O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, março 28, 2015

O AMOR É A CHAVE...




O AMOR MÁGICO

As mulheres de hoje são apenas um pálido reflexo das mulheres de outrora…
Por tudo isso não há, na sociedade actual neste mundo globalizado, lugar para o verdadeiro amor e ele é cada vez mais raro. Ninguém sabe o que é o Amor Mágico. Porque as mulheres deixaram de ser mágicas…de ter magia e poder.
Tudo é conectado sexualmente, com baixa sexualidade, em que se confunde genitalidade com sensualidade, mas mesmo a sexualidade mais séria, a dos manuais como o kamasutraa ou o tantra, está cada vez mais longe da sua essência e o que temos cada vez mais é pornografia, sado-masoquismo em vez de erotismo. Não vimos nem pensamos que o amor verdadeiro nunca é só sexual...que é sempre outra coisa mais além, uma corrente de vida, um fluxo de energia, uma ressonância do ser que abrange outro ser à partida; não, não vimos que o amor vem da alma, e que pode e deve expressar-se sexualmente se houver reciprocidade, integridade e respeito humano, seja em que situação for, e tal como dizia Fernando Pessoa, “no amor o sexo é um acidente”, não é factor determinante. Mas as mulheres de hoje e que se pretendem modernas e emancipadas vivem o sexo mesmo sem amor…sem nada...quase sempre…
Hoje em dia ninguém deixa sequer o Amor acontecer, o namoro...o conhecer...do outro/a...antecipam-se as experiências sexuais, só pelo “prazer” do sexo…ou pelo dinheiro…


Publicado in mulheres e deusas - 2012
rlp

sexta-feira, março 27, 2015

Humanidade para lá dos paradigmas...




DUAS GRANDES SENHORAS:
a Humanidade para lá dos paradigmas...

Este beijo cúmplice e terno entre duas mulheres, grandes atrizes brasileiras, protagonistas de uma nova telenovela, Babilónia, levantou grande polémica no Brasil...
 
Por minha parte e como escrevi algures volto a citar - O patriarcado afastou a mulher de toda a interioridade, de toda a afectividade que não fosse ou seja relacionada com o homem e o filho. O pai e o filho! A relação com as outras mulheres seria e é sempre um perigo para esse império do domínio do homem sobre a mulher, a justificar a sua violência e posse. No caso das mulheres homossexuais (ainda que ficção, neste caso) essa violência é extrema e  vê-se a assombrosa e negativa  reacção das mentes machistas, tanto de  homens como de mulheres, que não perdoam esta infração ao domínio e sujeição total da mulher ao homem; pensarem que as mulheres possam viver sem depender de um homem sexualmente ou afectivamente isso assusta tanto o patriarcado e os fanáticos "cristãos", que antes pregam o ódio e preferem ignorar a violência doméstica e os crimes cometidos contra as mulheres... de facto, fora desse quadro tradicional conservador do par amoroso, eles temem tanto a liberdade das mulheres, das mulheres com força e com classe, (como é o caso destas duas atrizes)  que o demonstram claramente  na sua reacção a uma simples telenovela, de forma  violenta e instantânea,  e isso mesmo até da parte das mulheres que se assim se revelam ignorantes e estúpidas, e contra si mesmas reagem.
rlp


Tal como diz  Teresa Pizarro Beleza isto ainda acontece...
 
"Que engraçado, as pessoa continuam convencidas de que o Mundo, aliás, a Humanidade, se divide entre homossexuais e heterossexuais... que ideia tão estranha. Como se a atracção pela BELEZA tivesse sexo. O que a Medicina e a Psiquiatria do século XIX fizeram à mente humana.
Ide ler as leis antigas e depois vinde contar-me dessa divisão... e, já agora, Michel Foucault (História da Sexualidade, I. A Vontade de saber). E Platão, O Banquete... etc.
Desculpem, não me levem a mal, mas esta coisa de trabalhar continuamente na desconstrução do senso comum é muito cansativa. "

ALMA FEMININA E O PRAZER



O PRAZER FEMININO


"El placer sexual femenino, correctamente entendido, no trata solo de sexualidad o solo de placer. Sirve, también, como medio para el autoconocimiento femenino y la esperanza, la creatividad de la mujer y su coraje, el foco de la mujer y su iniciativa, el gozo femenino y su trascendencia; y también, como medio de una sensibilidad que se siente como libertad. Entender la vagina apropiadamente es darse cuenta de que no solo es una extensión del cerebro de la mujer, sino también y esencialmente, parte del alma femenina."

Vagina. A New Biography.
Naomi Wolf

O CORPO DA MULHER



"O corpo é como um planeta Terra. É um país em si mesmo.

