O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, maio 31, 2005

"- Deus, Deus, Deus? disse o anarquista. Há séculos que Deus morreu; mas tem levado tanto tempo a fazer-lhe o caixão que já infesta o ar de seu apodrecimento."
Fernando Pessoa - Aforismos e Afins

ROSAS E GUERRAS, PALAVRAS E CORES...
...é tudo ignorância diluida...

Não digas nada! Que hás-me de dizer?
Que a vida é inutil, que o prazer é falso?
Dí-lo de cada dia o cadafalso
Ao que ali cada dia vai morrer.
Mais vale não querer.

Sim, não querer, porque querer é um ponto.
Ponto no horizonte de onde estamos,
E que nunca atinges nem achas,
Presos locais da vida e do horizonte
Sem asas e sem ponte.

Não digas nada, que dizer é nada!
Que importa a vida, e o que se faz na vida?
É tudo uma ignorância diluida.
Tudo é esperar à beira de uma estrada.
A vinda sempre adiada.


Fernando Pessoa

segunda-feira, maio 30, 2005

A PROPÓSITO DO SIM E DO NÃO...EM FRANÇA
EM QUE A EXTREMA ESQUERDA SE UNIU À EXTREMA DIREITA
E JUNTAS FAZEM A FESTE DO NADA...




O Fim da Civilização

Quando se extinguirá esta sociedade corrompida por todas as devassidões, devassidões de espírito, de corpo e de alma? Quando morrer esse vampiro mentiroso e hipócrita a que se chama civilização, haverá sem dúvida alegria sobre a terra; abandonar-se-á o manto real, o ceptro, os diamantes, o palácio em ruínas, a cidade a desmoronar-se, para se ir ao encontro da égua e da loba.

Depois de ter passado a vida nos palácios e gasto os pés nas lajes das grandes cidades, o homem irá morrer nos bosques. A terra estará ressequida pelos incêndios que a devastaram e coberta pela poeira dos combates; o sopro da desolação que passou sobre os homens terá passado sobre ela e só dará frutos amargos e rosas com espinhos, e as raças extinguir-se-ão no berço, como as plantas fustigadas pelos ventos, que morrem antes de ter florido.

Porque tudo tem de acabar e a terra, de tanto ser pisada, tem de gastar-se; porque a imensidão deve acabar por cansar-se desse grão de poeira que faz tanto alarido e perturba a majestade do nada. De tanto passar de mãos e de corromper, o outro esgotar-se-á; este vapor de sangue abrandará, o palácio desmoronar-se-á sob o peso das riquezas que oculta, a orgia cessará e nós despertaremos.

(...)
in "Memória de um Louco" de Gustave Flaubert

SIM, ONDE É QUE O HOMEM QUER CHEGAR COM AS SUAS CONTRADIÇÕES E ABERRAÇÕES SENÃO À DESTRUIÇÃO DA TERRA?
- SALVAR-SE-ÃO OS LOUCOS E OS POETAS...

domingo, maio 29, 2005

É PRECISO E URGENTE ACORDAR A GRANDE MÃE...

- Vai!...Vai!...Chegou a hora! Vai unir-te às humilhadas filhas da noite, tuas irmãs! Ao som dos tambores do sangue ide acordar a Grande Mãe! Quebrai o vidro tumular em que o tirano coroado de louro aprisionou a sua augusta ira! Chegou a hora! Libertai a fúria exilada nos cristais do seu sono milenar! Chegou a hora! Com o tirso do ódio excitai as matilhas do instinto! Lançai as ágeis cadelas de Lyssa aos calcanhares do déspota solar! Que o seu poder decline e o cadáver seja de novo oferecido à vingativa rapina das bacantes!

In A MADONA de Natália Correia



O ESTADO DA “HUMANIDADE” - HOMEM
E OS "DIREITOS HUMANOS"(DOS HOMENS)...


Eu sei que este mundo é velho e bárbaro mas não consigo deixar de ficar perplexa em como é que esta “humanidade” consegue aceitar e viver neste estado de tão absoluta aberração e alienação da condição de ser humano, se assim lhe posso chamar, pois na verdade o que se revela hoje em dia aos nossos olhos e em todo o mundo é, não a condição do Homem, mas a condição da BESTA que é o homem...

Não pode ser menos do que uma Besta um homem que viola bebés, filma e divulga esses filmes na Internet que por sua vez é consumida por outras bestas em estado puro.

Um homem que viola crianças e que ainda por cima exibe o que faz a um ser inocente, provoca a grande náusea de pertencer a esta raça e cria uma revolta e uma repulsa tão terrível a qualquer mulher e sobretudo a uma mãe! Só de pensar que uma dessas mães ia trabalhar ou ao cinema e deixava um bebé de dois anos a ser violado por um animal racional de 23 anos, quem sabe até simpático, “fiável” e gentil... Todo o criminoso tem um lado humano tal como Hitler tinha e ao que parece gostava de cães e crianças também...
Pior ainda é se há uma mãe ou pai que o consente e um deles era, parece, neste caso, conivente com os criminosos e a que título? Por dinheiro concerteza. Esta é a grande miséria do mundo moderno, dito civilizado...
Mas para mim o pior não é só isso, é saber que essas BESTAS em nome dos “direitos humanos”, eles que nada tem de humanos, vão ser defendidos e que a “Defesa” se encarniça para os defender e para provar que estão inocentes e que metade dos advogados neste planeta são advogados da BESTA ou seja do DIABO...

E como aconteceu recentemente, em Portugal um padre afirmar (a mando da Igreja de Roma continuar a atacar as mulheres...)"que é mais grave uma mulher fazer aborto do que se assassinar uma criança de cinco anos"...e até tem lógica, pois sabemos que os próprios padres não são fiáveis e violaram crianças a torto e a direito, sendo poupados e mantidos ocultos os seus crimes durante anos pelo Sumo Pontífice...

A Casa Pia em Portugal não foi mesmo aqui na nossa cara e com “políticos e actores famosos”, sem que ninguém durante décadas se importasse muito com isso? Todos os sistemas falocráticos e os patriarcas de todo o mundo se defendem e ocultam uns aos outros porque essa é a sua lei onde as mulheres e meninas sempre foram violadas e prostituídas, as mais pobres e nos países também mais pobres sem nenhum problema...
Já não bastavam a fome a guerra a violência, o tráfico de mulheres, crianças e órgãos, como ainda violar bebés em plena cidade de Madrid, um grupo organizado que divulgava esse horror na Internet?

