O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, agosto 29, 2019

A INFANTILIZAÇÃO DAS PESSOAS



AS MULHERES INFANTILIZADAS

A infantilização das pessoas no Ocidente é uma forma de as subtrair ao conhecimento e experiência de vida. É uma forma de alienar e incapacitar as pessoas de pensar, sobretudo as mulheres. Nunca como hoje as mulheres são infantilizadas... Antes eram só fúteis e frívolas, agora são estupidamente infantis e narcisistas. O corpo é desnudo e exibido despudoradamente mesmo da parte de intelectuais e psicólogas... como se a mulher, qualquer mulher, sobretudo jovem, fosse hoje uma mercadoria. RLP

ESTA SOCIEDADE INFANTILIZA AS MULHERES E HIPERSEXUALIZA AS MENINAS...

 "Destruir o corpo real e substituí-lo por um corpo de consumo é também substituir a “realidade real” por uma “realidade de consumo” que tende a destruir a própria espécie humana (a partir do desequilíbrio climático pelo excesso de consumo)." Rose Marie Muraro


O PORQUÊ DA INFANTILIZAÇÃO E O MEDO


Desde hace años, sociólogos, antropólogos o psicólogos vienen advirtiendo sobre la infantilización de la sociedad postindustrial. La media de edad aumenta incesantemente, la población envejece, pero los rasgos adolescentes permanecen en una porción significativa de sujetos adultos. La juventud se ha convertido en icono de culto, objeto de incesante alabanza, de veneración. Lo grave no es que la gente intente aparentar juventud física, recurra en exceso a la cirugía estética o a los implantes capilares. Es más preocupante que un creciente porcentaje de adultos se afane en el cultivo consciente de su propia inmadurez. Hoy día no son los jóvenes quienes imitan la conducta de los adultos… sino al revés. La experiencia, el conocimiento que proporciona la edad no es ya virtud sino rémora, un lastre del que desprenderse a toda costa. It’s so hard to get old without a cause. Youth is like diamonds in the sun, and diamonds are forever.

Marcel Danesi, profesor de antropología y autor del libro “Forever Young”, describe este síndrome colectivo: la adolescencia se extiende hoy hasta edades muy avanzadas, generando una sociedad inmadura, unos sujetos que exigen cada vez más de la vida pero entienden cada vez menos el mundo que los rodea. La opinión pública tiende a considerar la inmadurez deseable, incluso normal para un adulto. Como resultado, cunde una sensación de inutilidad, de profunda distorsión: quienes toman las decisiones cruciales suelen ser individuos con valores adolescentes. Va desapareciendo la cultura del pensamiento, de la reflexión, del entendimiento y es sustituida por el impulso, la búsqueda de la satisfacción instantánea. La infantilización se impone.


El discurso político se simplifica, dogmatiza, se agota en sí mismo, se limita a meras consignas, sencillas estampas. Pierde la complejidad que correspondería a un electorado adulto. En concordancia con la visión adolescente del mundo, no se exige en los líderes políticos ideas, capacidad de elaboración, sino belleza, atractivo, tópicos, divertidas frases, una imagen que conecte con un electorado envejecido en edad pero muy rejuvenecido en mentalidad.


Infantilización: los derechos, o privilegios, imperan sobre los denostados deberes


Los nuevos tiempos son testigos de la preponderancia de los rasgos infantiles sobre los maduros. La impulsividad, los instintos, dominan a la reflexión; el placer a corto plazo a la búsqueda del horizonte. Los derechos, o privilegios, imperan sobre los denostados deberes, esas pesadas obligaciones de un adulto. La inclinación a la protesta, al pataleo, domina a la auto superación. Y la imagen se antepone al mérito y el esfuerzo.

El creciente infantilismo fomenta la difusión de miedos, esos temores inventados o exagerados que generan los reflejos distorsionados de la calle en la oscuridad de la habitación. Surge una “sociedad del pánico“, tremendamente conservadora, que en el cambio ve peligros, no oportunidades. Una colectividad asustadiza, víctima fácil del terrorismo internacional. Jamás fue el mundo tan seguro como en el presente; pero nunca el ciudadano medio vivió tan aterrado. Ni el intelectual tan temeroso de escribir lo que ocurre.

Vivimos en una sociedad bastante cobarde, insegura, que se asusta de su sombra, de lo que come o respira, que siente pánico ante noticias que, por definición, no son más que excepciones. Prueba de ello es la creciente atracción por el milenarismo: igual que en la Edad Media, los predicadores del Apocalipsis ejercen una singular fascinación, aunque sólo pretendan llenarse los bolsillos.
El populismo, culminación de la infantilización


Muchos olvidan que la madurez consiste básicamente en la adquisición de juicio para distinguir el bien del mal, la formación de los propios principios y, sobre todo, la disposición a aceptar responsabilidades. Y que los dirigentes han contribuido con todas sus fuerzas a diluir o difuminar la responsabilidad individual. A sumir al ciudadano poco avisado en una adolescencia permanente. El Estado paternalista aseguró al súbdito que resolvería hasta la más mínima de sus dificultades a cambio de renunciar al pensamiento crítico, de delegar en los dirigentes todas las decisiones. Fue la promesa de una interminable infancia despreocupada y feliz.
La mentalidad infantil encaja muy bien en la sociedad compuesta por grupos de intereses, que tan magistralmente describió Mancur Olson. Unas facciones que actúan como pandillas de adolescentes en entornos donde escasea la responsabilidad, donde el grito, la pataleta, el alboroto, son vías mucho más eficaces para conseguir ventajas que el mérito y el esfuerzo. Un marco donde predomina quien más vocifera, “reivindica”, apabulla. O el que tiene más amigos, mejores contactos e influencias. Raramente quién aporta razones más profundas. (...)"

Juan M. Blanco

quarta-feira, agosto 28, 2019

A MULHER JOVEM...



UM JOGO DE PODER DOENTIO que as mulheres também sustentam...


"A Juventude (das mulheres) foi, portanto, instituída pela nossa sociedade como um totem, e muito mais: um emblema da virilidade dos homens. Quanto mais jovem e bonita for a mulher com que se exibem, mais os homens se encontram confirmados na sua virilidade. Diz-se que ele " conseguiu o grande prémio ", ou melhor, um " Belo lote ", que ele se portou bem, que ele " conseguiu ".

E sê-lo pelo seu achado, com grandes reforços de murros amigáveis e reflexões de colegial. A mulher jovem é o equivalente um carro de sport, de um relógio de luxo, de um cartão Gold, tantas extensões visíveis de uma masculinidade que precisa parecer para existir.

(A mulher )Não existe como ser humano: só a sua juventude, a sua "frescura" lhe conferem uma existência. É coisificada, definida apenas por esta característica volátil que é a sua idade.
Mas não nos iludamos: não se trata apenas de uma questão de atracção física. Muitos homens também estão entusiasmados com as possibilidades de dominação que lhe é oferecida por este tipo de relação. Se todas as relações em que o homem é mais velho do que a mulher não são, evidentemente, abusivas nem carregadas de paternalismo, este tipo de configuração pode rapidamente transformar-se num jogo de poder doentio. Com efeito, é fácil, quando se detém o poder económico e cultural no seu casal, abusar dele.
Como disse no meu anterior artigo, o patriarcado mentaliza os homens de que a vulnerabilidade das mulheres era desejável, uma vez que lhes permite envergar as roupas do Salvador e, assim, pôr em evidência a sua "virilidade" porque eles as têm. Crescemos numa sociedade sexista, onde muitos homens têm dificuldade em conceber relações amorosas sem essa ideia de poder, de ascendência, sem este esquema binário e estereotipado do homem forte que vem ao socorro da mulher sem defesas. Isso não é necessariamente consciente; estes modelos de casal fazem parte da psique colectiva há séculos." (Combatentes contra o patriarcado)



"A IGUALDADE"...


