O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, abril 27, 2022

A obsolescência do homem

 

Foi em 1956 que o filósofo judeu alemão Günther Anders escreveu esta reflexão:




′′Para sufocar antecipadamente qualquer revolta, não deve ser feito de forma violenta. Métodos arcaicos como os de Hitler estão claramente ultrapassados. Basta criar um condicionamento coletivo tão poderoso que a própria ideia de revolta já nem virá à mente dos homens. O ideal seria formatar os indivíduos desde o nascimento limitando suas habilidades biológicas inatas...
Em seguida, o acondicionamento continuará reduzindo drasticamente o nível e a qualidade da educação, reduzindo-a para uma forma de inserção profissional. Um indivíduo inculto tem apenas um horizonte de pensamento limitado e quanto mais seu pensamento está limitado a preocupações materiais, medíocres, menos ele pode se revoltar. É necessário que o acesso ao conhecimento se torne cada vez mais difícil e elitista... que o fosso se cave entre o povo e a ciência, que a informação dirigida ao público em geral seja anestesiada de conteúdo subversivo.
Especialmente sem filosofia. Mais uma vez, há que usar persuasão e não violência direta: transmitir-se-á maciçamente, através da televisão, entretenimento imbecil, bajulando sempre o emocional, o instintivo. Vamos ocupar as mentes com o que é fútil e lúdico. É bom com conversa fiada e música incessante, evitar que a mente se interrogue, pense, reflita.
Vamos colocar a sexualidade na primeira fila dos interesses humanos. Como anestesia social, não há nada melhor. Geralmente, vamos banir a seriedade da existência, virar escárnio tudo o que tem um valor elevado, manter uma constante apologia à leveza; de modo que a euforia da publicidade, do consumo se tornem o padrão da felicidade humana e o modelo da liberdade.
Assim, o condicionamento produzirá tal integração, que o único medo (que será necessário manter) será o de ser excluído do sistema e, portanto, de não poder mais acessar as condições materiais necessárias para a felicidade. O homem em massa, assim produzido, deve ser tratado como o que é: um produto, um bezerro, e deve ser vigiado como deve ser um rebanho. Tudo o que permite adormecer sua lucidez, sua mente crítica é socialmente boa, o que arriscaria despertá-la deve ser combatido, ridicularizado, sufocado...
Qualquer doutrina que ponha em causa o sistema deve ser designada como subversiva e terrorista e, em seguida, aqueles que a apoiam devem ser tratados como tal.′′




- Günther Anders, "A obsolescência do homem′′, 1956

quinta-feira, abril 21, 2022

A PERSONALIDADE DIABÓLICA




"A maldade e a destrutividade passam a ser vistas no outro; o outro é condenado, e contra ele pode ser dirigido o ódio sem implicar o sentimento de culpa”.
- Melaine Klein e Joan Riviere


MOBING (PERSONALIDADE DIABÓLICA)

- Agora há uma situação que está muito na moda e se chama mobing mas sempre existiu. O mobing, é o assédio moral que alguns companheiros exercem sobre uma vítima.

- Sim, até porque, de um modo espontâneo, eles se unem para atacar a vítima. Há muitas pessoas envolvidas.

- O mobing é a chamada coligação dos medíocres?
(…)
- Em que é que se traduz?

P. V: Escolhem uma vítima, alguém que normalmente é um trabalhador bom, honrado, criativo e popular, que de alguma maneira faz sombra a alguém ou gera inveja nos outros. Os que fazem mobing são sempre outros trabalhadores medíocres, maus. Em Psicologia falamos de evil personality, uma personalidade diabólica. As pessoas que fazem assédio moral sobre os outros são verdadeiramente más ou muito narcisistas. Sentem que alguém lhes faz sombra quando lhe devolve uma visão menos positiva de si mesmo. Isto acontece, por exemplo, quando o outro está mais preparado, é mais esperto, mais bondoso, mais honrado, mais esforçado ou mais reconhecido no trabalho. O narcisista ataca moralmente a vítima, persiste nesta atitude durante muito tempo e, muitas vezes, consegue que a vítima se vá autodestruindo, que perca as redes de comunicação, que já não faça bem as tarefas, que se sinta inútil, que ponha em dúvida as suas capacidades e até a sua auto-estima, e que saia da organização.
(…)
Entrevista a Pilar Varela
In incalculável imperfeição


O ABOMINÁVEL MUNDO A QUE ASSISTIMOS...


