domingo, outubro 29, 2006

O VISIONÁRIO E A POETISA

“Cada vez mais penso que Portugal não precisa ser salvo, porque estará sempre perdido como merece. Nós todos é que precisamos que nos salvem dele.

Mas sabe que não há maneira fácil?”


Carta de Jorge de Sena a Sofia de Mello Bryener

Pag 52
Ed. Guerra e Paz


Como Ser verdadeiro no País dos oportunistas, plagiadores, hipócritas, mentirosos, arrogantes, mesquinhos e provincianos, os grandes filhos do pai, os políticos e as suas sibilas por conta do sistema...


No País dos Sacanas

Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade de próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?

Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a
justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.

No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.


Jorge de Sena

-Sem dúvida que esta página é uma sacanisse...

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