Há seres humanos que sabem ler e escrever e violam e matam crianças e outros que têm prazer em ver? Como é que esta Humanidade-Homem chegou a este ponto de hipocrisia?

Que animais são estes? Que lhes fez esta sociedade e os seus pais, parentes, vizinhos e padres? Quem sabe não foi um desses “próximos” que os violou em criança também...como eu conheci um ou mais casos...

A bestialidade tem de começar em algum lado e é certamente no homem que começa, seja o pai, seja o tio, sejam padrinhos ou padres...Estes são os primeiros abusadores como o são regra geral todos os patriarcas e formas de poder masculino, sobre as mulheres e as crianças há milénios, e este ciclo infernal vem de muito longe...

Mas quando é que vai parar? Quando é que vamos deixar de fingir e de mentir e de que nada disto acontece e ainda por cima ilibar, defender casos como estes? Um violador de crianças ou mesmo de mulheres merece a prisão perpétua e trabalhos forçados, servindo a comunidade que tanto ofendeu...mas a verdade é que é esta mesma sociedade que é corrupta e se espelha inconscientemente na bestialidade e por isso a minimiza ou relativiza e até consente...

Para quando a revolta das Mães? Para quando a revolta das Mulheres no mundo inteiro?
As mulheres que se contentam em fazer uma "manta de retalhos" que é espelho das suas vidas de escravas modernas...

R.L.P.

sábado, maio 28, 2005

AS MULHERES TAMBÉM SÃO GENTE...

Sempre que escrevo ou transcrevo um texto em que aparece a expressão “O Homem”, no sentido da humanidade, em que obviamente as mulheres são aglutinadas ao termo, adopto a expressão mais abrangente e a meu ver mais correcta de “Ser humano”. Faz-me alguma confusão estar a ler certas autoras e vê-las persistentemente falar no masculino (mesmo até quando só falam de mulheres) podendo sempre recorrer a esta expressão já que não iríamos dizer “A Mulher” incluindo os homens pois pareceria imediatamente caricato e depreciativo...No entanto nós somos a metade(submetida e explorada)da Humanidade.
Se adoptarmos a expressão de “Ser Humano”, em vez de “o homem” sobretudo nós mulheres, as ignoradas pela semântica, poderemos estar de forma muito subtil, mas efectiva a transformar a linguagem que é à partida só dos homens.

Como sabemos, podemos estar várias mulheres adultas juntas a falar, mas se houver um rapazinho no meio, somos obrigadas a vergar o verbo à sua supremacia linguistica e isso eu não consigo aceitar...
Teremos efectivamente de recorrer ao sentido neutro da expressão ao referirmo-nos aos dois sexos, por exemplo, podemos dizer, além de Ser Humano, a Pessoa Humana ou a Criatura humana...ou a gente, embora não seja muito correcto, mas todos/as somos gente, pessoas, seres humanos e em suma, criaturas de Deus, partes de um/a deus/a maior, o nosso próprio ser completo!

Invente-se pois ou crie-se um termo mais abrangente e justo que englobe os dois sexos!
Assim como somos todos/as filhos/as da Grande Mãe Terra e do Pai Céu. Tal como no Princípio, Deus/a nos criou homem-mulher.


R.Leonor Pedro

A DUALIDADE HUMANA
E A DIVISÃO DOS DOIS PRINCÍPIOS


"Dessa dualidade - Deus pai ou Deusa mãe - vai nascer uma dupla visão da Deusa dos tempos primordiais: Virgem prudente ou Virgem louca? A questão parece banal, mas ela compromete todos os séculos que irão seguir-se, não apenas no plano puramente estético, mas naquele muito mais carregado de consequências, da especulação religiosa. (...)

Isto denota uma considerável evolução das mentalidades: tudo se passa como se tivesse querido, conscientemente ou não, eliminar a imagem de uma mulher divina forte em proveito de um homem divino todo poderoso, cuja relação com a mulher se limitaria a uma relação filho-mãe. "(...)


in A GRANDE DEUSA - Jean Markale

sexta-feira, maio 27, 2005



A NOITE UTERINA
“Os seres humanos sempre souberem, no mais recôndito de si, que algo de essencial se passava dentro do ventre da mãe que os concebeu. Desde que possa livrar-se da canga rígida da educação, cada ser humano sente que existe uma realidade inegável embora difícil de detectar. Mas aquilo que durante algum tempo continua oculto não deixa por isso de ser concebível. Assim, desde as entoações cantadas pelos poetas de todos os tempos para exprimir as ressonâncias desta vida uterina preexistencial até aos sentimentos mais finos e ainda mais subtis que se inscrevem e se imprimem com força na carne de cada um num diálogo com a própria vida, tudo nos revela esta percepção primeira. Ela funde-se - não é verdade? - em cada célula, agindo como a própria expressão da criação que se incarna. É de salientar apenas a acuidade poderosa e sensível em que o ser humano consegue sentir-se arrebatado, talhado no ventre materno pelo gerador da vida:”

“Nada nos fios da minha estrutura Vos é desconhecida; e todos eles foram escritos no Vosso livro; cada dia da minha vida foi prefixado, antes que um só deles existisse”

Salmo CXXXIX

A.A.TOMATIS - Autor do Livro "Noite Uterina"

«««««««««««««««

Yo no sé lo que busco eternamente
en la tierra, en el aire y en el cielo;
yo no sé lo que busco, pero es algo
que perdí no sé cuando y que no encuentro,
aun cuando sueñe que invisible habita
en todo cuanto toco y cuanto veo.

Felicidad, no he de volver a hallarte
en la tierra, en el aire, ni en el cielo,
¡aun cuando sé que existes
y no eres un vano sueño


ROSALIA DE CASTRO

quinta-feira, maio 26, 2005


Vem e embala-nos,
vem e afaga-nos,

Vem Soleníssima
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar

Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Turris-Erbúrnea das Tristezas dos Desesperados,
Mão fresca sobre a testa em febre dos Humildes,
Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados.
Vem, lá do fundo
Do horizonte lívido

Beija-nos suavemete na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma.