COMO A DEGRADAÇÃO DA MULHER E DA MÃE CHEGA A ESTES EXTREMOS CRIMINOSOS. DÓI, MAS É PRECISO OLHAR - QUE CRIANÇA SE FORMARA A PARTIR DESTA ABOMINÁVEL DESCONSTRUÇÃO DA MULHER?
Para minha estupefacção há muitas mulheres a defender isto e que veem nisto amor e evolução, que me consideram a mim horrivel e preconceituosa, transfóbica, sem a menor compreensão do fenómeno trans a nivel ontologico, biologico e psiquico e também desconhecendo o foro patologico, defendendo este tipo de "maternidade" como algo bonito, achando que esta criança vai ser mais evoluida que as outras - tais foram as afirmações feitas por essas mulheres ao meu poste no fakebook -, sustentando e aceitando este padrão como a normalização  de um ser que não é nem mulher nem homem, como algo natural. 
rlp 


UMA VISÃO LUCIDA DO DRAMA HUMANO - TRANS


..."Muito pessoal sem formação na área da saúde mental a dar palpites sem bases fundamentadas. A transsexualidade (disforia de género), para conhece o DSM-V, livro que trata das patologias mentais, está representada lá, faz parte de cluster de patologias relacionadas com a dismorfia corporal (que pode ocorrer/manifestar-se de diversas formas, mas -para leigos-, trata de abordar o corpo como sendo algo estranho ao seu self "construído", ao seu sentido de identidade interna, ok? Nada está relacionado com a orientação sexual do indivíduo: ele pode ser hetero/homo/bi/pan, etc. etc. E ser transsexual simultaneamente. A pessoa simplesmente não se sente "certa" no corpo com o qual nasceu. Este tipo de dismorfia assenta numa alteração química neuronal. Na década dos anos 80/90, era tratada com medicação, a propósito: com sucesso na maioria dos casos. Aqueles que não tinham sucesso por este reequilíbrio químico eram recomendados para cirurgia. Porquê???? Porque não existia alternativa perante algo ATÍPICO que CAUSAVA SOFRIMENTO AO INDIVÍDUO (isto NÃO está relacionado com construtos sociais, bla bla bla. Mas sim com pura biologia, rede neuro-química, ok?????). Mais... o indivíduo era acompanhado, avaliado psicologicamente, informado de todos os risco, procedimentos interventivos para poder tomar AS SUAS MELHORES DECISÕES. Nada disto era feito contra a vontade da pessoa, capiche gente da secção de comentários???Agora, tal como qualquer doença mental, como a depressão, a psicose, esquizofrenia, etc. etc. etc., esta doença tb não deve ser, e nem pode ser diabolizada. PORÉM, tb não se pode afirmar que existe equilíbrio na rede neuronal destes indivíduos quanto à sua IDENTIFICAÇÃO COM este SELF- contruído - que é um falso self btw- devido a desequilíbrios químicos!!!!!! Não sei se me faço entender... Darei outro exemplo... Existe outro tipo de patologia associada ao espectro da dismorfia corporal, menos conhecida, na qual o/a indivíduo se pode identificar com animais. Sim, com gatos, cães, etc. etc. Mtas das recriações passam precisamente por simular o comportamento animal, vestirem fatos de pelúcia, etc., como forma de se sentirem fisicamente mais integrados. Malta, tb querem ver pessoas de joelhos, a lamber e a urinar pelo chão, como forma de satisfazer o self-contruído???? Bom. Não se fala aqui de "transfobia"(essa palavra anda particularmente na moda, viva a política e lavagem cerebral dos garotos ou dos menos informados). Fala-se de qualidade de vida. Não vou tratar aqui a transsexualidade como uma orientação sexual (que não é DE TODO). Trato-a pelo que é : um desequilíbrio neuro-químico. As pessoas trans merecem compaixão? Absolutamente, como qualquer pessoa que está a passar por um sofrimento psicológico!!!!! Tal como pessoas que sofram: de depressão unipolar, depressão bipolar, suicida, adictos em alcool/drogas, que sofram de esquizofrenia, etc. etc. etc. Mas parou aqui. Para um bom (saudável) construto mental do feminino e do masculino, da sua integração na infância, o bebé precisa de ter mãe e pai. À falta, precisa de uma figura de referência de ambos os sexos. Agora dizem-me: "mas é melhor do que não ter ninguém que ame a criança!". Pois, não vamos comparar laranjas e maçãs, senhoras. Afeto e amor é sempre bem-vindo. Mas estamos a falar da construção da estrutura mental psíquica/emocional NUM BEBÉ. Essa só se constrói uma vez. Qd existe uma aceitação do comportamento (realço a palavra "comportamento", tá?) da doença mental como sendo normativo, algo está mal na sociedade. Devemos aceitar o doente, mas qd o doente está doente, há que ajudar o doente a resolver o que lhe causa sofrimento (ou o que pode causar aos outros). Ponto. Esse senhor trans, parece ser um doce e parece ter mto amor para dar, mas ter um bebé e amamentar um bebé... Precisava antes era de ter apoio psicológico, na minha opinião. A doença mental vê-se desta forma: a) causa sofrimento a si próprio? ( resposta: se não causasse sofrimento a este senhor trans, ele simplesmente deixar-se-ia estar com o seu sexo. b) Causa sofrimento aos que lhes são próximos? ( resposta: vou traduzir, ou seja, aqui mede-se se o impacto é positivo ou negativo na vida do indivíduo e dos que o rodeiam /que alterações pode provocar no comportamento de terceiros/impacto nas suas vidas etc etc etc )? O problema é, quando a malta confunde propaganda de política de esquerda com psicologia, bom... enfim enfim...
...Pouca gente sabe o drama dos que estão a tentar fazer o percurso inverso: jovens que se mutilaram, que tomaram terapia hormonal sem saber dos riscos e dos efeitos adversos, apenas para encaixar na nova narrativa do ser trans está na moda... (muitos que nem eram trans, nem sequer tinham sido acompanhados, avaliados, etc etc!!! Alguns que apenas eram homossexuais ou bissexuais e que baralharam). É importante que se perceba que a falta de cultura no que respeita a saúde mental gera ainda mais desinformação e ignorância. E o que vi nesta secção de comentários deixou-me completamente perplexa. Esta gente não sabe o que um verdadeiro trans sofre, não sabe o que acontece no cérebro destas pessoas para tentarem adquirir/construir falsos selfs!! É algo que acarreta sofrimento, mas não se pode "normalizar" isto, tornar corriqueiro este sofrimento, esta PATOLOGIA. Parece que as pessoas vão no sentido de querer tornar um comportamento atípico (que advém de um desequilíbrio neuronal) comum ao público!!!! Loucura social. Venha lá o Grande Reset."