"Infelizmente a mulher deixou de ser preparada para a vida por outras mulheres e passou a ser preparada igual os homens... como em um sistema de produção automatizado.
Visando os mesmos 'ideais'... Talvez ilusórios de dinheiro, conhecimento, fama, carreira e prestígio... Esquecendo suas raízes ligadas à terra, a família, o lar, a intuição... Deixando o terreno livre para posseiros à tratarem-nas como histéricas, etc... com a modernidade o surgimento de varias mazelas psíquicas, sempre interpretadas do ponto de vista racional e lógico, nos campos acadêmicos masculinos. Toda a filosofia feminina queimada, banida e esquecida... Hoje os homens estão à dominar esses espaços ditos antes só femininos..., ...os conhecimentos milenares que eram de posse das somente das mulheres agora servem para homens prevaricarem em busca de dinheiro e poder... Se acham que a caças as bruxas acabou.... Enganam-se, ela só é velada..." "Antes bastava uma palavra para validar seu caráter... Hoje o que vale é um papel assinado... E AUTENTICADO..."

Michelle Queiroz (in facebook) 




SENHORA DAS ÁGUAS



Oh Deusa das águas, tens dentro de ti a seiva que dá vida.
Alimentas-nos com ela, como as mães dão o peito...

O teu seio inesgotável, Sarasvati, que flui como o alimento de vida
e que tu usas para nos nutrir, com tudo o que possamos desejar,
dá-se-nos sem que receeis perder o teu incomensurável tesouro...

*Rig Veda - UPANISHADS

domingo, agosto 25, 2019

QUE MULHER É A MULHER?




UM CISMA QUE BANIU METADE DA HUMANIDADE


AS  mulheres não têm ainda VONTADE nem voz própria...nunca a tiveram nos tempos modernos, nem têm ainda consciência delas próprias como um todo ou da parte de si de que foram amputadas! Elas repetem o que os grandes homens, filósofos ou ideólogos (da direita ou da esquerda) lhes dizem para dizer. Ou repetem o que os seus professores, ensaístas, sexólogos, médicos, antropólogos, romancistas, lhes quiseram dizer como de si forjando e formatando uma mulher irreal ... todos a retrataram como quiseram segundo as suas ideias projecções ou os seus caprichos e as suas frustrações. Desde o místico Santo Agostinho que odiava as mulheres a Flaubert com a sua famosa frase: "Madame Bovary c'est moi"... ou o pintor que a pinta, tendo como modelo um homem... todos os homens dividem a mulher em duas a amante e a esposa, a casta e a devassa...

Assim os homens pintam e falam da mulher que não são e as mulheres por sua vez não conhecem a sua natureza própria, não se sabem interiormente na sua completude e aceitam dividirem-se em vários estereótipos sempre em busca de agradar ou corresponder ao modelo que o homem exige dela. A mulher desviou-se da sua feminilidade essencial, da sua natureza intrínseca, que é fazer instintivamente a síntese entre a razão e a emoção, entre o pensamento e a intuição, porque esta foi-lhe cortada ao ser condenada ao descrédito por Apolo. Primeiro, dentro da mitologia grego ou romana, ela  foi calada - condenada ao descrédito  por Apolo - o deus que lhe roubou a voz do útero e o dom do oráculo e depois amputada de metade de si mesma pela ordem de Roma em nome de Cristo, ao ser dividida entre a santa e a prostituta...entre a virgem imaculada  e a pecadora (arrependida) Maria Madalena. E divisão prende-se com outra versão mais antiga do Genese e do Corão entre Eva e Lilith para posteriormente ser reforçado pela  cisma cristão que  condenou  todas mulheres a uma cisão interior que as dividiu psiquicamente e tem ainda hoje um efeito devastador no plano emocional e na psique feminina em geral!
(escrito em 2006)
rlp


ENTRETANTO, AS CONQUISTAS DAS FEMINISTAS foram praticamente as conquistas das mulheres brancas classe média...mulheres mais cultas ou favorecidas económica e socialmente, mas   
elas não quiserem o erro de base que foi afinal essas conquistas terem sido conseguidas pela  sua cumplicidade com o Sistema… e dentro do sistema… o que mais tarde ou mais cedo falharia.

Há um " estudo que faz lembrar a tese da filósofa feminista americana Nancy Fraser, que, numa conferência dada em junho a EHESS (escola de altos estudos em ciências sociais), explicou que o progressismo feminista, nos últimos anos, tinha feito avançar muito a causa das mulheres brancas e das mulheres das classes médias e superiores, mas deixou a beira da estrada a causa das mulheres negras e não-brancas, que são frequentemente as mais pobres e as de classes populares.

Pior, explica Nancy Fraser, as feministas, vendo no trabalho um meio de emancipação, tornaram-se aliadas ao capitalismo e aceitaram, para que muitas mulheres pudessem ter acesso a cargos de responsabilidade e a subir os degraus, ma delegando às mulheres pobres as tarefas domésticas de cuidar das crianças que elas não podiam mais educar ou assumir. Elas foram amplamente encorajado à ascensão das mulheres brancas das classe mais abastadas, sem se preocupar minimamente com as consequências para as mulheres pobres, e geralmente as não-brancas."

NO PRINCIPIO ERA A MÃE...



QUE FILOSOFIA


"A filosofia é uma forma de reprodução entre homens, evitando a matriz feminina, por fascinação mútua, de geração em geração. Falta inventar uma filosofia que não corte a palavra a ninguém, que convide finalmente as mulheres para o banquete – que será então muito mais rico do que este 'buffet' seco e frio que propõe o clube de fumadores de charutos da Sorbonne." Falta, sobretudo, ler o que elas escreveram e escrevem – a sós, e sem "buffet".

( Citado por Inês Pedrosa - in expresso 2007)


O PRINCIPIO DA EXPLOSÃO

"Toda a nossa Física actual está baseada no princípio da expansão e da explosão, resultado duma perspectiva masculina, fálica, em relação ao universo. As nossas tecnologias mais avançadas, os engenheiros mais à frente, as pessoas que mais respeitamos na comunidade científica são aquelas que criam imensos cilindros fálicos, os enchem de combustível altamente explosivo, colocam uma cápsula na ponta, procuram voluntários, lançam fogo à base e lá vão eles céu acima, e algumas milhas depois… puf… a cápsula é ejaculada para o espaço… ver se com sorte sobrevivem… Pomos combustível no carro, puxamos do pistão e lá vai ele… Tudo se baseia no princípio da explosão… Mas como é que o lado explosivo da criação funciona sem centropia, se não existe movimento para o centro, se não há compressão?…"   Nassim Haramein

in Unified Field Theory/Theory of Everything


É PRECISO LEMBRAR QUE...

..."o Cristianismo é uma religião do mistério pai-filho, os Mistérios Euleusianos mãe-filha tratavam da morte e regresso - como ressurreição, renascimento ou reunião - e de certo modo, o iniciado podia, então, compartilhar o destino da deidade que ultrapassara o reino dos mortos."

Jean S. Bolen

segunda-feira, agosto 19, 2019

UM BREVE RETRATO SOCIAL



A FAMÍLIA REAL

A psicologia é um trabalho por suposto com o nosso inconsciente...com as nossas sombras...com os nossos traumas fobias, medos e complexos e eles estão quase todos ligados à Mãe...ao nascer e ao amparo que tivemos e não tivemos em crianças. Tem a ver com a forma como fomos recebidos a nascença... No entanto nascemos como que por acaso, queridos ou enjeitados e somos uma espécie de abortos neste mundo quantificado e alienado onde nem a mãe nem o pai são conscientes da dimensão anímica dos seres nem do que representa o nascer ou da responsabilidade de ter filhos. Eles não passam de seres por sua vez igualmente marcados pela ignorância dos seus pais e que tentam corresponder de geração em geração a padrões de existência em que o ser humano não conta senão em função do dinheiro ou de uma importância social qualquer, se são ricos remediados ou pobres ou miseráveis. Crescemos assim, de pais ignorantes aprumados com o Sistema de valores em vigor, com crenças ou credos e de mães sem essa essência feminina nem consciência de si como mulheres, verbos de encher, literalmente. Tudo começa aqui.
Há um Deus Pai todo poderoso e estupido que a religião impingiu à humanidade para a dominar e controlar e que criou seres incapazes de sentir e pensar de acordo com a sua humanidade profunda que hoje desconhecemos. Eis um pequeno quadro pagão da nossa miséria civilizacional. Somos filhos de gente cheias de complexos, doentes e cuja crenças e formas de pensar precária nos condicionou a fazer as coisas "certas" pelo padrão medíocre familiar politico e social . Feudos e famílias "imperiais", aristocráticas e burguesas onde a riqueza nome e herança como comercio faz das relações todas obediência e mercantilismo, e chegamos a idade adulta e tudo isso se desmorona ou não.
E afinal o que somos nós dentro deste manicómio que é o mundo? Seres convencidos e arrogantes ou seres perdidos em busca de um caminho...
Precisamos pois voltar ao principio e procurar em nós a essência do ser em vez de nos perdermos na selva das ideias e dos credos que nos impingiram as famílias e o estado ou as escolas e universidades. Vivemos num mundo de escravos e somos escravos do trabalho e do dinheiro...enfim...TEMOS DE SAIR DELE...e isso só cada um(a) por si...dentro de si o poderá fazer. Encontrar a nossa MÃE é vital porque é encontrar a nossa origem perdida, a linha matrilinear e aceder a um saber ancestral...e por isso é visceral e humano e diz respeito a esta Terra! Quem não respeita a Mãe, não respeita Terra, não respeita a Mulher!
rlp

sábado, agosto 17, 2019

AS PALAVRAS DAS MULHERES



"Os homens reagem com frequência às palavras das mulheres - verbalizando e escrevendo - como se fossem actos de violência; às vezes os homens reagem às palavras das mulheres com violência. E por isso nós reduzimos a nossa voz. As mulheres sussurram. As mulheres pedem desculpa e justificam-se. As mulheres relativizam o que sabem. As mulheres diminuem-se. As mulheres recuam. A maioria das mulheres experienciou alguma influência masculina - hegemonia, violência, insulto, desprezo - para saber que nenhuma ameaça é em vão."  - Andrea Dworkin

A MULHER

“A mulher afirma-se pela fala, tem uma capacidade de verbalização característica, tanto pela positiva, como pela negativa. Como o homem sabe disso, manda-a calar. O falar parece ser, às vezes, uma substituição do pensar, mas não: trata-se da expressão de um pensamento. Há um pensar que leva a agir, um pensar que leva a falar, um pensar que leva ...ao silêncio. Esse é o pensar profundo que se transforma em acto e obra. A tagarelice é o pensar que não assentou.
A tradição obrigou a mulher a ficar dentro de uma caixa de vidro na qual era visível, mas não audível. Então ela falou desesperadamente, mas sem qualquer efeito. Quando partiu essa prisão de vidro, a sua voz transformou-se num acto revolucionário. A mulher moderna é o efeito dessa explosão, da saída da clausura que é a casa, a família, a beleza obrigatória. Quando toma a palavra, rompe essa teia que a envolvia numa rede de silêncio e de idealização. A mulher não é a Eva, representativa da origem do mal da humanidade, nem a figura platónica que o petrarquismo elevou a ídolo."
- ANA HATHERLY

segunda-feira, agosto 12, 2019

AS PESSOAS BONITAS





“As pessoas mais bonitas que conhecemos são aquelas que estão familiarizadas com a derrota, com o sofrimento, com a luta, com a perda, e que encontraram o seu caminho de volta desde as profundezas. Estas pessoas têm uma apreciação, uma sensibilidade, e uma compreensão sobre a vida que as enche de compaixão, de ternura, e um carinhoso interesse pelos outros. As pessoas bonitas não o são por acaso”.

Elizabeth Kubler-Ross

ASA NO ESPAÇO



Asa no espaço

Asa no espaço, vai, pensamento!
Na noite azul, minha alma flutua!
Quero voar nos braços do vento,
Quero vogar nos braços da Lua!


Vai, minha alma, branco veleiro,
vai sem destino, a bússola tonta...
Por oceanos de nevoeiro
corre o impossível, de ponta a ponta.

Quebra a gaiola, pássaro louco!
Não mais fronteiras, foge de mim,
que a terra é curta, que o mar é pouco,
que tudo é perto, princípio e fim.

Castelos fluídos, jardins de espuma,
ilhas de gelo, névoas, cristais,
palácios de ondas, terras de bruma,
... Asa, mais alto, mais alto, mais!
 

Fernanda de Castro

O que é ser mulher?


Afinal o que é ser mulher? Sabem as mulheres o que é isso?

Sim "Mulheres que falam do feminino, mas não entendem o que é o feminino. Mulheres que conversam sobre o feminino, mas não compreendem o feminino. Mulheres que dançam as danças do feminino, mas não sabem lidar com o feminino." -  Wofiira Morrigan


PRECISAMOS DE ACORDAR E TER DISCERNIMENTO

Penso que estamos a entrar num impasse espiritual ...ou numa transição qualquer que mais parece uma psicose colectiva e diante de uma grave crise de identidade humana global: para mim as mulheres não entenderam ainda qual o seu lugar dentro da espiritualidade... A razão é simples, elas ainda não sabem quem verdadeiramente são do ponto de vista ontológico e sagrado...

Pessoalmente há muito que estou com uma espécie de alergia a este discurso "espiritual" da new age, assim como a tudo o que se escreve e diz de forma superficial sobre este movimento mas também pela abordagem que uma boa parte dos grupos de mulheres fazem da Deusa ou do dito "feminino sagrado". Assiste-se a uma banalização sem sentido e sem qualquer profundidade naquilo que as mulheres supostamente dizem em nome da Deusa e no que andam a fazer por ai; a grande maioria delas apenas o fazem em beneficio próprio, sem qualquer consciência de si nem da sua história, a explorar os círculos mistos e a difundir crenças numa afirmação egocêntrica e para se afirmarem a si mesmas como lideres ou a manipularem emoções e os medos das outras mulheres. Estou diria mesmo assustada com a superficialidade e o uso e abuso de uma linguagem usada para angariar pessoas e fundos, pessoas carentes e doentes, utilizada por gente narcísica e exibicionista, que se serve dessas terapias e práticas e falam em nome da Deusa para apenas se mostrarem elas mesmas "deusas"... atraírem a atenção ou ganhar protagonismo...