 É tão vulnerável ao excesso de construção, à divisão em parcelas, ao esquartejamento excessivo e despoj...ado do seu poder, como qualquer paisagem. A mulher mais selvagem não será facilmente influenciada por esquemas de renovação. Para ela, as questões não se colocam quanto à forma, mas sim como se sentem. Os peitos, com todas as formas que assumem, têm a função de sentir e amamentar. Estão a amamentar? Estão a sentir? São bons peitos.
As ancas são largas por uma razão: encerram um espaço ebúrneo onde irá ter lugar o nascimento de uma nova vida. As ancas de uma mulher são os alicerces da parte superior e inferior do seu corpo; são portões, são uma almofada sumptuosa, são os apoios das mãos no acto de fazer amor,
servem para as crianças se esconderem. As pernas servem para nos levar, às vezes para nos dar impulso, são elas que carregam o nosso peso e nos ajudam a levantarmo-nos, formam a cerca, o laço para envolver o amante. Não podem demais nem de menos. São o que são.
Nos corpos não há 'o que devia ser'. A questão não é o tamanho, nem a forma, nem os anos, ou mesmo ter dois elementos de cada, pois com algumas pessoas isso não acontece. A questão que interessa é: este corpo sente, tem ligação ao prazer, ao coração, à alma, ao que é natural? Sente felicidade e alegria? Consegue, à sua maneira, mover-se, dançar, balançar-se, empurrar? Nada mais interessa."



CLARISSA PINKOLA ESTÉS

In "Mulheres que correm com os lobos"

terça-feira, março 24, 2015

Beijar teus olhos será morrer pela esperança.

 
 
O Amor em Visita
 
Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar.
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas -
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes.
Ele - imagem vertiginosa e alta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.

Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob os dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
- Oh cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.

Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco, cantarei.
E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.

Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
- Então cantarei a exaltante alegria da morte.

Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.
- Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado de silêncio diurno, a noite
imagem pungente
com seu deus esmagado e ascendido.
- Porém, não te esquecem meus corações de sal e de brandura.
Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra - invento para ti a música, a loucura
e o mar.

Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,
a inspiração.
E eu sei que cercaste os pensamentos com mesa e harpa.
Vou para ti com a beleza oculta,
o corpo iluminado pelas luzes longas.
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos
transfiguram-se, tuas mãos descobrem
a sombra da minha face. Agarro tua cabeça
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza.
Inteira, tua vida o deseja. Para mim se erguem
teus olhos de longe. Tu própria me duras em minha velada
beleza.

Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura, não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.

Minha memória perde em sua espuma
o sinal e a vinha.
Plantas, bichos, águas cresceram como religião
sobre a vida - e eu nisso demorei
meu frágil instante. Porém
teu silêncio de fogo e leite repõe a força
maternal, e tudo circula entre teu sopro
e teu amor. As coisas nascem de ti
como as luas nascem dos campos fecundos,
os instantes começam da tua oferenda
como as guitarras tiram seu início da música nocturna.

Mais inocente que as árvores, mais vasta
que a pedra e a morte,
a carne cresce em seu espírito cego e abstracto,
tinge a aurora pobre,
insiste de violência a imobilidade aquática.
E os astros quebram-se em luz
sobre as casas, a cidade arrebata-se,
os bichos erguem seus olhos dementes,
arde a madeira - para que tudo cante
pelo teu poder fechado.
Com minha face cheia de teu espanto e beleza,
eu sei quanto és o íntimo pudor
e a água inicial de outros sentidos.

Começa o tempo onde a mulher começa,
é sua carne que do minuto obscuro e morto
se devolve à luz.
Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras
com uma imagem.
Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito
de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade
uma ideia de pedra e de brancura.
És tu que me aceitas em teu sorriso, que ouves,
que te alimentas de desejos puros.
E une-se ao vento o espírito, rarefaz-se a auréola,
a sombra canta baixo.

Começa o tempo onde a boca se desfaz na lua,
onde a beleza que transportas como um peso árduo
se quebra em glória junto ao meu flanco
martirizado e vivo.
- Para consagração da noite erguerei um violino,
beijarei tuas mãos fecundas, e à madrugada
darei minha voz confundida com a tua.
Oh teoria de instintos, dom de inocência,
taça para beber junto à perturbada intimidade
em que me acolhes.

Começa o tempo na insuportável ternura
com que te adivinho, o tempo onde
a vária dor envolve o barro e a estrela, onde
o encanto liga a ave ao trevo. E em sua medida
ingénua e cara, o que pressente o coração
engasta seu contorno de lume ao longe.
Bom será o tempo, bom será o espírito,
boa será nossa carne presa e morosa.
- Começa o tempo onde se une a vida
à nossa vida breve.

Estás profundamente na pedra e a pedra em mim, ó urna
salina, imagem fechada em sua força e pungência.
E o que se perde de ti, como espírito de música estiolado
em torno das violas, a morte que não beijo,
a erva incendiada que se derrama na íntima noite
- o que se perde de ti, minha voz o renova
num estilo de prata viva.

Quando o fruto empolga um instante a eternidade
inteira, eu estou no fruto como sol
e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada
matriz de sumo e vivo gosto.
- E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das nuvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.

