sexta-feira, junho 10, 2005

“Uma amante querida que nos deixa expulsa-nos de um útero. É como se nascessemos para o irreconhecível. Uma impossibilidade de identificação que gera o ódio pelas formas em que tropeçamos. É verdade. Quando me deixaste, não sofri. Odiei como um homem que vê a sua solidão multiplicada. Só depois de beber todo o ódio é que senti o amargor do sofrimento. Dantes o bem e o mal eram-me totalmente estranhos. Considerava-os detritos religiosos que uma vez aceites nos impunham a mais passiva forma de existir. Quantas vezes me achei profundamente mau praticando uma boa acção ou o contrário. Isto convencia-me de que a malvadez e a bondade eram o inextrincável miolo dos nossos actos. Reconhece-lo, era existir activamente. Não concebia quer o mal quer o bem como sentidos únicos. Oh! Para isso faltava-me ousar. A minha ousadia era puramente intelectual, ou seja, a cobardia de viver. Eis porque os assassinos são medonhamente poéticos e jamais poetas. “(...)

In A MADONA de Natália Correia

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