O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, agosto 31, 2022

COMO SE QUER ILIMINAR A IMAGEM DA MULHER



A DUALIDADE HUMANA
E A DIVISÃO DOS DOIS PRINCÍPIOS
 
"Dessa dualidade - Deus pai ou Deusa mãe - vai nascer uma dupla visão da Deusa dos tempos primordiais: Virgem prudente ou Virgem louca? A questão parece banal, mas ela compromete todos os séculos que irão seguir-se, não apenas no plano puramente estético, mas naquele muito mais carregado de consequências, da especulação religiosa. (...)
Isto denota uma considerável evolução das mentalidades: tudo se passa como se tivesse querido, conscientemente ou não, eliminar a imagem de uma mulher divina forte em proveito de um homem divino, todo poderoso, cuja relação com a mulher se limitaria a uma relação filho-mãe. "*

A dualidade humana faz parte da Manifestação na Terra e é uma condição sine qua non da existência humana desde todo o sempre. Não que saibamos ao certo nada sobre o inicio dos inicios, mas a espécie como Homo Sapiens, sempre viveu na dualidade. Portanto, no matriarcado, que supostamente antecedeu o patriarcado - periodo a que se chama a pré-história -, também havia o homem e mulher, havia luz e sombra, prazer e dor...calor e frio...vida e morte e claro tudo fazia parte hoje como ontem do corpo cósmico e telúrico da Deusa ou da Grande Mãe porque ela é a Matriz da vida na terra.

Todos os seres humanos desde os primórdios nascem machos e fêmeas, desde Adão e Eva (mitologia e religião à parte) ...excepto talvez antes quando dos mitos e os seus demiurgos, com Lilith...que era, supõe-se, Andrógina ou hermafrodita, mas todo@s nascemos à partida com um corpo diferenciado na encarnação através desse corpo cósmico da Grande Mãe que é a Gaia e todos e todas somos filhos e filhas dela e sempre foi assim, tirando os extraterrestres e outros seres que habitaram a terra em tempos imemoriais? 
O que sabemos é que antes do patriarcado, o reino do Pai e do Filho, reinava a Mãe e a Filha, pelo culto da Grande Deusa - Deméter e Core - que era soberana e as mulheres eram suas mediadoras. De facto a Deusa como Matriz do Mundo criado e concebido por Ela, era a Senhora do Mundo e a mulher ligava ou mediava as forças cósmicas e telúricas, como sacerdotisa da Deusa, mas não o homem...nesse caso ele precisava da mulher para ser iniciado ao amor da Deusa e aos seus Mistérios encarnados na e pela Mulher. Havia é certos homens ao serviço da Deusa e nos Templos, mas não eram sacerdotisas... eram eunucos que se emasculavam para a servir...
Antes da manifestação de um corpo físico na terra, na Matéria, a Matriz, não havia certamente formas nem seres, nem mundos...portanto eramos tod@s só energia...poeira cósmica? Nada ao certo sabemos...

Mas sobre a Deusa há toda uma confusão que se gera por ai em grupos e círculos e sacerdotisas que ignoram a sua divisão e o seu conflito interno proveniente da sua cisão ou divisão em duas mulheres a nivel psiquico. Por isso misturam o masculino sagrado logo a partida e fazem cursos e workshop sem qualquer aprofundamento da sua psique sem grande preparação ou saber e de resto partem de  meras leituras sobre o "Feminino Sagrado"; lamentavelmente,- tirando algumas excepções de mulheres muito sérias e estudiosas - são leituras e cursos feitos na superfície, ou filtrados por um entendimento precário e na falta de um conhecimento profundo do seu ser biológico, digamos. Claro que nem tod@s têm de ser estudios@s, mas convinha então dizer e falar apenas do que se sabe e experimentamos na pele...isto é, devemos falar só do que se conhece de fontes fidedignas...e cingirmo-nos a isso. Muitas vezes nem as próprias mulheres sabem de si e algumas dizem-nos claramente e essa confusão sobre a identidade feminina atinge proporções trágicas neste momento, pelo desconhecimento de si quer a nível psicológico quer a nível espiritual, histórico e por isso DIZEM QUE NÃO SABEM O QUE  É A MULHER.    

 
rlp
*
in A GRANDE DEUSA - Jean Markale (historiador)


terça-feira, agosto 30, 2022

Precisamos voltar a essa essência feminina

 

"Precisamos voltar a essa essência feminina, que corresponde a uma qualidade intrínseca na mulher, que lhe dá acesso a uma consciência de si para além do corpo e da doença. Algo tão belo e misterioso como a própria mulher, que guarde essa semente sendo fiel a si própria e que acorde para a sua totalidade."


Rosa Leonor Pedro, autora do livro "Lilith - A Mulher Primordial: O Feminino e o Sagrado", na apresentação na Feira do Livro de Lisboa.

a minha afinidade com todas as mulheres




"Olhei cada uma daquelas mulheres, e com lágrimas de uma alegria inexplicável, senti dentro de mim que reconhecia todas elas, uma por uma. Vi, ainda, a reencarnação do sonho das mulheres abandonadas na terra. A força terrível do conhecimento surgiu deixando-me ver as irrevogáveis consequências das ações. Fiquei atraída por aquela visão - por aquela misteriosa alegria de viver, por aquele espelho de fatos jubilosos e brutais da vida e da morte, da dor e do prazer. Meus pensamentos seguiam um labirinto de símbolos, imagens e de ideias primitivas, cada uma, a seu modo, mais fascinante que a outra, deixando atrás uma solidão dolorida. Tão poucas pessoas se rendem ao sentimento do amor, tão poucas pessoas o conhecem, poucas o vivem. E, então, para atravessar aquela escuridão, uma ponte, a roda do destino. Daquele momento em diante, reconheci para sempre minha afinidade com aquelas mulheres." 

