O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, março 31, 2022

Como os Biodemos se originaram neste universo?



Introdução:


- Jan Val Elam em sua crescente obra, “sentiu” a necessidade de criar termos para “classificar” as inúmeras classes e gêneros de seres extraterrestre e extra físico. Após começar a ter contato e obter novos conhecimentos através das informações que veio gradativamente a receber, pelos próprios, de suas existências. Dentre elas um dos termos criados foi o de biodemo.

Definição:

“Gênero cuja carga mental demo se encontra parcialmente neutralizada e associada à função biológica assexuada, tendo como membros indivíduos normalmente racionais e operativos, variando tão somente os seus padrões de senso crítico e de razão filosófica.” Definição presente no livro: O Dharma e as Castas Hindus. De Jan Val Ellam.


Como os Biodemos se originaram neste universo?

- Biodemo é uma linhagem de seres extraterrestres biológicos que povoam o universo material (Buhloka) criado por um dos “senhores” da antiga Trimúrti que era conhecido por Vishnu (Que se encontrava no Brahmaloka: Universo antimaterial, paralelo ao universo material) que no seu “forno demo” fez-se sua expressão “Mohen So” e dessa, se originou, já no universo material, a personificação biológica conhecida como “Sophia” que foi “engendrado” neste universo para vir a ser o suserano deste universo material até o final do mesmo. Os Biodemos não “nascem” por via sexual. São “engendrados” em Naves espaciais “maternidades” por provável engenharia genética, e já nascem “prontos” não tem período de infância como os seres humanos. Já são criados de uma forma “adulta” com todas suas potencialidades específicas para que cada família biodemica criada, para que “resolva” alguns determinados problemas definidos pelo seu “criador” (do corpo biológico, mais cada um deles também são “vivificados” por um espírito, como os seres humanos e demais seres do universo.


Algumas informações e curiosidades sobre os Biodemos:


- Existem aproximadamente 250.000 famílias biodêmicas.

- Vivem centenas de milhares de anos terrestres, na forma de biodemo.

- São seres biológicos assexuados, “engendrados” por algo parecido com o que conhecemos com engenharia genética em “casulos” dentro de naves espaciais criadas especificamente por Sophia para determinada família biodêmica.

- São “interligados mentalmente” por um aparato conhecido na obra Elaniana, por “Processador” (Um tipo de “computador quântico”) o mais conhecido na obra de Jan Val Ellam é o Processador Val [da Família Val] que atualmente se encontra “astralizado” nos arredores do planeta Terra. Cada família biodêmica tem o seu próprio processador; mais algumas das famílias como, por exemplo, a Família Yel foi destruída durante a “Rebelião de Lúcifer” e acabaram ficando “interligado” através do processador da Família Val.

- São seres radiatas (tem somente um hemisfério cerebral, os seres humanos são bilatérios, tem dois hemisférios cerebrais).

- São extremamente inteligentes, mais desprovidos de emoções. Com exceção de alguns deles que ficaram exilados por milhares de anos no contexto terrestre e submetidos a um estresse extremo, que lhe causaram mutações genéticas em seu corpo biológico, levando os a se “algo” diferenciar dos biodemos que continuam em sua constelação de origem.

- Um ser biodemo pode passar milhares de anos terrestres focado em resolver, por exemplo, uma equação matemática, sem necessidades físico-biológicas como um ser humano precisa.

- Uma parte destas famílias participou da conhecida “Rebelião de Lúcifer” (Yel Luzbel, membro da família biodêmica Yel).

- A maioria das famílias é proveniente do sistema de Capela.

- Uma pequena parte dos bidemos (alguns milhares) se encontra “encarnados” entre os seres humanos.

- A maioria, segundo Jan Val Ellam, dos detentores de prêmios Nobel e conhecidos políticos e líderes mundiais, seus espíritos em vida passada “vivificaram” também seres das famílias biodêmica.
A grande maioria dos que tomam contato com Revelação Cósmica e permanecem seguindo a obra de Jan Val Ellam, seus espíritos, já “vivificaram” também algum ser extraterrestre de uma das famílias Biodêmicas…

Principais séries de livros e palestras de Jan Val Ellam, que se tem por foco o tema sobre os Biodemos:

Livros:

- Trilogia Terra Atlantis:

1) O sinal de Land´s End

2) A Frota Norte

3) Terra Atlantis — A Era Sapiens

Palestras encontradas no IEEA:

- Algumas das palestras do Módulo 17: Grupo 02 — Temática extraterrestre.

quinta-feira, março 24, 2022

A destruição da humanidade começa pela confusão entre sexo...

 


OS MEDIA SÃO O CANCRO DA HUMANIDADE

A destruição da humanidade começa pela confusão entre sexos. Os géneros são constructos ideológicos e nada têm que ver com cromossomas ou hormonas. Baralharam a linguagem e agora baralham homens e mulheres. Só se perde no jogo deles quem andar mesmo a dormir. Os Jogos Olímpicos, logo para começo de conversa, são rituais satânicos, basta ver os teatros de abertura para termos noção do que de facto se trata. Se desligássemos todos as televisões e não déssemos qualquer crédito ou tempo de antena a estes nonsense, acabaríamos com todos os vjrus e guerras. Os media são o cancro da humanidade.

 JOGOS OLIMPICOS

Nestas cerimónias de abertura (veja também o caso flagrante da cerimónia inaugural do CERN) são passadas mensagens subliminares a par do uso de armas psicotrónicas (tenho um vídeo postado ontem no meu perfil, em que a filóloga Carme Huertas explica muito bem este aspecto). Nestes eventos públicos toda a população espectadora passa por um brain washing muito semelhante ao praticado nos rituais iniciáticos de certas sociedades secretas. A simbologia, o som, a cor e a mensagem cooperam para envolver o público num dado fluxo energético. Inclusivamente, os sacrifícios são encenados através da sua redução a imagens arquetípicas, de claro valor simbólico, de forma a que sejam aceites pelo subconsciente do observador comum. A consciência do espectador é posta em oferenda a uma força abstracta e "demoníaca", ou seja, é instrumentalizada através da sua distorção ou polarização (alteração da percepção do real). Não se trata aqui de acreditarmos em patranhas relativas à existência de um diabo, porque nem os satânicos acreditam em tal coisa. O Diabo é a inteligência artificial, é a distorção da matriz cósmica. O plano em que vivemos é um fractal de uma realidade maior, em que, tal como num holograma, cada uma das suas ínfimas partes contém o todo. As cerimónias de abertura destes eventos desportivos e até da Eurovisão, destinam-se à criação de uma hive mind obediente e padronizada, naquilo a que se dá o nome de Mass Formation Hypnosis.

 NOS CONCERTOS

No mundo musical, então, nem se fala, é por todo o lado. Há artistas que fazem dos seus espectáculos autênticos rituais satânicos, tudo de acordo com a simbologia e os cânones do talmude babilónico criado pela máfia khazariana. Tudo isto se destina ao mind control, à exploração da energia humana através das frequências geradas pelas emoções. Nada neste mundo é aleatório, e até o flúor com que envenenam a nossa água nos predispõe à empatia com determinados padrões energéticos de cunho predatório ou parasitário. Não é por acaso que vamos encontrar parasitas na base de quase todas as nossas doenças, incluindo o cancro, assim como nas vacjnas. Tudo se integra num plano maior, que de tão grande nos escapa.

 Isabella garnesche

Eu vejo todas as pessoas como seres humanos




“Nuestro cuerpo de mujer está colonizado y responde a la ideología del colonizador. La liberación sexual de los años sesenta no fue en realidad para la mujer sino en el sentido masculino del término y en relación a los intereses de os hombres”.
Leonor Taboada

"Mulheres" trans... tornadas!
 