Mas pior do que isso, e antes das mulheres saberem o que é ser mulher em si, é a inclusão nos círculos femininos de homens e em nome do "masculino sagrado" e dos seus representantes, que bem se aproveitam disso fazendo com que as mulheres se desviam do seu propósito de se conhecerem a si mesmas e à Deusa, focando-se no par - em busca do encontro amoroso - e esses homens são adulados pelas mulheres numa bela e primária projecção do homem ideal e caindo assim no velho mito romântico, agora explorado como sendo não o cavaleiro ou o "príncipe" que a vem salvar, mas o "homem sagrado", "feminino e sensível", que ama a deusa e a natureza e lhes oferece poeticamente os seus abraços protectores…
Tendo em conta a frágil formação da psique cindida da mulher dentro da nossa cultura essas práticas tornam as mulheres aculturadas e sem nenhuma consciência psicológica de si mesmas enquanto mulheres em si. Face a gravidade de toda esta aculturação e desvio da nossa realidade, toda esta cena agora mais me parece de facto uma alienação da mulher do que um acréscimo para a sua evolução de consciência.
Nenhuma mulher pode conhecer a Deusa sem primeiro ser Mulher, saber que Mulher é... Não podemos esquecer que a mulher foi dividida em duas e completamente anulada na sua natureza telúrica e ctónica e vai levar algum tempos a resgatar a sua verdadeira identidade. O Sagrado é uma reconquista do Ser Mulher em toda sua plenitude e não uma mera ideia baseada em práticas antigas; o sagrado não se conquista ou atinge por se mudar de visual ou pela maneira de se vestir… como andar toda de branco e colocar grinaldas na cabeça!
Precisamos de facto de uma Nova Consciência de um Feminino integral e Ontológico, mas não deste "sagrado" consumista e que repete os padrões do patriarcado e das religiões patristas em geral, onde a mulher continua a servir o homem e seu deus menor ou a comunidade e a anular-se na sua essência e vitalidade, uma mulher sem magnetismo nem liberdade de ser solitária e viver a sua totalidade. Para mim só essa totalidade pode revelar a mulher a sua verdadeira essência e unir as duas mulheres separadas pelo patrairado. Só essa mulher pode ser consagrada pela Deusa. Ela é independente de tudo e cheia em si mesma. Não é o filho nem o homem que lhe dão significado!

Também proliferam nestes meios supostos mestres que se auto-proclamam guias iluminados. São em geral lideres com algum carisma e um discurso persuasivo baseado em escrituras hindus e outras e que induzem as mulheres a cultos e práticas de meditação e mantras. Ou então temos outros sábios (bem machistas esses) ditos Xamãs que induzem a práticas xamânicas, e são eloquentes quanto ao papel da mulher, e que nada tem a ver com a cultura e tradição ocidental, o que cria a curto prazo grandes desfasamentos e desiquibrios emocionais e psíquicos nas mulheres ocidentais.

As mulheres mais carentes e em crise de idade ou sem grande estabilidade emocional deixam-se levar por esses gurus que as atraem a centros com altares floridos e cheios de imagens alegóricas a deuses e onde se reúnem e dançam e cantam e toda a gente se põe à mercê ou aos pés dos ditos homens santos, angariadores de fundos e de fortunas em países de 3º mundo... e também na Europa, como aqui em Portugal… Isso acontece porém em todos os lados, onde existe não só a manipulação "espiritual" de mulheres, por parte dos lideres, como sedução e abuso...Eles vão da anulação da mulher à violação e tudo em nome do amor...do Tantra ou de Deus e implica a entrega e submissão das mesmas.

 Tendo em conta a frágil formação da psique cindida da mulher dentro da nossa cultura essas práticas tornam as mulheres aculturadas e sem nenhuma consciência psicológica de si mesmas enquanto mulheres em si. Face a gravidade de toda esta aculturação e desvio da nossa realidade, toda esta cena agora mais me parece de facto uma alienação da mulher do que um acréscimo para a sua evolução de consciência.
Nenhuma mulher pode conhecer a Deusa sem primeiro ser Mulher, saber que Mulher é... Não podemos esquecer que a mulher foi dividida em duas e completamente anulada na sua natureza telúrica e ctónica e vai levar algum tempos a resgatar a sua verdadeira identidade. O Sagrado é uma reconquista do Ser Mulher em toda sua plenitude e não uma mera ideia baseada em práticas antigas ou práticas; o sagrado não se conquista ou atinge por se mudar de visual ou pela maneira de se vestir… como andar toda de branco e colocar grinaldas na cabeça!

Precisamos de facto de uma Nova Consciência de um Feminino integral e Ontológico, mas não deste "sagrado" consumista e que repete os padrões do patriarcado e das religiões patristas em geral, onde a mulher continua a servir o homem esse  deus menor ou a comunidade e a anular-se na sua essência e vitalidade, uma mulher sem magnetismo nem liberdade de ser solitária e viver a sua totalidade. Para mim só essa totalidade pode revelar à mulher a sua verdadeira essência e unir as duas mulheres separadas pelo patriarcado. Só essa mulher pode ser consagrada pela Deusa. Ela é independente de tudo e cheia em si mesma. Não é o filho nem o homem que lhe dão significado!

rlp

TODA ESTA QUESTÃO PRENDE-SE COM ALGUMAS PERGUNTAS DE UM TEXTO JÁ PUBLICADO ANTERIORMENTE:

"Mas, afinal, o que é o Sagrado Feminino?

De acordo com Isabela Serafim, em uma matéria pra a revista Glamour, o Sagrado Feminino é considerado tanto uma filosofia quanto um estilo de vida, ao promover ensinamentos a respeito de aspectos físicos e mentais da figura feminina. Alguns desses aspectos abarca a consciência dos ciclos femininos, propiciando a reconexão da mulher consigo mesma e a harmonização dos próprios ciclos com a natureza.

O Sagrado Feminino tornou-se, então, o nome de um movimento de mulheres buscando um contato consigo mesmas, após anos de marginalização de todos os tipos, e em especial dentro da própria noção de divino. Uma nobre missão para um movimento que carrega em si praticamente toda a História da humanidade, inspirando respeito e admiração em quem a procura conhecer.
No entanto, o movimento do Sagrado Feminino sucumbiu ao status quo que as primeiras líderes femininas combatiam com tanto rigor: o feminino sagrado foi retirado de uma perspectiva do mítico para revelar-se apenas no místico: as Deusas, mitos, lendas, contos acabaram se tornando uma “temática” para a abordagem de assuntos relacionados ao feminino, em uma perspectiva de orientadoras que conduzem outras mulheres na descoberta de si mesmas, em cursos, vídeos no YouTube, textos em blogs, etc, etc, mas pouco fez pela retomada da força da mulher.
E antes que eu seja mal-interpretada, explico
: todas as lendas e mitos antigos indicavam um caminho para o aprendizado. O conhecimento apenas seria adquirido com muito esforço e afinco, com muita observação e dedicação, por isso todos os simbolismos e metáforas. Nada nunca era dado de mão beijada. Hoje, no entanto, mulheres (e homens também) consomem um conhecimento mastigado e dividido em “módulos”, e não se preocupam em refletir sobre o que está sendo ensinado. Não há mais a jornada do herói – ou da heroína. Não há mais o processo iniciático, não num sentido de dogmas ou rituais, mas enquanto uma jornada necessária para a ascensão, e que requer uma ação voluntária.

Vemos claramente essa jornada na questão do masculino, mas não adotamos essa mesma perspectiva quando falamos da força do feminino. Mulheres guerreiras, autônomas, que pensam e falam por si ainda são muito rotuladas e, geralmente, esse comportamento fica de fora das rodas e cursos do movimento do Sagrado Feminino. Mulheres falam do feminino, mas não entendem o que é o feminino. Mulheres conversam sobre o feminino, mas não compreendem o feminino. Mulheres dançam as danças do feminino, mas não sabem lidar com o feminino.
Mas, enfim, onde está o problema?

Ele é basicamente conceitual, meus caros e caras, e um tanto filosófico. Nós esquecemos o que é ser mulher (ou não aprendemos, ou desaprendemos), pois, assim como as Deusas, também fomos relegadas ao esquecimento por séculos e séculos. E ainda não terminamos de lembrar.


Antes de falarmos em Sagrado Feminino precisamos nos lembrar, primeiro, o que é o Sagrado. E o Sagrado é muito difícil de abarcar… pelo simples fato de que ele é absolutamente TUDO.

Ou aprendemos a fazer a jornada… ou vamos continuar abordando o conhecimento ancestral como um curso de pós-graduação."

sexta-feira, agosto 09, 2019

Afinal o que é o sagrado?



Os nomes do Sagrado 
por Wofiira Morrigan

Esta semana entrei em um processo de reclusão voluntária para participar de um rito iniciático – meu corpo acompanha me dando um “tempo pra pensar” ao adoecer sem motivo aparente – e, entre um pensamento e outro, veio à minha mente o assunto do Sagrado. Em especial, o movimento do Sagrado Feminino.
Antes de chegar ao ponto dos meus pensamentos, permitam-me fazer uma rápida revisão histórica sobre a questão…
Desde meados do século XX houve uma retomada maciça dos preceitos sagrados antigos de povos das mais diversas etnias. Líderes surgiram em várias nações e culturas, trazendo de volta conhecimentos que ficaram esquecidos por milênios. Os panteões dos antigos Deuses, seus mitos e simbolismos foram trazidos novamente à atenção geral, desta vez em uma nova perspectiva, em decorrência da crescente globalização cultural que aos poucos determinaria uma nova ordem para o mundo.
A partir disso, os movimentos do paganismo e do neopaganismo deram início a um novo entendimento de todo um arcabouço de símbolos e práticas de conexão com as divindades ancestrais, ao mesmo tempo em que algumas discordâncias surgiam na busca por esse conhecimento antigo – um grande diamante bruto que precisaria ser novamente lapidado.
***
Uma adenda importante sobre a palavra “pagão” (do latim paganus, que significa “camponês”, “rústico”): adotada pelos cristãos para nomear todos aqueles que, obviamente, não seguiam os preceitos cristãos – mesmo que nem mesmo alguns seguidores do Cristo, ainda hoje, entendam o que isso queira dizer – o termo era usado para rotular todos os que não aceitavam o batismo e não seguiam os dogmas da Igreja. Coloque nesta conta também cientistas, curandeiros, astrólogos, filósofos, e tantos outros que ousaram não seguir os preceitos difundidos pela Igreja, quando não eram simplesmente rotulados de “bruxos”. Todos, quase sem exceção, acabavam entrando nesta categoria única, porém absolutamente heterogênea. Dito isso, é preciso ter em mente que o conceito de paganismo tem um sentido amplo. Grande parte das religiões ligadas à natureza e que não seguem os dogmas do cristianismo são ditas pagãs. Algumas dessas tradições não se identificam com o título generalizado de “paganismo” – o que, no fim das contas, pode não ser apenas uma questão de nomenclatura. O movimento neopagão foi assim chamado por trazer uma perspectiva um pouco diferenciada (e talvez moderna) dos cultos aos Antigos Deuses, ainda que tenham sido preservados os seus simbolismos e mitos. O neopaganismo também conferiu à retomada da sabedoria ancestral certo ar global, na medida em que uniu conceitos, abriu a possibilidade para os panteões “conversarem” entre si, e ao afirmar a existência de um único Deus e uma única Deusa com variadas faces.

Mas isso já é assunto para outro post…

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Toda essa movimentação surtiu um efeito fantástico para desmistificar as antigas religiões, tirando-as do mesmo balaio do diabo cristão da Idade Média para ressurgir nas rodas de discussão filosóficas, acadêmicas e religiosas. A (re)descoberta de Deusas poderosas, sábias e guerreiras propiciou às mulheres o reconhecimento de si mesmas como sagradas, não mais precisando delegar o poder a um sacerdote ou qualquer tipo de intermediário para acessar a divindade. Saíram, enfim, da posição de meras coadjuvantes de uma elite divina que dificilmente as colocaria em pé de igualdade com um Deus Todo Poderoso essencialmente masculino.

A partir disso, líderes femininas (e feministas) em países como os Estados Unidos, Inglaterra, e também no Brasil, começaram a tirar os véus dos mistérios há muito tempo escondidos, relegados aos contos de fadas e aos livros de História. A psicóloga junguiana Clarissa Pinkola Estés (autora de Mulheres que Correm com os Lobos) foi um dos ícones desta força, e sua obra tornou-se quase que a nova “bíblia” da retomada de uma sacralidade feminina que, com certeza, nunca fora esquecida.
Chegamos enfim ao assunto que motivou a escrita deste post: o Sagrado Feminino. Em termos de popularidade, o movimento do Sagrado Feminino pegou o mesmo embalo que o movimento do paganismo e neopaganismo, e do que foi chamado ressurgimento da Deusa – para entender de forma mais ampla sobre as Deusas na História humana, recomendo fortemente a leitura do livro Todos os Nomes da Deusa, do antropólogo (maravilhoso) Joseph Campbell.

Mas, afinal, o que é o Sagrado Feminino?


De acordo com Isabela Serafim, em uma matéria pra a revista Glamour, o Sagrado Feminino é considerado tanto uma filosofia quanto um estilo de vida, ao promover ensinamentos a respeito de aspectos físicos e mentais da figura feminina. Alguns desses aspectos abarca a consciência dos ciclos femininos, propiciando a reconexão da mulher consigo mesma e a harmonização dos próprios ciclos com a natureza.

O Sagrado Feminino tornou-se, então, o nome de um movimento de mulheres buscando um contato consigo mesmas, após anos de marginalização de todos os tipos, e em especial dentro da própria noção de divino. Uma nobre missão para um movimento que carrega em si praticamente toda a História da humanidade, inspirando respeito e admiração em quem a procura conhecer.
No entanto, o movimento do Sagrado Feminino sucumbiu ao status quo que as primeiras líderes femininas combatiam com tanto rigor: o feminino sagrado foi retirado de uma perspectiva do mítico para revelar-se apenas no místico: as Deusas, mitos, lendas, contos acabaram se tornando uma “temática” para a abordagem de assuntos relacionados ao feminino, em uma perspectiva de orientadoras que conduzem outras mulheres na descoberta de si mesmas, em cursos, vídeos no YouTube, textos em blogs, etc, etc, mas pouco fez pela retomada da força da mulher.