sábado, abril 16, 2022

QUE CONSCIÊNCIA TEMOS


 


EXISTÊNCIA E ESSÊNCIA

Uma coisa que me parece evidente e da qual não me resta já qualquer dúvida: é de que há vários níveis de consciência, dentro de uma escala de evolução, e que nem todos os humanos - falando só de humanos - estão no mesmo nível de entendimento e realização interior. E digo interior para não confundirmos o "conhecimento" mental-intelectual, o saber de cor, (que nada tem a ver com o saber do coração - ou coração inteligente), a informação ou as crenças em deus ou em outras dimensões e vidas paralelas, com um real estado de consciência, que só é alcançado após o trabalho interior alquímico profundo e a transformação do ser por etapas e  que passa do nível da mera existência "vegetativa" para o nível da essência, quando em contacto com a alma e com o espirito. 
Falo de uma CONSCIÊNCIA para lá dos estados de consciência psicologica  (psique) e até mesmo da metafísica; isto é muito simples e nada tem a ver com o nível de saber escolar ou universitário ou de educação, nem com o analfabetismo...eruditos, doutores e professores e analfabetos e ignorantes estão no mesmo patamar de ignorância quanto à consciência verdadeira do Ser, a consciência da Consciência, a que se tem acesso "magicamente" para lá da mente-intelecto-conceito. Essa é a experiência essencial do Ser como um todo e que se manifesta de forma substancial...

rleonorpedro

TAL É A LEI...

"Não se pode porém ser um iniciado nas formas e maneiras deste mundo sem ser um grande artista, nem ter o comando da inspiração (ou intuição), sem que primeiro se o obtenha da palavra e do raciocínio.
Tal é a lei, tal é a escala, tal é a regra (ou via).
Mais pesa na balança da Alma (ou da Gnose) o verdadeiro poeta que pensa o que não sabe, que aquele falso iniciado que sabe o que não pensou."


FERNANDO PESSOA, in Yvette Centeno,  E A FILOSOFIA HERMÉTICA

PENSAR NA PAZ...