Queria avisar antes de abordar este tema tão delicado e tão na moda que o que eu escrevo aqui nada tem a ver com falta de empatia, diria mesmo de amor que tenho pelo ser humano e os seus dramas existenciais. Sejam homens ou mulheres é-me igual. Eu prezo todas as diferenças e todas as escolhas individuais que cada pessoa adulta e consciente possa fazer na sua vida sem afectar a dos outros. Como no caso de pessoas homossexuais – e para mim isso significa que cada um pode amar seres do mesmo sexo, como do sexo oposto de igual modo -, mas continuo a manter uma posição de que nestes casos o ser humano não precisa de mudar de genitália…
Eu vejo todas as pessoas como seres humanos, sejam a partida homens ou mulheres, como disse, homossexuais e lésbicas, e no caso dos ditos transexuais eu entendo-os e sei o seu drama, sinto-o mesmo de forma muito empática, e até compreendo o seu fascínio pela mulher e o seu “desejo” do feminino. Tenho amigos e amigas desde sempre diferentes. Conheci há 50 anos alguns dos primeiros travestis portugueses incluindo um deles que se operou e depois de se ter tornado “mulher” (belíssima) disse que afinal amava as mulheres…
Eu entendo mas vejo toda esta questão a um nível metafisico e da encarnação das almas; sei que nascem muitos seres que não se identificam a partida com o seu sexo genital, e desse modo eles tem toda a minha compreensão e compaixão, mas como Mulher eu não posso permitir esta propaganda doentia, superficial e volúvel quando se está a dar a estes assuntos um relevo absurdo, sobretudo aceitar como natural e normal estes seres hibridos que se mutilam em nome de um sentir apenas. Na verdade deixam de ser homens e nunca serão mulheres e vice-versa – basta olhar os aspectos biológicos dando-lhe um lugar no pódio, por exemplo, competindo de “igual” com a mulher e onde obviamente é clara a sua superioridade física....
À partida lembro que TODAS AS PROFISSÕES que antigamente eram de MULHERES, como modos de sobrevivência e não tendo acesso a profissões “melhores”, como os homens, elas foram ao longo dos anos apropriadas pelos homens, apesar de “inferiores”...começou com os estilistas, costureiros, cabeleireiros, e cozinheiros, como chefes de cozinha etc. Todos foram privilegiados em termos sociais e obtiveram muito mais renome do que as mulheres. Mas sobretudo foram os estilistas e os cabeleireiros que projectaram uma imagem de mulher ficcionada no seu imaginário e também poetas e escritores gays... o que nada teria a ver com a mulher normal e comum, a empregada ou a dona de casa, mesmo a princesa, mas sim, com as suas producções ficiticias, projectadas da “mulher ideal” no cinema e na música. Eles estilistas e gays, criaram as grandes stars! E eles próprios tornaram-se nesses travestis a imagem do que eles gostariam de ser... se...fossem mulheres. As mulheres fizeram tudo o que eles queriam e seguiram esses padrões durante décadas como se aquilo fossem elas...e cada vez mais ficaram longe de uma imagem digna da Mulher-mulher, a mulher real.
AGORA no desporto, há mais esta forma de o homem se apossar de um campo alternativo de afirmação do feminino... E aqui vemos o despontar do DRAMA, é que eles já não querem ser apenas o travesti nem se vestirem de mulher no carnaval ou como vestiram ou despiram a mulher de deusa ou rainha ou prostituta...eles agora querem TER CORPO e sexo de MULHER, SER MULHER, serem “mães” e tudo isto por se sentirem, dizem, MULHER... e aqui temos o resultado. Uma destruição paulatina da imagem biológica da mulher e do homem.
No caso das mulheres, que não sabem o que é ser mulher de tanto imitar os homens e os homens de tanto fabricarem mulheres querem ser mulheres invertidas… e todos embarcam nesta onda abismal e perversa de aceitarem esta palhaçada toda…
Não, eu não estou a menosprezar o SER HUMANO nem a sua liberdad, como afirmei no inicio. O que eu não tolero é que se adultere tudo em nome de ideologias de género e pressupostos absurdos que nada tem a ver com a realidade biológica do ser. E isto também não significa que eu não saiba e não pense nos seres humanos que nascem com sexo indefinido ou os raros que são “hermafroditas” – agora o drama é psicológico e social sim, e sobretudo político. O drama é que agora eles e elas querem ser mulher ou homem por capricho do momento e isso é manifestamente uma profunda ignorância e pura alienação do ser ontológico.
rlp


domingo, março 20, 2022

A GUERRA EXISTE

 


RESPOSTA A UMA AMIGA...


A GUERRA EXISTE porque na verdade estamos sempre em guerra dentro de nós...não conseguimos superar os nossos conflitos pessoais sempre presos a dualidade bem-mal: com efeito estamos presos na ideia católica do homem bom e do homem mau, além de que somos todos "pecadores"... Neste drama em que as religiões nos projectaram o outro é que é sempre o mau da fita porque é diferente ou pensa de forma diferente ou tem outra cor de pele ou outro deus...além de que a guerra está inscrita no ADN humano a imagens dos deuses criadores...
Penso que a paz na Terra não se alcançará nunca colectivamente pois não estamos todos no mesmo nivel de consciência e até porque a guerra - pela posse e a competição - é também a expressão dos nossos ódios e lutas internas projectadas fora...
Só quando cada ser humano em si mesmo conseguir não tomar partido nem incentivar o ódio fora - veja-se a loucura e o paradoxo em que caímos tão facilmente que em nome do amor e da paz, projectamos toda a nossa raiva para o "opressor e o invasor" e o mau do filme, sim, como na ficção... Sim, é ele o demónio, o evil, o monstro...que afinal não faz mais do que encarnar esse ódio que nós temos lá no fundo escondido ou camuflado de boas intenções e é um ciclo vicioso. Por isso precisamos de ver os dois lados de tudo como as duas faces da MESMA MOEDA. E IR ALÉM DISSO, mas para começar é não projectar mais ódio nem raiva, perceber que está tudo em nós...e vibrar uma oitava acima. Sim, é quase impossivel, mas é para mim a única escolha...

NÃO ESCOLHER LADO NENHUM! Talvez essa seja a CHAVE DA PAZ!
RLP

GUERRA FICÇÃO E MITOLOGIA



"Os homens amam a guerra" 

 "Os homens amam a guerra" - era o nome do poema...e eu lia o poema e via que lá não entrava a mulher... Não a mulher não entrava nas guerras – ela ficava em casa com os filhos - ela ficava para trás, nas terras isoladas ou invadidas e onde eram violadas e mortas à frente dos filhos pequenos e dos velhos... eram assim as guerras.
Aquiles o grande Herói grego, distribui várias mulheres prisioneiras aos seus amigos na luta sangrenta em Troia ... As mulheres dividiam-se como prisioneiras e eram oferecidas aos soldados por merito depois da batalha...
Sim, Ajax e os Mirmidões, lendários soldados de Aquiles mereceram as ofertas vivas e de grande beleza, filhas de reis, enquanto do alto do Olimpo, do lado grego torciam pela vitória dos gregos Atena, Hefesto, Hera, Hermes, Tétis e Posídon… Do lado troiano lutaram: Páris, seu irmão Heitor, Cassandra, Príamo e as Amazonas. O apoio divino veio de Afrodite, Apolo, Ares, Ártemis e Zeus.
E hoje não sei bem, não, não sei que deuses e heróis, reis e rainhas comandam este jogo… nem que trofeus irão distribuir no fim desta guerra – eu só sei que hoje já não há deusas nem sacerdotisas nem hetairas, mas há mulheres prostitutas e mulheres soldados - mulheres também fardadas e de armas na mão a matar -... lá no país das barrigas de aluguer, onde as crianças são vendidas a casais estéreis ocidentais… “Pais” de crianças criadas nas barrigas como animais… sem amor nem afecto, crianças de mães máquinas de aluguer, sem responsabilidade e em que só o dinheiro conta e a carne é para canhão…soldados crianças, crianças massacradas… lá no país dos palhaços-heróis, trapezistas e malabaristas, que cantam e dançam nos palcos deste miseravel circo humano, enquanto os mortos se acumulam e onde tudo se vende no mercado das suas mentiras e vaidades… como em todas as guerras entre mortais, hoje sem deuses nenhuns nem deusas de nenhum lado...
rlp

"O nosso corpo etérico...



"O nosso corpo etérico é muito complexo e contém todas as nossas memórias, prontas para nos apresentarmos quando as relembrarmos. Mesmo aquelas coisas que se afundaram nas profundezas da alma, coisas das quais não temos consciência na consciência desperta, estão contidas no corpo etérico de alguma forma. Toda a nossa vida nesta encarnação está retida no corpo etérico, está realmente presente nele.
Claro que isto é muito difícil de imaginar, mas é verdade, no entanto. Imagine que você fosse falar o dia todo, como algumas pessoas fazem, e tudo o que você disse ficou gravado em discos. Quando o primeiro disco está cheio, você leva um segundo, depois um terceiro, e assim sucessivamente. O número de registros dependeria do quanto você falou. Agora, se alguém recolhesse todos os discos, tudo o que você disse estaria bem preservado nos registos no final do dia.
Então, se alguém os reproduzisse, tudo o que você disse durante o dia seria ouvido novamente. De uma forma semelhante, todas as nossas memórias são retidas no corpo etérico. Sob as condições especiais do sono uma parte do corpo etérico aparece diante de nós, como se — para ficar com esta metáfora — tirássemos um disco da coleção e reproduzido; este é o tipo de sonho mais comum. Assim nossa consciência tece em nosso próprio corpo etérico.

Rudolf Steiner


tens medo...



"A Nossa Vitória de cada Dia

Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceite o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.

Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gaffe. "
 
clarice lispector


sexta-feira, março 18, 2022

Os homens amam a guerra

 


