O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, outubro 31, 2020

A MULHER DE IDADE


A VELHA...

' ' A rejeição oficial da nossa cultura da figura Crone* estava relacionada com a rejeição de mulheres, especialmente mulheres idosas. As altas sacerdotisas de cabelo cinzento, uma vez respeitadas matriarcas tribais da Europa pré-cristã, foram transformadas pelo recém-dominante patriarcado em Minions do diabo. Ao longo da Idade Média, esta tendência reuniu o impulso, finalmente desenvolvendo um frenesi que legalmente assassinou milhões de mulheres idosas desde o século XIX até o século XIX. ′


-Barbara Walker, The Crone: Mulher de idade, sabedoria e poder
 Crone - a velha sábia

"O diabo é uma criação do homem."




"Porquê atacar as mulheres? Porque foram elas, durante séculos, acusadas de bruxaria, de pactuarem com o diabo entregando-se à cópula com a besta que lhes daria poderes sobre-humanos? Nessa desconfiança do feminino afastou-se na verdade a mulher do espaço político e da possibilidade de se expressar, de exercer poder, de destabilizar a hierarquia masculina vigente."
*


* in "AS PUTAS DO DIABO" de Armelle Le Bras-Chopard


"O diabo é uma criação do homem. Datável a primeira referência ao diabo (no século XII), Robert Muchembled analisa as diferentes representações do diabo ao longo dos séculos. Da necessidade da Igreja em criar um ideia de inferno à obsessão pelo combate às bruxas e feiticeiras, passando pela ligação ao corpo e pelo emergir do conceito de demónio interior no século XIX, «Uma História do Diabo» afirma-se, essencialmente, como uma história das ideias."

TEMOS DE PERCEBER


O MISTÉRIO DO DIVINO FEMININO

“Temos que perceber que quando negamos o mistério divino do feminino, negamos também algo fundamental para a vida. Separamos a vida de seu núcleo sagrado, da matriz que nutre toda a criação. Nós nos separamos da fonte que sozinha pode curar, nutrir e transformar. A mesma fonte sagrada que deu origem a cada um de nós é necessária para dar sentido à nossa vida, para alimentá-la do real e para nos revelar o mistério, o propósito de estar vivo. Porque a Humanidade tem uma função central em toda a criação, o que negamos a nós mesmos, negamos a toda a vida. Ao negar ao feminino seu sagrado poder e propósito, empobrecemos a vida nos níveis pessoal e global de maneiras que não entendemos. Sim, vemos agora os efeitos externos na Terra, mas é muito mais difícil reconhecer os efeitos internos, que têm sido devastadores."

Llewellyn Vaughan-Lee


quinta-feira, outubro 29, 2020

UM POEMA

 


UMA PÉROLA APENAS BASTAVA

(Escrito em 2017)

Hoje, como em tantos dias, levantei-me com esta vontade de escrever... e apetecia-me escrever para alguém...ah, alguém que me compreendesse e eu compreendesse e me fosse próximo, ou mesmo que fosse alguém anónimo como tão bem à partida estes meios  nos permitem, ter essa doce ilusão de encontros e sincronias, descobrir almas afim... 

Sim apetecia-me dizer tudo o que sinto sem meias verdades nem mais mentiras, abrir-me e mesmo sem saber quem me lê como antigamente fazia no Blog. Que ingénua eu era... Levei tempo a perceber que esse sitio não existe, nem essa pessoa, ao deparar-me com o que sempre me deparo quando leio o que a maioria das pessoas escreve nestes meios virtuais: tanta fantasia, ilusão e  mentira, tanta megalomania e o narcisismo... tanta promoção pessoal, tantas fotos e selfies... E vi que é isso o que as pessoas gostam. 

Gostam de mentiras e belos trechos de prosa de amor e religiosidade cheios de moralidade e de esperança num amor que nunca existiu ou num mundo melhor que nunca conhecemos nem para o qual nunca nada contribuímos....

Sim, desisti por hoje de escrever o que sentia e o que penso e de uma vez por todas sinto que não é aqui  - jamais será - que irei encontrar pessoas com discernimento e realismo e verdade porque todas as pessoas buscam por estes meios entretenimento e mentiras...

Ah o "pensamento positivo" que abomino...

Mas o belo, dizem-me os feios e os torpes, o bom, dizem-me os mais maldosos e o melhor para o mundo? Ah e a Paz dizem os mais intranquilos… e agressivos!

É verdade, precisamos tanto de paz e amor e já agora acreditar na alma gémea …pois era, seria belo, sim. E que bela seria a vida se tivéssemos essa alma que nos inspirasse ou esse deus que nos protegesse ou anjos da guarda que nos adormecesse nas noites de dor e medo e que não deixariam que o mal, a doença  a guerra e a morte acontecessem na Terra...

ah eramos tão felizes…felizes para sempre! 

Felizmente  não me deu a mim deus uma crença assim; sou amarga e ceptica e diria como Pessoa, muito longe de ter a sua genialidade, que apenas sou lucida...Oh merda! 

Nenhuma história ou amor de pacote me convence nem o mais literário e poético... nem nenhum ser humano já me toca ou emociona...e tenho pena, sim que pena,  que fazer, nasci assim. Vou morrer assim: só e descrente.

rlp

DEIXO UM POEMA 

Monólogo na Noite

Sou a Consciência em Ódio ao inconsciente.
Sou um símbolo encarnado em dor e ódio
Pedaço d’alma de possível Deus
Arremessado para o mundo
Com a saudade pávida da pátria
A cujo horror tremo ao pensar voltar
Mas sem nada da (...) e da ilusão
Para viver neste desterro. Amor,
Paz, amizade, tudo quanto ajuda
A viver a mentira do universo
Falha-me e eu (...)
Ó sistema mentido do universo
Estrelas-nadas, sóis irreais
Oh com que ódio carnal e estonteante
Meu ser de desterrado vos odeia.
Eu sou o inferno. Sou o Cristo negro
Pregado na cruz ígnea de mim mesmo
Sou o saber que ignora;
Sou a insânia da dor e do pensar
Sobre o livro de horror do mundo.
Por que fui eu, amaldiçoado horror
Que me fizeste ser e que eu nem posso
Pensar para te amaldiçoar, ou crer
Em ti, tão cheio do consciente e mensurante
Que o ódio me não cegue para ver
Que não sei que tu és para saber
Se sequer poderei pensar odiar-te.

Fernando Pessoa
Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988. - 112.



sexta-feira, outubro 23, 2020

UMA VOLTA PELA PRISÃO



"Sinto todo o terror negro destes tempos." Caetano

Estou em estado de choque: a AR aprovou o açaime para todos ao AR livre...Cambada de mentecaptos e carneiros - quer dizer que não vamos poder respirar mais OXIGENIO LIVREMENTE nem ver o rosto das pessoas? Andaremos todos como bandidos? Pessoalmente não voltarei a andar na rua, nem irei a lugar algum, nem fazer seja o que for, com a única excepção de ir comprar comida.
Não faz mais sentido sair onde quer que seja sem poder RESPIRAR, falar, compactuando com esta ignóbil mascarada.