Se te aprendessem minhas mãos, forma do vento
a cevada pura, de ti viriam cheias
minhas mãos sem nada. Se uma vida dormisses
em minha espuma,
que frescura indecisa ficaria no meu sorriso?
- No entanto és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue.

Beijar teus olhos será morrer pela esperança.
Ver no aro de fogo de uma entrega
tua carne de vinho roçada pelo espírito de Deus
será criar-te para luz dos meus pulsos e instante
do meu perpétuo instante.
- Eu devo rasgar minha face para que a tua face
se encha de um minuto sobrenatural,
devo murmurar cada coisa do mundo
até que sejas o incêndio da minha voz.

As águas que um dia nasceram onde marcaste o peso
jovem da carne aspiram longamente
a nossa vida. As sombras que rodeiam
o êxtase, os bichos que levam ao fim do instinto
seu bárbaro fulgor, o rosto divino
impresso no lodo, a casa morta, a montanha
inspirada, o mar, os centauros
do crepúsculo
- aspiram longamente a nossa vida.

Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho,
no mosto aberto
- no amor mais terrível do que a vida.

Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz
o perfume da tua noite.
Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua
e branca das mulheres. Correm em mim o lacre
e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca
ao círculo de meu ardente pensamento.
Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo.

E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.

De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha a alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma
de crepúsculos e crateras.
Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo.

E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.

Herberto Helder, in 'O Amor em Visita'

terça-feira, março 17, 2015

Para que não confundam mais Lilith com outra que não ela...

POEMA DE JOUMANA HADDAD


QUANDO EU ME FIZ FRUTO...
 
...
A sombra da lua fui concebida rapaz e rapariga ...
mas quando nasci foi sacrificado Adão,
foi imolado aos vendedores da noite.
Minha mãe baptizou-me nas águas do mistério
para encher o vazio da minha outra essência,
colocou-me à beira de todos os abismos
e entregou-me ao estrondo das perguntas.
Dedicou-me à Eva das vertigens
e amassou-me em luz e trevas
para que me tornasse mulher centro e mulher lança
trespassada e gloriosa
anjo dos prazeres sem nome.
Estrangeira cresci e ninguém me colheu o trigo.
Desenhei a minha vida numa folha branca,
maçã que nenhuma árvore gerou,
mas depois rompi-a e saí dela
em parte vestida de vermelho, em parte branco.
Não habitei no tempo
nem estive fora dele
porque amadureci nas duas florestas.
Lembrei-me antes de nascer
que sou uma multidão de corpos
que dormi longamente
que longamente vivi
e quando me tornei fruto
conheci o que me esperava.
Pedi aos feiticeiros que cuidassem de mim
e levaram-me com eles.
Era
o meu riso
terno
a minha nudez
azul
e o meu pecado
tímido.
Voava numa pena de pássaro
e fazia-me travesseiro na hora do delírio.
Eles cobriram-me o corpo de amuletos
e untaram-me o coração com o mel da loucura.
Guardaram os meus tesouros e os ladrões dos meus tesouros
trouxeram-me silêncios e histórias
e prepararam-me para viver sem raízes.
E fui-me embora a partir daí.
Nas nuvens de cada noite reincarno
e viajo.
Só eu me despeço de mim
só eu me abro a porta.
O desejo é o meu caminho e a tempestade a bússola.
Em amor, em nenhum porto lanço ferro.
Abandono à noite a maior parte de mim mesma
e reencontro-me apaixonadamente.
Misturo fluxo e refluxo
vaga e areia da margem
abstinência da lua e os seus vícios
amor
e morte do amor.
De dia
o meu riso pertence aos outros
e é meu o meu jantar secreto.
Conhecem-me os que entendem o meu ritmo,
seguem-me
mas não me alcançam nunca.

(Tradução: Pedro Tamen- Laureano Silveira)

UMA VISÃO BEM A FRENTE DAS "FEMINISTAS"...



O Matrismo sim - NÃO FEMINISMO
 
Acho que não vale a pena a mulher libertar-se para imitar os padrões patristas que nos têm regido até hoje. Ou valerá a pena, no aspecto da realização pessoal, mas não é isso que vem modificar o mundo, que vem dar um novo rumo às sociedades, que vem revitalizar a vida. Ora bem, a mulher deve seguir as suas próprias tendências culturais, que estão intimamente ligadas ao paradigma da Grande Mãe, que é a grande reserva, a eterna reserva da Natureza, precisamente para os impor ao mundo ou pelo menos para os introduzir no ritmo das sociedades como uma saída indispensável para os graves problemas que temos e que foram criados pelas racionalidades masculinas. E no paradigma da Grande Mãe que vejo a fonte cultural da mulher; por isso lhe chamo matrismo e não feminismo.