Os homens amam a guerra.
Por isso se armam festivos em coro e cores para o dúbio esporte da morte.
Amam e não disfarçam.
Alardeiam esse amor nas praças, criam manuais e escolas,
alçando bandeiras e recolhendo caixões, entoando slogans e sepultando canções.
Os homens amam a guerra.
Mas não a amam só com a coragem do atleta e a empáfia militar, mas com a piedosa
voz do sacerdote, que antes do combate serve a hóstia da morte.
Foi assim na Criméia e Tróia, na Eritréia e Angola, na Mongólia e Argélia,
no Saara e agora.
Os homens amam a guerra
E mal suportam a paz.
Os homens amam a guerra, portanto, não há perigo de paz.
Os homens amam a guerra, profana ou santa, tanto faz.
Os homens têm a guerra como amante, embora esposem a paz.
E que arroubos, meu Deus! nesse encontro voraz!
que prazeres! que uivos! que ais!
que sublimes perversões urdidas na mortalha dos lençóis,
lambuzando a cama ou campo de batalha.
Durante séculos pensei que a guerra fosse o desvio e a paz a rota.
Enganei-me.
São paralelas margens de um mesmo rio, a mão e a luva, o pé e a bota.
Mais que gêmeas são xifópagas, par e ímpar, sorte e azar
são o ouroboro- cobra circular eternamente a nos devorar.
A guerra não é um entreato.
É parte do espetáculo. E não é tragédia apenas
é comédia, real ou popular, é algo melhor que circo:
-é onde o alegre trapezista vestido de kamikase salta sem rede e suporte,
quebram-se todos os pratos e o contorcionista se parte no kamasutra da morte.
A guerra não é o avesso da paz.
É seu berço e seio complementar.
E o horror não é o inverso do belo -é seu par.
Os homens amam o belo mas gostam do horror na arte.
O horror não é escuro, é a contraparte da luz.
Lúcifer é Lubel, brilha como Gabriel e o terror seduz.
Nada mais sedutor que Cristo morto na cruz.
Portanto, a guerra não é só missa que oficia o padre, ciência que alucina o sábio, esporte
que fascina o forte.
A guerra é arte.
E com o ardor dos vanguardistas frequentamos a bienal do horror
e inauguramos a Bauhaus da morte.
Por isso, em cima da carniça não há urubu, chacais, abutres, hienas.
Há lindas garças de alumínio, serenas, num eletrônico balé.
Talvez fosse a dança da morte, patética.
Não é .
É apenas outra lição de estética.
Daí que os soldados modernos são como médico e engenheiro e nenhum ministro da guerra usa roupa de açougueiro.
Guerra é guerra!
dizia o invasor violento
violentando a freira no convento
Guerra é guerra!
dizia a estátua do almirante
com a boca de cimento.
Guerra é guerra!
dizemos no radar
desgustando o inimigo
ao norte do paladar.
Não é preciso disfarçar
o amor à guerra, com história de amor à pátria e defesa do lar.
Amamos a guerra e a paz, em bigamia exemplar.
Eu, poeta moderno ou o eterno Baudelaire
eu e você, hypocrite lecteur, mon semblable, mon frère.
Queremos a batalha, aviões em chamas, navios afundando, o espetacular confronto.
De manhã abrimos vísceras de peixes com a ponta das baionetas
e ao som da culinária trombeta
enfiamos adagas em nossos porcos e requintamos de medalha
-os mortos sobre a mesa.
Se possível, a carne limpa, sem sangue.
Que o míssil silente lançado à distância não respingue em nossa roupa.
Mas se for preciso um banho de sangue
-como dizia Terêncio:-sou humano
e nada do que é humano me é estranho.
A morte e a guerra
não mais me pegam ao acaso.
Inscrevo sua dupla efígie na pedra como se o dado de minha sorte
já não rolasse ao azar,
como se passasse do branco ao preto e ao branco retornasse sem nunca me sombrear.
Que venha a guerra! Cruel. Total.
O atômico clarim e a gênese do fim.
Cauto, como convém aos sábios,
primeiro bradarei contra esse fato.
Mas, voraz como convém à espécie,
ao ver que invadem meus quintais,
das folhas da bananeira inventarei
a ideológica bandeira e explodirei
o corpo do inimigo antes que ataque.
E se ele não atirar primeiro, aproveito
seu descuido de homem fraco, invado sua casa
realizando minha fome milenar de canibal
rugindo sob a máscara de homem.
-Terrível é o teu discurso, poeta!
Escuto alguém falar.
Terrível o foi elaborar.
Agora me sinto livre.
A morte e a guerra
já não podem me alarmar.
Como Édipo perplexo
decifrei-a em minhas vísceras
antes que a dúbia esfinge
pudesse me devorar.
Nem cínico nem triste. Animal
humano, vou em marcha, danças, preces
para o grande carnaval.
Soldado, penitente, poeta
-a paz e a guerra, a vida e a morte
me aguardam
- num atômico funeral.
-Acabará a espécie humana sobre a Terra?
Não. Hão de sobrar um novo Adão e Eva
a refazer o amor, e dois irmão:
-Caim e Abel -a reinventar a guerra.

Affonso Romano de Sant'Anna

quinta-feira, março 17, 2022

«Estão certos aqueles que falam da ignorância humana.

 



«Se a humanidade entendesse o significado da existência, juntar-se-ia à criatividadade cósmica. Como possível avançar sem conscientizar as eternas mudanças cósmicas? Só quando se manifestam aspirações além dos imites estabelecidos por nossa vida, só então será possível perceber a criatividade cósmica. O muro da estupidez bloqueou o caminho, do mesmo modo que o nevoeiro da satisfação. Quando se tornar possível entrar nas esferas da verdadeira criatividade cósmica, então virá a consciência cósmica».
 
«Estão certos aqueles que falam da ignorância humana. Quando nos aproximarmos do tempo ameaçador, é necessário usar toda a força para este passo poderoso. A época de Maitreya já foi predita e os sinais já estão espalhados como sementes ardentes. Portanto, para aqueles que seguem o Imã Cósmico, o tempo ameaçador será cheio de Luz. E também para aqueles que lutam pelo singificado da Nova Época, o tempo ameaçador carregará, com certeza, a Luz do futuro».
 
Mas as pessoas ainda não querem entender como a vida do nosso planeta é inquietante agora, e onde e para dentro de quê se deve procurar uma causa do perigo iminente.

helena roerich - 1930
pintura, a bandeira da paz de nicolai roerich

segunda-feira, março 14, 2022

AS GRANDES MULHERES

 



Clarice

É com emoção que lhe escrevo pois tudo o que você propõe tem sempre essa explosão dolorosa. É uma angústia terrivelmente feminina, dolorosa, abafada, desesperada e guardada.

Ao ler meu nome, escrito por você, recebi um choque não por vaidade mas por comunhão. Ando muito deprimida, o que não é comum. Atualmente em São Paulo se representa de arma no bolso. Polícia nas portas dos teatros. Telefonemas ameaçam o terror para cada um de nós em nossas casas de gente de teatro. É o nosso mundo.

E o nosso mundo, Clarice?

Não este, pelas circunstâncias obrigatoriamente político, polêmico, contundente. Mas aquele mundo que nos fala Tchecov: onde repousaremos, onde nos descontrairemos? Ai, Clarice, a nossa geração não o verá. Quando eu tinha quinze anos pensava alucinadamente que minha geração desfaria o nó. Nossa geração falhou, numa melancolia de ‘canção sem palavra’, tão comum no século XIX. O amor no século XX é a justiça social. E Cristo que nos entenda.

Estamos aprendendo a lição seguinte: amor é ter. Na miséria não está a salvação.
Quem não tem, não dá. Quem tem fome não tem dignidade (Brecht). Clarice, estou pedindo desculpas por este palavratório todo. Mas deixe que eu mantenha com você esta sintonia dolorosa dos que percebem alguns mundos, não apenas este ou aquele, porém até mesmo aquele outro, embora linearmente – como é o caso.

Nossa geração sofre da frustração do repouso.
É isso, Clarice? A luta que fizermos, não faremos pra nós. E temos uma pena enorme de nós por isso. É assim que explico pra mim estas frases que você põe no seu artigo: ‘Eu que dei pra mentir. E com isso estou dizendo uma verdade. Mas mentir já não era sem tempo. Engano a quem devo enganar, e, como sei que estou enganando, digo por dentro verdades duras.’ A luta, a que me refiro lá no alto, seria aquela luta bíblica, a grande luta, a que engloba tudo.

Voltando às ‘verdade duras’ de que você fala: na minha profissão o enganar é a minha verdade. É isso mesmo, Clarice, como profissão. Mas na minha intimidade toda particular, sinto, sem enganos, que nossa geração está começando a comungar com a barata. A nossa barata.[18] Nós sabemos o que significa esta comunhão, Clarice. Juro que não vou afastá-la de mim, a barata. Eu o farei. Preciso já organicamente fazê-lo. Dê-me a calma e a luz de um momento de repouso interior, só um momento.

Com intensa comoção.

Fernanda Montenegro

“euforia da ignorância”



𝐎 “𝐓𝐔𝐃Ó𝐋𝐎𝐆𝐎” : 𝐄𝐒𝐏𝐄𝐂𝐈𝐀𝐋𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄 𝐄𝐌 𝐍𝐀𝐃𝐀, 𝐂𝐎𝐌𝐄𝐍𝐓𝐀𝐑𝐈𝐒𝐓𝐀 𝐄𝐌 𝐍𝐀𝐃𝐀


«𝐋𝐢𝐠𝐨 𝐚 𝐭𝐞𝐯ê 𝐞 𝐥á 𝐞𝐬𝐭ã𝐨 𝐞𝐥𝐞𝐬, 𝐧𝐚𝐬 𝐛𝐚𝐧𝐜𝐚𝐝𝐚𝐬 𝐝𝐨𝐬 𝐭𝐞𝐥𝐞𝐣𝐨𝐫𝐧𝐚𝐢𝐬: 𝐨𝐬 “𝐭𝐮𝐝ó𝐥𝐨𝐠𝐨𝐬”, 𝐞𝐬𝐩𝐞𝐜𝐢𝐚𝐥𝐢𝐬𝐭𝐚𝐬 𝐞𝐦 𝐧𝐚𝐝𝐚, 𝐜𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐚𝐫𝐢𝐬𝐭𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐭𝐮𝐝𝐨. 𝐅𝐚𝐥𝐚𝐦, 𝐜𝐨𝐦 𝐚 𝐦𝐞𝐬𝐦𝐚 𝐞 𝐩𝐞𝐜𝐮𝐥𝐢𝐚𝐫 𝐝𝐞𝐬𝐞𝐧𝐯𝐨𝐥𝐭𝐮𝐫𝐚, 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞 𝐚 𝐠𝐮𝐞𝐫𝐫𝐚 𝐧𝐚 𝐔𝐜𝐫â𝐧𝐢𝐚, 𝐚 𝐯𝐚𝐫𝐢𝐚𝐧𝐭𝐞 ô𝐦𝐢𝐜𝐫𝐨𝐧 𝐞, 𝐪𝐮𝐞𝐦 𝐬𝐚𝐛𝐞, 𝐚 𝐢𝐧𝐟𝐥𝐮ê𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐝𝐚 𝐩𝐞𝐥𝐚𝐠𝐞𝐦 𝐝𝐨 𝐭𝐚𝐦𝐚𝐧𝐝𝐮á-𝐛𝐚𝐧𝐝𝐞𝐢𝐫𝐚 𝐧𝐚 𝐟𝐨𝐫𝐦𝐚çã𝐨 𝐩𝐬𝐢𝐜𝐨𝐬𝐬𝐨𝐜𝐢𝐚𝐥 𝐝𝐨𝐬 𝐟𝐢𝐥𝐡𝐨𝐬 𝐝𝐨 𝐩𝐫𝐢𝐦𝐨 𝐝𝐨 𝐯𝐢𝐳𝐢𝐧𝐡𝐨 𝐝𝐚 𝐢𝐫𝐦ã 𝐝𝐨 𝐠𝐮𝐚𝐫𝐝𝐚. (…)