Sim, sinto-me aterrorizada e profundamente chocada com a alienação de certas pessoas (amigas) que obedecem cegamente as leis e nem veem sequer como a liberdade individual está completamente posta em causa pelo terror que tem de ficar doentes e morrer. Não veem nem sonham como a Ditadura Mundial está a crescer e como na verdade as pessoas estão já todas acorrentadas aos telemóveis, aos carros e são escravas do dinheiro, e agem como animais amestrados e agora amordaçados, marcadas e tolhidas pelo medo e por isso incapazes de pensar ou dizer não.
Hoje não há qualquer diferença entre as pessoas de Esquerda ou de Direita - tal como todos os Partidos estão coniventes - manietados que estão todos os politicos e intelectuais e jornalistas pela ideologia do "Politicamente correcto" ... e o medo de perderem os poleiros. Todos estão além do mais presos dos seus interesses económicos e profissionais, sejam médicos, enfermeiros, advogados, juristas ou até psicólogos... e escritores?
Onde estão os escritores?
A Máquina Infernal continua imparável na sua manobra de controlo absoluto das populações e as pessoas não querem ver o que se adivinha - que serão metidos em casa ou em "campos de concentração" (proibidas de viajar entre localidades ou Regiões e Países), ou julgados pela Inquisição dos novos pides e padrecos coveiros coniventes com as Mafias Mundiais e prontos a assinar por baixo o fim da liberdade e da fraternidade, o fim desta humanidade...e tudo isto em nome da nossa saúde...
Em nome da saúde e do Virus ... tomarão a vacina assassina e perderão a alma, convertendo-se em animais híbridos ligados a inteligência artificial e ao 5 G. É tudo isto que está em curso na nossa cara e a massas estão cegas...
rlp


 'Os conselhos de um velho demônio para um mais jovem' 
Livro escrito em 1941 -  C. S. Lewis -



O Jovem para o diabo.

Como você conseguiu enviar tantas almas para o inferno?
O Diabo:
- Pelo medo!
O jovem:
Bom trabalho! E do que eles tinham medo? Guerras? Com fome?
O Diabo:
Não... Uma doença!
O jovem:
Eles não adoeceram? Eles não morreram? Não havia cura?
O Diabo:
-..... adoeceu. Eles morreram. Havia uma cura...
O jovem:
- Eu não entendo...

O Diabo:
Eles acidentalmente acreditaram que a única coisa que deviam manter a qualquer preço é a VIDA!!!
Eles pararam de se beijar... Eles pararam de se cumprimentar!!! Eles deixaram todos os contactos humanos.... Eles deixaram tudo o que era humano! Eles ficaram sem dinheiro. Eles perderam o emprego. Mas eles escolheram temer pelas suas vidas, mesmo sem pão para comer. Eles acreditaram no que ouviam, liam os jornais e acreditavam cegamente que estavam lendo. Eles desistiram da liberdade. Eles nunca mais saíram de casa. Eles não foram a lugar nenhum. Nunca mais visitei amigos e família. O mundo inteiro se transformou numa prisão imensa com condenados voluntários.
Eles aceitaram tudo!!! Tudo para sobreviver a outro dia infeliz....
Eles não viveram, eles morreram todos os dias!
Foi fácil tirar suas almas miseráveis...


C. S. Lewis - 'Os conselhos de um velho demônio para um mais jovem' - Livro escrito em 1941!!!!


quarta-feira, outubro 21, 2020

O CAMINHO DA MULHER

 TEXTO REVISITADO - E CORRIGICO, ESCRITO inicialmente EM 2012


SER DIRECTA E "ESPIRITUALMENTE" INCORRETA...?

Muitas vezes quando me debruço sobre o que penso ser o embuste e os simulacros do que vejo e se anuncia por ai sobre actividades alegadamente do "sagrado feminino" e cujo objectivo notorio  é meramente comercial e egoico, fico na duvida se devo ou não dizer o que realmente penso e porque penso.  Podem perguntar-me com que direito eu penso ou digo certas coisas, mas perante tanta confusão acerca da deusa e do dito "sagrado feminino" agora extensivo ao masculino sagrado... fico realmente apreensiva por ver a banalidade disto tudo e como se está a vulgarizar algo tão importante. De repente é como se a Deusa fosse agora uma coisa qualquer à mão de qualquer um/a...tão fácil como apanhar uma flor e a por na jarra lá em casa a enfeitar a mesa...ou a estante... e já está.

Não, para mim não há Deusa algures...ou há e sempre houve e Ela é a mesma que está em todo lado onde a vida está e vibra no coração de quem é fiel a essa Presença. Porque Ela é Eternamente ELA. Uma ESSENCIA, uma voz ecoando dentro de nós...

Ela foi e É desde o Principio dos tempos, ela é Lilith, ela foi e é Inana e Isis...ela é e foi Astarte, ela é e foi Sophia, ela é e foi Maria, ela é e foi cada uma de nós, cada mulher...que encarna o Princípio Feminino e é fiel a si mesma e a sua origem divina, e não tem que se formar nem ser discipula de ninguém, nem fazer cursos para SER MULHER E DEUSA. E eu tenho o direito em dizer o que sinto e penso porque o faço desde há mais de 20 anos... e tenho trabalho feito e provas dadas  de integridade. Nunca vendi nada,  nem dos meus livros recebo quase nada... nunca me moveu o dinheiro, o desejo de fama ou o ego... Nunca me afirmei mestra nem guia de ninguém. Sou escritora e uso apenas a PALAVRA E O DISCERNIMENTO. 

E vejo que o problema da mulher actual, sobretudo das mulheres mais jovens, é que estão deformada pela mentalidade egoica e masculina, pois pensam que são livres e podem fazer tudo o que lhes dá na gana. Elas aplicam as mesmas técnicas de vendas que os promotores de publicidade para venderem os seus modelos inescrupulosamente ... Elas  pensam  que são livres e femininas e que tudo vale... e não vêm que foram dividida em duas espécies de mulheres...e estão presas no velho Paradigma ainda, Elas não sabem há muito o que é na verdade a sua essência porque  perderam a sua identidade...Elas  esqueceram tudo e o porque perderam  a sua  ligação à natureza, à Terra, à Mãe e a Filha para serem só filhas do Pai, Atenas saídas da cabeça de Zeus - que engoliu a sua mãe Métis para lhe tirar o poder - o grande Zangão que domina as deusas do Olimpo e cujo arquétipo (o professor, o doutor, o facilitador, o amnte,  o mestre)  ainda domina a mente das mulheres de hoje na sua luta por afirmação umas contra as outras. Elas são as filhas do pai; essa foi a mulher que herdamos, a cultura que herdamos, o culto do deus pai e sermos  filhas sem mãe... E há muito trabalho para fazer no sentido de destruir toda essa estrutura psiquica masculina de aversão à mulher que a própria mulher alberga dentro de si e da sua psique e não é agora num ápice, por apenas nos projectarmos numa imagem ou numa ideia vaga religiosa ou pagã da Deusa, que ela se torna realidade para nós porque a Deusa é cada mulher que se torne inteira e que caminha dentro si, no seu coração, não na sua cabeça... Toda a mulher é à partida uma deusa umas "nossa senhora", a nossa mãe primeira, e...cabe a cada uma de nós voltar a integrar o Princípio Feminino, ser fiel ao principio que nos orienta e consubstancia e te-la como  Matriz, só assim é possivel fazer a fusão das duas mulheres separadas pelas religiões entre a santa e a pecadora e unir o corpo a alma e o espírito. A mulher precisa de ser una e  integrar e unir as duas mulheres e não continuar a fazer o jogo dos homens, sujeita ao seu dominio, sejam psicologos, padres, filósofos, escritores, guias e xamãs etc - os que lhes ensinaram a ler as suas cartilhas e na catequeses lhe impuseram o silêncio forçado e o dogma e os credos...

