O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, outubro 29, 2020

UM POEMA

 


UMA PÉROLA APENAS BASTAVA

(Escrito em 2017)

Hoje, como em tantos dias, levantei-me com esta vontade de escrever... e apetecia-me escrever para alguém...ah, alguém que me compreendesse e eu compreendesse e me fosse próximo, ou mesmo que fosse alguém anónimo como tão bem à partida estes meios  nos permitem, ter essa doce ilusão de encontros e sincronias, descobrir almas afim... 

Sim apetecia-me dizer tudo o que sinto sem meias verdades nem mais mentiras, abrir-me e mesmo sem saber quem me lê como antigamente fazia no Blog. Que ingénua eu era... Levei tempo a perceber que esse sitio não existe, nem essa pessoa, ao deparar-me com o que sempre me deparo quando leio o que a maioria das pessoas escreve nestes meios virtuais: tanta fantasia, ilusão e  mentira, tanta megalomania e o narcisismo... tanta promoção pessoal, tantas fotos e selfies... E vi que é isso o que as pessoas gostam. 

Gostam de mentiras e belos trechos de prosa de amor e religiosidade cheios de moralidade e de esperança num amor que nunca existiu ou num mundo melhor que nunca conhecemos nem para o qual nunca nada contribuímos....

Sim, desisti por hoje de escrever o que sentia e o que penso e de uma vez por todas sinto que não é aqui  - jamais será - que irei encontrar pessoas com discernimento e realismo e verdade porque todas as pessoas buscam por estes meios entretenimento e mentiras...

Ah o "pensamento positivo" que abomino...

Mas o belo, dizem-me os feios e os torpes, o bom, dizem-me os mais maldosos e o melhor para o mundo? Ah e a Paz dizem os mais intranquilos… e agressivos!

É verdade, precisamos tanto de paz e amor e já agora acreditar na alma gémea …pois era, seria belo, sim. E que bela seria a vida se tivéssemos essa alma que nos inspirasse ou esse deus que nos protegesse ou anjos da guarda que nos adormecesse nas noites de dor e medo e que não deixariam que o mal, a doença  a guerra e a morte acontecessem na Terra...

ah eramos tão felizes…felizes para sempre! 

Felizmente  não me deu a mim deus uma crença assim; sou amarga e ceptica e diria como Pessoa, muito longe de ter a sua genialidade, que apenas sou lucida...Oh merda! 

Nenhuma história ou amor de pacote me convence nem o mais literário e poético... nem nenhum ser humano já me toca ou emociona...e tenho pena, sim que pena,  que fazer, nasci assim. Vou morrer assim: só e descrente.

rlp

DEIXO UM POEMA 

Monólogo na Noite

Sou a Consciência em Ódio ao inconsciente.
Sou um símbolo encarnado em dor e ódio
Pedaço d’alma de possível Deus
Arremessado para o mundo
Com a saudade pávida da pátria
A cujo horror tremo ao pensar voltar
Mas sem nada da (...) e da ilusão
Para viver neste desterro. Amor,
Paz, amizade, tudo quanto ajuda
A viver a mentira do universo
Falha-me e eu (...)
Ó sistema mentido do universo
Estrelas-nadas, sóis irreais
Oh com que ódio carnal e estonteante
Meu ser de desterrado vos odeia.
Eu sou o inferno. Sou o Cristo negro
Pregado na cruz ígnea de mim mesmo
Sou o saber que ignora;
Sou a insânia da dor e do pensar
Sobre o livro de horror do mundo.
Por que fui eu, amaldiçoado horror
Que me fizeste ser e que eu nem posso
Pensar para te amaldiçoar, ou crer
Em ti, tão cheio do consciente e mensurante
Que o ódio me não cegue para ver
Que não sei que tu és para saber
Se sequer poderei pensar odiar-te.

Fernando Pessoa
Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988. - 112.



Sem comentários: