quinta-feira, julho 17, 2008

SER OU NÃO SER

PARA SE SER...

(...)
O que te estou escrevendo não é para se ler - é para se ser. A trombeta dos anjos-seres ecoa no sem tempo. Nasce no ar a primeira flor. Forma-se o chão que é a terra. O resto é ar e o resto é lento fogo em perpétua mutação. A palavra "perpétua" não existe porque não existe o tempo? Mas existe o ribombo. E a existência minha começa a existir. Começa então o tempo? Ocorreu-me de repente que não é preciso ter ordem para viver. Não há padrão a seguir e nem há o próprio padrão: nasço.

Ainda não estou pronta para falar em "ele" ou "ela". Demonstro "aquilo". Aquilo é lei universal. Nascimento e morte. Nascimento: Morte. Nascimento e - como uma respiração do mundo.
(...)
in Água Viva Clarice Lispector

2 comentários:

  1. maravilhoso!
    sob muitos aspectos.
    clarice é mais que uma grande escritora.

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  2. Sem dúvida..ela parecia ser uma grande iniciada a falar para o vulgo...uma sensibilidade estonteante.

    Abraço

    rosa leonor

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quem vier por bem seja bem vindo...