(O vôo da sétima lua - Lynn Andrews)

"As mulheres são as que educam os homens, seus filhos, seus netos. A mulher é a primeira escola, pois a primeira educação que se recebe é a maternidade. A mulher é a conhecedora dos mistérios da criação; ela conhece o mistério da origem da vida porque ela mesma é doadora de vida através da concepção. Se a Mulher estiver saudável pode formar uma família e uma comunidade saudável. É por isso que a mulher deve ser reconstruída para poder ter uma sociedade mais justa, equilibrada, sábia e harmônica. ”

María Quiñelén, Lawentuchefe (Mulher de Medicina Mapuche)

A PROGRAMAÇÃO DO HOMEM



Desprogramem-se...


"Nós fomos “programados” biologicamente, fisicamente, e, também, “programados” mentalmente, intelectualmente. Devemos estar cientes de que fomos programados como um computador. Os computadores são programados por especialistas para produzirem os resultados que eles desejam.
O homem foi programado para ser católico, protestante, para ser italiano ou inglês, e assim por diante. Durante séculos ele foi programado – para acreditar para ter fé, para seguir certos rituais, certos dogmas; programado para ser nacionalista e ir à guerra. Desse modo, o seu cérebro tornou-se tal como um computador, embora não tão capaz, porque o seu pensamento é limitado.

Perceba o que isso significa: isso significa que você não é mais um indivíduo.
Isso é muito duro de aceitar, porque nós fomos programados religiosamente para pensar que temos almas separadas de todos os demais. Sendo programado, o nosso cérebro trabalha do mesmo modo há muitos séculos.
Temos que aprender a ver as coisas como elas são na realidade, não como fomos programados para olhar!!"

J Krishnamurti


A MULHER NÃO SABE O QUE É UMA MULHER...



O QUE É UMA MULHER?
Ketanj Brown Jackson

O Senado dos EUA aprovou, nesta quinta-feira (7) a indicação do presidente americano, Joe Biden, Ketanji Brown Jackson, para uma cadeira na Suprema Corte do país.

Uma mulher que é eleita para uma cadeira na Suprema Corte dos EUA, e quando um jornalista lhe pergunta o que é uma mulher e ela diz que "não sabe porque não é bióloga", o mundo começa a ficar de pernas para ar... e como dizia alguém, "eu não sou veterinário, mas sei o que é um cão..."

Então eu pergunto o que é que está a acontecer nesta sociedade "politicamente correcta" que quando uma mulher eleita para a Corte Suprema de um Pais não sabe o que é UMA MULHER? O que que é que acontece a seguir? 
E o que é que acontece (a seguir) quando um ser humano diz que não se consegue relacionar com as outras pessoas e que gosta muito de animais numa manifestação do orgulho da "A zoofilia – que também pode ser chamada de zoofilismo, bestialismo ou coitus bestiarum" - e que prefere transar com o seu cão o que é que acontece?
Que espécie de sociedade é esta, tão politicamente degenerada?
rlp

A MULHER...




"Não existe como ser humano: só a sua juventude, a sua "frescura" lhe conferem uma existência. É coisificada, definida apenas por esta característica volátil que é a sua idade."



EXCELENTE DESCRIÇÃO DESTA SOCIEDADE MACHISTA-CONSUMISTA


"A Juventude (das mulheres) foi, portanto, instituída pela nossa sociedade como um totem, e muito mais: um emblema da virilidade dos homens. Quanto mais jovem e bonita for a mulher com que se expõem, mais os homens se encontram confirmados na sua virilidade. Diz-se que ele " conseguiu o grande prémio ", ou melhor, um " Belo lote ", que ele se portou bem, que ele " conseguiu ".
E o felicitam pelo seu achado, com grandes reforços de bourrades amigáveis e reflexões colegial. A mulher jovem é o equivalente do coupe sport, do relógio de luxo, do cartão gold, tantas extensões visíveis de uma masculinidade que precisa parecer para existir.
Não existe como ser humano: só a sua juventude, a sua "frescura" lhe conferem uma existência. É coisificada, definida apenas por esta característica volátil que é a sua idade.
Mas não nos iludamos: não se trata apenas de uma questão de atracção física. Muitos homens também estão entusiasmados com as possibilidades de dominação oferecidas por este tipo de relação. Se todas as relações em que o homem é mais velho do que a mulher não são, evidentemente, abusivas nem fumados de paternalismo, este tipo de configuração pode rapidamente transformar-se num jogo de poder doentio. Com efeito, é fácil, quando se detém o poder económico e cultural no seu casal, abusar dele.
Como disse no meu anterior artigo, o patriarcado tem aos homens que a vulnerabilidade das mulheres era desejável, uma vez que lhes permite envergar as roupas do Salvador e, assim, pôr em evidência a sua "virilidade". porque eles têm. Cresceu em uma sociedade sexista, muitos homens têm dificuldade em conceber relações amorosas sem essa ideia de poder, de ascendência, sem este esquema binário e estereotipado do homem forte que vem ao socorro da mulher sem defesas. Isso não é necessariamente consciente; estes modelos de casal fazem parte da psique colectiva há séculos."


(Quem souber o nome do autor diga por favor...)

sábado, agosto 27, 2022

SEM QUALQUER DUVIDA



"SERES HUMANOS"...?