(excerto da Ode à noite de F.PESSOA)

HOJE,
O CORPO DA DEUSA


Tinha vontade de te ver Mãe, de te dizer coisas que não digo a ninguém,
coisas que não se dizem por palavras, coisas de seres solitários e tristes
que vivem de espasmos de amor entre a terra e o céu na esperança de infinito...

Coisas sagradas da visão unívoca que só o espírito uno pode enxergar...

Vontade de te dizer a ti Mulher,
coisas que não sei nem nunca disse a mim mesma...

Falar-te como a um espelho mágico e sem mácula,
que me fizesse lembrar coisas ignoradas na penunbra de vidas,
memórias de viajante do espaço, nómada do cosmos que eu fui,
encalhado agora nesta plataforma de esquecimento e dor...

Lembrar as nossas vidas que se entrecruzam
entre um passado e um futuro de que a presente vida é ponte frágil;
libertar este grito dilacerante de toda a luta absurda e humana
e que só a consciência superior pode aplacar com a precisão de um raio lazer...

Era no Silêncio de dentro, eu sei...

Mas resiste em mim este sonho louco de falar-te da minha alma que viaja
de pele em pele, carne e osso, no ocaso deste deserto há tanto tempo esquecida;
minha alma que viaja, errante, de miragem em miragem à procura de um Oasis
nos teus braços sempre amantes de Mãe e de Mulher...

Todo o meu desejo de ser humano aqui na terra era diminuir-me,
tornar-me ínfima, encolher-me toda e converter-me de novo num feto
dentro do teu ventre (será isso “envelhecer”?)
e voltar para o meu mundo de Luz que nunca esqueci...


ROSA LEONOR P. 26/5/2005.
««««««««

"A rosa tem de tornar a ser o botão, nascido da sua haste materna,
antes que o parasita lhe tenha roído o seio e bebido a seiva da sua vida.

A árvore dourada dá flores de jóia, antes que o seu tronco esteja gasto pela tormenta.

O aluno tem de tornar ao estado de infância que perdeu
antes que o primeiro som lhe possa soar ao ouvido."


A VOZ DO SILÊNCIO...

quarta-feira, maio 25, 2005

TODA A FORMA DE PRESSA, MESMO NA DIRECÇÃO DO BEM TRAI UM DESIQUILÍBRIO MENTAL.

NADA DURA SENÃO AQUILO QUE FOI CONCEBIDO NA SOLIDÃO, FACE A DEUS, QUER SEJAMOS CRENTES OU NÃO.

AQUELE QUE RECEIA O RIDÍCULO NÃO IRÁ MUITO LONGE NEM NO BEM NEM NO MAL; FICARÁ SEMPRE AQUÉM DOS SEUS TALENTOS, E MESMO DO SEU GÉNIO, SE O TIVER, E SERÁ AINDA VOTADO À MEDIOCRIDADE.


Emile Cioran
De l'inconvenient d'être né


««««««««««««««


Em nome do vento, voarei
cortando laços com a minha
espada azul.

Cortarei os braços daqueles que
me tentam agarrar. Dilacerarei as
línguas dos que me querem
tragar, e levarei os meus cabelos
atados no meu escudo; com o
qual cruzarei o fogo dos mais
quentes vulcões do ódio.

Voarei e conherei os picos mais
altos das montanhas,

E as estrelas me saudarão!


Superpanterita
(Agenda Lunar)
««««««««««««««««««

Não há paraíso, a não ser no mais fundo do nosso ser

"Inútil voltar atrás rumo ao paraíso antigo ou correr rumo ao futuro: um é inacessível, outro irrealizável. O que em contrapartida importa é interiorizar a nostalgia ou a expectativa, necessariamente frustradas quando se viram para fora, e forçá-las a desvelar, ou a criar em nós a felicidade que respectivamente choramos ou prevemos.

Não há paraíso, a não ser no mais fundo do nosso ser, e como que no eu e do eu; e é além disso necessário para aí o descobrirmos termos dado a volta a todos os paraísos, os idos e os possíveis, termo-los amado e odiado com a falta de jeito do fanatismo, sondado e rejeitado depois com a competência da decepção."

HISTÓRIA E UTOPIA
Emile Cioran

terça-feira, maio 24, 2005



PORTUGAL E O FADO...

«Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre, e a canção dos povos alegres é triste.

O Fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter forças para o desejar.

As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade própria, porque ela não existe.

O fado é o cansaço de alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e que também o abandonou.

No fado os Deuses regressam, legítimos e longínquos. É, esse o segundo sentido da figura de El-Rei D. Sebastião.»


FERNANDO PESSOA

segunda-feira, maio 23, 2005

in "A CAPITAL" lê-se:

CHOQUE FUTEBOLÍSTICO...

(...)
O país está aos saltos, as ruas de norte a sul explodem em alegrias que só o Glorioso justifica. E se é verdade que, citando Luisão, «hoje é feriado em Portugal», a partir de agora as coisas só podem melhorar. Seis milhões de pessoas contentes, moralizadas, um país inteiro insuflado de um novo amor-próprio – isso só pode fazer aumentar a produtividade e a criatividade. Mais do que choques tecnológicos ou fiscais, talvez o país precise disto, um choque futebolístico.
Campeões, campeões, campeões!


J.Lucas Pires
OS HOMENS DO MEU PAÍS ACREDITAM NISTO??????

(...)Está claro
Que isso tudo
É desse pulha austero e raro
Que, em virtude de muito estudo,
E de outras feias coisas mais
É hoje presidente do conselho,
Chefe de infernanças animaes,
E astro de um estado novo muito velho.

Que quadra
Isso com qualquer coisa que se faça?
Nada.
A Egreja de Roma ladra
E a Maçonaria passa.

E elles todos a pensar
Na victoria que os uniu
Neste nada que se viu,
Dizem, lá se conseguiu,
Para onde agora avançar?
Olhem, vão p'ra o Salazar
Que é a puta que os pariu.


Fernando Pessoa - Volume I, Tomo V
O Ópio do Povo,
a adrenalina dos pobres de espírito...


Portugal é hoje um Mar Vermelho...

Um mar vermelho de nada, uma onda gigantesca de euforia
que esconde o vazio e esterilidade...
Portugal vermelho estremece de raiva ao rubro, como um animal ferido...
que grita nas ruas a sua fúria:

Viva o Benfica! Viva o Benfica...