"Quando penso na paz, vejo um mundo em que os seres humanos não são mais violentados por acidentes tais como nascimento, sexo, raça, religião ou nacionalidade. Para mim, a paz é uma maneira de estruturar as relações humanas e um estádio em que acções diárias de bondade e consideração são compensadas de forma tangível. É um modo de pensar, sentir e actuar pelo qual a nossa interconexão essencial de uns com os outros é verdadeiramente honrada.
Oro por um mundo em que possamos viver em associação e não sob domínio; onde a “conquista da natureza pelo homem” é considerada suicida e sacrílega; onde o poder não mais está equacionado com a espada, mas sim com o santo cálice – o antigo símbolo do poder de dar, nutrir e estimular a vida. E, não só rezo, como também activamente trabalho, para o dia em que assim será."


RIANE EISLER

Crime e Castigo



INEVITÁVEL...

"O sofrimento acompanha sempre uma inteligência elevada e um coração profundo. Os homens verdadeiramente grandes devem, parece-me, experimentar uma grande tristeza."


 Fiódor Dostoiévski -in Crime e Castigo


...A INFÂMIA CHAMADA SER FELIZ...






"A loucura chamada afirmar, a doença chamada crer, a infâmia chamada ser feliz — tudo isto cheira a mundo, sabe à triste coisa que é a terra.
Sê indiferente. Ama o poente e o amanhecer, porque não há utilidade, nem para ti, em amá-los.
Veste teu ser do ouro da tarde morta, como um rei deposto numa manhã de rosas, com Março nas nuvens brancas e o sorriso das virgens nas quintas afastadas. Tua ânsia morra entre mirtos, teu tédio cesse então [...] e o som da água acompanhe tudo isto como um entardecer ao pé de margens, e o rio, sem sentido salvo correr, eterno, para marés longínquas. O resto é a vida que nos deixa, a chama que morre no nosso olhar, a púrpura gasta antes de a vestirmos, a lua que vela o nosso abandono, as estrelas que estendem o seu silêncio sobre a nossa hora de desengano. Assídua a mágoa estéril e amiga que nos aperta ao peito com amor."

Bernardo Soares (F. Pessoa)

segunda-feira, abril 11, 2022

Barrigas de aluguer: um negócio que tem de acabar

 


Esperemos que na reconstrução difícil e na reconfiguração que obrigatoriamente toda a Europa vai ter de fazer, consigamos acabar também com este negócio que, afinal, não é mais do que um retrocesso civilizacional.


BARRIGAS DE ALUGUER MADE IN UCRANEA

Assim como as deve alertar a notícia da barriga de aluguer ucraniana que chegou a Portugal por intervenção do casal que contratou os seus serviços, para dar à luz no Hospital de S. João — apenas um dos casos que levou a criar uma suposta adenda extraordinária às regras de registo civil, num complicado imbróglio de legalidade duvidosa. Embora os casos particulares nos toquem sempre, e perante os factos consumados o importante é dar-lhes solução, não nos podemos esquecer que a lei portuguesa considera crime que alguém pague/receba por “emprestar” o seu útero, ou que de forma mais directa ou sub-reptícia um bebé seja transaccionado por dinheiro.
E é de dinheiro que falamos. Em 2020, uma reportagem da TVI referia que a contratação deste serviço valia pelo menos 40 mil euros, dos quais 350 euros/mês eram entregues à “barriga receptáculo”, com um prémio de 13.550 euros depois do parto, 15 mil euros no caso de gémeos. E embora as próprias mulheres entrevistadas referissem que o faziam de livre vontade, ninguém lembrava o telespectador de que, na altura, o salário mínimo na Ucrânia era de 112 euros, tornando incrivelmente aliciante esta nova categoria profissional. Com mais um detalhe arrepiante, Ana: a partir dos sete meses de gestação estas portadoras passavam a modo de “prisão domiciliária” num apartamento da agência, de forma a garantir que o “produto” estaria nas melhores condições no acto da entrega.

A ERA DOS IMBECIS



“O QI médio da população mundial, que sempre aumentou desde o pós-guerra até ao final dos anos 90, diminuiu nos últimos vinte anos. É a inversão do efeito Flynn.