Com a segurança, soberba e altivez de um catedrático do Twitter, emitem opiniões polivalentes aos jorros, borbotões e esguichos, glosando seja lá qual for o mote em questão: eleições presidenciais, criptomoedas, terrorismo, saúde pública, novas matrizes energéticas, planejamento urbano, táticas de futebol, menopausa do urso panda, o paredão da Linn da Quebrada, o biquíni de crochê da Anitta. (…)
Sou movido por aquilo que o historiador Carlo Ginzburg chamava de “euforia da ignorância”: assumir não saber nada sobre um assunto, mas estar disposto a aprendê-lo, com disciplina, alegria e esforço, e, por fim, discorrer sobre ele com alguma propriedade. Quase sempre, ao cabo da investigação, termino com mais interrogações do que quando comecei. Quanto mais aprendo, mais tenho dúvidas.
Com os tudólogos, é diferente, outro nível. (…) Morro de inveja deles. Transformam os chutes típicos da conversa de boteco — e do thread no Twitter — em trabalho remunerado. Nas horas vagas, fazem palestras motivacionais, postam selfies no Instagram, exibem dancinhas no TikTok.»
 (L. Neto)




Mas são poucos os que buscam dentro de si...



"Muitos ainda procuram fora de si mesmos; uns acreditam na ilusão da vitória e do poder; outros, em tratados e decretos; outros, ainda, na destruição da ordem vigente. Mas são poucos os que buscam dentro de si, poucos o que se perguntam se não seriam mais úteis à sociedade humana se cada qual começasse por si, se não seria melhor, em vez de exigir dos outros, pôr à prova primeiro em sua própria pessoa, em seu foro interior, a suspensão da ordem vigente, as leis e vitórias que apregoam em praça pública."
C.G. Jung



NESTE ESPAÇO  EU SÓ PROCURO PESSOAS AFINS, e, EM ESPECIAL MULHERES CONSCIENTES DE SI.
Aqui  não busco amigas nem seguidoras, nem quero ensinar nada a ninguém. Apenas dizer o que penso e sinto. Quem estiver em sintonia comigo fico feliz, mas não quero estar em conflito com ninguém. Portanto agradeço que quem não tem empatia comigo nem com o que eu escrevo escusa de entrar em contenda comigo. Não quero ser indelicada nem ferir ninguém.
Por isso queria clarificar algo que só me diz respeito: não aceito o contraditório, já não estou interessada em especulações mentais, sejam elas de foro intelectual sejam de foro espiritual, nem me interessam as opiniões alheias, nem discuto o que eu escrevo. Busco afinidades e sim, concordâncias, pois não quero perder tempo em conflitos de ideias. Precisamente porque já não estou interessada em novas nem velhas ideias nem ideologias.
CADA PESSOA EM SI É LIVRE DE SE EXPRESSAR, para si mesma, dizendo a sua verdade, expondo as suas ideias e razões, mas não questionando a verdade alheia nem contrapondo teorias ou experiências contra terceiros.
Cada ser humano é original e livre em si mesmo de dizer o que sente e como sente em relação a si como individuo e as suas ideias, mas não tem que se servir das ideias dos outros só para contrapor e discordar e ser agressivo ou descarregar a sua furia sobre o outro que não entende e só quer discordar... ou afirmar-se!
Não quero anuência cega nem seguidismos nem que me digam amen... quero apenas pessoas em sintonia de alma e coração e que me acrescentem e não que me confrontem...não, não há necessidade disso, não por eu ser a detentora da Verdade absoluta, mas sou-o da minha! Respeito todas as pessoas e não comento nem imponho nada aos outros. AS poucas vezes que o fiz arrependo-me profundamente. Cada dia que passa percebo melhor que nada podemos fazer para mudar os outros e não serve de nada pregar aos peixinhos. Já disse que não tenho nada para ensinar, apenas fico contente se inspirar quem estiver no mesmo caminho. O resto é inutil.
Sim, prezo as afinidade electivas e a sincronicidade que exista entre pessoas, e falo principalmente das mulheres, e essa afinidade é que me traz estimulo, não as desavenças nem as ofensas nem os mal entendidos ou as agressões gratuitas. Sei que as minhas respostas as vezes são demasiado curtas e talvez pareçam duras, e por isso defendo o meu espaço como eu quero. Sou velha e já não tenho tempo a perder com divagações filosóficas e elucubrações mentais-espirituais. So peço que me respeitem como eu respeito o alheio. Mas não perco o meu sentido critico e analitico. Apenas não viso atacar ninguém pessoalmente, NUNCA!
rlp



ADENDA

Quando escrevo e reflito sobre os temas presentes no meu perfil não pretendo em momento algum afirmar ou ter certezas absolutas nem ser fundamentalista... Escrevo para quem quer entender e tenha essa afinidade comigo. Não busco seguidoras nem simpatias. Mas fico contente quando há ressonância e entendimento do que escrevo.
Não imponho nada do que penso, mas tenho um objectivo e uma via que é a minha e que não põe em causa a das outras pessoas. É VERDADE QUE ESCREVO SÓ PARA AS MULHERES, e sei que cada uma tem a sua visão e experiência de vida, o seu caminho, as suas escolhas. Mas gostaria que tomássemos em conta o que temos comum e o facto de estarmos todas vivas neste tempo e portanto empenhadas na nossa consciência de mulheres, e isso devia bastar para nos RESPEITARMOS e sermos honestas e humildes em perceber as outras mulheres sem arrogância, porque no fim de tudo, todas as nossas visões se deveriam complementar. Infelizmente a arrogância de muitas mulheres impede-as de aceitar as diferentes premissas e as diferentes visões sem ver o primarismo das suas atitudes de soberba em se julgarem detentoras da verdade. Ninguém ensina nada a ninguém, a aprendizagem é de cada uma, consoante o seu nivel de consciência e sinceridade. Não sou mestra nem guia de ninguém. Caminho como qualquer outra mulher passo a passo. Mas tenho um único foco, eu mesma como mulher!
E só refuto os meus pontos de vista quando são deturpados intencionalmente, ou quando são mal interpretados, mas nunca tento convencer ninguém daquilo que penso por isso não discuto opiniões nem discuto outras visões...a não ser por uma questão de honestidade quando sei da mentira ou da falsidade de alguns pressupostos... ou então se me ofenderem pessoalmente.
Rlp


domingo, março 13, 2022

A EXPERIÊNCIA DA INTERIORIDADE



A PSICOLOGIA COM ALMA E BELEZA

Ainda será possível nos tempos de hoje, final de século, onde os discursos neurobiológicos proliferam tentando capturar tudo o que possa ser da ordem do psíquico, falar de psicologia? Em tempos onde estes discursos apresentam suas sofisticadíssimas teorias da sinapse, teorias enzimáticas ou teorias neuronais, faz sentido ainda usar uma palavra como alma? Em tempos onde a depressão, outrora conhecida como melancolia ou como um estado afetivo regido pelo Deus Saturno é transformada em desequilíbrio químico no cérebro, é possível afirmar quea Beleza é fundamental para o psiquismo? Acreditamos que sim. Uma psicologia com Beleza e alma. É esta a proposta de James Hillman e da Psicologia Arquetípica.
Hillman que foi diretor de estudos do Instituto C.G.Jung em Zurique durante dez anos, é sem dúvida para muitos, mas não para todos, o mais importante e original pensador junguiano contemporâneo. É a partir de uma afirmação de Jung em seu livro "Tipos Psicológicos", onde este situa
a alma como um terceiro lugar entre as perspectivas do corpo e da mente que Hillman irá sustentar que a psicologia arquetípica baseia-se na alma, isto é, ela é um "esse in anima", um estar na alma.
Livre das tentativas de aprisionamento pelos métodos das ciências naturais, da metafísica, das psicologias das percepções e bases bioquímicas, a alma sustenta-se na imaginação e revela o que James Hillman denominou a base poética da alma. Privilegiar a alma significa retornar as imagens pois é assim que a psique se apresenta espontaneamente. Imagens são os dados básicos da vida psíquica, são o modo de acesso ao conhecimento da alma. Nada é mais primário na psique do que as imagens. Imagens são a psique na sua visibilidade imaginativa, conforme Jung
nos ensina ao afirmar que "todo processo psíquico é uma imagem e um imaginar". James Hillman irá propor uma psicologia da alma e da imagem. Irá decompor a própria palavra "psicologia" em "logos da psique" para re-significá-las como estórias ou discursos da alma através das imagens. Hillman recorre a um fragmento do filósofo Heráclito para apresentar sua psicologia:
"Por mais que caminhe em todas as direções, jamais descobrirás os limites da alma , tão profundo é o seu Logos."
Hillman comenta que neste fragmento, Heráclito une alma, profundidade, e a complexa palavra Logos numa única sentença, relacionando e tornando-as necessárias umas às outras.
 
O Logos da alma, a psicologia por excelência, na opinião de Hillman é a capacidade de penetrarmos na profundidade das coisas e de ouvirmos o que as imagens estão a nos dizer. Neste sentido, os analistas são transformados em mitólogos da psique, em estudiosos das narrativas da alma, pois um dos significados primeiros da palavra mitologia é narração de histórias. Todos aqueles que se juntam ao pensamento de Hillman unem-se em torno da importância destas duas palavras: alma e imagem.