Natália Correia, in 'Entrevista (1983) 

sexta-feira, março 13, 2015

Porque é que os médicos estão sempre prontos para tirar o utero e os ovários às mulheres?


CORPO DE MULHER, SABEDORIA DE MULHER

"...Ela canta a partir do conhecimento dos ovários, um conhecimento das profundezas do corpo, das profundezas da mente, das profundezas da alma." clarissa pinkola estes

"Do ponto de vista da medicina da energia, os ovários são o equivalente feminino dos testículos masculinos. Podem considerar-se "os tomates da mulher" porque representam exactamente a mesma coisa no mundo. (...)

Para uma mulher, sair para o mundo, particularmente um mundo virado para os homens, também exige "tomates", mas ela tem de usar a a energia dos seus ovários. Não deve imitar os homens, porque os ovários e o respectivo campo de energia podem ser afectados de forma adversa pelo seu relacionamento com o mundo exterior." (...)


in CORPO DE MULHER , SABEDORIA DE MULHER
de Christhiane Northrup

Porque é que os médicos estão sempre prontos para tirar os ovários às mulheres???
E se lhes tirassem a eles os testículos com a mesma facilidade ???

PERIGO: A VERDADEIRA MULHER corre o risco de extinção!

 
 
A Mulher verdadeira  a intermediária cósmica...
 
"Quem diz religião da Mulher diz também sacerdotisa e maga, ou seja, intermediária cósmica. O mistério da mulher não se limita ao seu sexo: ele impregna todo o seu ser, inclusive (e talvez principalmente) o seu psiquismo. A mulher é intuitiva, porque sensitiva e unida aos ritmos cósmicos que capta. Ela conhece os segredos da vida e da saúde, das plantas e das flores. (...)

Ela compreende as profundezas da alma humana: em seu inconsciente e por meio dele, relaciona-se directamente com as grandes correntes psíquicas que que nos levam e trazem. Ela seduz e aterroriza ao mesmo tempo. Todo o homem traz em si um "retrato falado" da mulher absoluta e, se viesse a conhecê-la na realidade, não mais poderia dela se separar: seria fulminado. Aliás o homem busca-a durante toda a sua vida. São raríssimos aqueles que a encontram, e quase poderíamos dizer: felizmente! É esse sonho, esse ideal inacessível que ele projecta, por exemplo nas estrelas "
(...)
In Tantra - O culto da femininlidade
de André Van Lysebeth

"Ao mais antigo Oráculo da Grécia, consagrado a Grande Mãe da Terra, do Mar e do Céu, deram-lhe o nome de Delphos, com o significado de Utero." barbara walquer

Mas é essa MULHER Absoluta que estava na origem dos tempos que nós hoje não conhecemos porque  a Igreja e os Sistemas patriarcais destruíram  ao longo dos séculos de misoginia e ódio, ou antes MEDO  à mulher autêntica, essa intermediária cósmica, como Mãe da Humanidade e que a Ciência de hoje corrobora na sua destruição á sua maneira, utilizando a mulher como sua cobaia, cobaia de experiências como a pílula e vacinas, assim como de outros químicos e fármacos que só visam destruí-la, destrurar a  mulher inicial, tal como o faz com os animais em geral, ratos ou os macacos, - servindo-se dela como de uma carcaça vazia de conteúdo, sem identidade, que ela "ciência" modela e retorce  em seus laboratórios à vontade - e que contribui  para destruir o que resta dessa mulher  primordial, destruindo através de medicamentos os seus ciclos naturais que eram associados ancestralmente à mulher  e ao seu corpo. Eles  ridicularizam e desvalorizam a forma como ela representa e dá voz aos ciclos da Natureza Mãe, seja através do sangue, dos ovários ou do seu Útero que está hoje em dia  ainda e quase exclusivamente ao serviço da reprodução  pela posse do homem, sem identidade e ao serviço da  família  e do estado,  fazendo nascer seres marcados pelo Pai, como propriedade, e depois, passada a mulher a sua fase da reprodução,  e sabe-se lá  porquê, retirando-lhes as entranhas como meio de "prevenção de doenças".
Essa anulação da mulher como SER ONTOLOGICO  atinge neste momento o extremo da hecatombe humana - que é a anulação da Mulher como Ente - com o que os fundamentalistas islâmicos  estão AGORA MESMO a fazer: reduzir a mulher a um saco de encher, negando-lhe toda e qualquer autonomia  ou expressão própria, mulheres cobertas de negro, todas tapadas e excisadas,  reduzidas a meras escravas de Alá.
Só não sabem esses monstros (ou sabem?), todos eles predadores da pior espécie que habitam o planeta há séculos, que se destruírem e anularem completamente a Mulher, a MÂE quer a Terra quer o próprio homem será destruído, como está já a acontecer...
Ou não será que é isso mesmo que "eles" querem?
Neste momento é absolutamente necessário e urgente que as mulheres acordem e tenham consciência de si como SER INTEGRAL mesmo que isto signifique um despertar para esta dura e aberrante realidade pois só assim poderão fazer alguma coisa pelas outras mulheres e pela Terra ...Porque só a Mulher Absoluta poderá salvar o Planeta da iminente destruição da espécie humana e da catástrofe global...
RLP

AGARRAR O FIO DE ARIANA



 
UM LONGO PERCURSO ...