Parece que o nível de inteligência, medido pelos testes, diminui nos países mais desenvolvidos. Pode haver muitas causas para este fenómeno. Um deles pode ser o empobrecimento da linguagem.
Na verdade, vários estudos mostram a diminuição do conhecimento lexical e o empobrecimento da linguagem: não é apenas a redução do vocabulário utilizado, mas também as subtilezas linguísticas que permitem elaborar e formular pensamentos complexos.
O desaparecimento gradual dos tempos (conjuntivo, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dá origem a um pensamento quase sempre no presente, limitado ao momento: incapaz de projecções no tempo.
A simplificação dos tutoriais, o desaparecimento das letras maiúsculas e da pontuação são exemplos de “golpes mortais” na precisão e variedade de expressão.
Apenas um exemplo: eliminar a palavra “menina/senhorita/senhora” (agora obsoleta) não significa apenas abrir mão da estética de uma palavra, mas também promover involuntariamente a ideia de que entre uma menina e uma mulher não existem fases intermédias.
Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento. Estudos têm mostrado que parte da violência nas esferas pública e privada decorre directamente da incapacidade de descrever as emoções em palavras.
Sem palavras para construir um argumento, o pensamento complexo torna-se impossível.
Quanto mais pobre a linguagem, mais o pensamento desaparece.
A história está cheia de exemplos e muitos livros (George Orwell – “1984”; Ray Bradbury – “Fahrenheit 451”) contam como todos os regimes totalitários sempre atrapalharam o pensamento, reduzindo o número e o significado das palavras.
Se não houver pensamentos, não há pensamentos críticos. E não há pensamento sem palavras. Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem o condicional? Como pensar o futuro sem uma conjugação com o futuro? Como é possível captar uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, passado ou futuro, e a sua duração relativa, sem uma linguagem que distinga entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderia ser, e o que será depois do que pode ter acontecido, realmente aconteceu?
Caros pais e professores: Façamos com que os nossos filhos, os nossos alunos falem, leiam e escrevam. Ensinemos e pratiquemos o idioma nas suas mais diversas formas. Mesmo que pareça complicado. Principalmente se for complicado. Porque nesse esforço existe liberdade.
Aqueles que afirmam a necessidade de simplificar a grafia, descartar a linguagem dos seus “defeitos”, abolir géneros, tempos, nuances, tudo que cria complexidade, são os verdadeiros arquitectos do empobrecimento da mente humana. Não há liberdade sem necessidade. Não há beleza sem o pensamento da beleza.”
Cristophe Clavé


domingo, abril 10, 2022

CANSADA DE MENTIRAS E HIPOCRISIAS



Fico estupefacta como há pessoas, sobretudo mulheres e contra toda as evidências do contrário, que ainda acreditam na FELICIDADE.
Ainda vivem a adiar a realidade e talvez uma vida satisfatória não fora o sonho de uma felicidade absurda que nunca existiu na terra. Não, não há nem nunca houve felicidade na terra nem nada que se pareça. É só miragem e ilusão, uma projecção da vida ideal como uma religião – virados para o futuro e para o alem, seja no ceu ou nas estrelas, seja algures num paraíso artificial. 
A terra nunca foi um Paraiso. A natureza destrói e dizima espécies…Tudo nasce e apodrece… Os animais matam-se uns aos outros para comer, e os homens morrem de doenças por comer cadáveres e também se matam uns aos outros somente por ganância e ódio e crenças. Eles marcam o terreno como cães e gatos…fabricam armas e estão se nas tintas para os humanos que morrem… mulheres e crianças que matam e violam sem qualquer escrúpulo.
Onde é que há felicidade mesmo quando há paz? Paz também é um mito, ela nunca existe na realidade, fora de nós, mas nós ignoramos as guerras e a fome lá longe e fingimos que somos felizes…e amamos o próximo, a maior mentira que já existiu. Quando vem a peste quase nos comemos uns aos outros ou matávamos também se pudéssemos…

Isto de acreditar na felicidade é também uma espécie de romantismo proveniente de idealizações e cultos antigos. Ninguém quer viver nesta realidade… Por isso inventam-se hotéis e férias e descanso para fugir a escravidão do trabalho…cria-se musica e arte e romances para simular realidades enquanto camuflamos os nossos males e sofrimentos. Cantamos e dançamos para exorcizar a dor e o vazio de não haver respostas ou sentido para a nossa vida…

AS pessoas pensam que por pensar coisas bonitas e acreditar no amor ele é verdade… e não percebem que se olhássemos todos a nossa verdade e tivéssemos o reconhecimento desta realidade, ela podia dar-nos muita mais compreensão do fenómeno vida-morte que nos transcende. Penso que se olhássemos a realidade nua e crua e sem medo e não fossemos tão fantasistas e cegos acerca da vida na Terra talvez encontrássemos respostas para o nosso vazio existencial que vem dessa projecção constante com que criamos deuses e anjos e fantasias celestiais e vivemos de idealismos sociais a acreditar no que não existe. Mas só tarde demais vemos isso – sim só a idade nos mostra isso... e eu digo-o porque sou velha...Não me restam mais ilusões nem fantasias… a morte aproxima-se e eu quero a verdade, doa o que doer, em vez de qualquer felicidade fictícia…



rlp


Não vejo solidariedade verdadeira, não vejo irmandade neste mundo...