E antes que eu seja mal-interpretada, explico: todas as lendas e mitos antigos indicavam um caminho para o aprendizado. O conhecimento apenas seria adquirido com muito esforço e afinco, com muita observação e dedicação, por isso todos os simbolismos e metáforas. Nada nunca era dado de mão beijada. Hoje, no entanto, mulheres (e homens também) consomem um conhecimento mastigado e dividido em “módulos”, e não se preocupam em refletir sobre o que está sendo ensinado. Não há mais a jornada do herói – ou da heroína. Não há mais o processo iniciático, não num sentido de dogmas ou rituais, mas enquanto uma jornada necessária para a ascensão, e que requer uma ação voluntária.

Vemos claramente essa jornada na questão do masculino, mas não adotamos essa mesma perspectiva quando falamos da força do feminino. Mulheres guerreiras, autônomas, que pensam e falam por si ainda são muito rotuladas e, geralmente, esse comportamento fica de fora das rodas e cursos do movimento do Sagrado Feminino. Mulheres falam do feminino, mas não entendem o que é o feminino. Mulheres conversam sobre o feminino, mas não compreendem o feminino. Mulheres dançam as danças do feminino, mas não sabem lidar com o feminino.

Mas, enfim, onde está o problema?

Ele é basicamente conceitual, meus caros e caras, e um tanto filosófico. Nós esquecemos o que é ser mulher (ou não aprendemos, ou desaprendemos), pois, assim como as Deusas, também fomos relegadas ao esquecimento por séculos e séculos. E ainda não terminamos de lembrar.

Antes de falarmos em Sagrado Feminino precisamos nos lembrar, primeiro, o que é o Sagrado. E o Sagrado é muito difícil de abarcar… pelo simples fato de que ele é absolutamente TUDO.

Ou aprendemos a fazer a jornada… ou vamos continuar abordando o conhecimento ancestral como um curso de pós-graduação.

quinta-feira, agosto 08, 2019

UM LUGAR SEGURO...


CIRCULOS FEMININOS

”Quando as mulheres se reúnem e fazem um compromisso umas com as outras para estar em um círculo, com um propósito espiritual, NO SENTIDO DE UNIÃO DE SUAS ALMAS, elas estão criando um vaso de cura e transformação de si mesmas, e sendo veículo para a mudança em seu mundo. Estes são os círculos de compaixão que podem tornar-se incubadoras de mudanças políticas, sociais e pessoais. Um círculo igualitários com um centro sagrado é um modelo mais facilmente criado por mulheres, mas é uma forma não limitada às mulheres. Círculos com um centro sagrado são o meio pelo qual uma terceira onda do feminismo, com base na igualdade espiritual e compaixão, podem provocar uma mudança evolutiva na sociedade humana, que acabaria com a violência e o terrorismo, promovendo condições para um mundo que seja seguro para as crianças e para nós mulheres. Em um mundo onde o exercício do poder é o que importa, as crianças do sexo feminino não são importantes e os meninos são ensinados a dominar uns aos outros, aprendem a prática da dominação através do ridículo, de meios físicos, de intimidação a fim de serem respeitados. São meninos que se transformarão em homens e que entenderão que o poder é um antídoto para o medo e a humilhação. Isto é como o patriarcado socializa seus meninos e homens e os torna violentos. Um círculo de mulheres que confiam umas nas outras torna-se um santuário para as participantes, especialmente quando as mulheres são capazes de falar de experiências nas quais ela foram abusadas, humilhadas ou testemunharam algum tipo de violência. Um lugar seguro para dizer a verdade, é um espaço de cura: uma pessoa abusada emocionalmente tem uma dupla ferida: a dor do que foi feito com ela e a dor da vergonha. Na psique de cada mulher abusada ou violentada além da vergonha existe um sentimento de indignidade e rejeição. Toda vez que uma mulher adquire a coragem de falar e se mostrar segura, a confiança cresce e sua psique gradualmente se cura. Um círculo é um lugar seguro também para expressar a esperança, as intuições, a tristeza e a raiva, que são parte de todo processo terapêutico. A intenção de estar em um círculo com um centro espiritual convida o mundo invisível do espírito ou da alma para estar no centro do círculo e no centro da psique de cada pessoa no círculo. Por meio do silêncio meditativo ou de oração silenciosa, sabedoria e paz podem entrar. 

Nos Círculos as mulheres podem dizer em voz alta o que passa em seus corações e mentes ao mesmo tempo que têm a capacidade de ouvir com compaixão. Círculos evocam um sentimento de irmandade e também um sentimento de estar em um espaço materno arquetípico. Reviver o arquétipo da irmã e o arquétipo da mãe é possível para a maioria das mulheres (mas não todas, porque estes não são os arquétipos ativos em algumas mulheres) para se identificar com outras mulheres. É a capacidade de sentir uma ligação empática que torna as mulheres capazes de imaginar o que seria estar em ambos os lados da divisão israelense-palestino, ou ser uma mulher sob o regime Taliban ou uma criança abandonada e vulnerável. É um ponto de vista que não vê a guerra como algo a ser vencido, mas como uma causa de morte e sofrimento para todos, inocentes, especialmente mulheres e crianças. Um soldado é ensinado a matar, que é também o que um terrorista é ensinado e estas não são lições que as mulheres querem que seus filhos aprendam. Os círculos são os meios pelos quais as mulheres têm melhorado a situação para as mulheres. Nos Estados Unidos, o movimento começou em meados do século XIX, com um círculo de cinco amigas. Encontraram resistência por parte de autoridade masculina. Este movimento resultou no direito das mulheres ao voto, à propriedade e aos seus próprios salários. O avanço seguinte veio através do movimento de mulheres a partir da conscientização e da formação de outros grupos de mulheres que resolveram trabalhar efetivamente juntas. Elas fizeram reivindicações e romperam a resistência à mudança por meios pacíficos. O Movimentos de mulheres é uma rede invisível de amizade entre mulheres e existe graças à capacidade das mulheres de se relacionarem umas com as outras por meio da conversa e, em seguida, ter uma influência sobre os homens e as instituições. Mulheres em círculos trazem consciência do que precisa ser mudado na sociedade. O poder invisível dos círculos de mulheres é extraordinário: Auto-estima, realizações, desenvolvimento de talentos. Tudo isso tem a ver com o fato de que somos ouvidas e valorizadas, amadas por nós mesmas, incentivadas e apoiadas. Quando há apoio psicológico e prático para fazer uma mudança significativa, a mudança é mais provável…"



Jean S. Bolen


A OPRESSÃO DAS MULHERES



"A opressão das mulheres pelos homens é um sistema dinâmico no qual as desigualdades vividas pelas mulheres são os efeitos das vantagens dadas aos homens." - Daniel Welzer-Lang


AS CAUSAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA


Não, não é a droga nem o álcool o factor “catalisador” nem a causa principal da violência doméstica! O álcool e a droga é apenas o desinibidor da violência e frustração masculina de que as entidades oficiais se servem para justificar a sua agressividade sempre latente contra as mulheres.