“…é um facto que uma mulher que viva dentro de si a dimensão de um feminino apurado não convive muito bem entre homens misóginos que a olhem como se fossem uma "marylin Moore" e que prontamente se encontrarem uma porta semi aberta saltam com abutres, e às mulheres o mesmo acontece quando intuem na outra a força que elas negam. Muito poucas estão cientes da verdadeira natureza do que é o ser feminino. O percurso é longo, muito longo. Deveras longo, porque o labirinto em que está encerrada nesta sociedade não tem espaço para respirar, as teias são de tal forma letais que ao mínimo passo encontrará uma parede betão que não denuncia o tamanho da altura e nem a largura, e sorte de quem tem o fio de ariana para conseguir vislumbrar uma minúscula luz algures e nenhures. "

NSEEAO


 

A IGUALDADE DE GÉNEROS...


"Esta coisa da igualdade de géneros e uma enorme falácia. Isto só e possível numa sociedade falocratica onde a mulher e tratada e usada como se fosse uma coisa a...o serviço do marketing e minorizada ao ponto de perder as características intrínsecas do seu género. Igualdade de direitos sim. Igualdade de géneros só demonstra o paternalismo hipócrita que reina nas sociedades baseadas no paradigma judaico/cristão.
Tirar a mulher a sua natureza e querer transforma la num homem e um crime que está bem documentado na foto desta revista ou no livro e filme as 50 sombras de Grey.


Esta coisa dos saltos altos....


Vocês sabem que muitas mulheres, embora não gostem ou lhes seja desconfortável , os usam para se protegerem e conseguirem que os homens tenham que olhar para cima ou no mínimo a mesma altura, isto no trabalho? Sim eu tenho perguntado. Como normalmente as mulheres são mais baixas que os homens , elas para não se sentirem em situação de inferioridade usam esse estratagema. A maquiagem também muitas vezes e usada como máscara de guerra. Há ambientes de trabalho onde uma mulher que não usasse saltos altos ou não aparecesse maquiada seria de imediato posta de parte. Exemplo: hospedeira de bordo na maior parte das companhias aéreas para já não falar nos cargos executivos das grandes empresas. Chegamos aqui e não e de hoje. O hábito poderá ter vindo dos coturnos , sapatos com sola mais alta usados na tragédia grega, para dar importância a uma "persona". Portanto a uma mascara. E e justamente a mascara que, hoje, conta...!"

- Também Luís - também pode ser  isso tudo, mas a exploração dos saltos altos como fetiche tem mais a ver com a exaltação de uma sexualidade que os homens inventaram para a mulher também...as chinesas não esqueçamos e era muito erótico na época tinham os pés apertados e quebrados...e os motivos eram os mesmos...absurdos e manipulatórios ...para a mulher não se mover em liberdade...? Bem ao contrário da igualdade..



CEM HOMENS SEM PRECONCEITOS?

Como se a igualdade das mulheres tivesse a ver com SALTOS ALTOS e não com o sofrimento e a dor das mulheres, o abuso e a violência, a falta de respeito e a exploração sexual  e laboral  - e não os sapatos que simbolizam o seu sacrifício para agradar aos homens...e à moda que dita essa escravidão tal como as mulheres antigamente na China tinham que apertar os pés...

Desculpem lá os "Homens" (os verdadeiros homens) mas como se diz, o que é que "o c...tem a ver com as calças?" - no fundo no fundo ...mais uma manobra do lobby gay - eles adoram o filme, ver os homens de salto alto e esta é mais uma oportunidade para muitos que não se assumem; no fundo adoram o fetiche...Isto não passa de mais uma manobra ridícula para distrair e vender e desgraçadamente em nome e defesa da mulher? OU ENTÃO, POR "IGUALDADE", ENTENDERIAMOS QUE OS HOMENS TAMBÉM QUEREM USAR SAPATOS ALTOS?


O que é que isto tem a ver de facto com "igualdade" e com a verdadeira MULHER?  Será que estes homens famosos, actores e cantores e desportistas, se mostram assim por causa da violência doméstica ou da mulherzinha lá da aldeia que leva porrada do marido, da operária da fábrica de sardines, da pobrezinha que anda a pedir esmolas, da prostituta da estrada de sapatos rotos, da drogada miserável, da vendedeira da praça, da camponesa ou da concierge de Paris, ou de qualquer mulher banal e comum sujeita a todo o tipo de infortúnio e abusos? Confesso que não sei...
O que sei é que isto não tem sentido nenhum e não passa de mais uma manobra de diversão estúpida de uma revista estúpida e uma imitação do que já ocorreu há uns anos atrás algures, mas em que os homens caminharam nas ruas de saltos altos, esses sim...e não para vender uma revista que só estupidifica as Mulheres e nós achamos o máximo!!!
rlp

domingo, março 08, 2015

A sabedoria é mesmo feminina...