 


Não tenho escrito nada porque estou a atravessar uma fase drasticamente ceptica ou pessimista. Não consigo levar a sério tantos conselhos celestiais e promessas ascensionais e 5ª dimensões, poemas e lindas frases de sábios e místicos e tantas coisas positivas e espirituais - ah corações ao alto! - ou lives e mais lives com promessas de curas e conselhos disto e daquilo e tanto ego, selfies e euzinhos insuflados com muita paz e muito amor e coisa nenhuma e tantas bajulações, que espremidas dá zero.

Lamento e peço desculpa aos meus amigos e amigas mas neste momento não consigo ver nada a acontecer na nossa realidade – é tudo para depois, amanhã, no ceu, no além, ou com naves ou anjos de asas etc.  Tudo isso de que todos falam, para mim não passam de histórias que ouço há mais de 20 anos e sei que é gente cheia de boa vontade e uma grande dose de ingenuidade, romantismo new age, o ficar a espera que o que quer que seja nos caia do céu…  Sem duvida que esta é uma forma de as pessoas atenuarem a sua dor e sofrimento perante a impotência e o horror da mentira, das pestes e das mortes, diante da crua Guerra.

Nada melhor do que um soporífero para adormecer as consciências alarmadas e confusas perante este caos humano…

Eu entendo que queiram pintar um quadro de cores suaves e alegres quando tudo é negro e feio, que é bom olhar para as estrelas quando o chão está cheio de sangue de inocentes…

Sabem estou à espera de anjos já há 30 anos… em 2000, esperava o fim do mundo… e agora… já não sei. Qualquer dia sou eu que parto para o outro lado… de alma nua e sem ideias nenhumas!

Entretanto, eu não me consigo alhear deste peso, desculpem, porque o que eu vejo é  a nossa humanidade num estado de impotência e de desolação cheia de medo, odiando-se e por outro lado altamente egoista e parasitária apenas concentrada  no dinheiro, cada individuo fixado no seu umbigo e na sua vidinha que vê ameaçada.

Não vejo solidariedade nenhuma, não vejo irmandade neste mundo. Lamento. Não consigo forjar nem simular um mundo a que não assisto nem sinto. Como nunca consegui acreditar num deus bom vivendo num mundo de horrores…

 

rlp

terça-feira, abril 05, 2022

SÓ PARA LEMBRAR DE ONDE TUDO VEIO... e como começou a misoginia!



A MULHER E A MISOGINIA

A mulher no início da Idade Moderna era considerada uma agente de satã. Em algumas sociedades antigas a mulher era venerada, com o tempo o homem passou a ter medo dessa mulher, fato comum nas sociedades patriarcais. A mulher era acusada pelo sexo oposto de ter introduzido o pecado, a desgraça e a morte na terra. A Pandora grega, a Eva judaica teria cometido o pecado original. O homem encontrou na mulher a explicação, o responsável pelo desaparecimento do paraíso terrestre. O antifeminismo é uma leitura errada do Evangelho. A igualdade defendida pelo evangelho cedeu lugar à exclusão da mulher da sociedade, lhe dando um papel secundário. Líderes da Igreja, já possuíam traços antifeministas, desde os primórdios do cristianismo, a mulher era considerada sinônimo de perdição. A sexualidade era pecado. A Igreja tinha uma postura misógina no século XVI, ela exaltava a virgindade feminina. Segundo Santo Agostinho, o ser humano possui uma alma espiritual assexuada e um corpo assexuado. O homem seria a imagem de Deus, a mulher seria inferior ao homem, devendo ser submissa. Tomás de Aquino, também dizia que a mulher era mais imperfeita do que o homem, inclusive sua alma, para ele o homem possuía mais discernimento e razão. A Idade Média Cristã aumentou a misoginia, poucas figuras femininas foram consagradas na Idade Média. 
A Virgem Maria foi posta em um pedestal, mas teve sua sexualidade desvalorizada. As ordens mendicantes, no século XIII, propagaram uma onda de misoginia, que nos século XVI, teve seu impacto aumentado, com as reformas protestantes e católicas. Naquela época existia uma misoginia com base teológica, na qual a mulher seria um ser predestinado ao mal, e deveriam ser tomadas precauções em relação a ela. Os clérigos presos à castidade tinham receio do sexo feminino, por isso escreviam sobre os perigos do sexo feminino, esses escritos oprimiam a mulher, hostilizavam-na. Havia uma guerra santa contra a aliada do diabo. Existia uma literatura misógina na Idade Média, no período moderno surgiu o antifeminismo clerical. O discurso misógino era normal no mundo monástico e foi reproduzido por diversos autores da Idade Moderna. O discurso dos teólogos difundiu a inferioridade da mulher, que representava um perigo para os padres, que constantemente caíam na tentação. A ação antifeminista da Idade Média foi muito difundida. Um trecho do livro Malleus Maleficarum, sintetiza bem o papel da mulher no fim da Idade Média e no início do período moderno: ... A repressão da Igreja ocorrer de várias maneiras (...): na negação da importância central do corpo no qual se expressa a Paixão; (...) na hierarquização patriarcal da Igreja, nos votos patriarcais de pobreza, obediência e castidade para seus sacerdotes, na inferioridade patriarcal da mulher na vida institucional da Igreja, principalmente na sua impossibilidade de ministrar os sacramentos e ocupar cargos em iguais condições com os homens, na paralisia da transformação sócio-política por concessões elitistas para assegurar a obtenção e manutenção do poder exercido dentro do dinamismo patriarcal.