 O Caminho da Deusa para mim é o Caminho da Mulher dentro de si, é a voz do Útero, é o caminho da união das duas mulheres dentro de cada mulher, é o caminho de uma Consciência Maior, o caminho do Coração que bate e é inteligente e... não há outro Caminho...Porque esse é o imaculado coração de Maria e de Ísis... é o coração de Maat a Deusa da Justiça que anseia por Verdade... 

Digo e penso que de nada nos serve andar a discutir ideias velhas e novas nem belos textos sagrados ou profanos, nem a discutir  as faces da deusa...  De nada serve isso se cada mulher não andar pelo seu próprio pé...se a mulher não se  encontrar consigo mesma, e esquecer os caminhos do passado, o caminho dos homens e mestres - e tudo o que aprendeu ao inverso e contra ela para poder encher o copo, o vaso, o Graal da sua memória, do seu sangue vivificante, a sua voz interna e uterina ...  

Basta de ideias e confusões e discussões estéreis...

Vamos parar com estas divergências e discussões de quem é quem e mais que quem, quem são as eleitas ou as preferidas e as preteridas ou as verdadeiras e as falsas... 

Só há uma caminho para a Deusa e a Para a Mulher; O caminho da alma e não do intelecto nem da razão...O caminho do SENTIR, do SER, da SÍNTESE...O Caminho irreversível do Amor...e é o Amor que tudo ama que tudo cura e sem ele...tudo é vão e estéril...

O caminho da Deusa, como sempre digo, ele é doce e implacável...e por isso impecável...ele não permite mistificações nem simulações...nem fraudes...

Ele exige o total DOM de si...

rlp


O FOGO DO CONHECIMENTO




O FOGO DO CONHECIMENTO


Ter sentidos apurados. Consegue ouvir, ver, cheirar, e saborear as coisas, e é senhora do seu Eu.


A dada altura quando uma mulher é tocada pelo fogo do conhecimento, vem inevitavelmente o medo do poder de que está imbuída e pensa deitar fora.

"Com este formidável poder às suas ordens, não espanta que o ego pense que talvez fosse melhor, mais fácil e mais seguro deitar fora esta luz ardente, por achar excessivo(...) sentir que se tornou Demasiado forte. (...) mas uma voz sobrenatural aconselhou - a a acalmar - se e a prosseguir.
Todas as mulheres que recuperam a sua intuição, atingem um ponto onde ficam tentadas a libertar-se dela questionando - se para que serve ver e saber todas estas coisas.
Sob a luz, os anciãos passam a velhos, o belo passa a exuberante, o tonto a maluco, os que beberam passam a bêbados, os que não creem passam a infiéis, as coisas incríveis passam a milagres.
A luz vê o que vê. É uma luz eterna e fica bem à frente de uma mulher, brilhando como uma presença que anda atrás dela, a uma pequena distância, reportando - lhe o que vai surgir mais adiante.
No entanto, quando se vê e se sente desta maneira, tem de se atuar sobre o que se viu.
Ter uma boa intenção e um considerável poder, vai obrigar a trabalhar.
Para começar, trabalhar na observação e na compreensão de forças negativas e desequilíbrios, tanto interiormente como exteriormente. Depois, há que esforçar-se para ter vontade de fazer algo relativamente àquilo que se vê, seja para o bem, para o equilíbrio ou deixar que algo viva ou morra.
É um facto, não vou mentir, que é mais fácil libertarmo - nos da luz e irmos dormir.
É difícil manter a luz à nossa frente, pois com ela, vemos claramente todas as nossas facetas, e a dos outros, tanto as desfiguradas, como as divinas, e todos os Estados intermédios.
Ainda assim, com esta luz, os milagres de beleza profunda no mundo e nos humanos mostram - se ao nível do consciente.
Com esta luz penetrante consegue - se ver, para lá da má acção, um coração bom, consegue - se ver um espírito doce esmagado pelo ódio, podem compreender - se muitas coisas, ao invés de se mostrar apenas perplexidade diante delas.
Esta luz pode diferenciar níveis de personalidade, das intenções e dos motivos dos outros.
Pode influenciar o consciente e o inconsciente, na própria pessoa e nos outros.
Porém, há alturas em que os seus relatos são dolorosos e muito difíceis de suportar, pois a luz também mostra onde se tramam as traições, onde à falta de coragem, mesmo que digam o contrário.
Mostra a inveja disfarçada debaixo da capa de um sorriso caloroso, mostra os olhares que não passam de meras máscaras a esconder a antipatia.
Já no que a nós diz respeito, a sua luz é igualmente brilhante : tanto ilumina os nossos tesouros, quanto as nossas fraquezas.
São estes conhecimentos que são mais difíceis de enfrentar. É chegado a este ponto que sempre temos vontade de atirar para longe todo este nosso sagaz e odioso conhecimento.
É chegado a este ponto que sentimos, se não decidirmos ignorá-la, uma força enorme do Eu que diz : 
Não te livres de mim. Aguenta - te e verás".


Clrisse Pinkola Estées in " Mulheres que correm com os lobos.

sexta-feira, outubro 16, 2020

PORQUE NÃO TENHO ESCRITO...

  



É BOM QUE NÃO LEIAM...

"É de pequenino que se torce o pepino..."


Tenho tido muita dificuldade em escrever no Blog ou no facebook... uma espécie de alergia a este voyarismo... a forma despudorada como as pessoas se desnudam no sentido literal e figurado, a forma insana como desvelam a sua intimidade e expõem a suas mazelas e dores e sofrimento; como se alguém aqui estivesse interessad@ em saber de alguém, ou da sua vida intima ou do seu animal de estimação ou sequer o que pensam e acham disto e daquilo... Para quê estes directos a vender a sua purga, a sua verdade, toda a gente agora em directo... a dizer o quê? Da "sua" justiça? da sua crença...?