 
Nem todos somos Seres Humanos - tantas vezes que leio e ouço dizer, "isto não é humano, não pode"..
.Não, não é humano; há muitos seres e muita coisa neste planeta que não é de origem humana, não possuem a dita natureza humana. Sejamos cientes disto. Há seres inorgânicos e invisíveis, mas também há seres orgânicos, com corpo e mente a coabitar entre nós e muitos milhões talvez com aparência de Homens que não são de todo humanos. Eles não são estranhos...são o nosso vizinho...ou o nosso primo...ou o nosso amante...
Podemos ter hoje a certeza absoluta disso. Há à nossa volta seres comuns e ordinários, com quem convivemos até, que nos parecem humanos mas acredito que a grande maioria nem alma possui e a sua "essência" é a negação da própria humanidade. Eles estão maioritariamente nos Governos e nos Bancos e a chefiar os Campos Militares...eles estão na alta finança e por detrás das guerras e do caos, das doenças, da crise e da droga e do crime...eles são os predadores que dão força a todas as acções que afectam a nossa humanidade e visam destruí-la...Com isto não estou a desresponsabilizar os humanos, esses mais próximos, que se traem e que se vendem e que servem as hostes de bestas que controlam o planeta e destroem a Terra Mãe...
Estou hoje, mais do que nunca, convictamente segura que assim é...e que se não acordarmos para a LUZ dentro de nós, seremos as presas fáceis destas hordas de fanáticos e "loucos" que querem invadir o mundo...
rlp
Escrito em 2014

quarta-feira, agosto 17, 2022

Essa voz inconfundível é a força de Lilith.


O TESTEMUNHO VIVO E COMOVIDO DE UMA LEITORA DE LILITH, A MULHER PRIMORDIAL - vem de Espanha...

"Lilith a mulher primordial, é um livro VIVO, portanto, na hora de te aproximares dele... se queres que se revele a ti terás que abrir as janelas de tua alma... porque no caso de lê-lo com o intelecto curioso ou com o intuito de uma leitura crítica ou com muita expectativa... ele não se abrirá a ti tão pouco. Na minha vivência pessoal com ele, estou na minha terceira leitura-aventura repleta de emoções, e comoções... com choros e alegrias ao descobrir o que sempre esteve comigo nas profundezas... essa voz que gritava mediante a dor para fazer-se ouvir mas que a ignorância não deixava nem sequer escutar numa vida cheia de ilusões estéreis. Essa voz que agora ouço e escuto... profunda e poderosamente amorosa e decidida a jamais ser calada... a voz cavernosa que provém das entranhas da Grande Mãe... a voz que faz que cada novo amanhecer seja uma nova oportunidade para sentir... viver e testemunhar o que verdadeiramente é SER MULHER... MÃE... AMANTE... e regozijar-se na vivência de fusão com a existência... um êxtase com a Vida. Essa voz inconfundível é a força de Lilith."
Sabine Carlotti


(Todo o livro é um tesouro para quem abre a janela da sua alma e deixa que a autora, com a sua testemunha, o leve até as profundezas do seu ser. Profunda gratidão, Rosa )
Sabine Carlotti


quinta-feira, agosto 11, 2022

A criação do patriarcado:

A criação do patriarcado 
Gerda Lerner 
Capítulo 11

 A criação do patriarcado:  

