Ou a Lealdade feminina...
(excerto de texto publicado em 2002)
(...)
Durante anos e anos as mulheres traíram-se umas as outras pelo amor de um homem...fosse o pai, o marido, o filho ou o amante...
Durante anos e anos as mulheres traíram a confiança umas das outras para obter a atenção e os favores de um homem...durante anos e anos as mulheres traíram a melhor amiga para conseguir um emprego ou um lugar de destaque na firma ou nos bastidores de qualquer palco…
Durante anos e anos as mulheres traíram a sua essência e foram piores do que Judas na vida umas das outras...sempre prontas a denunciar a incriminar a mandar para a fogueira as suas rivais…as mais ousadas, as mais bonitas, as destemidas, as mulheres corajosas e as que se atreviam a quebrar as algemas com que a sociedade e as religiões as agrilhoou…
Como é famoso o antagonismo entre irmãs ou amigas por causa de um homem…entre a nora e a sogra…Como é velha a disputa entre a mãe e a filha por causa do amor do pai…como é extenuante a rivalidade das mulheres do cinema e das telenovelas aos puxões de cabelos umas as outras e entre as actrizes…e como os homens gostam e perpetuam isso…
Em séculos de repressão e perseguição pelas religiões, as mulheres foram sempre as maiores aliadas dos homens e dos padres…por medo e intriga, por um lugar na missa ou na sacristia, no bordel ou na fábrica… foram durante anos e anos as mulheres as maiores inimigas umas das outras…durante anos e anos as mulheres viram na outra mulher a inimiga e a rival que lhe iria roubar o homem…e elas tudo fizeram para destruir essa outra mulher por quem se sentiam ameaçadas sem saberem que a “outra” mulher era ela mesma na sua outra face…que ela era afinal a sua face ignorada, esquecida e calada durante anos e anos…séculos…e que a “outra” era apenas a sua face de mulher reprimida de mulher reduzida a mero objecto de prazer e procriação, ao serviço do macho.
Será que hoje as mulheres se dão conta dessa separação e desse ódio?
Será que hoje existe uma “Lealdade Feminina”?
Não, as mulheres ainda não são livres nem amigas, capazes de trocar o abraço de um homem para serem fiéis a si ou a uma outra mulher ou à Deusa, à sua revelação ou à sua manifestação, trocando esse velho mito do Príncipe Encantado e do amor romântico...essa escravidão ao Senhor por amor de si mesma e das suas irmãs…
Não, de forma alguma. A verdade é que esta não é ainda uma realidade e que as mulheres se continuam a trair e a trair as suas irmãs com o medo de perderam uma boa cama ou o abraço de um homem, uma posição social que lhe dá um falso valor e que as nega como indivíduos…
As mulheres continuam a fazer tudo pelo “amor” de um homem, sujeitando-se o obedecendo aos seus caprichos e ordens… Elas são incapazes de dar um passo para se amarem a si mesmas em vez da obsessão do macho…e do amor que as há-de salvar do vazio de si mesmas!
Como tantas vezes vi e confirmei, as mulheres continuam a ser as inimigas umas das outras. Por isso eu não creio na lealdade feminina; para haver lealdade feminina a mulher tem de se conhecer primeiro e integrar a “outra”, a mulher-sombra, essa outra que ela só vê fora…
Por isso essa dita “lealdade feminina” tão desejada e já esboçada como um ideal, não se pode manifestar, a não ser nessas poucas e raras mulheres que se dão conta dessa dicotomia em si e começam a perceber que essa velha inimizade e intriga – criada pelos homens e pelo sistema falocrático que as dividiu assim para poderem reinar – foi o que as impediu de evoluir e criar laços profundos com outras mulheres, e assim começam a ser capazes de se darem sem medo de perder o parceiro e abrem-se umas as outras sem esse velho pavor de perder o homem ou o seu emprego ou mesmo a sua reputação; medos que as dominavam por inteiro há décadas…
Mas são raríssimas as mulheres capazes de abandonar o homem pela carreira ou que fazem uma escolha sua de viver a sua vida de acordo com os seus sentimento e emoções. Sim, são tão poucas as mulheres capazes de serem elas por inteiro e de serem fiéis a si mesmas!
Rosa Leonor Pedro

É bem real essa disputa! Infelizmente no patriarcado isso é esperado e por vezes aplaudido!
ResponderEliminarE a cada dia que passa tem sido mais difícil ter sororidade, é um exercício diário, porém, quando nos afeta a coisa é sempre mais embaixo. É infeliz que tenham nos jogado uma contra a outra dessa forma, e é algo que temos que estabelecer novamente, começar tudo de novo. O passo mais importante é esse reconhecimento de nossa irmandade e a compaixão pelo outro.
Adorei o texto! <3
www.generoproibido.blogspot.com.br
Existe sim essa disputa e muitas mulheres já tiveram suas vidas destruídas por causa de outras que por capricho e desrespeito desfizeram famílias, desrespeitando a família da outra, o sentimento da outra, o relacionamento da outra, fazendo pouco da aparência da outra, da profissão da outra.
ResponderEliminarÉ algo que precisa ser curado sim mas acredito que para isso tem que haver evolução espiritual do ser, sem isso não da pra ter amor e respeito pelo próximo, valorizar o outro.
Amar o outro como a ti mesmo como pedia Jesus Cristo além de não fazer com o outro aquilo que não gostaria que fizessem contigo mesmo.
Essas lições de união entre mulheres, ou união de uma sociedade de respeito mútuo é o ideal, mas leva tempo na evolução.
tempo, vontade , mudança de comportamento, pensamento, iniciativa. Evolução e iluminação.
É o que estamos aprendendo aqui no planeta Terra.
Longo caminho de cura pela frente, muitos carmas pra humanidade limpar.
E todos fazendo a sua parte a gente chega lá.