"O Cristianismo retirou-lhe o seu aspecto divino desfigurando-a numa mulher feia e decrépita, de longos nariz e dentes exagerados, de espessos e irisados cabelos. Nascia assim a mítica imagem da bruxa ma que amedrontava o sono inocente das crianças."
HOLDA
A FEITICEIRA DE INVERNO
(…)
A cavalgada selvagem varria os ares à procura de almas
errantes como se fossem impurezas que entupiam a energia produtiva imanente dos
solos. A verdadeira e original função da tétrica comitiva era a renovação das
forças espirituais da terra, repondo uma nova camada e de células frutíferas,
ao mesmo tempo que purificava a atmosfera infestada pela invasão de defuntos
atraídos pelas noites invernais. Da inofensiva e generosa Divindade, Holda foi
vulgarizada pelas escrituras cristãs num ser maligno e diabólico, sem espaço na
etnografia reescrita sob o novo credo. O nome Holda passou a a anunciar pavor e
castigo e tudo o que com ela estivesse relacionado seria sinónimo de delito. A
palavra holde catalogava seres fantasmagóricos e as sombras errantes pelas
densas florestas. Holda aparecia na companhia de espíritos simpáticos, holden o
povo silencioso que habitava os meandros subterrâneos. Uma relação proibitiva e
incómoda por manter os vínculos do ser humano (homem no texto) ao
mundo numinoso da Natureza. O Cristianismo retirou-lhe o seu aspecto divino
desfigurando-a numa mulher feia e decrépita, de longos nariz e dentes
exagerados, de espessos e irisados cabelos. Nascia assim a mítica imagem da
bruxa ma que amedrontava o sono inocente das crianças.
In AS MÁSCARAS DA GRANDE DEUSA de Cristina Aguiar
Pag. 143/144
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