Vejo ainda a que nível de solidão e vazio o ser humano chegou que precisa se mostrar e vangloriar e expor a sua vida ao publico, ainda que se chamem "amig@s", sem perceber que somos todo@s estranhos perante uma realidade cada vez mais estranha e ANORMAL, asfixiante, literalmente. E teimamos em branquear tudo e alimentar a nossa ilusão de um mundo melhor e mais feliz??

Não, nada disto é normal, ainda que a normalidade seja apenas o domínio da mediocridade sobre a originalidade do individuo, mas esta Nova Normalidade de Hoje... em que se pretende viver com o MEDO e no terror, alimentados pelo ódio social - distanciamento social, familiar etc. dizem - e fazer o que sempre se fez: andar na rua, ir ao mercado, ir trabalhar, ir andar... ao café ou ao restaurante... com um trapo na cara enfiado como se fosse uma nova peça de vestuário, já moda... já motivo de fotos e risos e cores e simbolos (o club de futebol, o escudo nacional), e futilidades...é realmente impossível continuar A VIVER SEM VER ESTA LOUCURA.

E se eu escolher NÃO SAIR DE CASA não é por medo do vírus nem de ficar doente...é para não ver este triste e desumano espectáculo de animais amestrados, açaimados e rosnando uns para os outros, fiéis aos donos e prontos para um servilismo total, por uns trocos, por uns miseráveis ordenados e pensões etc. etc. Uma humanidade totalmente vendida a uma mentira que nos asfixia e mata todos os sentimentos... e eles começaram a matar a vivacidade das crianças, a impedir o mais genuíno do ser humano... o convívio e a fraternidade, sim, "é de pequenino que se torce o pepino..."

Não, esta "normalidade" do terror e do medo de viver eu não a quero , não quero viver num mundo de alienados e doentes mentais o mundo transformado num manicómio, isso eu não quero. Felizmente sou velha, e já não me resta muitos anos de vda... (enfim, que sabemos nós da morte e da vida), mas prefiro morrer isolada a olhar tantos doentes mentais à minha volta...e até mesmo este mundo virtual serve para nos enganar e iludir e manter a distância da realidade e das pessoas reais. Isto as Redes Sociais, já foram uma preparação para o afastamento social e da realidade. Andamos tod@s aqui a fingir que está tudo bem... e que somos muito humanos, sem ver a ARMADILHA QUE ISTO É TUDO.


rlp

O Si mesmo não se encontra em parte alguma da superfície do ser


O SI MESMO, O EGO E A INDIVIDUALIDADE

"...esta mente, esta vitalidade e este corpo mesquinhos que chamamos de nós mesmos (ego) são apenas movimentos superficiais, não são o nosso si mesmo de maneira alguma. São um fragmento externo da personalidade que, por gosto da Ignorância, chega a primeiro plano no decorrer de uma brevíssima existência. Esse ser parcial é dotado de uma mente ignorante que tacteia em busca de fragmentos de verdade; de uma vitalidade ignorante que se movimenta caoticamente em busca de fragmentos de prazer; de um corpo físico obscuro e predominantemente subconsciente que recebe impactos das coisas e sofre – não possui – a dor e o prazer resultantes desses impactos. Este estado de coisas é aceite e considerado como normal até ao momento em que a mente se enoja e começa a perguntar-se se por acaso não existe felicidade real: e o corpo físico se cansa e começa a libertar-se dele e das suas dores e prazeres. Então, esse fragmento da personalidade, ignorante e mesquinho, adquire a possibilidade de retornar ao seu verdadeiro Si Mesmo e aceder no conjunto a todas essas coisas superiores – ou então extinguir-se no Nirvana…

O Si mesmo não se encontra em parte alguma da superfície do ser, mas bem lá dentro e acima. Lá dentro existe a alma que sustenta a mente interior, a vitalidade interior e o ser físico interior, que tem juntos a capacidade de amplitude universal e, assim, ter acesso a todas essas coisas que foram concebidas – o contacto directo com a verdade do ser e das coisas, o gosto da bem-aventurança universal, o romper dos grilhões da mesquinhez e dos sofrimentos do corpo físico grosseiro.”

In UMA PSICOLOGIA MAIOR

Sri Aurobindo


UMA FICÇÃO: APOCALIPSE NOW




HOJE, como ontem... 

Primeiro os químicos...depois os fogos, depois as cheias e enxurradas, depois a migração em massa para as cidades...a fome e a desordem...a policia, a violência e os militares ...as cargas...a bomba nuclear? E ... os escravos a dançar e a cantar, os mortos vivos errantes, ao telemóvel, eles fotografam as mortes e o caos em directo...vamos assistir até ao fim sentados...Isto não é nada - é só mais um filme de Hollywood ...made in USA!
rlp
(Escrevi este  apontamento em 2015)

O mundo e os homens estão numa lenta agonia a caminhar para a derrocada final de todos os sonhos altruístas e comunitários, seja de uma humanidade justa, livre e fraterna, seja de uma qualquer salvação divina e colectiva ou de um amor qualquer ao "próximo"...mesmo que se pregue e se imite Cristo e se diga sim aos "migrantes e aos (in)fiéis" - vivemos à sombra de genocidios brutais que branqueamos. 

Sem falar do Holocausto das mulheres - perseguidas como bruxas e queimadas nas fogueiras da Inquisição aos milhares - ,em 1915 inicio do século passado, o monstruoso Genocidio dos arménios cristãos pelo Imperio otomano, islamicos ...e 30 anos depois dos judeus pelo Nazismo de Hitler da culta Alemanha e que os americanos herdaram...e agora temos genocidios por todos os lados...bem mais sofiticados. Como conviver com estas Sombras de horror e mortes calculadas quando tudo o que vemos a nossa volta é a queda desse véu e vemos já a grande mentira dos homens, a suas guerras macabras e o ódio... Já não há frestas, nem portas, nem janelas para utopias ou qualquer esperança de um mundo melhor. O mundo pertence agora completamente aos corruptos, aos ladrões, aos mentirosos, aos criminosos, aos políticos...e aos Partidos e Governos que representam TODOS, sem excepção, a escória humana dos que governam o mundo e que do alto dos seus fortes, bancos, ilhas e palácios manipulam o mundo e reduzem os seres humanos a escravos... 
 E tudo começa na grande mente  assassina  que cria o branqueamento colectivo!

 rlp

segunda-feira, outubro 05, 2020

ENTREVISTA POR CLARA FERREIRA ALVES


Entrevista com ANTÓNIO DAMÁSIO (excerto) por CLARA FERREIRA ALVES

 

É o mais reputado neurocientista nacional, há muito radicado nos Estados Unidos. Nesta conversa com Clara Ferreira Alves, essencial para compreender o mundo em que vivemos, vai da pandemia à política, da filosofia à ciência

CFA - Em Portugal, o documentário da Netflix “The Social Dilemma”, está a ser muito visto e comentado nas redes. Os efeitos nefastos das novas tecnologias, e o enriquecimento não à custa da venda dos nossos dados, mas do uso espúrio desses dados, obtidos através dos metrics, do código, para obter um efeito algorítmico. Para modular os cérebros e assim predizer os comportamentos e gostos, vendendo essa modulação aos anunciantes, às corporações. Enriquecimento através do controlo invisível das nossas mentes e vontades. Uma teia invisível e uma máquina de rendimento, que se sabe ser hoje a base do Facebook, por exemplo. Dinheiro. Pior e muito mais sofisticado do que o Big Brother. O que dirá um neurocientista disto? O nosso cérebro modificar-se-á? A nossa cognição será propriedade alheia?

