Lilith é uma excelente metáfora para a situação de submissão que as mulheres passam a ter na sociedade patriarcal, e da forma como a sexualidade feminina passa a ser vista como perigosa e transgressora, tratada como tentadora, síntese do mal e raiz do pecado. Eva a segunda mulher criada (não da mesma forma que Adão como Lilith) foi feita para servir, condenada eternamente à inferioridade. O filosófo cristão Santo Agostinho afirmava que a mulher não era a imagem de Deus, apenas o homem o era. A mulher seria no máximo, a imagem de uma costela. O cristianismo católico herdou a visão hebraica ortodoxa e associou definitivamente a imagem da mulher ao pecado. Com a negação do corpo em detrimento do espírito qualificou o sexo como algo terrível e pecaminoso, que afasta o homem de Deus. A Igreja Católica e seus prelados eram terrivelmente misógenos, chegando até mesmo a afirmar que as mulheres não tinham alma, que eram apenas carne, e estavam por isso longe da graça de Deus. Essa visão negativa da mulher se fez sentir na intolerância Católica através da Inquisição, que levou à tortura e à morte milhares de mulheres sob a alegação de bruxaria e outras heresias.

Entretanto é importante destacar que mesmo que o Catolicismo e mesmo o Protestantismo, assumissem uma posição misógena isto não foi ensinado e nem praticado por Jesus. Ele na realidade valorizou bem a mulher. Também nos primeiros séculos do Cristianismo a participação feminina era bem intensa. Entre os principais livros do Gnosticismo dos primeiros séculos, conforme consta nos achados arqueológicos da Biblioteca de Nag Hammadi, consta o Evangelho de Maria Madalena mostrando que os evangelistas não foram apenas pessoas do sexo masculino. Vale ressaltar que esses entre muitos outros evangelhos foram considerados apócrifos durante o I Concílio de Niceia em 325 d.C., a escolha deu-se por um estranho e ridículo sorteio em que os livros foram colocados em uma mesa (eram muitos), os que caíssem da tal mesa seriam considerados ilegítimos.

Na realidade Jesus apareceu primeiro às mulheres, e segundo o que está escrito nos documentos sobre o Cristianismo dos primeiros séculos, via de regra, por cerca de 11 anos depois da crucificação Jesus continuou a ensinar e geralmente fazia isto através da inspiração, e isto acontecia bem mais freqüentemente através das mulheres. Sabe-se que o papel de subalternidade do lado feminino dentro do Cristianismo foi oficializado à partir do I Concilio de Nicéia no ano 325. Aquele concílio, entre outras intenções visou o banimento da mulher dos atos litúrgicos da igreja. Ela só podia participar numa condição de subserviência. O catolicismo nasceu da ala ortodoxa do Cristianismo primitivo que continha em seu bojo a influência grega e judaica no que diz respeito à marginalização da mulher no exercício das atividades sacerdotais."


Beatrix Algrave

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