O patriarcado é uma criação histórica formada por homens e mulheres em um processo que durou cerca de 2500 anos para ser completado. Na sua forma inicial o patriarcado apareceu como um estado arcaico. A unidade básica de organização foi a família patriarcal, que expressaram e geram constantemente suas regras e valores. Nós vimos como definições integrais de gênero afetaram a formação do estado. Vamos revisar brevemente como o gênero foi criado, definido e estabelecido. O papel e comportamento considerado apropriado para os sexos foram expressados em valores, costumes, leis e papéis sociais. Eles além disso, e muito importante, foram expressados em metáforas, que se tornaram parte da construção cultural e do sistema explicativo. A sexualidade da mulher, consistindo de sua capacidades sexuais, reprodutivas e seus serviços foi transformado em mercadoria antes mesmo na criação da civilização ocidental. O desenvolvimento da agricultura no período neolítico abrigou a “ troca de mulheres” entre tribos, não apenas para evitar o incessante estado de guerra através da aliança por casamentos, mas também pois uma sociedade com mais mulheres poderia produzir mais crianças. Em contraste com a necessidade econômica das sociedades caçadoras/coletoras, a agricultura poderia usar o trabalho de crianças para aumentar a produção e acumular excedentes. Homens-como-um-grupo tinham direitos sobre as mulheres como mulheres-como-um-grupo não tinham direitos sobre os homens. As mulheres em si se tornaram um recurso, adquiridos por homens tanto quanto a terra era adquirida por homens. Mulheres foram trocadas ou compradas em casamentos para o benefícios de suas famílias; mais tarde elas foram conquistadas ou compradas na escravidão, onde seus serviços sexuais eram parte do seus trabalhos e onde suas crianças eram propriedades do seu mestre. Em toda sociedade conhecida foram as mulheres de tribos conquistadas as primeiras a serem escravizadas, onde os homens eram mortos. Foi apenas depois dos homens terem aprendido como escravizar de grupos que poderia ser definidas como estranhas, que eles aprenderam como escravizar homens desses grupos e , após, subordinar de suas próprias sociedades. Portando, a escravização das mulheres, combinando ambos racismo e machismo, precedeu a formação da classe e das opressões de classes. As diferenças de classes foram no seu início expressada e construída em termos de relações patriarcais. Classe não é uma construção separado do gênero, em vez disso, classe é expressada em termos de gênero. No segundo milênio antes de cristo nas sociedades mesopotâmicas, as filhas dos pobres eram vendidas para o casamento ou para a prostituição para satisfazer o interesse econômico de suas famílias. As filhas dos homens que possuíam propriedades poderiam pedir um preço pela noiva, pago pelo família do noivo para a família da noiva, o que frequentemente assegurava para a família da noiva mais vantagens para os casamentos dos filhos, melhorando a posição econômica da família. Se um marido ou pai não pudesse pagar a sua dívida, sua esposa e crianças poderiam ser usadas como peões , se tornando escravos por dívidas de seus credores. Essas condições eram tão firmemente estabelecidas no ano de 1750 A.C. que o código de Hamurábi faz uma melhora decisiva no lote de peões devedores, limitando os termos de serviços por três anos, quando anteriormente era para a vida toda. O produto dessa transformação da mulher em mercadoria – preço da noiva, preço de venda, e crianças - foi apropriado pelos homens. Pode perfeitamente representar a primeira acumulação de propriedade privada. A escravização da mulheres conquistadas de tribos não apenas se tornou símbolo de status para nobres e guerreiros, mas certamente habilitou os conquistadores de adquirir riquezas através de venda ou troca de produtos das escravas de trabalho e seus produtos reprodutivos, as crianças escravizadas. Claude Lévi-Strauss de quem nós tiramos o conceito de “a troca de mulheres”, fala da reificação da mulher, que ocorreu como consequência. Mas não foram as mulheres que foram reificadas e transformadas em mercadoria, foi a sexualidade da mulher e sua capacidade reprodutiva. A distinção é importante. Mulheres nunca se tornaram uma ‘coisa’ nem assim foram percebidas. Mulheres , não importam o quão exploradas e abusadas, retiveram seu poder de agir e de escolher da mesma forma, e frequentemente numa extensão muito limitadas, como homens de seus grupos. Mas as mulheres sempre e até hoje vivem em um relativo estado de não-liberdade que vivem os homens. Desde de que sua sexualidade, um aspecto dos seus corpos, foi controlado por outros, mulheres não apenas estavam em desvantagens mas psicologicamente restringidas e suas maneiras especiais. Para mulheres e para homens de grupos subordinados e oprimidos , a história consiste em suas lutas por emancipação e liberdade por necessidade. Mas as mulheres lutaram contra diferentes formas de opressão e dominância que os homens, e as lutas delas, até os dias de hoje, ficou atrás das lutas dos homens. O primeiro papel de gênero social para as mulheres foi o de ser trocada em transações de casamento. O papel observado para homens foi de ser os que fazem as transações ou os que definem os termos da troca. Outro papel de gênero definido para as mulheres foi o de esposa “dona de casa”, que foi estabelecido e institucionalizado para mulheres de grupos da elite. Esse papel deu para essas mulheres poder e privilégios consideráveis, mas depende de sua ligação com os homens da elite e é baseado minimamente nas performances satisfatórias na prestação de serviços para esses homens nos serviços reprodutivos e sexuais. Se uma mulher falha nessas demandas, ela é trocada rapidamente e consequentemente perde todas os seus privilégios e status. O papel de gênero de guerreiros levou os homens a adquirir poder sobre homens e mulheres de tribos conquistadas. Tais conquistas induzidas por guerras normalmente ocorriam entre pessoas diferentes dos vitoriosos seja por raça, etnia ou simplesmente diferenças tribais. Numa análise final da origem, ‘diferença’ como uma marca entre conquistados e conquistadores foi baseado na primeira diferença observada, sendo a diferença entre sexos. Homens aprenderam como impor e exercitar o poder sobre pessoas minimamente diferentes deles mesmo nas primeiras trocas de mulheres. E fazendo isso, homens adquiram o conhecimento necessário para elevar as “diferenças” de qualquer tipo de critério para dominância. 