 

AD “O nosso cérebro modificar-se-á primeiro do ponto de vista prático e depois do ponto de vista estrutural. As pessoas adotam certos comportamentos porque eles funcionam. É um problema maior que está ligado a outro, o de respeitar ou não respeitar os afetos. Uma das características do mundo de Silicon Valley e que tem a ver com a personalidade das pessoas que criaram esse mundo, é o cuidado extremo e atenção a tudo o que é cognitivo. Processos intelectuais, processos de recolha de dados. Processos de manipulação de dados e de raciocínio. Esses criadores têm querido fazer isto da forma mais pura, para obter o melhor e mais rápido resultado. O algoritmo triunfante. E menosprezando, não prestando atenção, ao que é afectivo. Não há qualquer dúvida, mesmo as pessoas que não têm preocupação com afetos e querem a razão dura e pura, a objetividade dos dados, fazem escolhas constantemente. E as escolhas têm a ver com os afectos. Sobrevalorizar os dados e menosprezar os afectos. É impossível compreender seres humanos sem prestar atenção ao afecto.”

 

CFA - O like seria uma expressão do afecto?

 

AD - “O like acabou desvalorizado, demonstrou que é impossível estar fora de uma valorização dos afetos. Silicon Valley, espalhado hoje por toda a parte, criou um desequilíbrio entre a vida e a biologia. Hoje, posso dizer com toda a confiança que não é possível ter consciência sem ter afeto. Durante muito tempo quis equilibrar esta minha ideia, antiga de 20 anos, com o raciocínio, como formas de controlar a mente humana. Não há consciência sem sentimento. A consciência começa no momento em que há sentimento. E não é possível compreender a consciência sem compreender a relação entre mente e corpo. E não só para os seres humanos. A mente existe e atua dentro do corpo. O sentimento é o processo biológico que permite essa relação. É um processo híbrido. O sentimento que temos do estado do nosso corpo. Acabei de escrever um livro, ‘Feeling & Knowing’, sobre isto. Escrevi vários ensaios sobre isto, e acabei de dar uma conferência sobre isto. Pedi aos editores para porem assim ‘Feeling & Knowing’, ‘&’ em vez de ‘e’. E todos estes problemas de que temos estado a falar, os animais, a pandemia, as tecnologias, têm a ver com a mesma coisa. Ascendemos à consciência através do sentimento. Mesmo os vírus e as bactérias têm uma competência intelectual. Uma competência evolutiva e reprodutiva, uma competência para a administração dos problemas. Devido à ligação entre o sistema nervoso e o corpo ascendemos à possibilidade de sentir. E de ter consciência. E aqui acontecem coisas muito boas e muito más. A boa é a capacidade de conquistar o mundo e transformá-lo à nossa medida. A coisa muito má é que podemos sofrer.”

 

CFA - Já posso dizer com toda a confiança que não é possível ter consciência sem ter afecto E em que categoria dos afetos entram as baixas e primárias paixões? A raiva, o ódio, a desconfiança, o egoísmo, a agressão, tão visíveis na política populista ou em grupos extremistas como o QAnon? Ou na linguagem das redes? Tão visíveis no nazismo? No estalinismo? Comportamentos que fazem as bactérias parecerem mais expeditas. Quase mais conscientes. As baixas paixões não conduzem ao nosso bem-estar nem à homeostase.

 

AD - “As bactérias têm certas vantagens, se quisermos ter humor. Essas paixões não são a negação da homeostase mas contribuem para a sua perda. Todas estas reações emocionais têm um lado protetor. O medo e a raiva são sistemas de defesa. Houve momentos históricos em que não seríamos capazes de nos defendermos do agressor sem o medo. Quando tens uma emoção como a gratidão ou a compaixão crias bem-estar, para ti e para os outros. Os benefícios destas emoções, do amor, da alegria são ótimos porque duram, são longos. Tem uma curva temporal longa. Na raiva e no medo a curva é rápida. Veja-se a inveja, que pode levar um adolescente, por exemplo, a competir melhor. Mas logo a seguir, entramos em perda. Precisamos cancelar o processo, que é autodestrutivo. A superabundância de raiva e medo geram esses fenómenos que apontaste. Fenómenos de destruição.”

 

CFA - Em Portugal, a vantagem competitiva da inveja não parece óbvia. Detestamos o sucesso alheio e reproduzimos o ressentimento, sendo menos competitivos.

 

 AD - “Mas esse processo tem a ver com o modo com as sociedades evoluíram, não é estático, tem enorme variação, como todas as descobertas da natureza. Nós não inventamos as soluções, foram inventadas para nós. As emoções fazem parte do armamentário para lidar com a vida à nossa volta. E têm longos anos. Não aparecem nas primeiras criaturas vivas. Nas bactérias há aspectos emocionais, mas não há emoções. E muito menos sentimentos. A emoção está ligada ao comportamento e não à mente, nada tem de subjectivo. O que é subjectivo é o sentimento. A emoção é a reacção ao exterior, é comportamento, e o sentimento é a forma como aprecias mentalmente a reacção. Até ao momento em que aparecem os primeiros sistemas nervosos, há cerca de 500 milhões de anos, a possibilidade de ter uma emoção existe, mas a possibilidade de sentir não existe. Um vírus não pode sentir. É improvável que a nossa vida mental, a tua e a minha e a de todos, exista há mais de 100 mil anos. Existem prolegómenos. A mente humana é muito recente.”