Uma multidão frenética que invade as ruas de norte a sul dp País,
dando voz à histeria colectiva e à cólera dos oprimidos do dinheiro
cegos de adrenalina...
Grita em uníssono um povo que não tem mais nada que lhe dê sentido à vida...
Num carnaval que não dura mais do que três dias...

Portugal atrazado, o do Futebol, Fátima e Fado.
Um povo esmagado, não tanto pela fome, nem já pela Pide,
mas medroso, cobarde e vingativo...

Portugal, Portugal... profundo...

Das mulheres espancadas e mortas a tiro...das mães que matam filhos
e dos pais que deitam crianças ao rio para esconder um crime,
embrutecidos pela ignorância e a mediocridade das suas vidas...
Esquecidos que são dos seus líderes que na corte de lisboa reinam para si mesmos,
mas assistem aos futebóis, numa estranha fraternidade,
defendendo a sua cor quer coincida ou não com a do seu partido...



Portugal em catarse nacional, delira de orgulho “besta” hoje...
Insuflado de "auto-estima"...esquece a seca e a crise, a pobreza,
e a mentira política do defice dos Governos sucessivos...
Portugal de heróis da bola e dos imigrantes esquecidos espalhados pelo mundo,
ressuscita o velho império através de Mourinhois, Mantorras e Figos...

Portugal pobre e humilhado, mas com belos campos de futebol
para nacionais e africanos, emigrantes de leste,...
Maravilhosos campos de golfe para estrangeiros ricos
á sombra dos Bancos e do Espírito Santo...mas sem água para beber...
Sórdido e pobre país onde se abatem árvores e sobreiros como ervas daninhas
por seres mesquinhos que se julgam príncipes...

Onde a dívida extrema ao fisco e aos bancos revela a nossa pobreza envergonhada
que é com carros e telemóveis encoberta e o no falar barato e agressivo
do marialva a gritar com a mulher ou com o vizinho do lado,
o clube adversário que é sempre o inimigo mais próximo!

Mas Hoje Portugal está feliz...esquece, como só ele sabe...
É um Mar Vermelho, uma onda gigantesca...
Canta-se nas ruas o “glorioso”...

Afogou-nos a todos esta onda de alegria falsa das causas nulas
a estravasar a miséria e a desgraça, a raiva de anos contida...de uma vida...
Gritam todos unidos os pretos e os brancos os pobres e os ricos, os intelectuais e os artistas...

Damos assim as mãos e azo à nossa Glória passageira,
de caravelas antigas aos bairros de lata...
Onde a polícia não entra ou é morta a tiro como no país dos cow-boys...

ViVa o Benfica!


R.L.P.

domingo, maio 22, 2005

“O CHOQUE TECNOLÓGICO” E A ALIENAÇÃO HUMANA

Durante cerca de quinze dias estive ausente de todo este universo virtual...
Perguntei-me algumas vezes que falta ou que importância tinha a minha Página e ainda a correspondência electrónica e todo um mundo invisível de comunicação aleatória...
Não encontrei resposta.
Penso que o mundo mental e intelectual e a sua expressão tecnológica, nada tem a ver com a verdade das pessoas e os seus sentimentos profundos. Julgo que este meio de comunicação é mais alienatório do que constructivo e que como todos os meios virtuais, nos mentem e iludem e nada têm a ver com a nossa realidade intrínseca.
O coração humano continua escondido, e assim a verdadeira inteligência...
Os Blogues são show-off...
As pessoas em geral substituiram a forma natural e humana de contacto, no estar umas com as outras e falar, olhos nos olhos, para criar mundos fictícios e duplas personas com que se enganam a elas mesmas e aos outros. Sim, há pessoas longínquas que são amorosas por palavras, ou mesmo bem intencionadas, mas a sua realidade não me chega...A comunicação humana deve ser feita através dos nossos sentidos na captação da nossa energia VIVA e não através de um fio eléctrico ou aparelho que na verdade como que anula a vibração individual e mantem as pessoas a um nível vibratório muito baixo, consumindo a sua energia e a dos outros, vampirizando-os, para não se sabe que propósito...Meios que se tornam fins dominados por um poder obscuro...
Meios que prescindem muitas vezes de ética e têm pouca estética...

NÃO HÁ NEM PODE HAVER CONSCIÊNCIA POR MEIOS ALHEIOS AO HUMANO; NÃO PODE HAVER EVOLUÇÃO ATRAVÉS DA TÉCNICA SE NÃO HOUVER UMA REVOLUÇÃO DA CONSCIÊNCIA E ISSO IMPLICA EDUCAÇÃO INTERIOR, CONSCIÊNCIA PSICOLÓGICA...

Nem as Novas Tecnologias, nem a Blogosfera, trouxeram nada de bom ao mundo, algo que o torne melhor...SÃO só mais uma expressão da vaidade e da estupidez, da arrogância, da petulância, da inutilidade e do convencimento social reinante: lobys e interesses, aqui são os mesmos; é óbvio, que a Internet só podia reflectir o mundo em que vivemos, mas podia dar aso a alguma interioridade e subjectividade, à criatidade, mas não...só fica ou quase sempre, pela agressão, a inveja, a vaidade e o lucro egóico do sucessso dos mediocres que se governam e governam o mundo. As pessoas que se julgam com poder continuam a ser as mesmas e as que são analfabetas não têm acesso a estes meios, como é o caso de Portugal...
Há obviamente dois mundos e a mesma lei, a lei do mais forte e que domina...
Os Blogues lidos e famosos são os dos famosos televisivos e políticos... que trocam entre si as suas politiquices de cacifismos e clubismos...
Vira o disco e toca o mesmo!
NEM SEQUER há uma valorização do ser humano em si nem a exigência de uma qualidade mínima de inovação...

Não apareceu ainda nenhum Rimbaud da Internet...

Sim, este meio até podia servir para Reinventar o AMOR, haver UMA NOVA Informação, UMA NOVA Cultura e divulgação de UMA NOVA Arte, mas penso que só prolonga O STATUS QUO e os defeitos do velho mundo e não aproxima verdadeiramente as pessoas delas mesmas nem de nada novo. Mantem-nas igualmente egoístas, fechadas e iludidas e longe umas das outras. Não PODE HAVER amor nem afecto na Internet...
Ninguém se conhece verdadeiramente...