 A Igreja pós-tridentina, impôs novas regras ás confissões para que houvesse mais transparência e os padres não fossem tentados. Os confessores passaram a propagar palavras de desprezo em relação às mulheres. A mulher é colocada no plano de insubmissão e inferioridade, a fundamentação era buscada na Bíblia. Muitos discursos foram produzidos para comprovar a inferioridade da mulher. O discurso médico falava da inferioridade física e biológica da mulher. Elas eram melancólicas, irritadiças e tudo mais que fosse negativo. Na verdade, havia uma falta de conhecimento do corpo da mulher, existia um tabu, fazendo com que o médico não se aproximasse muito dela. A imagem da melancolia da mulher surgiu na Antiguidade Clássica (Teoria dos Humores). Segundo os médicos, as mulheres não possuíam equilíbrio dos humores. Os humores eram os elementos formadores que davam origem a tudo. Os quatro humores eram: o sangue, bílis amarela, bílis negra e fleuma ou linfa. Os humores seriam responsáveis pelo temperamento. Os médicos sustentavam ainda que a mulher fosse um macho imperfeito. O discurso jurídico procurava apoio na medicina e na Igreja. Através disso criavam leis que aumentava a misoginia. Várias interdições surgiram contra as mulheres. O homem era o cabeça da casa, a mulher não possuía poder jurídico, não podia exercer a medicina, magistratura atividades eclesiásticas e educadoras. Os demonólogos leigos combinavam o discurso teológico, médico e jurídico para justificar o comportamento feminino, que era considerado fraco. A atmosfera misógina foi ampliada pela literatura e pelas representações iconográficas, que estavam ancoradas em juristas, médicos e teólogos. Os textos e figuras exaltavam ou detratavam a mulher, havia ambigüidade. Na exaltação o que estava sendo focalizado era a submissão ou a desasexualização, dessa forma a exaltação e a destratação pregavam a misoginia. A carga profundamente misógina e androcêntrica marcaram o período moderno."

Bibliografia: DELUMEAU, Jean. Os Agentes de Satã: a mulher. In: História do Medo no Ocidente, 1300-1800. São Paulo: Cia. das Letras, 1996. KRAMER, Heinrich; SPREGER, James. Malleus Maleficarum – O Martelo das Feiticeiras.

publicado por araretamaumamulher - 2009


E POR ISSO MESMO O MUNDO ESTÁ DIVIDIDO E EM GUERRA




Ontem fiz uma pesquisa no Google e encontrei textos meus em vários sitios, Este é um deles, datado de 2010 e cujo blog penso que deixou de ser actualizado. Vou deixar-vos  um texto talvez sujeito a correcções...

Diz a autora, do Blog cujo nome não consegui ver. 

"Em depoimento pungente, a escritora portuguesa Rosa Leonor fala de sua causa pessoal. As pessoas em geral comentam com ela que sua causa é perdida e ultrapassada pois nosso mundo “civilizado” já alcançou os padrões de igualdade e liberdade. Mas a autora finca a voz e brada em nome das mulheres espancadas e violadas, traficadas e prostituídas, e sem identidade...“Já ninguém sequer fala da minha causa com vergonha”, afirma, “ou, então, fala como se fosse uma anedota velha... uma coisa ridícula que todos querem esquecer, homens e mulheres. Especialmente as mulheres…”.
Em essência, Rosa Leonor nos conta que luta em nome do Ser Uno, o Espírito Santo, a Mãe Original, as águas matriciais, o Espírito de Luz... Focos que dizem de perto ao público do Absoluta, você sabe."