 

in EXPRESSO, 26 de Setembro, Edição 2500

A Ela Desconhecida Sabedoria Feminina para uma Nova Era

 

Existe uma dimensão de sabedoria divina particularmente natural para as mulheres? E em caso afirmativo, qual o papel que desempenha na evolução espiritual da humanidade? Essas perguntas me levaram de um mosteiro budista no sopé verde-dourado do Himalaia a Glastonbury, um lugar de lendas arturianas; do caos de Las Vegas à escuridão quente de uma cabana de suor em Denver. Por dois anos trabalhei em estreita colaboração com oito místicos - sete mulheres e um homem - de uma ampla gama de tradições, incluindo Lakota Sioux, Sufismo, Budismo e Xamanismo da África Ocidental, o tempo todo em busca de pistas que ajudassem a desvendar as muitas faces de uma consciência espiritual que um colaborador chama de Ela Desconhecida. Esses místicos responderam minhas perguntas com poder e clareza, indicando que uma dimensão feminina do divino está emergindo em nossa consciência coletiva e que, ao nos alinharmos com essa sabedoria, podemos ajudar o mundo a passar para a próxima fase de sua evolução espiritual. Eles apontam que este mundo e seus recursos - humanos, ecológicos e espirituais - estão sendo rapidamente esgotados em parte por valores patriarcais desatualizados relativos à vida e nosso relacionamento com Deus. Uma orientação patriarcal, que guiou grande parte de nossa compreensão espiritual nos últimos dois mil anos, revelou o sagrado além das limitações da vida mundana, permitiu um distanciamento das restrições do corpo e nos despertou para realidades muito além do mundo físico . Mas o divino está vivo e mudando e anseia por se revelar de novas maneiras. Os céus não são mais a fonte de nosso sustento espiritual. Quando olhamos para o céu em busca de respostas que não existem mais, deixamos o mundo para trás em uma névoa de esquecimento, alienação e desespero espiritual. Ao nos alinharmos com a consciência feminina divina, podemos chamar Deus dos céus e começar a retificar a divisão entre espírito e matéria, luz e escuridão, e céu e terra que caracterizou nossa era recente. Este não é um retorno aos tempos matriarcais, mas uma união da sabedoria feminina eterna com os frutos da consciência masculina contemporânea, um novo equilíbrio que dará origem à próxima era na consciência espiritual. Nesta volta da espiral em nossa evolução, podemos despertar com uma consciência de unidade que a vida nunca conheceu. A própria vida se tornará viva de uma nova maneira, o coração do mundo pode começar a se abrir e recursos não descobertos do planeta começarão a se revelar. Quando me encontrei com esses professores inspiradores - Sobonfu Somé, Ani Tenzin Palmo, Lynn Barron, Angela Fischer, Andrew Harvey, Ginny Matthews, Pansy Hawk Wing e Jackie Crovetto - pedi instruções práticas sobre como consertar essas divisões e reconhecer a presença divina dentro vida. Cada um me orientou a me voltar para as qualidades femininas dentro de mim e honrar as qualidades femininas do mundo. Para as tradições espirituais femininas, eles apontaram, e os elementos místicos dentro de muitas tradições espirituais, sempre nos mostraram que o mundo criado é sagrado, que a luz está escondida na escuridão, e que o caminho para casa é através do serviço amoroso à unidade orgânica de da qual todos fazemos parte. Homens e mulheres têm um papel a desempenhar nestes tempos. A sabedoria feminina contém muitas respostas e temos a responsabilidade de reconhecer sua presença e permitir que surja como uma força no mundo. E as mulheres têm uma responsabilidade particular neste processo.

A consciência espiritual das mulheres, que guarda o segredo de como o espírito e a matéria se unem para criar uma nova vida, é necessária para o processo místico que está ocorrendo dentro do todo. Para atender às necessidades desta nova era, as mulheres devem realmente viver quem são sem hesitação e deixar para trás padrões de insegurança, dependência e medo que as inibiram de expressar o que sabem ser real. Os homens podem servir desenvolvendo sua própria natureza feminina e também apoiando e protegendo as mulheres enquanto elas aceitam suas responsabilidades durante esses tempos de mudança.

 

Como descobrimos e vivemos nossa sabedoria feminina? O primeiro passo, concordam muitos desses místicos, é descer da montanha, descer da postura transcendente que há tanto tempo caracteriza nossa espiritualidade e tornar-se realmente parte da vida.

 

Descendo da transcendência

Em uma fria noite de outubro, me sento com Andrew Harvey, acadêmico, tradutor e místico, em um parque deserto perto de sua casa em Las Vegas. Observando as cores vivas do deserto brilharem nos penhascos diante de nós, discutimos a ênfase das religiões patriarcais na transcendência. Por muito tempo, as principais religiões do nosso mundo nos direcionaram a Deus, afastando-nos da vida comum na Terra. Práticas ascéticas, que incluem uma supressão ou transmutação de energias instintivas, como sexualidade e outros desejos, foram enfatizadas. Os aspirantes espirituais se esforçam para ir além dos apegos e responsabilidades neste mundo para estar com um Deus que existe em outro lugar. O lado sombrio dessas abordagens, explica Andrew, nos alienou da glória e da maravilha da própria vida. 'Tudo o que você já ouviu sobre o divino é prejudicado por distorções patriarcais que definem o divino quase obsessivamente em termos transcendentes, não imanentes', afirma Andrew. 'O vício da transcendência mantém todos em coma. Esse vício é, na verdade, a heroína definitiva porque o mantém alto, absorvido em si mesmo e falsamente desligado.'

Durante todas as minhas reuniões, a mensagem era a mesma - precisamos entrar plenamente na vida, pois é aqui que nosso amor e atenção são necessários. Quando desenvolvemos nossa consciência espiritual por meio do envolvimento na vida, nutrimos a vida como parte de nosso próprio processo de evolução e ajudamos a despertar o mundo para sua natureza divina. Sentada com Angela Fischer à mesa de piquenique em sua casa no norte da Alemanha, seus filhos brincando atrás de nós no quintal, esta sufi me pergunta, sorrindo: 'Por que não ir a Deus abraçando a vida? Por que não se render a Ele enquanto dança, para que Ele possa celebrar Sua beleza e Sua alegria através de nós? '

Quase dois anos depois de minhas conversas com Andrew e Angela, me encontro com Ginny Mathews, uma freira ordenada por leiga na tradição Rinzai Zen, em sua casa no norte da Califórnia. Bebendo chá com Ginny no domingo de manhã enquanto seus filhos dormem em seus quartos, discutimos a armadilha de muitos buscadores espirituais de projetar Deus além de nossa experiência comum. 'Acho que tendemos a identificar erroneamente os estados espirituais como' transcendentes', Ginny me disse. “Como se, ao experimentar esses estados, estivéssemos acima ou além de algo. Portanto, somos encorajados a lutar por algo 'acima' e 'além'. Claro que é verdade - a pessoa vai além das limitações do ego. Mas não é mais correto dizer que esses são estados de presença real? Eles refletem algo de nós realmente estarmos aqui? Para mim, eles dependem até de um enraizamento na terra. Eles incluem meu centro de gravidade, minha fisicalidade. ' Mais tarde, ela continua, 'Tudo morre sem forma e emerge da ausência de forma. Tudo morre e nasce. Mas transcendência não é morrer nem nascer. A transcendência é apenas uma fuga. '

Sobonfu Somé, um xamã da África Ocidental, também enfatiza que o caminho feminino não é transcender a vida, mas estar totalmente conectado a ela. Conversando com ela em sua casa de campo na Califórnia em uma tarde de primavera, seu vestido africano brilhante e seu lenço na cabeça ecoando nas flores do lado de fora, ela explica: 'A energia feminina é uma energia de conexão. Meu poder vem de estar conectado com a totalidade da vida, com a grande teia de vida e luz que conecta tudo. ' Por meio de sua relacionalidade natural, as mulheres podem facilmente se tornar conscientes de sua conexão com uma teia de unidade, de luz e vida, que flui através do mundo e além. 'A teia de vida e luz contém sabedoria, conhecimento e uma energia de cura para o mundo inteiro', diz Sobonfu. 'Energia de cura que nos une e ajuda a limpar o que não é necessário de nossas vidas.' Pansy Hawk Wing, uma anciã Lakota Sioux que conheci em Denver, concorda que é por meio da conexão que o poder feminino flui e permite que o que é necessário seja dado. Um dos objetivos de Pansy é encorajar as mulheres a liderar mais cerimônias Lakota, trazendo assim o poder feminino de volta à sua tradição. O tempo de conquistas por superar os outros acabou, ela me diz enquanto nos sentamos à mesa da cozinha, observando a neve girando do lado de fora das janelas.