CLARO QUE É...


A sabedoria é mesmo feminina. Correndo o risco de me repetir ou citar a mim mesma, direi que a «sophia» é feminina. A sabedoria é feminina e a filosofa é masculina. O homem enamora-se da sabedoria, mas nunca chega lá. E o percurso para... A mulher, ela própria, é ovularmente o segredo do Universo. Ela contém em si a sabedoria. As vezes não tem é consciência disso.

Entrevista (1983) Natália Correia


A MULHER REALIZADA
 
 
 ..."A mulher tem em si a sabedoria, um tipo de sabedoria inata, um catalizador único da realização. (...) A mulher potencialmente está directamente ligada ao conhecimento e a sabedoria, que são as duas forças complementares da grelha de base.* A mulher realizada domina a dualidade e ajuda o homem a transcendê-la. Enquanto o homem tem acesso ao conhecimento que está no início de tudo e além disso da vontade."
 
Etienne Guille in O HOMEM ENTRE A TERRA E O CÉU

Mulher no Mundo da Política



Mulher no Mundo da Política

Há quem pense, e talvez com certa razão, que a mulher deve entrar no mundo da política para, dentro desse universo, desenvolver as suas ideias e a sua acção. Mas eu penso que quando uma mulher entra nesse mundo, ela própria é obrigada a submeter-se a padrões que ameaçam toda a sua natureza, a natureza da sua cultura. Ela é levada a transigir, torna-se numa cópia daquilo que já é mau nos homens. Eu penso que a acção da mulher deve desenvolver--se fora da política do Poder. Uma acção política de contra-poder. Pela recusa.
O que é a poesia se não uma magia branca, para fazer recuar as forças tenebrosas que querem destruir a vida?!


Natália Correia, in 'Entrevista (1983)'

DIA DA MULHER?


DIA DA MULHER?


Se A mulher ainda está presa e continua presa numa armadilha milenar que a reduz a uma parte (metade) de si e que a tornou num mero objecto de procriação (mãe) ou de prazer (a puta). Qualquer mulher ainda quando acaba o seu período fértil de procriação é-lhe tirado o útero por precaução apenas muitas vezes, e ao não dar mais sinais da beleza da juventude, cede ao ataque das farmacêuticas e das estéticas porque se sente sem sentido, vazia ou esmagada pelo modelo social em que vive para o qual ela não passa de uma mais valia de consumo e exploração secular usando-a apenas nesses períodos de vida exclusivamente!
Porque tem a mulher que manter uma fachada, uma imagem e para isso sofrer horrores para não envelhecer? Recorrer às ditas operações “estéticas” para dar a ilusão de uma imagem que já não tem, sem ter nada que a mantenha “viva” depois da menopausa? Quando com os filhos casados lhe restam apenas os netos...
Como é que a Mulher não percebe e não sabe, não sente, que a verdadeira beleza lhe vem da alma e o corpo pode torna-se expressão dessa beleza interior e que a sua dignidade e força não estão fora mas dentro? Porque ela é sistematicamente esmagada pela ideia social de que o seu valor é de apenas mãe e esposa...ou put...esmagada sim, trucidada pelos conceitos mesquinhos e medíocres que veiculam sobre si até na "arte e a cultura", na impressa, destruída pela publicidade e pelos preconceitos, alimentada anos pelas revistas "Marias" e outras as mais baixas e as de moda e de estética anti-natural, todas essas revistas da "mulher" e para a mulher que vendem apenas uma imagem e roupa (ou a casa e a decoração) ou como se a mulher fosse de facto uma boneca insuflável, para não falar nas de pornografia, essas destinadas aos homens!
Mesmo a “mulher de sucesso”, a política ou a deputada, a atriz de cinema ou a modelo, e até a escritora ou a mulher de negócios, a advogada, é ainda aquela que continua a querer agradar a uma sociedade patriarcal dominadora que vende uma imagem que agrada, que é sua escrava? Não será inclusivo ainda o casamento apenas um interesse comercial ou uma venda, o contracto? Não eram as mulheres antes vendidas pelos pais aos maridos como domésticas e servas do lar? E não se vendem ainda as mulheres por um nível de vida seguro ou estável?, por um estatuto ou pelo sexo, submetendo-se aos seus símbolos de poder, como tão bem ilustra "as mil e sombras de gray" com centenas ou milhares de mulheres a ver o filme dominadas pelo desejo e o sonho do homem rico e belo - o chicote e a violência sobre o seu corpo...Será que eu estou a ver mal a coisa? Ou a coisa continua toda na mesma? Apesar das conquistas feministas e da "igualdade e da liberdade"...onde está a dignidade da mulher e o respeito pela mulher?
Onde está a sua verticalidade?