O álcool é o que remete para público e de forma visível a violência inata do masculino desde há seculos e que hoje o indivíduo sem rédeas sociais e morais mostra o que sente realmente e reflecte sobre a mulher uma “autoridade intemporal” que lhe deram as igrejas e as leis patriarcais - sendo a mulher sua posse enquanto filha e enquanto esposa, ele usa e abusa de sua livre vontade. É sobre a mulher e o feminino que a prepotência inerente à sua condição de macho assume proporções mais drásticas, como é o feminicídio, baseado mais ou menos inconscientemente, no que o homem pensa ser o seu direito e posse da mulher, sua legítima propriedade, tal como lhe foi legado pelo Sistema patriarcal.
Como a sociedade civil começa hoje em dia a ter alguma noção do flagelo que é a morte de mulheres por companheiros e maridos e das suas proporções drásticas em toda a Europa, já não são as prostitutas da rua que são assassinadas e apagadas do mapa, mas as mães de família, isso torna demasiado claro como o homem comum se tornou o predador da mulher.
Perante tantas evidências é possível que ao nível das aparências o Sistema queira camuflar essa violência e estes crimes com eufemismos e a negar que esta realidade possa atingir proporções dramáticas. Por isso não creio que as mulheres possam contar com o apoio dos homens...mesmo ao nível das instituições mais idódeas...
Só as mulheres poderão mudar as suas vidas, cada uma por si, consciencializando-se da sua escravatura e submissão.
rlp

quarta-feira, agosto 07, 2019

JOUMANA HADDAD EM LISBOA


Joumana Haddad - LER AQUI TEXTO INTEGRAL


EXCERTO DA ENTREVISTA
(...)
Como vê a situação das mulheres no mundo árabe? Porque há diferenças, não são todas tratadas da mesma forma nos diversos países. Onde é que a pressão é maior, como é no Líbano, onde as coisas são menos rígidas? [mais uma pergunta da assistência, outra vez de um homem]
Sei que pela aparência pode parecer que as mulheres no Líbano gozam de uma liberdade que outras mulheres, noutros países árabes, não têm. Mas é preciso dizer duas coisas: em primeiro lugar, é apenas aparência, porque as leis do Líbano são muito sexistas, são muito discriminatórias em relação à mulher - somos cidadãos de segunda - e, em segundo lugar, se há mulheres emancipadas, quer dizer, que parecem emancipadas, elas não são mais do que talvez 20% a 30%, pelo que não devemos generalizar. Pessoalmente, penso que as mulheres na Tunísia gozam de muito mais respeito e dignidade do que as mulheres libanesas, porque tiveram a lei do seu lado desde 1950/60, quando tiveram a oportunidade de ter um bom ditador, entre aspas, Habib Bourguiba, que era um feminista, e que deu às mulheres todos os seus direitos, até mais, o que fez com que, geração após geração, um mundo onde faltar aos direitos das mulheres seria impensável. E foi por isso, por exemplo, que quando os islamitas na Tunísia se preparavam para retomar os seus direitos, não conseguiram, porque as mulheres tinham expectativas de liberdade, de poder. Elas levaram cinquenta anos a acumular força. Isso nunca aconteceu entre nós, onde as mulheres se contentaram com poder vestir-se como querem, ir dançar... indícios de liberdade superficiais. Nunca tivemos acesso ao Estado ou aos nossos direitos nem a nossa identidade foi respeitada.

As mulheres, supostamente emancipadas em Itália e noutros países europeus, cedem todos os dias ao consumismo e ao poder da publicidade graças a um ideal de beleza que dita que as mulheres têm de ser belas, além de tudo o resto. O que pensa disto? [a pergunta, claro, é feita por uma italiana, Giuseppina]

A Giuseppina, para os que não perceberam, pergunta-me, mas já deu a resposta, o que penso da mulher que é vista como um objecto, um naco de carne, a mulher que tem de ser bela. Para explicar este modelo de mulher digo muitas vezes esta frase, que sei que é provocadora: ou bem que é necessário esconder-se completamente ou bem que é necessário expor-se de mais. Para mim não é contraditório, vai dar ao mesmo. É uma anulação da mulher, digamos assim. Anulamos a sua existência quando a escondemos ou quando a reduzimos a um objecto de contemplação, em ambos os casos ela não tem sequer o direito de respirar. Mas também não devemos esquecer que as mulheres têm a sua quota parte de responsabilidade por aceitar este tratamento. Falo com feministas ocidentais e digo-lhes: não deixem perder aquilo que ganharam nos anos 60 e 70, porque se paramos de lutar, voltamos para trás.

[E, por falar em Itália, Joumana lembra-se de outro grave problema]

Outro grande problema, que existe tanto em Itália como em Espanha [José Mário e a planteia logo fazem notar que é comum a Portugal] é o femicídio. A matança de mulheres, toda esta violência sobre as mulheres, é muito perigosa. O que vou dizer está longe de retratar essa gravidade, mas vou contá-lo. Certo dia, uma mulher sueca escreveu-me a dizer: "Não temos o mesmo salário que os homens, apesar de desempenharmos as mesmas funções". Estamos a falar de um país que consideramos ideal em matéria de direitos das mulheres, digamos assim. Ainda é preciso trabalhar muito em termos de justiça, de igualdade. Porque trata-se de justiça. Se faço o mesmo trabalho, se tenho as mesmas competências, é suposto receber o mesmo salário, ser paga da mesma forma, independentemente de ser homem ou mulher. E é preciso não esquecer que a Itália é um pouco especial, porque tem uma certa relação com a religião e uma proximidade com o Vaticano... E todos sabemos que o catolicismo não é muito gentil com as mulheres [risos].

A TRAIÇÃO



REFLEXÕES...

A traição é a maior dor que existe no campo dos afectos - é ela que mais nos fere e marca, tenhamos que idade tivermos, seja a que nível for que ela aconteça. Ela atinge-nos no amago. 
E às vezes nós sentimo-la e nem sequer sabemos onde ela se deu...nem quem nos traiu...Outras vezes nem a pessoa que nos traiu sabe que nos traiu, mas é sempre uma punhalada. Valha-nos a certeza de que "quem com ferros mata com ferros morre"...a vida é implacável sempre, digo impecável... Podemos dormir descansad@s...além de que vamos morrer tod@s um dia e tudo se esquece. Nada é eterno senão a alma e esta é intocável pela miséria humana.

rlp

A FALSA LIBERDADE DAS MULHERES



A falsa liberdade das mulheres - não tem substância...porque as mulheres perderam há muito a sua ligação com ela. AS mulheres perderam a sua ligação com a mulher real, a mulher ctónica e visceral, a mulher interior. A mulher que se quis tornar igual ao homem perdeu não só a sua natureza profunda, a sua feminilidade essencial, assim como perdeu as suas referências matriarcais e matrilineares e toda a Mistica da Mulher ancestral, a mulher do inicio, não a mulher reduzida a escrava e a concubina a esposa e meretriz, depois das invasões bárbaras e cujo modelo ainda hoje perdura no Sistema patraircal. 
As mulheres modernas pensaram que tinham tudo do ponto de vista material para ter sucesso no mundo dos homens, se assim fizessem, se lutassem pela igualdade ou liberdade, mas ao fim de várias décadas de teorias e ideologias as mulheres, apesar de profissionais e terem atingido lugares de topo nas universidades e formarem-se em todas as carreiras iguais aos homens, mas  em casa e na família ou na rua elas continuam a ser abusadas e exploradas e violadas - mas elas não querem ver que houve um retrocesso e que  voltaram a uma situação de perseguição e abuso. A sua exposição inocente como foi pensarem que podiam despir-se e ousar todas essas liberdades foi a causa de uma maior ofensiva e violência contra as mulheres porque elas partiram de um  ponto de vista errado. A liberdade da mulher não se baseia na igualdade com o homem, mas justamente na sua diferença física e biológica e na afirmação do seu ser enquanto mulher sensual sensível e emotiva e no resgate da sua natureza ontológica. Por isso digo que as mulheres nunca foram livres no patriarcado. 