“O guerreiro está mais interessado em adquirir coisas. Ser o chefe de um território, exercendo poder sobre coisas externas. Adquirindo mais terras, mais cavalos, mais força. Este é o foco do guerreiro. Indo para fora. O aspecto feminino é: você vai para dentro e nutre. Você entra e ama, entra e traz equilíbrio. Assim fica mais forte. Isso permite a liberdade das pessoas. A liberdade de se conectar com o Espírito, a liberdade de caminhar nesta terra, a liberdade de ter acesso à segurança, ao cuidado e ao amor. '

 

Amor A dimensão feminina da consciência divina atua por meio do amor.

Como Lynn Barron, uma mística sufi, me diz quando visito sua pequena casa no deserto fora de Los Angeles, 'O amor é o elemento feminino'. O amor é um poder de conexão, de relacionamento, de unidade. O amor não conhece limites ou fronteiras, ele nos leva para onde somos necessários e nos traz o que precisamos. O amor nos une no nível físico e nos conecta através de muitos planos de existência para que energias superiores possam fluir para o mundo através de nossos corações. A própria Lynn foi aniquilada nas chamas do amor divino, seu ego foi queimado durante uma experiência mística de cinco anos. Ela foi tomada pelo amor e conduzida cada vez mais fundo em seu coração e além. Por fim, ela passou a viver em uma consciência que descreve como a Ela Desconhecida, um estado de puro ser. Sentada ao lado de seu fogão a lenha uma noite, na escuridão da noite do deserto, ela descreve o processo de descer do céu para o seu coração. 'A ascensão espiritual é trabalho, esforço. Você dá um passo de cada vez, passa por um estágio após o outro, aproxima-se cada vez mais da luz. Mas de repente a luz se torna tão brilhante que fica preta. E a descida começa. Você se rendeu e não depende de você. Você é levado pelo amor. Você se foi. Você está perdido no preto luminoso, no doce silêncio, no vazio dinâmico e vivo da Ela Desconhecida.' Como Lynn, muitos dos místicos com quem conversei enfatizaram o poder transformador do amor. Amar plenamente requer uma força incrível, pois nos desperta para nossas conexões profundas dentro e fora da vida, e nos deixa vulneráveis a como a vida e o divino precisam de nós. Quando viajei para a Inglaterra para visitar outro sufi, Jackie Crovetto, mãe de três filhos que trabalha meio período em uma clínica de saúde, recebi a mesma mensagem. O amor incondicional pela Verdade, ela explica, queima os apegos que surgem dentro do ego, revelando um amor infinito que unifica todas as experiências dentro de uma unidade divina. 'Se você ficar no fogo, fiel ao Amor, fiel ao anseio mais profundo do seu coração, uma estranha alquimia acontece. Suas expressões de amor se aprofundam e se tornam mais inclusivas; um amor irrestrito começa a permear todos os seus relacionamentos. ' Mais tarde, ela continua, seus olhos selvagens brilhando: 'O amor está no âmago do meu ser e está presente em todos os meus dias. E estar apaixonado é viver no amor, é estar vitalmente vivo! Cada momento nasce de novo. Isso é amor, amor que não conhece limites, que flui através do mundo criado e não criado, que traz o vazio à forma e traz a liberdade da morte a cada momento! ' O amor é uma energia divina dentro da vida e flui para a vida a partir de planos mais subtis, através da consciência de nossos corações. O amor é a chave da encarnação divina, de como o espírito e a matéria se entrelaçam e de como todos podemos nos relacionar em um estado de unidade divina. Ginny apresenta o paradoxal potencial do amor quando me diz em sua cozinha: 'Na vastidão do amor, podemos realmente nos encontrar.' Quando as mulheres realmente vivem o amor que já existe em suas vidas e aceitam a profunda vulnerabilidade que o amor exige, elas serão guiadas pelo amor no trabalho espiritual que precisam fazer. Como Angela me disse: 'O transcendente e sem forma se tornaram os objetivos, o mundo foi deixado para trás. E, no entanto, para as mulheres, isso vai contra a nossa natureza, que é estar envolvida, por meio do amor, em todo o processo de criação. '

Guiando amor e luz para a criação Místicos - homens e mulheres - sempre trabalharam nas fronteiras entre este mundo e o invisível, guiando o que é necessário do vazio criativo do além para a criação. As mulheres conhecem intuitivamente esse processo na consciência de seus corpos; manifesta-se em como elas recebem a alma de um ser no útero. E as mulheres sabem que suas responsabilidades não terminam com o processo de nascimento, elas permanecem conectadas por meio do amor ao que guiaram ao mundo. Todos nós podemos honrar essas qualidades instintivas e permitir que nutram a vida.

 

Como fazemos esse trabalho?

 

O primeiro passo é acessar o silêncio escuro dentro de nós. Em muitas tradições, o vazio escuro e silencioso é descrito como o local de nascimento de toda a criação. O budismo tradicionalmente identifica o vazio como um princípio feminino, conforme aprendi em minha viagem à Índia para me encontrar com Ani Tenzin Palmo, uma freira budista tibetana britânica que se mudou para a Índia quando tinha apenas 19 anos e passou 12 anos em retiro em uma montanha caverna. Sentada em seu pequeno escritório - fora do mosteiro onde as jovens freiras de seu novo convento estão temporariamente morando, ela resume uma compreensão budista do vazio. “O lado feminino é algo aberto, inclusivo, intuitivo. Esse vazio, essa qualidade espaçosa, inclui tudo, mas dentro de si não é uma coisa.' Jackie explica que o vazio é uma qualidade de nosso ser, às vezes reconhecida no amor. 'O amor tem um elemento de espaço infinito. Para participar da vida em um nível muito profundo, precisamos estar cientes desse espaço. E todos nós temos a responsabilidade de ser zeladores desse espaço - que é o silêncio receptivo, a quietude, que é onde o divino flui para a vida, um limiar onde podemos vir a conhecer Deus.' E Lynn nos lembra que o vazio não é apenas algo que buscamos, mas uma força viva que nos busca: 'Lembre-se, é dito que existe um tesouro escondido que anseia ser conhecido. Entre na luz dela e a luz dela o levará ao tesouro. Entre nesta escuridão luminosa, e Ela, que é o próprio amor, o levará cada vez mais fundo no amor. ' Acessar o vazio de nossa natureza real é o primeiro passo. Despertados no silêncio, veremos o que vem a seguir. Vulneráveis ​​ao amor, recebemos o que está sendo dado e o orientamos onde for necessário.