Há e prolifera pornografia, polítiquice, pedofilia, crimes e excessos verbais e os sentimentos mais abjectos e ódios recalcados ou expressos, manifestos em nome de ideias absurdas, credos, complexos e fundamentalismos.

Há Vírus...que refletem a guerra interior das pessoas e os seus ódios e que atacam ridiculamente um mundo de ficção onde se gastam rios de dinheiro e ninguém encontra amor, paz ou verdade...

PORTANTO NADA DE NOVO A LESTE DO PARAÍSO

Para que serve então aqui escrever? Para quem?
Por tudo isto penso que estou sempre a um passo de desistir...

sexta-feira, maio 20, 2005

O ORGULHO E A VAIDADE

"O orgulho é a certeza emotiva da grandeza própria. A vaidade é a certeza emotiva de que os outros vêem em nós, ou nos atribuem, tal grandeza. Os dois sentimentos nem necessariamente se conjugam, nem por natureza se opõem. São diferentes porém conjugáveis.

O orgulho, quando existe só, sem acrescentamento de vaidade, manifesta-se, no seu resultado, como timidez: quem se sente grande, porém não confia em que os outros o reconheçam por tal, receia confrontar a opinião que tem de si mesmo com a opinião que os outros possam ter dele."


F.PESSOA
NÃO PODEMOS ALIENARMO-NOS DO VALOR DE UMA MULHER
NEM DUVIDAR DO SEU DISCERNIMENTO PROFUNDO


"...devemos reinvindicar as nossas forças místicas. Devemos avançar, contra as árduas e obscuras forças do ridículo e da resistência sejam quais forem as formas que tenham fazendo o que temos que fazer e desempenhando o papel que nos cabe.

A opressão sobre as mulheres ainda persiste, e por vezes são as próprias mulheres que tornam o mundo ainda mais difícil para as outras mulheres. Mas este fenómeno tende a desaparecer, à medida que essas mulheres opressoras conquistem a sua auto-estima. Do lado oposto a esta selva nasce um dia novo e gloriosos na terra, o dia em que as nossas filhas deixarão de ser julgadas pelas suas paixões ou postas de lado porque terão poder, força e amor."


MARIANNE WILLAMSON - 1993

quinta-feira, maio 19, 2005

VOLTEI...
TENHO UM NOVO AMOR...QUASE, QUASE IGUAL A ESTE




AGRADEÇO A VOSSA PRESENÇA E OS COMENTÁRIOS DEIXADOS QUE A POUCO E POUCO IREI RESPONDENDO
AINDA A PROPÓSITO DO REFERENDO
PARA A DESPENALIZAÇÃO DO ABORTO


A DEFENDER A MULHER
Fina D’Armanda

“Publiquei o primeiro artigo a favor do aborto em Setembro de 1975, no Jornal de Notícias. Após 30 anos, andamos às voltas com o mesmo assunto. Para mim o problema é uma questão de posse, de propriedade. Durante séculos o ventre (da Mulher) foi da Igreja, do estado e do pai. O que se pretende agora é a passagem da posse do ventre (da mulher) para as legítimas possuidoras. Se houver um problema com o ventre é cada uma que sofre ou morre e não a comunidade, o pai, a Igreja ou o Estado.
(...)
O referendo realiza-se então por causa de 16% de gente que quer manter-se dona do ventre alheio.”?


PORTUGAL MEDIEVAL:
Patriarcal, inquisitorial e proxeneta.


Curiosa nota sem duvida e como a evidência dos factos têm passado ao lado dos políticos e das pessoas em geral, para já não falar dos católicos, a verdade é que a mulher e o Seu Ventre continuam a ser “uma coisa” e tratada como pertença colectiva, “objecto” sobre a qual a igreja opina e o estado faz leis. Como se a mulher fosse uma “barriga de aluguer” ao uso do dono e senhor deus pai, igreja e estado e continuam a ser os homens a querer decidir sobre a sua liberdade de escolha!

COMO É QUE É POSSÍVEL POIS QUE EM PLENO SÉCULO XXI UM PÁRACO DE ALDEIA (?) EM PLENA MISSA DO 7 DIA POR MORTE DE UMA CRIANÇA DE 5 ANOS, TORTURADA PELO PAI E PELA AVÓ E DEPOIS DE MORTA DEITADA AO RIO, DIZER PARA OS SEUS FIÉS QUE É PIOR UMA MULHER FAZER UM ABORTO DO QUE ASSASSINAR UMA CRIANÇA, PORQUE ESTA SE PODE DEFENDER E O FETO NÃO?

NESTE CASO APETECE-ME PERGUNTAR QUEM É AQUI O VERDADEIRO “ABORTO”?

E pergunto, porque teimam os políticos e os Partidos erguer continuadamente a bandeira do Aborto e a querer decidir pelas mulheres?
Seja a Direita conservadora seja a esquerda revolucionária, não há meio de nem as próprias mulheres perceberem que a Mulher é a “senhora do seu destino?” E que não há deus nem diabo nem pai nem padre nempolítica que possam interferir com a sua decisão a não ser que ela o aceite e acolha e queira!

Não há qualquer razão para um Referendo ao Aborto quando se trata da liberdade individual, da consciência da própria mulher e a sua capacidade de decisão o que está em causa e não o preconceito “moral e religioso” - "princípio vida" que é princípio de morte da identidade da mulher e que só aparece para escamotear uma questão de fundo que é o facto da mulher continuar a ser propriedade do estado patriarcal e que é uma evidência quando este pretende fazer um referendo para decidir do seu corpo e da sua vida! Ainda que a vida da futura criança a nascer seja outra vida é a primeira vida consciente, a da mãe, que tem de fazer a escolha, e não qualquer moral ou religião!

É verdade também que as mulheres na sua grande maioria, são ignorantes e pobres e ouvem os padres que são os seus mentores, sobretudo nas aldeias e lugares mais atrazados ou remotos...Mas em todo o caso a escolha deve ser da mulher e o Estado, sobretudo sendo laico, só tinha que providenciar condições de salvaguarda da integridade da mulher, dando-lhe educação e a liberdade da sua escolha.

A não aceitar esta evidência é considerar a mulher incapaz e inferior...que é o que a Igreja considera e por arrasto o Estado.