A minha causa
"A opressão sobre as mulheres ainda persiste, e por vezes são as próprias mulheres que tornam o mundo ainda mais difícil para as outras mulheres. Mas este fenômeno tende a desaparecer, à medida que essas mulheres opressoras conquistem a sua auto-estima. Do lado oposto a esta selva, nasce um dia novo e glorioso na terra, o dia em que as nossas filhas deixarão de ser julgadas pelas suas paixões ou postas de lado porque terão poder, força e amor."
in O VALOR DE UMA MULHER de MARIANNE WILLAMSON - 1993

A minha causa é uma causa milenar, a única causa que sempre foi posta fora de todas as causas e disfarçada de causa nenhuma... Passaram séculos, mudanças de regimes e ideologias, desde o escravagismo, feudalismo à democracia, mas nunca nenhum sistema pôs verdadeiramente em causa a causa das mulheres...
A minha causa é a causa perdida de que se riem hoje as pessoas “inteligentes”, pois me garantem que a minha causa não tem causa de ser por ser hoje em dia inútil e ultrapassada... e, que neste mundo “civilizado” e de consumo exacerbado, já não se justifica porque já atingimos todos os patamares de liberdade e igualdade... Já ninguém sequer fala da minha causa com vergonha ou, então, fala como se fosse uma anedota velha... uma coisa ridícula que todos querem esquecer, homens e mulheres. Especialmente as mulheres… É uma causa velha como o mundo, e até dela fazem a mais antiga profissão sem que ninguém tenha problemas de consciência pois é tão velha (e injusta) como o mundo, dizem...

Sim, a minha causa é a das Mulheres, de todas as mulheres. Das mulheres espancadas e violadas, das mulheres exploradas, traficadas e prostituídas e sem identidade! Não um feminismo serôdio, mas o Princípio Feminino que falta ao Mundo onde o Masculino é único e exacerbado em todas as sociedades e que serve, inclusivamente, à própria mulher masculinizada à força para vencer na vida; é o Feminino por excelência, o Arquétipo da Deusa, enterrada durante séculos de barbárie pela violência da espada, ou de armas mais sofisticadas, e que é preciso consciencializar (integrar) tanto por homens como por mulheres.
É o princípio não da igualdade, mas o do equilíbrio que pode superar o abismo da diferença que há entre os dois que se dividem e lutam, e cuja Consciência e Harmonia faz da Mulher e do Homem um ser único e íntegro. Talvez seja o Princípio da Androginia, ou do Ser Uno, o Espírito Santo, a Mãe Original, as águas matriciais, o Espírito de Luz, de que Platão falava antes desta História humana contada só a uma voz e que ele começou... A voz dos homens que dominam e exploram metade da Humanidade - as mulheres - desde o princípio da Barbárie, e que é a mesma que vivemos no século XXI...

Talvez a minha causa não se inclua em nenhuma “causa nossa” nem em nenhuma causa política... Porque não uso a linguagem machista, nem faço salamaleques aos donos e senhores da guerra da Mídia ou da Blogosfera... em que impera o mesmo poder, o falocrático...
Talvez a minha causa seja uma causa metafísica, imprópria para mentes modernas e mentes políticas tão "corretas" dos nossos dias que se dividem em grupos, partidos, e entre homem e mulher e dentro de si mesmos... 
OS SERES HUMANOS ESTÃO TODOS DIVIDIDOS E POR ISSO MESMO O MUNDO ESTÁ DIVIDIDO E EM GUERRA.

Um País - um governo - que NEGA BRANQUEIA ou se opõe à liberdade de consciência de uma mulher, que nega a capacidade de discernimento da Mulher-Mãe e a condena pelas suas leis, expondo-a aos seus juízes e padres, em inferioridade, que a humilha e a prostitui, que a subjuga e desprestigia, que permite que sobre a mulher recaiam as situações mais degradantes e miseráveis, é um país condenado à sua queda, tal como o mundo inteiro entregue à violência masculina e à guerra. Aponta, assim, a falta do Princípio Feminino, ontológico, complementar do Princípio Masculino no mundo e, sobretudo, nos países onde a mulher é ainda quase escrava - são países fundamentalistas e fanáticos, miseráveis, tanto na África como no Iraque, no Afeganistão, na América ou na Europa...

Seja em nome de Jeová, seja de Alá... do senhor Maomé ou do senhor Cristo, são em todo o mundo as mulheres que em primeiro lugar são sempre sacrificadas!



Rosa Leonor Pedro -2010
Escritora