 

Texto por Hilary Hart

O LIVRO LILITH ,A MULHER PRIMORDIAL EM ACÇÃO


«Lilith, a Mulher Primordial - o Feminino e o Sagrado» de Rosa Leonor Pedro

Quando um dia parti em busca do Psicotelurismo, mal sabia eu que buscava a mim mesma, ao meu reverso, à mulher ancestral que eu sentia cristalizada nas paisagens ibéricas que me apelavam à alma, mais do que ao olhar, veios energéticos que eu seguia por apenas acreditar nas rochas.

Mas quando conheci «Lilith», percebi que algo faltava ao meu trabalho, algo que eu quase tocava, fugidio como uma serpente por entre a resteva da minha colheita meramente intuída. Faltavam-me as palavras certas para nomear esse vazio em mim, um direccionamento mais profundo que durante muito tempo procurei em vão na Alquimia, na Metafísica e na Psicanálise, quando estava tão-só no meu sentimento pela Terra e pelos seus vapores telúricos, no apelo mitocondrial dessa bactéria que habita o nosso citoplasma e que nunca esqueceu o chão prístino, mátrico, de onde proveio. Eu buscava, afinal, a Mulher, a humanidade genuína, aquela que a História dos homens apagou para que dela não tivéssemos hoje qualquer memória e caminhássemos cegas na aceitação religiosa de um Deus-Pai e da sua santa ciência corrupta e criminosa que nos separou da Natureza sem sequer tentar compreendê-la. Que nos separou da Mãe.

O trabalho da Rosa Leonor Pedro explicou-me o meu, o porquê de cada uma das minhas escolhas na senda da ancestralidade feminina, esquecida já pelas mulheres, jamais aprendida pelos homens.

As pedras são minhas avós, guiam-me os passos pelas veredas da vida, onde tantas vezes me perco e reencontro. Haverá ainda caminho neste mundo para quem como eu prefere abraçar o chão?

Isabella G. 

Imagem: «Lilith, a Mulher Primordial - o Feminino e o Sagrado» de Rosa Leonor Pedro
Fotografia: Justin Novello

quinta-feira, outubro 01, 2020

Uma Definição do Feminino

Desde que tive o sonho visionário da mulher cósmica, fico imaginando qual seria a mensagem dela. Por que essa imagem apareceu para mim e o que ela estava pedindo de mim? O que, em seu sentido mais profundo, significa a palavra "Feminino"? Como estou definindo neste livro, não se refere à atractividade sexual feminina que é tão promovida no mundo de hoje, nem às qualidades de cuidado e gentileza geralmente, embora não exclusivamente identificadas com as mulheres, nem à agenda feminista do empoderamento de mulheres num mundo masculino. Significa o reconhecimento de que vivemos dentro de uma Ordem Sagrada e que temos a responsabilidade de proteger a vida do planeta e toda a variedade de espécies que ele abrange, em vez de explorá-las para o benefício apenas de nossa espécie. Em suma, a palavra ‘Feminino’ representa uma perspectiva totalmente diferente da vida, uma visão de mundo ou paradigma da realidade totalmente diferente e os valores de sentimento que podem reflectir e apoiar essa visão de mundo. Significa uma nova consciência planetária e a árdua criação de um novo tipo de civilização. Sem nos reconectar com a Alma e com a orientação e sabedoria do Feminino, sem ir em busca dos valores que ela representa e abrir nosso próprio coração para sua orientação subtil, não entenderemos o propósito de nossa presença neste planeta, nem seremos capaz de enfraquecer as tendências atávicas inconscientes que nos aproximam cada vez mais da destruição de nosso habitat e, portanto, da auto-aniquilação. O ressurgimento do Feminino convida a uma nova consciência planetária onde os mais profundos instintos do coração em homens e mulheres - compaixão, inteligência informada e um desejo de proteger, curar e tornar completo - são capazes de encontrar expressão de maneiras que podem ser melhor descritas como devoção à vida planetária e cósmica. Christopher Bache, em seu livro extraordinário, LSD e a Mente do Universo descreve esse novo e poderoso despertar da alma: “A grande dificuldade que tenho é descrever a enormidade do que está sendo gerado. O verdadeiro foco deste processo criativo não são os indivíduos, mas toda a humanidade. Na verdade, está tentando despertar a espécie inteira. O que está emergindo é uma consciência de proporções sem precedentes, toda a espécie humana integrada em um campo unificado de consciência. A espécie se reconectou com sua Natureza Fundamental. Nossos pensamentos sintonizados com a Consciência da Fonte." À medida que se torna mais consciente em nós, já estamos nos tornando conscientes de nossa dependência, para nossa existência continuada, da integridade e sustentabilidade da biosfera planetária. Nossa imagem da realidade e nosso relacionamento com o planeta e uns com os outros estão sendo transformados à medida que assimilamos as implicações deste "casamento" dos dois princípios arquetípicos primários que, na Cabalá, correspondem aos pilares esquerdo e direito da Árvore da vida. O retorno do Feminino tem o impacto de um terremoto planetário, dissolvendo padrões sociais há muito estabelecidos, sistemas políticos e financeiros e instituições religiosas, pedindo uma transformação radical de nossos valores, nossas relações e nossa compreensão da vida. Acho que podemos encontrar esse novo impulso evolutivo reflectido em um desenho de Henry Moore, feito na época mais sombria da Segunda Guerra Mundial. Mostra um grupo de pessoas reunidas em torno de uma enorme figura, sua pequenez diminuída por sua altura elevada. Por baixo da mortalha e das cordas que a prendem no lugar existe uma forma feminina. Este desenho sugere que uma nova imagem do espírito, ou talvez uma imagem há muito perdida, estava despertando para a vida na alma colectiva da humanidade, esperando para ser desvelada, esperando para ser reconhecida e recebida por nós. As maiores esculturas de Henry Moore têm a mesma impressão feminina. Seus desenhos de “Abrigo” nos levam de volta ao útero materno escondido sob a terra - as passagens subterrâneas em forma de caverna onde buscamos refúgio enquanto bombas causavam a morte de nossas cidades. Muitas de suas esculturas e desenhos focalizam a imagem de uma mãe e filho ou a figura monumental de uma mulher. Seu trabalho aponta para o ressurgimento do arquétipo feminino na alma humana e o despertar global do Anima-mundi ou Alma-Mundo.

 

Texto de Anne Baring

 Pintura: Abrigo de tubo cinza, 1940, Henry Moore