É isso que nem o Presidente nem o Primeiro Ministro, assim como os líderes partidários querem ver, prisioneiros das suas lutas de interesses políticos e cegueira humana quanto às realidades do País Real, e que ao fim e ao cabo continuam a servirem-se das mulheres, todos eles, como qualquer gigolô quando as explora sexualmente.


“Só com o dinheiro que se pouparia do Referendo já daria para criar condições médicas”. F.A.

terça-feira, maio 17, 2005

Às pessoas que me têm visitado e comentado agradeço a presença e espero voltar em breve aos meus apontamentos...e responder a todos os fiéis amigos que deixam a sua mensagem. Não desistam que eu também não...

Estou a escrever no meu Portátil a uma velocidade mínima...à espera que os vírus do meu PC sejam todos eliminados!


"DEIXE QUE AS ÁGUAS SE ACALMEM E VERÁ AS ESTRELAS E A LUA ESPELHAREM-SE NO SEU SER." RUMI

sábado, maio 07, 2005

"Oh tu, da cabeça de Serpente, olha!
Eu sou a chama que brilhará nos milhões de anos por vir”



LILITH

Era uma vez e não era,
Três vezes sonhei com ela:
Vi-a irromper da terra e na terra calcada pelos seus pés.
Vi-a transformar-se numa árvore e dela surgir uma serpente
e as duas eram uma só.
Da sua língua vi sair uma espada de fogo e falava:
Ouvi-a dizer de um tempo sem tempo e de como tudo começou...
Ergueu-se na vertical e voou para dentro do meu peito
como um raio sagrado, inundando-me do seu amor.

Voltou para me dizer coisas há muito esquecidas.
Agora eu sei, é ela quem fala pela minha boca.
Dizem os padres que tem manhas, que engana e é traiçoeira,
mas eu sei que ela é apenas o ECO da Natureza Profunda
e sempre viveu escondida dentro de mim:
acordou-me de um sono milenar para me dar voz!


in ANTES DO VERBO ERA O ÚTERO
R.L.P.

Vou estar uns dias ausente deste espaço por ter sofrido um bombardeio de vírus vís...Não há(por hora...penso eu de que...)novas fogueiras da Inquisição, mas a Internet tem os seus fundamentalistas de serviço...

Nunca consegui perceber porque esta estupidez...


(Hoje, confesso, tive saudades da Melusine, mas o coração tem um só destino...)

Deixo-vos com esta pergunta...e até breve! Espero não demorar muito.
ONDE ESTÁ DEUS, MESMO QUE NÃO EXISTA? Quero rezar e chorar, arrepender-me de crimes que não cometi, gozar se perdoado como uma carícia não propriamente materna.
Um regaço para chorar, mas um regaço enorme, sem forma, espaçoso como uma noite de verão, e contudo próximo, quente, feminino, ao pé de uma lareira qualquer...Poder ali chorar cousas impensáveis, falências que nem sei quais são, ternuras de coisas inexistentes, e grandes dúvidas arrepiadas de não sei que futuro.
(...)
Um colo ou um berço ou um braço quente em torno ao meu pescoço...Uma voz que canta baixo e parece querer fazer-me chorar....Um ruído de lume na lareira...Um calor de inverno...Um extravio morno da minha consciência...E depois sem som, um sonho calmo num espaço enorme, como lua rodando entre estrelas.
(...)
Ergo os olhos e vejo as estrelas que não têm sentido nenhum...E de tudo isto fico apenas eu, uma pobre criança abandonada, que nenhum Amor quis para seu filho adoptivo, nem nenhuma amizade para seu companheiro de brinquedos.

Tenho frio de mais. Estou tão cansado no meu abandono. Vai buscar ó Vento, a minha Mãe. Leva-me na noite para a casa que não conheci...torna a dar-me ó Silêncio, a minha ama e o meu berço e a minha canção com que eu dormi.


FERNANDO PESSOA

VEM, DOLOROSA,
MATER-DOLOROSA DAS ANGÚSTIAS DOS TÍMIDOS
TURRÍS-ÉRBURNEA DAS TRISTEZAS DOS DEPREZADOS,
MÃO FRESCA SOBRE A TESTA EM FEBRE DOS HUMILDES,
SABOR DE ÁGUA SOBRE OS LÁBIOS SECOS DOS CANSADOS.
VEM LÁ DO FUNDO


Fernando Pessoa

sexta-feira, maio 06, 2005

”O UIVO:
A ressurreição da mulher selvagem
A loba, a mulher-lobo.


A loba canta mais e a criatura-lobo começa a respirar. A loba ainda canta, com tanta intensidade que o chão do deserto estremece, e enquanto canta, o lobo abre os olhos, dá um salto e sai correndo pelo desfiladeiro.
Em algum ponto da corrida, quer pela velocidade, por atravessar um rio respingando água, quer pela incidência de um raio de sol ou de luar sobre o seu flanco, o lobo de repente é transformado numa mulher
Que ri e corre livre na direcção do horizonte.
Por isso se você estiver deambulando pelo deserto, por causa do pôr-do-sol, e quem sabe esteja um pouco perdido, cansado, sem dúvida você tem sorte, porque a Loba pode simpatizar com você e ensinar-lhe algo – algo da alma.”


In MULHERES CORRENDO COM LOBOS – Clarissa Pinkola Estes
A VIOLÊNCIA DO MASCULINO...

"As aberrações brutais e bárbaras
de uma espécie virada contra si própria"


“Práticas como a mutilação sexual feminina, o espancamento doméstico, e todos os outros modos mais ou menos brutais que serviram para a androcracia manter as mulheres “no seu lugar” não serão evidentemente vistas como tradições consagradas, mas como o que realmente são - crimes gerados pela inumanidade do homem para com a mulher.

Quanto á inumanidade do homem pelo homem, à medida que a violência masculina deixa de ser glorificada por epopeias e mitos “heróicos”, as designadas virtudes masculinas de dominância e conquista serão igualmente vistas pelo que são - as aberrações brutais e bárbaras de uma espécie virada contra si própria”


in "O CÁLICE E A ESPADA" de Riane Eisler

quarta-feira, maio 04, 2005

Violência doméstica e violência “estética”...