Podemos perceber isto claramente quando Edward Casey, filósofo que contribui com a psicologia arquetípica, diz que imagem não é aquilo que vemos, mas sim como vemos. Para ver uma imagem não basta termos percepções. Algum processo psíquico deve se intrometer nesta atividade para que possamos dizer que estamos lidando com imagens e não com percepções. Este processo se chama alma.Para fundamentar sua psicologia , Hillman reutiliza a partição tradicional do ser em espírito-alma-matéria. A alma é concebida como um terceiro , um espaço intermediário entre o espírito e a matéria. Falar a partir da alma é criar um instante de reflexão , um intervalo entre as certezas tanto espirituais como materiais.
A psicologia arquetípica não se interessa em buscar verdades ou explicações. O que ela visa é tentar estabelecer uma relação psicológica com as idéias presentes no mundo. Um exemplo: das diferentes visões apresentadas entre matéria, espírito e alma quando das discussões surgidas quando surge por exemplo alguma imagem de Santa chorando. É um choro verdadeiro? Um milagre? A teofania que transforma o local em centro mundial de peregrinações? ( diriam os espiritualistas). Ou as lágrimas seriam apenas a umidade absorvida pelo material poroso que a Santa foi fabricada, expelida sob a forma de gotas? Charlatanismo? Exploração da ingenuidade dos fiéis? ( materialistas). Qual seria a posição da alma, consequentemente da psicologia?Se a alma é o que nos permite um olhar poético sobre o mundo, diríamos:
"vamos supôr que a Santa estivesse chorando, vamos imaginar esta possibilidade, vamos buscar respostas metafóricas para este choro".
Cada qual iria encontrar as suas, cada qual iria fazer a sua própria leitura da imagem da Santa chorando. É esta a perspectiva da alma, colocar a todos num modo ficcional, isto é, na capacidade de criarmos ficções e acreditarmos nelas. Capacidade esta que James Hillman denominou fé psicológica. Se a alma tem importância central na psicologia arquetípica, levando Hillman a estabelecer como objetivo do processo analítico o cultivo da alma, o mito básico que a informa e orienta é o de Eros e Psique.O mito se refere ao despertar da alma através do amor, reconhecendo a alma como fator interno que leva as profundezas aludidas por Heráclito. Através da atenção amorosa dada ao psiquismo, transferência é o seu outro nome, a alma começa a desenvolver-se e a fazer a sua revelação. O mito narra o que acontece entre as pessoas e dentro das pessoas. Mostra que o desenvolvimento da psique não ocorre num mar de rosas. Sofrimento, tortura, depressão, tentativas de suicídio são vivências fundamentais em todo o processo. Eros, o amor, é visto como um grande torturador e não como um querubim bondoso. O processo é árduo, difícil e cheio de obstáculos. O que caracteriza a experiência da alma para Hillman é o fato dela não abdicar de todo sofrimento que encontramos em nosso caminhar pelo mundo. Hillman não separa a experiência da alma de emoções e vivências das quais procuramos evitar: traição, suicídio,depressão, angústia, repetição, imobilismo, morte são temas estudados pela psicologia arquetípica , não em busca de sua cura mas em busca de suas retóricas. Porém o que é "alma" para a psicologia arquetípica?Alma é uma palavra que incomoda. Devido as suas conotações religiosas, falar em alma abala a psicologia naquilo que Hillman denominou "complexo de ciência", que leva à eliminação de importantes experiências psíquicas por não se encaixarem dentro de um determinado conceito de cientificismo. É importante lembrar que tanto Freud como Jung usaram a palavra alma ("seele" em alemão) para expressar a experiência da interioridade. Foi o tradutor oficial de Freud para o inglês quem contribuiu decisivamente para a diminuição do valor da palavra alma dentro da psicologia. Em vez de traduzir "seele" por "soul", preservando a formação romântica de Freud, escolheu optar por "mind", palavra de sonoridade acentuadamente científica.A palavra "mind" afasta-se do campo poético e religioso para fortalecer seus vínculos com o registro biológico. Fica então estabelecida a associação entre mente-cérebro-orgânico-concretude. Prova disso são os próprios cérebros concretos, fedorentos e desnecessários, levados às salas de aula nos cursos de psicologia.
a alma? Pode ela ser levada, mostrada e verificada em algum grau de concretude? A alma resiste a qualquer tentativa de conceituação com a intenção de fixá-la numa definição precisa.A principal característica da psicologia arquetípica é a sua posição re-visionista em relação a própria psicologia. Esta revisão se faz a partir do ponto de vista da alma. O trabalho da psicologia é oferecer um caminho e achar um lugar para a alma dentro de seu próprio campo. Hillman nos fala que cada área de conhecimento possui a sua raíz metafórica , o seu princípio básico de funcionamento. Se para a medicina a raíz metafórica é o corpo, para psicologia sua raíz metafórica é a alma.Podemos apresentar a alma como sendo um outro que se revela com seus desejos, que se expressa através do jogo fenomenológico das imagens com seu discurso que é , fundalmentalmente, metafórico.O que a psicologia arquetípica quer ressaltar é que a alma é uma perspectiva, não uma substância.É um ponto de vista em relação as coisas, um instante de reflexão entre pensamento e ação. Alma é o que torna possível a existência de significados, pois transforma eventos em experiências. Esta transformação se opera quando penetramos no interior dos eventos para que eles possam entrar em contato com o nosso interior.Por isso, tudo que toca a alma passa a assumir uma sensação de grande importância. A alma de qualquer coisa é sua parte mais fundamental e vital.Dizer que algo toca nossa alma é dizer que esse algo é fundamental.Um evento é uma vivência externa ,ao passo que uma experiência é uma vivência interna plena de significados, justamente por envolver a alma, que por sua vez nos conduz a um aprofundamento nesta mesma vivência.Alma e profundidade são inseparáveis, um dá sentido ao outro e vice-versa.Hillman reconhece os perigos da utilização da palavra alma. Corre-se o risco de ser substancializada, transformando-se numa espécie de ser invisível. Alma nos interessa no seu uso imaginativo, metafórico e retórico: alma como metáfora primária da psicologia arquetípica. Cultivar a alma é esta a proposta de Hillman, cultivo este que será construído passo a passo nas relações entre o ego e a alma. A alma será cultivada na medida em que o ego for se transformando num ego-imaginal, isto é, na medida em que aceite e aprende a conviver no Imaginal, a viver no mundo das imagens. A expressão para "cultivo da alma" em inglês é "soul-making" que numa tradução literal significaria "fazer alma".
Cultivar e fazer são verbos de ação que transmitem adequadamente a idéia de que deve haver um trabalho de construção para obtermos um sentido de alma. Porém, o verbo fazer é mais pertinente,visto que ele é a tradução da palavra grega "poiesis", poesia. Por este motivo, Hillman coloca seu trabalho sob o signo da retórica da poética, "o poder persuasivo de imaginar em palavras". Sua psicologia assume que a alma possui uma base poética e é a partir desta base que a alma cria suas ficções.A expressão "soul-making" foi retirada de um trecho de uma carta do poeta inglês John Keats:"chame o mundo, por favor, de vale de fazer alma,......descobrirás, então, para que serve o mundo." Ao utilizar esta expressão, Hillman revela que seu fazer é totalmente calcado no mundo, que a alma a ser cultivada não é apenas a "minha", encontrada no meu "interior", mas também a alma do mundo, ou seja, a alma dos carros, edifícios, negócios, doenças, esportes, televisões, transportes, tetos...Tudo é objeto para uma reflexão psicológica.Para cultivarmos a alma temos que estar no mundo, pois as imagens sobre as quais nos debruçamos pertencem a ele e não a nós. Para que ocorra o cultivo da alma é imprescindível que vivamos a vida inseridos no mundo, que não busquemos nada para além dele como nas disciplinas espirituais que negam ou desvalorizam o mundo, nem que busquemos algo para aquém dele como nas práticas psicológicas que se interessam unicamente pelos aspectos subjetivos. O movimento em direção à alma é um movimento de interiorização, um olhar para o interior das coisas. Porém esta interiorização não deve ser confundida como o interior do homem, mas sim o interior das coisas, de todas as coisas. Hillman resgata a antiga idéia neoplatônica de Anima Mundi, a alma do mundo, para mostrar que tudo possui alma, que em tudo é possível haver interiorizações. O olhar proposto pela psicologia arquetípica se assemelha ao olhar do poeta que percebe o mundo não como se ele fosse uma res extensa cartesiana, um mundo de objetos vazios. O olhar do poeta/psicólogo irá perceber o mundo como uma fonte inesgotável de imagens, interessando-se em descobrir a sua retórica. Perceber as imagens do mundo é fotografá-lo com a máquina do devaneio, devaneio no sentido de Gaston Bachelard. Sem devaneio, o mundo permanece imerso na escuridão, apagado, escondido e sem poesia.Em oposição à concepção do mundo como um lugar de objetos vazios, resgatamos a idéia de Anima Mundi, a alma do mundo, pela qual entende-se que cada coisa oferece a sua imagem através da sua forma visível e disponível para a imaginação. A idéia de Anima Mundi possui também conexões políticas fazendo com que a psicoterapia desloque o seu interesse com questões exclusivamente subjetivas para um interesse na psicoterapia do mundo. O mundo , agora, é o nosso verdadeiro paciente.Se o mundo se apresenta em formas, cores, cheiros e texturas faz-se necessário recuperar um senso estético.A intenção de Hillman é a de desenvolver um senso estético para a psicologia. Senso estético não se confunde com uma preocupação com o embelezamento. Hillman emprega a palavra estética no seu sentido grego de aiesthesis, percepção, qualquer coisa percebida é estética. O que Hillman está propondo é que a psicologia necessita de Beleza. Se concebermos a psicologia ainda como fundamentada na visão médica do comportamento humano e de sua vida emocional, o valor primário para ela será a noção de saúde. Porém se reinvidicarmos uma psicologia fiel as suas origens arquetípicas e etimológicas, isto é, uma psicologia à serviço da alma,então o objetivo do nosso trabalho, diferentemente da visão médica não será a saúde, mas sim a Beleza. Se concebermos a psicologia ainda como fundamentada na visão médica do comportamento humano e de sua vida emocional, o valor primário para ela será a noção de saúde. Porém se reinvidicarmos uma psicologia fiel as suas origens arquetípicas e etimológicas, isto é, uma psicologia à serviço da alma, então o objetivo do nosso trabalho,diferentemente da visão médica não será a saúde, mas sim a Beleza. Recuperar a Beleza como um propósito da psicologia é criar uma resposta estética para as coisas do mundo. O que queremos é uma psicologia estética que resgate uma relação sensual com as imagens. Uma psicologia animada pela Beleza é necessariamente uma psicologia que resgata a importância da percepção para a alma. Não à percepção dominada e aprisionada pelos laboratórios e dinâmicas psicologizantes que insistem em manter a dicotomia entre uma realidade psíquica constituída de sujeitos animados e uma realidade exterior composta de objetos inteiramente destituídos de alma. Queremos nos aproximar dos gregos e de sua noção de aiesthesis , palavra usada por eles para se referir à percepção. Aiesthesis significa uma reação de susto, espanto e surpresa frente as imagens apresentadas. Perceber não é mais uma operação do olhar regida pelo Logos da consciência. Ser fiel a noção de aiesthesis implica em poder deslocar o órgão da percepção do olhar para o coração. Privilegiar a Beleza é poder reagir com o coração ,despertá-lo de seu entorpecimento, muitas vezes provocado pelos ansiolíticos da vida moderna, e convocá-lo a assumir o lugar que lhe é devido. Para os antigos, o órgão responsável pela percepção era o coração, ele era associado as coisas do sentido. Tanto para os gregos como também na Bíblia o coração era o órgão da sensação e da imaginação. Se a sua função no mundo antigo era apreender imagens, perceber pelo coração é promover uma reação estética frente as imagens apresentadas pelo mundo. A palavra coração não deve ser entendida no seu sentido literal, devemos evitar o inimigo principal da psicologia que é o literalismo visto que o discurso da alma é e sempre será metafórico e poético. Não se trata do coração músculo ,menos ainda um coração que supostamente sedia os sentimentos pessoais. Trata-se de um outro coração, o coração da "vera imaginatio". O pensamento do coração não precisa estar ligado a experiências e vivências que o "eu" por acaso teve, pois o seu pensamento é imaginativo. O pulsar deste coração é ficcional, dele não brotam confissões subjetivas mas relatos objetivos sobre o mundo das imagens. Propor uma psicologia baseada na Alma, Beleza e no Coração é considerá-la menos um método de compreensão cognitiva e mais um modo de cultivar nossa sensibilidade estética, é operar um deslocamento significativo dos neuro-transmissores cerebrais para as imagens metafóricas do coração.Privilegiar o coração é se mover em direção ao reino da imaginação, movimento este que se faz psicológico por excelência.A psicologia arquetípica nos ensina a existência de um Deus em cada perspectiva ,em cada posição assumida por nós. Estamos sempre envolvidos dentro de uma fantasia arquetípica e de uma ficção mítica. Deste modo, buscamos que a psicologia se distancie serenamente de Apolo, Hera e Atená, deuses da razão, representantes dos princípios da consciência e do Logos e que ela venha se aproximar mais de Eros, Dioniso e Hermes, deuses ligados ao mundo dos mistérios e das transformações. Neste novo cenário, a psicologia inicia o seu culto a uma nova deusa e seu nome é Afrodite, a Deusa da Beleza para os gregos. Reconhecer a presença de Afrodite é reconhecer que cada coisa sorri, possui fascinação e provoca aiesthesis.
É Afrodite quem nos permite considerar o mundo não apenas como uma assinatura codificada para ser decifrada em busca de significados, mas o mundo como uma fisionomia a ser encarada, isto é, o mundo se apresentando sensorialmente como um rosto revelando sua imagem interior e sua disponibilidade para a imaginação.Com Afrodite percebemos o mundo em sua visibilidade, em sua diversa e infindável variabilidade de formas, cores, texturas, sons,...Perder a Deusa é cair num mundo seco e árido desprovido de imagens estéticas ,repleto de abstrações conceituais onde os deuses se tornam anônimos por perderem suas imagens, seus mitos e seus rostos.Afrodite é um imperativo para a psicologia e Beleza é sua necessidade.É importante ressaltar que quando falamos de Beleza ,estamos afastados de qualquer preocupação com embelezamento, nenhum critério artístico sobre o que é belo ou feio, nenhum julgamento acadêmico sobre o belo. Seguimos a tradição neoplatônica que concebe a Beleza como "pura manifestação", Beleza é a exposição de fenômenos. Ela não se localiza nem no sujeito, isto é, no olho do observador como também não está no objeto, onde a beleza é reduzida a formalismos conceituais.Queremos imaginar a Beleza como algo constitutivo do mundo, inerente a ele, Beleza como permanentemente dada, sempre à mostra em suas qualidades. E a esta Beleza que se refere Afrodite,a Deusa dourada e sorridente. É através dela que todos os outros deuses podem vir a se manifestar deixando de ser abstrações teológicas para poderem manifestar suas qualidades aos sentidos. Os deuses se desligam de sistemas conceituais metafísicos e encarnam nas coisas do mundo podendo serem vistos, ouvidos e sentidos. Os deuses revelam suas faces seja no sabor de um vinho, na cólera de uma discussão seja no delicado passeio dos dedos pelos cabelos de uma mulher. Na ausência de Afrodite, na supressão da Beleza, formas, fenômenos e deuses ficariam para sempre condenados a se ocultar , impedidos de realizarem suas aparições.É esta a noção de Beleza que interessa para a psicologia. Beleza regida por Afrodite como percepção sensorial ou aiesthesis , apostando na visibilidade do mundo e seus objetos e afirmando que a aparência é uma das formas da alma se revelar. Se o mundo só é possível de ser conhecido através de sua Beleza ,devemos sofisticar nossa percepção, aprimorar nossa aiesthesis. Devemos reeducar nossos olhos, mãos e ouvidos para obter uma nova sensibilização para os detalhes, para apreciar a singularidade com que cada evento se apresenta para nós. Nossa educação deve se voltar mais para a alma e a imaginação, retomar a noção de paidéia dos gregos e a formação humanista do homem renascentista. A alma requer estudos de história, antropologia, artes, literatura, história dos costumes, etc.Para os psicólogos, menos leitura de livros de psicologia e mais ensinamentos sobre como ler livros psicologicamente. A alma e Beleza se alimentam muito mais de quadros e esculturas de Salvador Dali,de filmes de Frederico Fellini, da literatura de Machado de Assis e de músicas de Caetano Veloso do que da pesquisa de comportamento de ratos em laboratórios, de estudos estatísticos ou de análise dos distúrbios de atenção na consciência. Hillman nos diz : "se você quer estudar Jung, não leia Jung. Leia o que Jung leu. Leia o "Fausto de Goethe" . Atualmente na psicologia só se lê psicologia. Ninguém lê literatura ou filosofia! Retornando a nossa deusa , afirmamos: perceber é o modo de conhecer o mundo e Afrodite é a sedução, a nudez das coisas como elas se revelam para a imaginação sensual.
Cultivar uma relação estética é nos aproximar-mos da inteligibilidade aparente das coisas, seus sons, seus cheiros e suas formas, falar através das reações de nossos corações, respondendo a olhares , tons e gestos das imagens entre as quais nos movemos. É este o nosso desejo: suspender a repressão a Beleza e convidá-la para retornar ao campo da psicologia. Uma psicologia com alma e regida por Afrodite, a deusa da Beleza, aquela que para os gregos mas também para nós , "possui o sorriso que torna o mundo mais prazeroso e amável". Trabalho difícil, apaixonado, árduo e laborioso. Porém, fundamentalmente, trabalho feito com alma em nome da Beleza. 

