sexta-feira, outubro 28, 2005

AS ARMAS E AS MULHERES ...

Por mim, acho que só as mulheres podem desarmar a sociedade, até
porque elas são desarmadas pela própria natureza: nascem sem pénis, sem
o poder fálico da penetração e do estupro, tão bem representado por
pistolas, revólveres, flechas, espadas. Ninguém lhe dá, na primeira
infância, um fuzil de plástico, como fazem os meninos, para fortalecer
sua virilidade e violência. As mulheres detestam o sangue, até mesmo porque
têm que derramá-lo na menstruação ou no parto. Odeiam as guerras, os
exércitos regulares ou as gangues urbanas, porque lhes tiram os filhos de sua
convivência e os colocam na marginalidade, na insegurança e na violência.
É preciso voltar os olhos para a população feminina como a grande
articuladora da paz.
E para começar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher.
Respeito às suas pernas que têm varizes porque carregam latas d'água e
trouxas de roupa. Respeito aos seus seios que perderam a firmeza porque
amamentaram seus filhos ao longo dos anos. Respeito ao seu dorso que
engrossou, porque elas carregam o país nas costas. São as mulheres que
irão impor um adeus às armas, quando forem ouvidas e valorizadas e
puderem fazer prevalecer a ternura de suas mentes e a doçura de seus corações.
Nem toda feiticeira é corcunda. Nem toda brasileira é só bunda.


Autora: Rita Lee

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