Qual a mais dolorosa? Qual a mais criminosa?
Uma, sem anestesia, provoca dor e causa hematomas e traumas psicológicos...a outra, a voluntária, ilude a vítima de se tornar mais apetecível aos olhos do sexo oposto...e ignora-se a violência da mutilação do corpo para beneficio da aparência...e a vítima diz “melhorar-se” psicologicamente...
Num caso, o amante ou o marido deita gasolina na mulher e acende o isqueiro...no outro é a mulher que “escolhe” o médico que a opera e paga uma fortuna para ser cortada à faca, ou vai ao Brasil onde se opera mulheres como se fossem galinhas, muito mais em conta. Por uns escassos meses de transformação “milagrosa” que a ilude de ser amada até que o amante a regue com gasolina ou dispare um tiro ou lhe dê uma valente carga de pancada...
Os dois casos são aberrações contra a natureza, mas num caso, a vítima sofre sem querer, enquanto no outro, a vítima sofre por vontade própria...Uma é vítima fisicamente enquanto que a outra é vítima da sua própria ignorância e da publicidade enganosa! “Tire dez anos de cima, pareça mais nova” - o seu marido já não a vai trocar pela “outra” nem por nenhuma estrela de cinema...


Em suma, a mulher é sempre vítima de uma sociedade falocrática, paternalista e que de qualquer modo a controla...

A VIOLÊNCIA E ABUSO SEXUAL DAS CRIANÇAS

Não resisto a apresentar o exemplo de hoje lido no jornal O Público em que a autora do artigo dizia que há três anos, um médico do Algarve, seu amigo, lhe contava que tendo examinado uma menina violada pelo pai, pergunta a este como é que ele pode ter feito uma coisa daquelas a que o “amoroso” pai lhe respondeu:

- “Olhe lá senhor dr.º eu não estava a engordá-la para que outros a viessem comer”...

É este o nosso Mundo e a profunda mentalidade patriarcal...a violação de menores pelos pais e padres é comum...
Em Portugal, abusar de meninas é crime menor, dos rapazes é mais grave, pela lei e pela grei.


IMPORTANTE É O FUTEBOL E AS CATEDRAIS DA BOLA

Numa reportagem a propósito de um desafio de futebol de um clube português com um holandês, o repórter fala em termos depreciativos do estádio de futebol holandês, muito pobre e sem quaisquer condições, como se tratasse de algo deplorável. E isto, porque para exemplo, Portugal tem Estádios fabulosos mandados construir de propósito para o Euro 2004. Fizeram-se, só em Lisboa, dois Estádios enormes das equipas rivais, ao lado um do outro. Enquanto que o País dos belos Estádios é o mais pobre da Europa e vive na maior miséria no interior e analfabetismo colectivo, em comparação a Holanda que não tendo provavelmente estádios de Futebol espectaculares, têm escolas de qualidade e universidades e condições de vida “mil vezes” superiores às nossas; é assim o nosso povinho, tão contente das aparências, e que agora apela, no seu miserabilismo e atraso, a um novo “santinho” português, José Mourinho...
É este o nosso provincianismo...
Habemus papam! e os Mídia, ajudam à Missa, Amém!

SHAME ON US...
NOTA À MARGEM...

A um amigo, Fiel de Ìsis:

Prezo muito os seus comentários até como deve perceber são raros em relação às visitas que tenho diárias, mas talvez reste pouca margem para comentar os meus "posts" demasiado "literários" por vezes,ou demasiado elaborados...
Será?

Na verdade, eu "escudo-me" atrás dos autores e a esses as pessoas normalmente não têm coragem de agredir ou contestar...e como quase toda a gente gosta de confronto e de luta directa, eu dou pouca luta, por isso aprecio os/as que me seguem inteligente e construtivamente...
Então num homem aprecio mais ainda, não sendo um aliado natural dos meus temas, quando é justo compreende o meu trabalho...
A Consciência do Feminino é tão importante no Homem como na Mulher e nem um nem outro ainda a têm integrada. Para a evolução da Humanidade é preciso que ambos os polos se equilibrem. Só isso...

Tenho imensa pena, como deve calcular, mas como já se deve ter apercebido, as mulheres raramente dizem ou comentam o que aqui deixo...
Ainda que seja no seu universo, por suposto, as mulheres ficam caladas...Têm medo de dizer asneiras quando deviam saber que o que dizem é muito sábio...pois o coração é mais forte do que a razão.
Elas deviam confiar mais em si mesmas!
Mas o "nó na garganta" não se desfaz facilmente...

Rosa Leonor

terça-feira, maio 03, 2005

VIVEMOS E MORREMOS
FECHADOS NO NOSSO PRÓPRIO SONHO


Y.K. Centeno


CHORO, PORQUE AGORA É TARDE
E NEM SEI ONDE ESTÁS
NESSE CÉU TÃO VASTO
SEM LUGAR PARA MIM


ana marques gastão
"O erro está em confundir amor, desejo e necessidade..."

"Enquanto que existimos no nosso corpo terreno, estamos sujeitos à lei da Natureza que é dualidade; e esta dualidade cria a afinidade entre os complementos separados.
Esta dualidade, que é a base e o mal inicial da Natureza, é também a base da nossa experiência terrestre cuja finalidade é ultrapassar esta mesma Natureza na procura do retorno à Unidade.
Ela é a base da nossa cultura de consciência, uma vez que lhe damos a possibilidade da escolha entre as qualidades opostas, entre o que é real ou relativo, bom ou máu para a nossa consciência actual.
A dualidade sendo a causa da sexualidade -- portanto, a afinidade entre os complementos -- é a causa do desejo que o ser humano chama amor. O erro está em confundir amor, desejo e necessidade."

in A ABERTURA DO CAMINHO...
I. S. L.

domingo, maio 01, 2005


Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
... ....
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo
saber viajar.
... ....
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão pela minha cabeça é tudo verdade!


In Rosa do Mundo, Almada Negreiros

CONTINUE A SEGUIR "O DESTINO DO CORAÇÃO"...Onde
"A luz do teu olhar
Fundo meu corpo em sonho, em lágrimas e luar!
Teu divino sorriso
É voz de anjo a mandar-me entrar no Paraíso..."
NO DIA DOS TRABALHADORES...
E DIA DA MÃE...

DIA DOS ESCRAVOS DOS TELEMÓVEIS E DOS CARROS, DO FUTEBOL E DAS MAFIAS,
DAS PRENDAS COMPULSIVAS E CENTROS COMERCIAIS DA SOCIEDADE PATRIACAL...