Desde o início da escravidão, a dominância de classe tomou formas diferentes entre homens e mulheres: homens eram primariamente explorados como trabalhadores, mulheres foram sempre exploradas como trabalhadoras, como provedoras de serviços sexuais e como reprodutoras. Os registros históricos de todas as sociedades escravizadas oferece evidência para essa generalização. A exploração sexual das mulheres de classes mais baixas por homens das classes mais altas pode ser mostradas na antiguidades, no feudalismo, nas casas burguesas dos séculos 19 e 20 na Europa, na complexa relação entre sexo e raça entre mulheres de países colonizados e os homens colonizadores. Para mulheres, a exploração sexual é a própria marca de sua exploração de classe. A qualquer momento da história, cada ‘classe’ é constituída de duas classes distintas – homem e mulher. A posição de classe da mulher se tornou consolidada e atualizada através de suas relações sexuais. Elas sempre foram expressadas dentro de graus de não-liberdade dentro de um espectro que de um lado é a mulher escravizada, na qual a capacidade reprodutiva e sexual foi transformada em mercadoria assim como ela; passando pela escrava-concubina , que a performance sexual pode elevar seu status ou de suas crianças; e então para a esposa “livre”, em que os serviços sexuais e reprodutivos para um homem da elite a garantem direitos legais e de propriedade. Enquanto cada um desses grupos tem obrigações e privilégios bem diferentes em relação à propriedade, lei e recursos econômicos, eles dividem a não-liberdade de serem controlados pelos homens reprodutivamente e sexualmente. 
Nós podemos expressar da melhor maneiras a complexidade dos variados níveis da dependência e da liberdade das mulheres comparando cada mulher com seu irmão e considerando como as oportunidades e a vida da irmã e do irmão serão diferentes. A classe para os homens foi e é baseada no seus relacionamentos com os meios de produção: aqueles que detém os meios de produção poderiam dominar aqueles que não detinham. Os donos dos meios de produção também adquiriram as mercadorias dos serviços sexuais femininos, tanto das mulheres de sua própria classe como das classes subordinadas. Na antiga mesopotâmia, na antiguidade clássica, e em sociedades escravizadas, homens dominantes também adquiriram, como propriedade, o produto da capacidade reprodutiva de mulheres subordinadas - as crianças, para serem trabalhadoras, trocadas, casadas, ou vendidas como escravas, como convinha o caso. Para mulheres a classe é mediada pelo seus laços sexuais com um homem. É através dos comportamentos sexuais que elas ganha acesso a classe. 
“Mulheres respeitáveis” ganham acesso para a classe através dos seus pais e maridos, mas quebrar as regras sexuais podem às tirar desta classe. A definição sexual de “desviada” marca uma mulher como “não respeitável”, que de fato a coloca na mais baixa classe possível. Mulheres que recusam serviços sexuais (como mulheres solteiras, freiras, lésbicas) estão conectadas com os homens dominantes pela suas famílias de origem e através deles ganham acessos a recursos. Ou, em alternativa, elas são rebaixadas. Em alguns períodos históricos, conventos e outros locais para mulheres solteiras criaram locais protegidos nos quais tais mulheres poderiam funcionar e reter sua respeitabilidade. Mas a vasta maioria das mulheres solteiras são por definição, marginais e dependentes da proteção dos parentes masculinos. Isso é verdade através da história até meados do século XX no mundo ocidental e ainda é a realidade na maior parte dos países subdesenvolvidos hoje. O grupo de mulheres independentes, e auto sustentável que existe em todas as sociedades é pequeno e altamente vulnerável ao desastre econômico. Opressão econômica e exploração são baseadas na mercantilização da sexualidade feminina e na apropriação por homens do poder de trabalho das mulheres e do poder reprodutivo delas, assim como a sua direta aquisição de recursos e pessoas. O arcaico estado do Antigo Oriente emergiu no segundo milênio A.C. das raízes da dominância sexual masculina sobre as mulheres e da exploração de alguns homens sobre outros. No seu começo, o estado arcaico foi organizado de tal maneira que a dependência do chefe de família ao rei ou à burocracia do estado foi compensada pela sua dominância nas famílias. O chefe da família aloca os recursos da sociedade para a suas famílias da mesma maneira que o estado alicia os recursos da sociedade para eles. O controle do homem chefe da família sobre os parentes femininos e filhos menores era tão importante para a existência do estado assim como o controle do rei sobre os seus soldados. Isso é refletido nas várias compilações das leis mesopotâmicas, especialmente no grande número de leis lidando com a regulamentação da sexualidade feminina. A partir do segundo milênio A.C. em diante o controle sobre o comportamento sexual dos cidadãos tem tido um grande significado de controle social em todos os estados da sociedade. De modo inverso, a hierarquia de classe é constantemente reconstituída dentro da família através de dominância sexual. Independente do sistema político ou econômico o tipo de personalidade que pode funcionar em um sistema hierarquizado é criado e cuidado dentro de uma família patriarcal. A família patriarcal tem sido incrivelmente resiliente e variada em diferentes tempos e locais. 
O patriarcado oriental incorporou a poligamia e manteve as mulheres presas em harems. Patriarcado na antiguidade clássica e no desenvolvimento da Europa foi baseado na monogamia, nas suas formas de duplo padrão sexual, que não é vantajoso para as mulheres, é parte do sistema. No estado industrial moderno, como os Estados Unidos, as relações de propriedades dentro da família desenvolveram linhas mais de igualdade do que as que o pai possui poder absoluto, mas nas relações econômicas e sexuais dentro da família não mudaram necessariamente. Em alguns casos, relações sexuais são mais iguais, enquanto as relações econômicas mantém-se patriarcais; em outros casos o padrão se reverte. Em todos os casos, no entanto, tais mudanças dentro da família não altera a dominação masculina no ambiente público, nas instituições e no governo. A família não apenas reflete a ordem do estado e educa as crianças a seguir ele, mas também cria e constantemente reforça essa ordem. Deveria ser notado que quando falamos em melhoras no status da mulher dentro da sociedade, ela frequentemente significa apenas que estamos vendo melhoras em algum grau onde a situação oferece oportunidade de exercer alguma influência dentro do sistema do patriarcado. Quando mulheres têm relativamente mais poder econômico elas têm algum tipo de controle sobre suas vidas que em sociedades onde não tem poder econômico nenhum. Similarmente a existência de grupos de mulheres, associações, ou redes de serviços econômicos servem para aumentar a habilidade das mulheres de agir contra a ditadura patriarcal que age particularmente. Alguns antropologistas e historiadores chamou essa melhora relativa de “liberdade”. Essa designação é uma ilusão e injustificável. Reformas e mudanças legais, enquanto amenizam a condição da mulheres e é necessário para a o processo de emancipação, não irá mudar o patriarcado em sua base. Tais reformas precisam ser integrada dentro de uma revolução cultural vasta na condição de transformar o patriarcado e então abolir ele. O sistema patriarcal funciona apenas com o cooperação das mulheres. Essa cooperação é assegurada de maneiras diversas: doutrinação de gênero; privação de educação; a negação às mulheres sobre sua história; divisão das mulheres, uma das outras, pela definição de “respeitáveis” e “degeneradas” de acordo com a atividade sexual das mulheres; por restrições e coerção completa; por dicromiação no acesso de recursos econômicos e de poder político; e por garantir privilégios de classe à mulheres que conformam com as regras. Por quase quatro mil anos mulheres têm moldado suas vidas e agido debaixo do guarda-chuva do patriarcado, especificamente na forma melhor descrita do patriarcado como a dominância paternalista. O termo descreve uma relação de um grupo dominante, em que a dominância é mitigada por obrigações mútuas e direitos recíprocos. O dominado troca sua submissão por proteção, trabalho não remunerado por subsistência. Na família patriarcal, responsabilidades e obrigações não são igualmente distribuídas entre os que são para ser protegidos: os filhos homens são temporariamente subordinados à dominância do pai; ela dura até quando eles se tornam chefes de famílias. A subordinação das filhas e esposas dura a vida toda. Filhas podem escapar se apenas elas se colocarem enquanto esposas sob a dominância/proteção de outro homem. A base do paternalismo é um contrato não escrito de troca: suporte econômico e proteção dada por um homem, em troca de subordinação em todos os aspectos, serviços sexuais, e serviços domésticos não remunerados dados pelas mulheres. Ainda sim o relacionamento frequentemente continua de fato e na lei, até quando o homem não cumpre a sua parte da obrigação. Foi uma escolha racional para as mulheres, em condições de falta de poder e dependência econômica, escolher protetores fortes para elas e suas crianças. Mulheres sempre dividiram os privilégios de classe dos homens de sua classe enquanto elas estiverem sob “proteção deles” . Para mulheres, outras além das de classes mais baixas, o “acordo recíproco” ocorria dessa maneira: em troca de sua subordinação sexual, econômica, política e intelectual aos homens, vocês podem dividir o poder dos homens de sua classe em explorar homens e mulheres de classes mais baixas. Na sociedade de classes é difícil para pessoas que tenham algum poder, mesmo que limitado e restrito à algo, possam se ver como também privadas e subordinadas. Privilégios de raça e classe servem para rebaixar a habilidade da mulher de ver elas mesmas como parte de um grupo coerente, já que as mulheres diferente de todos os outros grupos oprimidos, ocorrem em todos os estratos da sociedade. A formação do grupo de mulheres conscientes têm de proceder através de diferentes linhas. Esta é a razão porque formulações teórica, que foram apropriadas por outros grupos oprimidos, são tão inadequadas em explicar e conceitualizar a subordinação das mulheres. 