Marcus Quintaes


sábado, março 12, 2022

duas notas numa só



O CEREBRO REPTILIANO...

A tendência do ser humano é demonizar ou endeusar pessoas que se destaquem do comum dos mortais, seja através do seu poder seja através da sua inteligência ou beleza. E todos tem direito a seguir uma dessas formas de ver os outros na sua pequenez …sim, somos seres imaturos e infantis, porque irresponsáveis, não assumimos o controlo das nossas vidas individuais. Precisamos de seres que controlem e nos ensinem o que devemos fazer, e uns dizem de acordo com as teologias ou ideologias, o que é bom e outros o que é mal de acordo com as religiões em vigor.
Mas há dois temas que se sobressaem na área publica, por serem mais imediatos, e que por isso são conflitantes e fracturantes. Um deles é a politica (dinheiro) e o outro é a sexualidade (prazer). É ai que as pessoas manifestam mais as suas tendências primárias e básicas e se digladiam em defesa sempre de um dos lados – o que acreditam - com exclusão do outro, porque não conseguem pensar nem sentir para além dos opostos, e tudo ou é bem ou é mal e esse é o drama da sociedade que vive dividida entre bons e maus, e assim sucessivamente.
As pessoas em geral, com o domínio das religiões e dos poderes instituídos, nomeadamente agora a Impressa e os Midea, são desde sempre manipuladas e o ser humano perdeu a capacidade de discernimento próprio e não assume nunca a sua responsabilidade pessoal – capacidade de responder as situações que vive na sua pele -, projetando-a nos seus deuses e demónios exteriores. Eles nunca são culpados. Apenas reagem a voz do dono, obedecem ao primeiro impulso ao seu cérebro reptiliano…
E então tudo para eles e elas fica reduzido esses aspectos básicos do ser, bem e mal, bonito e feio, justo e injusto, preto e branco de acordo com as cores que defendem ou se identificam. Essas pessoas não conseguem olhar os diferentes matizes do seu ser e do sentir, nem ver a amplitude englobante dos fenómenos sociais e humanos porque não são agentes da sua vida, apenas vitimas dos outros. As pessoas comuns e sem discernimento tudo o que fazem é pontuar as coisas como boas ou más e cumprir o preceito catecista ...daí que tudo o que não gostam ou não entendem rejeitam e negam. São incapazes de pensar por si mesmas. Por isso elegem santos e demónios que cultuam nos seus altares... e eles estão na politica, no sexo e no fado…
rlp


PARA AS PESSOAS QUE JULGAM QUE EU JULGO...
(e estão sempre a julgar-me pelo que eu escrevo...)