Não, as mulheres não são livres neste mundo...toda a mulher que se julga "livre" e age "sem medo" acaba por sofrer atentados à sua honra dignidade e integridade. Ela sofre de assédio no trabalho na rua e onde quer que esteja. As mulheres modernas e as feministas convenceram-se à força de ideias e teorias de que o mundo as aceitava livres mas essa liberdade além de falsa é hoje um pau de dois bicos. Vira-se sempre contra si...se ela não tiver em conta a realidade que a circunda e como os homens nunca fizeram um trabalho paralelo - nem sequer estão interessados nisso - para que elas pudessem ser respeitadas na sua liberdade tão apregoada. Olhemos para França, o País da grande liberdade das mulheres, é onde hoje em dias mais mulheres são mortas diariamente pelos companheiros…
Trata-se agora e mais do que nunca urgente que a mulher perceba como essa liberdade se tornou uma espécie de ratoeira onde ela é apanhada facilmente.
A mulher tem de perceber que a sua liberdade está na sua Consciência de si...a saber como agir sem se expor ao predador… ela tem de seguir o seu sentir e instintos e não a moda nem as ideologias de género ou quaisquer "ismos" (feminismos e activismos) que dizem defendê-la...
A liberdade da mulher dentro do Sistema patriarcal e falocrático nunca foi garantida, nunca será garantida, a não ser a que a mulher busque a sua verdadeira identidade - em contacto com a sua substância, digo a sua essência - caso contrário ela continuará a ser sempre o bode expiatório do macho predador. Basta olhar em volta e perceber que cada dia que passa essa liberdade está mais em risco...
rlp



UMA ÁRABE EM PORTUGUÊS…


Diz ele diz ela*

As mulheres têm de cozinhar, diz ele.
A única coisa que cozinharei é a tua carne, diz ela.
As mulheres são criaturas do Inferno, diz ele.
Óptimo, foste avisado, diz ela.
Não se pode confiar nas mulheres, diz ele.
Podes agradecer-me depois, diz ela.
As mulheres têm de obedecer aos homens, diz ele.
Então, põe-te de joelhos e ordena-me que me dispa, diz ela.
As mulheres falam de mais, diz ele.
Cala-te e faz amor comigo, diz ela.
As mulheres existem para agradar aos seus amantes, diz ele.
Diz por favor e eu pensarei nisso, diz ela.
As mulheres apaixonam-se facilmente, diz ele.
Lembra-me outra vez o teu nome, diz ela.
As mulheres só sonham em casar-se, diz ele.
Não contenhas a tua respiração, diz ela.
As mulheres não sabem conduzir, diz ele.
Lembra-te disso quando eu te atropelar com o meu carro, diz ela.
As mulheres não se importam com o tamanho, diz ele.
Espero que não estejas a contar com isso, diz ela.
As mulheres devem ser espancadas quando se portam mal, diz ele.
De que é que estás à espera, diz ela.
As mulheres devem ser amarradas, diz ele.
Onde é que está a corda, diz ela.
As mulheres não suportam o sexo casual, diz ele.
Conta essa história a ti mesmo quando eu me for embora amanhã de manhã, diz ela.
Não esperes que eu fique para sempre, diz ele.
Isso é uma promessa?, diz ela


*O poema integra o livro "O Super-Homem é Árabe" e na apresentação foi dito pela autora, Joumana Haddad [ela] e José Mário Silva [ele].

quinta-feira, agosto 01, 2019

ENTRE A TERRA E O CÉU



AS DUAS ÍSIS…

(…)
“A busca da verdade é também a busca do outro. Essa questão toca bem claramente o problema da dualidade masculino/feminino, dia/noite….Quando essa dualidade é dominada, leva a um outro nível de consciência, tal como é expresso na grelha integrada. A mulher – conhecimento/sabedoria – tem um substrato de facto, enquanto o homem precisa partir sem demora em busca de si mesmo. A mulher é para ele uma iniciação ao progresso, um catalisador do futuro. Nesse sentido a mulher parece ter vantagem em relação ao homem.
As duas buscas de Ísis demonstram muitas facetas dessas vantagens. Considerando Osíris como o representante do homem mítico a construir, vemos que ele precisa a toda a hora de ser reconstruído. Os catorze pedaços são catorze centros energéticos e esses mesmos centros foram escolhidos para nomear províncias do Egipto, os nomes. O corpo decepado do deus vivo que se tornará deus morto. É o fio invisível que assegura a continuidade ao longo da alternância vida/morte. É também o símbolo do grão que morre no solo para renascer em outro ser. Cada grão de Osíris estava ligado a uma província do Egipto. Ísis não encontrou o sexo, engolido por um peixe. Não existe província ligada ao sexo. Esse facto evoca outras ideias que encontramos em muitas religiões – reveladas ou não -, a de que o deus fundador foi concebido sem reprodução sexuada. O segundo aspecto está ligado ao facto de que são as mulheres que concebem. As mulheres são MA e o AM. A primeira matéria realizada seria a da mulher.

Existem tipos de fecundação em que podemos questionar qual é o verdadeiro papel do macho. Em certas fêmeas, o espermatozóide só traz um sistema de forças criador, apenas um stresse para o óvulo. Não existiria transmissão de património genético proveniente do macho, enquanto as recombinações genéticas teriam lugar unicamente no material genético proveniente da fêmea. A mulher já tem nela as infrastruturas para criar o ser inteiro. Falta-lhe justamente o impulso criador. Na Bíblia, o episódio da costela de Adão apresenta as coisas de maneira inversa.
Com a linguagem vibratória, a tradução da mulher dá a letra Z. E a constela de Adão seria a letra Z, que significa responsabilidade. Ora, a letra Z pertence ao mundo transcendental. A mulher já é portadora do mundo transcendental (A Virgem maria, Ísis, as virgens negras etc.). O homem, em contacto com a mulher, teria acesso ao germe da iluminação. E o casal alquímico exteriorizaria isso.
(…)
Chegarei mesmo a dizer que, nesta evolução do conhecimento, a mulher leva vantagem, mas não sei se ela sabe disso. Ainda mais que na situação actual ela se choca com o poder do homem. Sejamos claros: constitutivamente não existem relações de superioridade ou de inferioridade entre o homem e a mulher. Tudo depende do contexto sócio-cultural da época considerada cujas consequências extremas se manifestam nas sociedades do tipo patriarcal e matriarcal. O facto principal que se expressa no caso ideal é a complementaridade da infra-estruturas constitutivas de cada um…O resultado no mais alto nível vibratório de tal complementaridade é a fusas integral dos duplos que se traduz por um alargamento prodigioso do campo de consciência do casal alquímico. Trata-se de um verdadeiro processo de transcendência cujas consequências são múltiplas, principalmente transformações profundas e duráveis de cada um dos componentes do casal. Penso mesmo que esse estado ideal e final do casal alquímico, caracterizado pela fusão dos duplos, continua após a morte física. Mas atenção: eu não digo que tal resultado do casal alquímico seja verdadeiramente realizável.” *
(…)
*Etienne Guille
in O homem entre o Céu e a Terra