Mulheres durante milênios participaram do processo de sua própria subordinação porque elas foram moldadas psicologicamente para internalizar a ideia de sua própria inferioridade. A falta de conhecimento da própria história de luta e sucesso tem sido um dos maiores meios de manter as mulheres subordinadas. A conexão da mulher com a estrutura familiar fez com que qualquer desenvolvimento de solidariedade feminina e grupos coesos fossem extremamente problemáticos. Cada mulher individualmente está ligada ao seu parente masculino na sua família de origem através de laços que implicam obrigações específicas. A sua doutrinação, desde criança, enfatizam a sua obrigação não apenas na contribuição econômica para os parentes e para o ambiente familiar mas também para aceitar o parceiro a partir do interesse da família. Outra maneira de dizer é que o controle sexual das mulheres está ligado à proteção paternalista e que, em vários estágios da vida dela, ela muda de de protetores masculinos, mas nunca cresce o estado de infantilização de ser subordinada e de estar sobre tutela. Outras classes oprimidas e grupos foram impelidos para a consciência de classe pela sua própria condição de seu status de subordinação. Escravos podiam claramente marca uma linha entre os interesses e laços com suas famílias e laços de subserviência/proteção com o mestre. De fato, proteção dos escravos parentes de sua própria família contra os mestres foi uma das mais importantes causas das revoltas de escravos. 
Mulheres “livres” por outro lado, aprenderam cedo que seus parentes lhe abandonariam caso elas se rebelassem contra sua dominação. Em sociedades tradicionais e camponesas há vários registros de mulheres da família que toleraram e até participaram de castração, tortura e até morte de meninas que transgrediram a “honra” da família. Nos tempos bíblicos a comunidade inteira se juntava para matar à pedradas as adúlteras. Práticas similares permaneceram na Sicília, Gŕecia e Albânia até no século 20. Em Bangladesh Pais e maridos expulsam suas filhas e mulheres que foram estupradas por soldados invasores, mandando elas para a prostituição. Assim, mulheres, são frequentemente forçadas a fugir de um “protetor” para outro, sua “liberdade” frequentemente definida apenas por sua habilidade de manipulação entre esses protetores. O maior indicativo de impedimento para o desenvolvimento de consciência de classe para as mulheres foi a ausência de tradição que reafirmariam a sua independência e autonomia e qualquer período. Nunca houve nenhuma mulher ou grupo de mulheres que vivem sem a proteção masculina, até onde a maioria das mulheres sabiam. Nunca houve nenhum grupo de pessoas como elas que tivessem feito qualquer coisa significativa para elas. Mulheres não tem história- é o que disseram; então elas acreditaram. Assim, finalmente, foi a hegemonia masculina sobre o sistema simbólico que mais decisivamente deixou as mulheres menos favorecidas"

quarta-feira, agosto 10, 2022

COMO PENSAM AS MULHERES, POR SI OU PELOS HOMENS?




REPETITIVO

Carla Sampaio:
Achei o livro muito repetitivo e sem coerência, como bem a autora declara no final do livro. Igualmente uma emotividade desnecessária nas palavras, transversais a outros temas, quando poderia existir uma neutralidade na apresentação do tema. Talvez usar de pragmatismo na exposição do tema seria benéfico. Estava muito interessada no tema e saí desiludida
.

Este comentário ao meu livro Lilith A Mulher Primordial, de uma (não) leitora desconhecida, encontrado na WOOK, mostra-me realmente como as mulheres intelectuais ou pretensamente intelectuais pensam com um ego masculino, em nome da logica, da ordem, gramática, e que pede do livro, organização, neutralidade, pragmatismo e não emoção, tudo isto ao contrário da Mulher... Portanto, razão logica e programação... contra, intuição emoção e desordem ... sim, o sentir pensar da mulher é diametralmente oposto ao do homem.  