Como as pessoas não tem discernimento próprio não conseguem julgar com isenção e sentido crítico. No estádio actual da humanidade é raro encontrar pessoas livres e com pensamento próprio. Deixam-se conduzir e manipular desde muito cedo – começa nas escolas e acaba na universidade – e raramente ousam sair da cartilha em que aprendem. Então como a Igreja católica, a Grande opressora durante séculos da mente humana, penalizou e condenou qualquer sentido critico que diferisse ou pusesse em causa o dogma, poucos ousam pensar. Assim, ao ser humano comum não é permitido senão repetir e decorar e nunca julgar ou pensar porque sofre castigo. Como ele ademais é um pecador e todos somos filhos do pecado – todos nascemos segundo a teologia cristã, nascidos do pecado (mulher) e assim não podemos ter liberdade. Desse modo só deus nos salva se formos obedientes as suas leis sem questionar e portanto julgar os outros é o pior dos pecados pois todos temos telhados de vidro… não é verdade? Até aqui tudo bem, se és religioso ou religiosa. Mas eu há muito que sou e me sinto pagã e ateia e não professo dessa ideia católica e inibidora da liberdade individual que nos projectou na infantilidade e irresponsabilidade de não “julgar o próximo”. Ou melhor, NÃO PENSAR. Não julgar significa então NÃO USAR O NOSSO DISCERNIMENTO – foi vedado ao ser humano comum TER algum JUIZO de valor, avaliar! Saber distinguir o preto do branco (o que para mim é igual, ao bem e ao mal) com medo de ser castigado.
Pessoalmente já perdi o medo que me caia o piano em cima há muitos anos – desde que me apercebi do fundo das cosmogonias e mitologias, as dos deuses do Olimpo e dos deuses de qualquer mitologia, cristã, celta ou hindu - , que estão por detrás de todas as crenças eu não creio nelas senão como mitologias e é verdade que são uma realidade bem mais real do que imaginamos, porém, eu não sigo nenhum catecismo de "bondade ou amor ao próximo" sem exercer a minha visão e autonomia intelectual.
A verdade é que o catolicismo nos impregnou de medo e falsos conceitos de amor compaixão e da piedade dos mais fracos ou dos pecadores…todos nós, e assim imbuídos de culpa e portanto medo de julgar, não ousamos desafiar as leis dos deuses. Se bem que por um lado é verdade que todos erramos e isso é humano, (somos o que somos, e temos algum livre arbitrio) por outro, também é verdade que usar o nosso juízo de valor só é possível num nível de consciência superior (livres de dogmas e de jugos) e por isso devemos tentar discernir e analisar e ver uma determinada realidade em vários angulos e como tudo tem duas faces e que nos ilude se nos inclinarmos só para um lado...
Eu vejo o que vejo e não consigo "desver"...
Bem sei que isto é dificil e que só uma consciência neutra (elevada) o pode ver e fazer, e presunção a parte, é o que eu tento fazer.


ADENDA

No que concerne o meu trabalho com as mulheres a empatia e o amor que tenho por elas – e provas dadas - permite-me ver com a lucidez dos meus 75 anos que há que distinguir o falso do verdadeiro - e isso embora seja com cada uma ver ou não ver – no meu caso não se trata de JULGAR mal, como o vulgo pensa, mas de ser fiel a minha percepção das coisas sujeita a erro claro como toda a gente e como toda a gente eu prego a responsabilidade que cada mulher tem de assumir os seus actos e não ter medo de olhar e ver o erro das outras. De outra maneira não haveria Justiça nem Verdade.
rleonor pedro


BOM FIM DE SEMANA



UMA NOTA critica muito oportuna

Por Jorge Lopes

Confesso que a sonolência, a falta de pensamento crítico, a irracionalidade, a idiotice e a hipocrisia, se apoderaram do ser humano. Durante decadas fomos moldados e manipulados a tomar o real por irreal e a julgar o irreal como real. Durante décadas vivemos sistematicamente de egos inchados, voltados para o material, para a fachada, para a imagem, cultivando corpos, esquecemo- nos de cultivar mentes, e facilmente influenciados, tornamo- nos, quase sem disso nos apercebermos, presas faceis de uma midia e jornalismo mediático, e qual Zombies, tornamo- nos incapazes de distinguir a mentira da verdade e a verdade da mentira. Durante décadas por força de uma midia mediática vendida a um sistema satânico, assistimos e aplaudimos sem murmurar no sofá comendo pipocas, a diversas guerras imbecis e monstruosas, de razões e objectivos dúbios, porém; porque foram previamente bem programadas, bem publicitadas, e repetidamente gravadas na encefálica massa amorfa da opinião pública, como sendo retaliação a favor do bem comum e da paz mundial, do bem contra o mal, aceitamo- las de bom grado, não içamos bandeiras e pateticamente até, arboramos assassinos em herois, demos- lhe e coroamo- los de louros e, esquecidos de toda a fraternidade, e de costas voltadas alheios ao sangue derramado burrifamo- nos pura e simplesmente para milhares de vidas inocentes ceifadas, familias e lares destruídos, e bens incendiados. Para finalizar, e sem menosprezar ninguém só quero referir que quem sempre voou com galinhas nunca poderá voar como uma águia e que é muito facil transformar assassinos em herois, e içar bandeiras, quando desconhecemos o que por enquanto não há interesse em conhecer. Para finalizar, quero dizer que voltarei a esta guerra. Bem haja a todos. Muita saúde e resto de bom fim de semana.

quinta-feira, março 10, 2022

A imensa e cabal hipocrisia ocidental


O humanismo ocidental é decente?

Pedro Tadeu / Jornalista
09 Março 2022

 
Por ser um bom cidadão do mundo ocidental condeno a invasão russa da Ucrânia, participo em manifestações contra Putin, choro os mortos de Kiev, comovo-me com o drama dos refugiados ucranianos, sou solidário com as vítimas da brutalidade russa e recuso comprar produtos russos. E faço-o com convicção.
Mas isto não chega, isto é humanismo genérico, serve para qualquer um em qualquer parte do mundo - o humanismo ocidental é especial, o humanismo ocidental é único, o humanismo ocidental é original, o humanismo ocidental exige mais de mim...
O humanismo ocidental é seletivo: ignorou os 12 mil haitianos enviados pelos Estados Unidos para a prisão de Guantánamo e a invasão do país em 1994; ignorou a instigação e a participação da NATO nas guerras da Jugoslávia e os seus 150 mil mortos; ignorou as duas Guerras do Golfo, a mentira que desculpou uma delas e os 100 mil mortos diretos que os combates provocaram; ignorou mais 100 mil mortos que o Iraque "protegido" pela coligação internacional lá instalada provocou; ignorou a presença norte-americana durante 20 anos no Afeganistão e os 65 mil mortes que ali ocorreram; ignorou os envolvimentos, desde 2001, diretos ou indiretos, de forças ocidentais na Síria (estimam-se 400 mil mortes); ignora o que se passa na Somália e no Iémen; ignora a ocupação da Palestina por Israel e, nos últimos anos, os 21 500 mortos desse conflito.
O humanismo ocidental tem coração mole para um lado e coração de pedra para o outro. As guerras espalhadas pelo mundo com envolvimento do Ocidente somam, em 30 anos, quase um milhão de mortos, a grande maioria civis, mas o bom cidadão ocidental não chora por eles.
O humanismo ocidental é dúbio. Condena vigorosamente a prisão do opositor de Putin, Alexei Navalny, mas deixa apodrecer na cadeia o denunciador das brutalidades das tropas americanas e da NATO, Julian Assange.
O humanismo ocidental é criterioso. Manifesta-se quando críticos de Putin são envenenados no estrangeiro, mas arquiva no esquecimento o cientista inglês David Kelly que, misteriosamente, suicidou-se dois dias depois de depor no parlamento sobre a falsificação de provas da existência de armas de destruição maciça no Iraque. E o jornalista que deu essa notícia em primeira mão foi despedido.
O humanismo ocidental é esclarecido. Classifica a imprensa estatal russa de instrumento de propaganda "tóxica", mas glorifica o World Service da BBC, pago pelo Ministério dos Estrangeiros britânico e onde muitos jornalistas portugueses que lá trabalharam foram obrigados, durante décadas, a pedir autorização superior para fazer qualquer tipo de entrevista... e essa autorização só vinha depois de lida a lista de perguntinhas a fazer!
O humanismo ocidental é dinâmico. Indigna-se aos gritos com a censura de Putin ao jornalismo independente, mas refila baixinho quando proíbem a Russia Today de emitir no Ocidente ou quando os potentados das redes sociais, que ninguém controla, filtram o que o povo pode ou não pode dizer.
O humanismo ocidental enerva-se com a brutalidade policial contra manifestações políticas em países longínquos e contra as prisões indiscriminadas de gente comum, mas cala-se, conformado, quando isso é feito nos seus países contra os que recusam vacinar-se, contra os que exigem direitos para os negros, contra os sindicalistas, contra os imigrantes pobres e de pele escura. O humanismo ocidental já nem se lembra de George Floyd.
O humanismo ocidental é espertalhão. Explica todas as intervenções militares do Ocidente no resto do mundo com a necessidade de defender a democracia, o contexto histórico e sociológico das regiões, as tensões estruturais das economias locais, as rivalidades das religiões, as divisões tribais, as fronteiras mal definidas, a selvajaria dos ditadores locais. Mas para comentar a guerra ucraniana só aceita começar a análise por um facto: Putin invadiu no dia 24 de fevereiro o país de Zelensky. Falar do que está para trás, dos 13 mil mortos do Donbass, do crescimento da NATO para leste, por exemplo, é trair a Ucrânia, é trair o Ocidente, é trair a humanidade - e se o fazes, és mesmo má pessoa!
O humanismo ocidental é ingrato. Garante que a Rússia não é do Ocidente, exige que ignoremos 2 mil anos de cristandade partilhada, as leituras de Dostoiévski, Tolstoi, Tchekhov, Gorki; as músicas de Tchaikovsky, Stravinsky, Shostakovich, Prokofiev; os filmes de Eisenstein, Tarkovsky; os pensamentos de Bakunine, Lenine ou Trotsky. O humanismo ocidental acredita que nada deve do que é à Rússia.
Eu adoro os valores teóricos do humanismo ocidental, são um exemplo para o mundo, a sério, mas não aguento a constante prática violenta do humanismo ocidental, uma vergonha neste mundo, a sério.

