AS DUAS MULHERES...
"Embora cada lado da natureza de uma mulher represente uma entidade separada, com funções diferentes e capacidade de discernimento, eles devem, à semelhança do cérebro com seu corpo caloso, ter uma tradução um do outro e, portanto, funcionar como um todo. Se a mulher esconde um dos lados ou privilegia um dos lados em demasia, ela tem uma vida desequilibrada que não lhe permite acesso ao seu pleno poder. Isso não é bom. É necessário desenvolver os dois lados."
Clarissa Pinkola Estés
As vezes eu fico perplexa como é que a mulher não se pensa em termos de uma identidade própria que seja só sua...como é que a mulher se vê em termos da sua fragmentação e aceita essa fragmentação de si nos esterótipos mais comuns - desde a esta e aquela às deusas em cada mulher - e por vezes tão superficiais obedecendo a cada um deles à risca, tentando ser conforme lhe é sugerido, seguindo a moda, as revistas e todo o tipos de modelos que de si são apresentados nos midea e no cinema, tentando ser como aquela actriz ou cantora etc. sem nunca se questionar porque é a mulher tão multifacetada na sua imagem e tão dividida em diferentes padrões com que a sociedade a qualifica e a procura interpretar...? Como é que ela não vê como a forçam a viver segundo padrões, definindo-a e forçando-a a viver fragmentariamente de acordo com todos esses padrões: o da mulher "assim" e da mulher "assado" o da mulher mais e o da mulher menos, semrpe rotulada de - gorda magra feia bonita elegante sexy etc., sendo sempre vista e consideranta a partir do seu aspecto exterior, do seu corpo, das partes do seu corpo, (que ela submete a operações estéticas para agradar, ao ponto e ao cúmulo de já o fazer ao seu sexo!!!) e sempre vista através do seu comportamente sexual e tendo sempre que corresponder mais ou menos aquele ou a este padrão. Mas a questão não é meramente essa, não se fica por aí, pois padrões também os homens os têm e vivem de acordo com eles, mas a questão da mulher vai mais longe e a diversificação da sua natureza, a divisão do seu ser, em mulher séria e mulher infiel, esposa ou prostituta, vadia ou bem comportada etc. porque esta qualificação não toca o homem, sendo uma questão secundária para ele, enquanto que na mulher essa padronização corresponde a uma carga tremenda, depreciativa e quase sempre demolidora da integralidade da pessoa humana. Ora como sabemos bem nesse campo o homem não sofre nada de semelhante, daí eu fazer esta distinção. O homem mantem uma identidade mais ou menos coesa, coisa que precisamente falta à mulher por falta de uma identidade que lhe dê a unidade do seu ser, não sendo, como bem sabemos o homem nunca afectado seja social e psicologicamente pelo seu comportamente sexual nem posto em causa por isso e menos ainda se é gordo ou baixo ou velho etc. O homem vive em função de si e mantem uma individualidade. A mulher não. Ela anula-se em função do homem do filho ou da sociedade. E isso tem uma razão de ser...uma causa...
Não há dúvida de que a mulher sofreu e sofre de uma espécie de alienação congénita...uma espécie de paralezia da sua natureza como ser...uma anulação do seu próprio sistema natural...um bloqueio da sua sensibildade e intuição profunda, recebendo uma formatação psiquíca que resulta numa desvalorização do seu ser em termos de si mesma enquanto pessoa...
Sonhando e vivendo exclusivamente na quimera e no sonho desse encontro com o outro - uma programação celular - sem que nunca a sua vida seja colmatada por nada...partindo do princípio de que ela por si mesma e sozinha não vale mesmo nada. Como se a mulher por si só não tivesse razão de ser...Ela chama a isso "amor"...Mas é como se a mulher em si não pudesse existir sem ser para aquela função à qual foi identificada socialmente, mãe esposa ou prostituta e as suas variantes, que vão hoje de um extremo ao outro. Senão fosse algo assim ela não projectaria a sua vida toda, tendo como única realização possível a paixão ou o amor do outro, do amante ou dos filhos, sem nenhum outro propósito, sem nenhuma auto-estima, sem nenhum outro sentido que não seja a sua própria anulação...
Claro que não estou aqui a considerar a mulher profissional...porque aí também e como sabemos a mulher estende como por predestinação profissional para essa área, o campo da educação e da decoração ou medicina enfermagem tendo sempre funções nessa área restrita como mulher-mãe-enfermeira-professora...E ainda assim, ela luta entre a paixão do outro e a paixão do exercício de uma profissão-vocação, ela continua a precisar colmatar a sua vida como mãe e esposa e lar e aí devide-se e fragmenta-se mais ainda do que antes quando não exercia qualquer profissão e era meramente dona de casa.
Só muito recentemente a mulher é infelizmente projectada também na guerra e na polícia...
Passo em branco sobre o "feminismo" que mais não fez do que aumentar essa fragmentação em nome da igualdade e dos direitos...
Porque o que falta a mulher de hoje como a de ontem é sem dúvida a sua identidade Mulher como base, A mulher Essência, o recusado eterno feminino, partindo da sua existência própria, independente de qualquer função mas para isso ela tem de começar por se consciencializar dessa sua cisão e fragmentação interior, que é interior e física/sexual e tambem cultural e histórica e só na medida em que essa consciência de si se vai desenvolver e integrando todos esses pedaços de si, todos esses fragmentos do seu ser, apontados como características, ela irá juntando como parte de um puzzel todas as peças do seu ser e unir as duas mulheres cindidas a partida pela sociedade patriarcal ao longo de mais de cinco mil anos pelo menos...e de onde partem todos os conflitos e dramas da mulher de hoje.
Essa cisão das duas mulheres é a cisão mais velha do mundo. Antes de ser a "profissão" mais velha, deu-se precisamente o corte intrínseco dentro da mulher, como se dá a excisão das mulheres no mundo muçulmano para que não tenham prazer...neste caso, para não terem uma identidade coesa, para não viverem uma integridade substancial. Em termos de princípios, masculino e feminino como ordem do universo, ao dividir-se a mulher em duas espécies de mulher, o lado masculino reinou soberano e impune sobre pouco mais de uma escrava, a esposa e concubina ou a prostituta...
rlp