sexta-feira, setembro 16, 2005

“Apenas se conhecem aqueles que não se tem a preocupação de conhecer”

A PROJECÇÃO DO AMOR...





“Amo-te”: é o momento em que a memória se apodera da experiência: memória que me ultrapassa de muito longe, lembrança do que não vivi. Conheço o amor antes de o ter experimentado, a certeza de amar é sempre um reconhecimento: é aquilo, aquilo que li, aquilo de que respirei o aroma fictício, vigiei os indícios e tanto esperei que me arrebatasse, é enfim, aquilo: “amo-te” existe em mim antes de o proferir, o sabor da primeira vez em conformidade com a prelibação que exala o amor de amar”.




“Ela veio, vi-a, estava embriagado por um amor sem objecto; esta embriaguez fascinou os meus olhos, o objecto fixou-se nela”

(Confessions, Rousseau)

E DEPOIS...

“Então, a despeito da sua evidência, a separação não se deixa apanhar senão na sua interrogativa. É verdade? Acabou? Terei rompido? O Outro sobrevive em mim no instante da separação com uma tal força e uma tal insistência que o mundo perde a credibilidade: tudo flutua.

Amo quando nem a réplica do “amo-te” nem a iniciativa da ruptura souberam pôr um fim à minha passividade. Amo quando ascendo ao paradoxo de outrem, quando lhe marco um encontro e comprovo o seu afastamento, a dor da sua inacessibilidade; quando procuro escapar-lhe e tudo se inverte: o longe faz-se próximo, premente não contornável. Ele escapa-se-me e não lhe posso escapar; é a própria experiência da renúncia, a moralidade do amor: daquele que, em tudo se ocultando, me assedia, me fere e me separa de mim mesmo, do alter-ego, não sou o igual.”
(...)

“Todos os ternos enamorados são sádicos do afecto e a sua confissão de dependência é exigida de reparação”

Excertos do livro: "A NOVA DESORDEM AMOROSA"
Pascal B. E Alain Finkielkraut

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