Memória de uma luta que lembra a diferença aberrante e sórdida de um mundo que explora e domina metade da humanidade há séculos, mas de quem os homens são devotos...
Seja da Igreja seja de quem os governa, porque ainda acreditam em tutelas e deuses, todos vendidos ao deus dinheiro e por ele lutando, sem consciência de si mesmos...

Homens e Mulheres vendidos e comprados pela máquina de guerra e de consumo, manipulados pelos Midia, produzem e morrem sem apelo nem agravo, ignorantes e domesticads pelos "homens negros" que dominam o mundo.
"OS VAMPIROS COMEM TUDO" e não é pesadelo...
COMO A SOCIEDADE FALOCRÁTICA RECRIOU A MULHER:
À IMAGEM DOS SEUS SONHOS, MOLDADOS PELO MEDO ANCESTRAL DA MULHER AUTÊNTICA QUE DESCONHECEM...


"Certamente o Jabor tem alguma razão...Vale a pena ler..."
Vale a pena sim, Myrian, e o Jabor tem razão...ele só não FOI MUITO CLARO na razão porque as mulheres se transformaram nessas "bonecas" de silicone; é que na falsa liberdade das mulheres e o seu mercado, datado de há séculos, mudando apenas a imagem, e na sua pura e continuada ignorância - e o Brasil tem muito essa mistura -, elas, as meninas-mulheres e as mulheres-meninas não sabem, nem nunca souberam, que nesta sociedade imperialista, consumista, falocrática, quem verdadeiramente são; não têm identidade própria, só existem em função da invenção dos homens e é por isso que dão corpo ao imaginário deles tentado ser o que eles querem...

Divididas pela Igreja entre a santa e a puta...são sempre uma metade de nada...quer em casa quer no Bordel ou na rua...Essa amputação da mulher e a dessacrilização do feminino e a destruição da Deusa pelos misóginos cristãos, deu origem a essa mulher virtual que sofre de todos os males, usada de todos os modos e condenada ainda pelos patriarcas...
É por isso que:
OS HOMENS DESEJAM AS MULHERES QUE NÃO EXISTEM
(...)

"Silicone, pêlos dourados, bumbuns malhados, tudo para agradar aos consumidores do mercado sexual. Olho as revistas povoadas de mulheres lindas... e sinto uma leve depressão, me sinto mais só, diante de tanta oferta impossível. Vejo que no Brasil o feminismo se vulgarizou numa liberdade de "objetos", produziu mulheres livres como coisas, livres como produtos perfeitos para o prazer. A concorrência é grande para um mercado com poucos consumidores, pois há muito mais mulher que homens na praça (e-mails indignados virão...) Talvez este artigo seja moralista, talvez as uvas da inveja estejam verdes, mas eu olho as revistas de mulher nua e só vejo paisagens; não vejo pessoas com defeitos, medos. Só vejo meninas oferecendo a doçura total, todas competindo no mercado, em contorções eróticas desesperadas porque não têm mais o que mostrar. Nunca as mulheres foram tão nuas no Brasil; já expuseram o corpo todo, mucosas, vagina, ânus.

O que falta? Órgãos internos? Que querem essas mulheres? Querem acabar com nossos lares? Querem nos humilhar com sua beleza inconquistável? Muitas têm boquinhas tímidas, algumas sugerem um susto de virgens, outras fazem cara de zangadas, ferozes gatas, mas todas nos olham dentro dos olhos como se dissessem: "Venham... eu estou sempre pronta, sempre alegre, sempre excitada, eu independo de carícias, de romance!..."

Sugerem uma mistura de menina com vampira, de doçura com loucura e todas ostentam uma falsa tesão devoradora. Elas querem dinheiro, claro, marido, lugar social, respeito, mas posam como imaginam que os homens as querem.

Ostentam um desejo que não têm e posam como se fossem apenas corpos sem vida interior, de modo a não incomodar com chateações os homens que as consomem.

A pessoa delas não tem mais um corpo; o corpo é que tem uma pessoa, frágil, tênue, morando dentro dele.
(...)
Queremos percorrer as mulheres virtuais, visitá-las, mas, como conversar com elas? Com quem? Onde estão elas? Tanta oferta sexual me angustia, me dá a certeza de que nosso sexo é programado por outros, por indústrias masturbatórias, nos provocando desejo para me vender satisfação. É pela dificuldade de realizar esse sonho masculino que essas moças existem, realmente.
Elas existem, para além do limbo gráfico das revistas. O contato com elas revela meninas inseguras, ou doces, espertas ou bobas mas, se elas pudessem expressar seus reais desejos, não estariam nas revistas sexy, pois não há mercado para mulheres amando maridos, cozinhando felizes, aspirando por namoros ternos. Nas revistas, são tão perfeitas que parecem dispensar parceiros, estão tão nuas que parecem namoradas de si mesmas.
(...)
Infelizmente, é impossível tê-las, porque, na tecnologia da gostosura, elas se artificializam cada vez mais, como carros de luxo se aperfeiçoando a cada ano. A cada mutação erótica, elas ficam mais inatingíveis no mundo real. Por isso, com a crise econômica, o grande sucesso são as meninas belas e saradas, enchendo os sites eróticos da internet ou nas saunas relax for men, essa réplica moderna dos haréns árabes. Essas lindas mulheres são pagas para não existir, pagas para serem um sonho impalpável, pagas para serem uma ilusão. Vi um anúncio de boneca inflável que sintetizava o desejo impossível do homem de mercado: ter mulheres que não existam... O anúncio tinha o slogan em baixo: "She needs no food nor stupid conversation." Essa é a utopia masculina: satisfação plena sem sofrimento ou realidade.


A democracia de massas, mesclada ao subdesenvolvimento cultural, parece "libertar" as mulheres. Ilusão à toa. A "libertação da mulher" numa sociedade ignorante como a nossa deu nisso: superobjetos se pensando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor e dinheiro. A liberdade de mercado produziu um estranho e falso "mercado da liberdade". É isso aí. E ao fechar este texto, me assalta a dúvida: estou sendo hipócrita e com inveja do erotismo do século 21? Será que fui apenas barrado do baile?


Excerto de artigo de Arnaldo Jabor
(enviado por uma amiga do Brasil)