Ou não será porque justamente pela sua falta de dignidade e de auto-estima, por falta de uma consciência precisa do seu valor como mulher e enquanto SER HUMANO completo, independente, e não apenas reconhecida enquanto parte de um "outro", ou de um contrato que persegue, como mulher de ou mãe de ou amante de?!
Sim, mudam-se os costumes e as leis, até mesmo as ideias...mas os conteúdos atávicos das relações entre homem e mulher mantêm-se inalteráveis, são sempre relações de domínio e controlo, de subjugação entre de vitima e predador...
POR ISSO PERGUNTO:
O que significa mesmo este suposto dia da mulher?
Não me respondam. Metam só a mão na consciência, se a tiverem...
rlp

terça-feira, março 03, 2015

AUTO-ESCRAVIZAÇÃO DA MULHER

 


O Útero

Simboliza a criatividade e o relacionamento conjugal. Quando uma mulher é dependente de alguém que a tolhe na sua criatividade e é obrigada a deixar de ...
fazer o que gosta, e da maneira que gosta, o útero reage com dores, atraso menstrual, etc. Se ela vive alimentando sentimentos de mágoa contra o marido e vive “engolindo” os “nós” da garganta para manter o seu relacionamento, adquirirá nódulos e cistos nos ovários e no útero. Quando o casal vive em desarmonia e a mulher se anula para “alcançar” o marido, podem aparecer, além de nódulos, dores, cistos e infecções difíceis de se curar.

A mulher pode transformar o sentimento de raiva pelo parceiro, ou a sensação de ser usada por ele, em vaginite e até em doenças venéreas, dependendo do seu grau de ressentimento ou da falta de amor próprio. Mágoas arrastadas por muito tempo, pelo fato de ela ter sido traída ou abandonada, provocam câncer uterino como autopunição ou vingança contra o marido. O câncer uterino também se pode formar a partir de um sentimento de impotência e anulação que a mulher carregou durante anos da sua vida. O atraso menstrual, por sua vez, significa que a mulher está a negar, de alguma forma, sua própria feminilidade. Por exemplo, com medo de se entregar ao amor, arranja desculpas: excesso de trabalho, preconceitos e até doenças. Isso faz com que seu fluxo menstrual seja bloqueado, simbolizando o “não permitir-se ser mulher”. Se você quer apenas vingança, então vai sofrer muito pela sua auto-escravização e criará uma doença para imobilizar a pessoa “alvo”, o que quer dizer que você, inconscientemente, manterá junto de si a pessoa de quem você se quer vingar ou de quem quer amor. Saiba que, pela medicina chinesa, quando alguém provoca câncer em qualquer parte do corpo isto significa vingança, raiva e o desejo de criar uma situação complicada dentro do lar, onde aquele que a fez sofrer estará sentindo-se preso e obrigado a dedicar uma atenção que antes negava.

Sofia Guerreiro

A MULHER: UMA MUTILAÇÃO SOCIAL




"A personagem feminina, e o ideal de feminilidade em que é modelada, são produtos da sociedade masculina. A imagem da natureza não falseada só surge em distorção, como seu oposto. Sempre que afirma ser humana, a sociedade masculina gera imperiosamente na mulher o seu próprio correctivo, e revela através dessa limitação ser implacavelmente o mestre. A personagem feminina é uma marca negativa da dominação. Mas, por conseguinte, igualmente má. Tudo o que é, neste contexto, de ilusão burguesa chamado natureza, é apenas a cicatriz da mutilação social:»


(Theodor Adorno, Minima Moralia, 1989, trad em língua inglesa, fragmento 59, p 95.: O original é do Alemão e de 1951)

segunda-feira, março 02, 2015

PORQUÊ legalizar a prostituição?

O HORROR DA PROSTITUIÇÃO - e a sua legalização em marcha...
A MAIOR AVILTAÇÃO DO SER MULHER E DO SEXO


Leiam este artigo muito esclarecedor de
RAQUEL VARELA - UMA MULHER LUCIDA!