COMO PENSAM AS MULHERES? 
 
A mulher moderna, sobretudo as mais jovens,  manteve-se e mantem-se presa desde há décadas ao pensamento masculino, à escrita masculina, à sua filosofia, a sua psicologia, usando as mesmas ideias e conceitos, partindo da "base de dados" dos registos do patriarcado, sendo que ela é apenas uma mulher dividida entre  corpo-sexo e mente-intelecto (cérebro esquerdo), dicotómica, que não entendeu essa MULHER de dentro, (sem ligação ao Principio Feminino (cérebro direito) nem a ferida da sua Psique dividida, como um subproduto da sociedade e da cultura machista, patriarcal e falocrática - e negando certamente que se nasce mulher... 
Este comentário é excelente como exemplo de tudo o que a mulher não é...e encontra-se nos antípodas do que é a mensagem do livro. Para mulheres... não para mulheres-homens! 
E sim, cara Simone de Beauvoir, nasce-se mulher e o que falta à mulher moderna e que veio depois de si, é a ligação com a sua essência... com a sua alma-espírito, com o sentido do sagrado, que você não teve em conta. 
A Verdade irredutível para mim é que a Mulher nasce mulher tal como o homem nasce homem; essas são as coordenadas da Natureza biológica e anímica do homem e da mulher à partida e marca as diferenças entre si, seja do sentir seja do pensar, mas a mulher moderna ficou-se apenas no pensamento cartesiano e logico e pensa e logo julga que é o que pensa!...sem perceber sequer ou dar-se a hipotese de entender  que a sociedade machista e falocrática a modelou à sua maneira e como quer desde que nasce para obedecer ao dono ao pai e ao senhor, e assim anulando todas as características do ser feminino, (excepto o sexo)  relegado para o inconsciente e dai até chegarmos a esta deriva dos géneros foi um passo, para cairmos  precisamente numa construção fictícia social-cultural do que não é o feminino e o masculino, anulando ambos,  porque falta à mulher essa consciência de si como mulher-essência-emoção-intuição! 
Falta à mulher moderna  uma consciência psicológica e ontológica no sentido de uma existência superior para lá das ideias e da vida concreta, mente razão, reduzida ao palco do mundo consumista e materialista dentro da ordem patriarcal.

Sim, o que eu digo  e escrevo só pode ser entendido ao nível de uma visão muito mais alargada e que não pode ser só "positivista", nem marxista, nem logica, e por isso, apesar de concordar com algumas ideias das feministas, e até possa sentir grande afinidade com muito do seu trabalho sem duvida importante do ponto de vista social e economico, faltou-lhes o aprofundamento das raízes da mulher primordial!
A mulher tem de reescrever a sua história e a sua experiência a partir de uma nova consciência de si através  de uma nova linguagem, sim emocional, poética e visionária, a linguagem  da Mulher Integrada. A Mulher Primordial antes da queda... Lilith sim, tem uma palavra a dizer...
rlp


FALAR E ESCREVER MULHER

"Enquanto as mulheres permanecerem em silêncio, estarão excluídas do processo histórico. Mas, se começarem a falar e a escreverem como os homens, entrarão na história subjugadas e alienadas; trata-se de uma história que, logicamente falando, o seu discurso deveria desintegrar

Aquilo de que nós precisamos, tal como propôs Mary Jacobus, é uma escrita de mulher que funcione dentro do discurso "masculino", mas que trabalhe "ininterruptamente para o desconstruir: para escrever o que não pode ser escrito"; e, de acordo com Soshana Felman, " o desafio com o qual a mulher é hoje confrontada é nada menos do que o de "reinventar" a linguagem...o de falar, não só contra, como também fora da estrutura falocêntrica especular, o de estabelecer um discurso cujo estatuto não seja definido pela falácia do significado masculino"

in "GÉNERO, IDENTIDADE E DESEJO"

Antologia Crítica do Feminismo Contemporâneo

Organização de ANA GABRIELA MACEDO


quinta-feira, agosto 04, 2022

DOR: O CONVIDADO INDESEJADO



13 DE AGOSTO DE 2019 | 
Obra de Edel Rodriguez

O grande poeta sufi Rumi ensina: "Este ser humano é uma casa de hóspedes. Todas as manhãs uma nova chegada. Uma alegria, uma depressão, uma maldade, alguma consciência momentânea vem como um visitante inesperado."

Mas de todos os visitantes que chegam sem licitação à nossa porta, a dor talvez seja a menos bem-vinda. Ele pode aparecer de repente, nos debilitando fisicamente e enérgicomente, absorvendo nossa capacidade de atender a qualquer outra coisa — e pode ser obstinado em sua determinação de nunca sair. Para a pessoa com dor, não há nada mais imediato. A dor pode sentir malévola enquanto te mantém refém. Em casos extremos, como o sofrimento bíblico de Jó, uma pessoa pode até se sentir torturada por alguma punição superior.

Muitos irão aconselhá-lo que há uma razão para sua dor e que se você pudesse apenas curar suas feridas emocionais subjacentes, a dor iria deixá-lo sozinho. Mas o corpo não é uma abstração, e a dor ri da simplicidade excessiva dessa maneira de pensar.

O corpo é o primeiro portão de pertencimento. E embora tantas pessoas se sintam em casa em seus próprios corpos, estou espantado com o quão raramente é mencionado nas muitas conversas que tenho sobre pertencer aos outros. Sua ausência em nossa consideração fala volumes. Há muitos fatores contribuintes para a desconexão corpo-alma da humanidade, mas o modelo médico ocidental é um grande defensor do desprendimento nessa dor e desconforto são considerados inaceitáveis e onipresentemente controlados com medicamentos.

Se podemos diminuir o sofrimento daqueles que precisam, então é claro que deve ser uma coisa boa. Mas a medicina moderna tem sido tão consumadamente afastada de suas origens sagradas que não vê mais como a dor pode ser vista como significativa ou mesmo benéfica. Esse paradigma nos torna não apenas intolerantes à nossa própria dor, mas intolerantes àqueles que sofrem com dor crônica.

Estamos tão obcecados em curar doenças e erradicar a dor que somos incapazes de considerar as pessoas vivendo com dor como levando vidas intactas. Mas talvez mais insidioso seja como isso nos afasta de nossa própria dor e doença miserável. Estamos tão motivados a "ficar bem" que raramente mostramos qualquer bondade acolhedora a esse convidado inesperado em nossas vidas.

Rumi diz que gritar de fraqueza é o que convida a cura a derramar em sua direção. Ele escreve: "Tudo que a medicina quer é a dor para curar." Quão forte deve ser para se permitir ser visto em sua fraqueza. E como é corajoso o outro ser inabalável indefeso. A dor me levou à prática de aparecer de mãos vazias e ainda ser adorável. Dor, lesão e doença nos pedem para considerar que nossas vidas são dignas sem justificativa.

A verdadeira cura é um processo sem amor de viver nos longos períodos de dor. Forjando para a frente na escuridão. Mantendo a tensão entre a esperança de ficar bem e a aceitação do que está acontecendo. Ter uma devoção à tarefa impossível de recuperação, enquanto está disposto a viver com a permanência de uma ferida; amizade com ele com uma tenacidade séria para encontrá-lo onde ele vive sem empurrar nossa agenda sobre ele. Mas aqui está o paradoxo: você deve aceitar o que está acontecendo, mantendo o coração pulsando para que você se torne, por mais lento e sussurrante que possa ser.

Por todas as vezes que alguém lhe perguntou como você está, e você se sentiu pressionado a dizer "estou bem" quando bem não era toda a sua verdade, eu lhe ofereço esse desejo: que isso te encontre não apenas bem, mas todas as coisas que ser humano nos pede. E para lembrá-lo que você estar vivo, em todas as suas cores magníficas e complicadas, é mais do que suficiente para o amor. Em vez de procurar incessantemente ficar bem, ou ansiar por "como as coisas costumavam ser" ou "pode ser um dia novamente", devemos estar dispostos a andar com nossa dor. Ou pelo menos estar disposto a dizer: "Isso também é bem-vindo. Isso também pertence."

Trecho de "Belonging" de Toko-pa Turner

segunda-feira, agosto 01, 2022

ESTAMOS TOD@S CONTAMINAD@S?



"DEZ DOENÇAS TRANSMITIDAS ESPIRITUALMENTE.


1) ESPIRITUALIDADE FAST-FOOD: Consiste em acreditar que existem remédios rápidos e fáceis para eliminar o sofrimento e evoluir espiritualmente. A transformação espiritual não pode ser rápida, porque o próprio processo espiritual consiste em deixar a pressa e respeitar seus próprios ritmos naturais.

2) ESPIRITUALIDADE IMITATIVA: É a tendência de falar, vestir e /ou agir como uma pessoa espiritual. É como usar uma pele de leopardo para parecer um leopardo.

3) MOTIVAÇÕES CONFUSAS: Embora o desejo de crescer seja genuíno, muitas vezes se mistura a outras motivações, como pertencer, ser amado, ser especial ou até mesmo pela ambição pessoal superior e materializante.

4) IDENTIFICAR-SE COM EXPERIÊNCIAS ESPIRITUAIS: Ocorre quando o ego, depois de viver uma experiência espiritual, se apropria desta, de tal maneira, que se permite acreditar que toda a sua evolução provém dessas experiências espirituais, que na realidade são estados transitórios que transcendem o ego.

5) O EGO ESPIRITUAL: Quando a pessoa se identifica excessivamente com os conceitos e ideias espirituais, ela tende a ser invulnerável à crítica, então, seu crescimento é desacelerado. Ela se torna um ser impenetrável, removido do mundo.

6) PRODUÇÃO EM MASSA DE MESTRES ESPIRITUAIS: Atualmente, existem muitas tradições espirituais que dão títulos a pessoas que estão longe de terem alcançado seu domínio espiritual e ainda assim são vendidas como mestres espirituais. O problema não é que esses professores treinem outras pessoas, mas que elas sejam apresentadas como tendo alcançado um alto grau de domínio.

7) ORGULHO ESPIRITUAL: A pessoa, depois de ter atingido um grau real de espiritualidade, fica ali se desculpando com esse conhecimento para não continuar crescendo. É frequentemente associado a um sentimento de superioridade, de ser melhor que os outros.

MENTE EM GRUPO: Também descrita como pensamento de grupo, mentalidade de culto ou doença do ashram, ocorre quando pessoas pertencentes a um determinado grupo aceitam as regras implícitas sobre como pensar, falar, vestir e agir. As pessoas com esse "vírus" rejeitam outras que não cumprem esses regulamentos.

9) O COMPLEXO DE ELEITOS: É a crença de que "nosso grupo é mais evoluído, poderoso, esclarecido, ou simplesmente melhor que os outros". É diferente pensar que encontramos o melhor grupo para nós do que pensar que é o melhor grupo.

10) O VÍRUS MORTAL- O "JÁ CHEGOU": esta doença é tão forte que tem o potencial de matar o crescimento espiritual. É algo como: "Cheguei ao fim do meu crescimento espiritual, não tenho mais nada a aprender". Naquele momento, o crescimento espiritual cessa, é como se matássemos nossa alma."

Adaptado de: "Olhos bem abertos: cultivando discernimento sobre o espírito"