Dizem por aí que vender sexo é um trabalho como outro qualquer…

A mais velha profissão do mundo é…caçador-colector, pescador, cozinheiro, ama ou cuidador, vigia…A prostituição é histórica, como tudo. Não é natural. E por isso não tem que ser eterna. O sexo, sim, é natural. E também histórico, ou seja, a forma como o vivemos/fazemos muda no seio das relações que vivemos, e com quem vivemos.
A venda de sexo não nasceu com a humanidade, ao contrário do sexo que é uma das essências dessa humanidade. Fazer e comprar/vender não são a mesma coisa. E por isso é tão estranho viver-se no mundo com 7 biliões de pessoas em que o sexo, das coisas mais naturais, sociais e belas de ser trocadas, trocadas, sublinho, é sem pagamento, moedas e notas (eventualmente é “pago” com prazer, risos, afectos, olhares e aromas e tudo o que envolve a conquista do outro), é hoje uma das coisas mais…vendidas em todo o mundo. Sem esforço de afectos, sem mobilização de ideias, sem cedências de vontades, com todos os traumas psicológicos e físicos de um mundo padronizado, não há nada que um cartão multibanco não resolva…
Vamos directos ao assunto: porque há um movimento mundial, com epicentro na Europa, para legalizar a prostituição? Porque há uma nova fonte de lucro aí, ou seja, a prostituição deixa de ser uma pequena empresa, com as prostitutas e os proxenetas, e passa a ser uma empresa, grande eventualmente, ou um conjunto delas, geridas por um gestor, quem sabe doutorado com um MBA de gestão…O que está em causa é de facto a industrialização da prostituição. Passarão as prostitutas por isso a pagar mais impostos e eventualmente a ganhar menos, porque há uma fatia do salário que ia para o proxeneta que tem agora de ser para pagar impostos sobre o rendimento, segurança social e a renda/dividendos dos gestores/proprietários. As prostitutas hoje pagam impostos, de consumo, como toda a gente, e essa é a grande fatia fiscal, e têm acesso ao SNS. Passariam a pagar por exemplo segurança social, mas isso não significa, como sabem todos os trabalhadores a recibos verdes, que passariam a receber segurança social…Pagar e receber do Estado neste país não anda de mãos dadas.
São estes bons argumentos para não legalizar a prostituição, digamos, a mudança do proxeneta para o saque fiscal organizado pelo Estado? Não. Ilegalizar comportamentos sociais massificados é inútil. Não evita nada, não melhora nada. Sou a favor da legalização da prostituição, por isso. Mas contra a prostituição. Se isso me coloca num campo conservador, sentar-me-ei aí com gosto. Se me retira do campo feminista, confesso que foi lugar onde nunca estive – a libertação da mulher é ao lado dos homens e é um assunto de classe e não de género. Digamos que no meu mundo um Che Guevara de boina anima-me mais o dia que um desfile da Cristine Lagarde nos gabinetes do FMI…O poder das mulheres não é nos piores lugares de poder num mundo, que retirou poder à maioria da população – e retirou-o a homens e a mulheres.
Saindo agora do negócio da prostituição, que se legitima a coberto de ideias sinceras e honestas de proteger pessoas em situação de fragilidade, e entrando na condição humana. Duas perguntas. De um lado, porque vivemos no século XXI, com um espantoso desenvolvimento tecnológico e científico, e há pessoas que precisam de se prostituir para sobreviver? Do outro: qual a razão, volto ao tema, de sermos 7 bilhões, e haver milhões de pessoas que compram sexo para o ter, revelando a incapacidade brutal para construir relações, uma solidão, que nasce da desagregação de laços históricos por via da urbanização, pobreza, da miséria, das relações laborais e da competição económica? Junte-se a isto o peso da Igreja, o tabu que é hoje o sexo, a ausência de uma reflexão sobre a monogamia, e sobra o…cartão multibanco. Isto é triste mas não é natural, repito. A melhor metáfora para esta mudança é que hoje uns encontram-se pela internet, mandam uns “sorrisos” iguais para o mundo inteiro já desenhados no computador, a grande fonte de educação sexual, a indústria pornográfica, resume-se a um roteiro, rápido e igual, em todo o mundo, e que diz respeito a corpos jovens, todos iguais, que fazem todos o mesmo, uma doentia padronização das relações onde a alma não se encaixa. E há 100 anos…vamos buscar um pedaço de verdade e alguma mítica nostalgia, dançava-se, muitos o faziam, num baile, corpo a corpo, aroma a aroma, pele com pele. Tango. O mundo precisa de reinventar o tango, em vez de justificar a desagregação social.
Sobre o argumento que por ai circula, tão de “esquerda”, que vender o corpo é uma “profissão como outra qualquer”, a esquerda tem que ler mais Marx e menos resumos de Marx. Quem trabalha não se vende. Vende a força de trabalho, o produto do trabalho, daí a vender é corpo é uma ponte sobre um oceano, um salto qualitativo – e agora chamo aqui a minha condição de mulher – é um argumento brutalmente ofensivo. O sexo é a dimensão mais íntima da nossa intimidade, do nosso ser, da nossa vivência bela com os outros, não existe em nós um ser emocional e outro racional, um físico e uma alma, e cada um não se separa do outro, a cabeça do corpo, a alma do prazer, quando uma mulher faz sexo com um homem a troco de dinheiro, o que acontece é um recalcamento, na maioria dos casos, da imensa violência que se vive. É um perder o corpo e, por isso, é um perder da alma.
A prostituição deve ser legal. Mas combatida. As fábricas de armas são legais, porque hoje existem e ilegalizá-las só piorará o tráfico de armas. Mas a guerra deve ser combatida.

raquel varela