quarta-feira, março 09, 2022

o eterno regresso ao ventre...



A VIDA E A MORTE...

"A vida consiste num acordar que se inicia com a separação do ventre da Mãe, a morte consiste num retorno ao sono temporário no ventre da Terra. O início e o fim da existência são o movimento pendular partilhado por todas as entidades vivas, o destino mítico de um eterno regresso ao ventre."


(Jaiva Yatra ou a Peregrinação da Alma, AKLdd)
Via Lila Vasudev


DONBASS est un film d´Anne-Laure Bonnel, journaliste indépendante en pos...



Anne-Laure Bonnel est la journaliste indépendante qui a dénoncé les «crimes contre l’humanité» perpétrés par les militaires et extrémistes ukrainiens dans le Donbass. Elle évoque en particulier les quelques 13 000 morts depuis le début des hostilités en 2014 dans la région.

DONBASS é um documentário de Anne-Laure Bonnel, sobre a miséria da guerra na Ucrânia começada em 2014, em que a população Ucraniana da região de Donbass foi atacada e bombardeada pela PRÓPRIA Ucrânia. As cidades onde viviam foram totalmente destruídas, nada sobrou. O governo/exército Ucraniano bombardeou e atacou durante 8 anos, civis, mulheres, crianças, as quais vivem em caves, em condições miseráveis, sem água, sem electricidade. Nalgumas cidades ou povoamentos, TODAS as casas foram atingidas, diz-nos um dos seus habitantes . 13.000 mortos em 8 anos! Entre os mortos, muitos foram torturados.
Repare-se que todos estes anos a Ucrânia tem recebido grandes ajudas financeira e militares.
Os sobreviventes dessa região são obrigados a viver de ajuda, não há trabalho, são idosos na maioria. A Rússia, embora a sofrer bloqueios e restrições económicas, igualmente desde 2014, envia-lhes camiões cheios de víveres.
Tal como continua ainda hoje a fazê-lo.

O que mudou em 80 anos?


Nas mãos da mulher está a salvação da humanidade
e do nosso planeta. 


"Poderiam os terrores e crimes de hoje serem possíveis se ambos os Princípios se tivessem mantido equilibrados? Nas mãos da mulher está a salvação da humanidade e do nosso planeta. A mulher deve conscientizar-se do seu significado, a grande missão da Mãe do Mundo; ela deveria preparar-se para assumir a responsabilidade do destino da humanidade. A mãe, a que dá à luz, tem todo direito de dirigir o destino de seus filhos. A voz da mulher, da mãe, deveria ser ouvida entre os líderes da humanidade. A mãe sugere os primeiros pensamentos conscientes de seu filho. Ela dá direção e qualidade a todas as suas aspirações e capacidades. Mas a mãe privada da cultura do pensamento, desta coroa da existência humana, só pode contribuir para o desenvolvimento de expressões inferiores dos desejos humanos."


HELENE ROERICH

terça-feira, março 08, 2022

a marcha fúnebre do materialismo...



A ESCRAVIDÃO DAS MASSAS
ESCRITO EM 2 de janeiro de 1916 

"Talvez até agora não possamos fazer nada na nossa idade para conter o curso do tom materialista não livre do dia. Mas pelo menos temos de aprender a senti-lo como escravidão.
Aqui está que um começo deve ser feito. Não devemos ser tomados pela ilusão. Pois, se o mundo prosseguir na sua evolução de acordo com os desejos deste impulso materialista entraremos gradualmente numa evolução na qual não só alguém será proibido de fazer algo pela saúde da humanidade a menos que seja certificado, ou Ninguém será permitido dizer uma palavra sobre ciência de qualquer tipo, exceto aquele que fez um voto de falar apenas de coisas patenteadas com o selo da ordem materialista do pensamento. Atualmente, o constrangimento das coisas proibidas não é muito sentido. Mas está a chegar um tempo em que, assim como todo esforço para a cura da humanidade que não está carimbado e certificado será proibido, então toda palavra será proibida que seja dita de outra forma que não seja patenteada e garantida pelo po materialista Wers.

Se as pessoas não perceberem todo o curso do que está a acontecer, entrarão em vela total nesta futura "liberdade. ’ Isto consistirá em leis promulgadas que proíbem as pessoas de ensinarem de forma diferente daquilo que é ensinado numa escola reconhecida. Tudo será proibido que relembre da forma mais distante o que, por exemplo, está a acontecer entre nós aqui. Porque as pessoas não veem como o curso da evolução está a tender, elas não percebem isto. ”


- Rudolf Steiner 2 de janeiro de 1916 em Dornach

OS GRANDES AUTORES NUNCA MORREM


A “guerra” não é apenas a ação militar dos exércitos em luta, mas também a animosidade e a desunião das pessoas em tempos de paz...


"Revelar a verdade sobre a guerra é muito difícil, conclui Tolstói, e ele aborda o tema através de outro contraste - com a sua concepção de paz. A “guerra” não é apenas a ação militar dos exércitos em luta, mas também a animosidade e a desunião das pessoas em tempos de paz, separadas por barreiras sociais e morais, pela alienação e isolamento e pelo seu egoísmo. Igualmente, a “paz” aparece no romance se desdobrando nos seus vários significados. A paz nega a guerra porque sua essência está no trabalho e na felicidade, na manifestação livre e natural da personalidade. E esta concepção está subjacente ao próprio credo estético de Tolstói:"

“O objetivo do artista não é o de resolver problemas, mas fazer com que o leitor ame a vida em suas inúmeras e inesgotáveis manifestações. Se me dissessem que eu poderia escrever um romance que, de uma vez por todas, oferecesse a solução incontestável para todas as questões sociais, não dedicaria nem duas horas a isso. Mas se me dissessem que o livro que eu escrevo seria lido pelos meus contemporâneos e que as crianças daqui a 20 anos ainda se emocionariam com ele e chorariam, ririam e amariam a vida, eu dedicaria toda a minha vida e toda a minha força a tal trabalho.

CRIME E CASTIGO



Citando  Dostoievski


"(...)
O princípio em que insisto é de que a natureza divide os homens em duas classes: a inferior, ou dos vulgares (...) indivíduos ordinários ou ainda o rebanho cuja única função é reproduzir entre semelhantes a eles...e a superior, constituída pelos homens que possuem o dom e a inteligência para fazerem ouvir no seu meio uma palavra nova. (...) A primeira categoria, quer dizer, o rebanho, compreende, na sua generalidade, os conservadores, os homens da ordem que vivem na obediência e se sentem nela satisfeitos. (...) A segunda categoria é constituída pelos infractores da lei (...) Quase sempre, e segundo os métodos mais diversos, exigem a destruição do presente em nome de algo melhor. (...)" 

Dostoievski, "Crime e Castigo", 1866.

(Salvaguardando o determinismo científico dominante neste final de século, Raskolnikoff, o atormentado pela culpa, o acossado pela angústia entre a fé e a razão, coloca o dedo na ferida.
Estava-se à beira da mudança. Dostoievski já não chegou a vê-la. Mas as sementes tinham sido lançadas 18 anos antes.)


domingo, março 06, 2022

Uma mulher nascida na Ucranea durante a guerra



Tenho me lembrado de Clarice Lispector e da sua história de vida, como ela nasceu na Ucrânea em 10 de Dezembro de 1920, com o nome de Chaya Pinkhasovna...
 
Quando a Ucrânia foi invadida por revolucionários comunistas eles destruíam tudo e violavam as mulheres... A mãe de Clarice foi violada pelos bandos de "soldados" a quem se dirigira ingenuamente para pedir para poupar as filhas...
Clarice nasceu depois dessa violação para curar a mãe segundo uma crença judaica... e depois toda a sua vida ela carregou essa ferida da mãe que morreu de sífilis, contagiada por esses monstros, morta na alma por bestas ideológicas...
Os pais imigraram com ela ainda bebé para o Brasil e a mulher e a escritora que se tornou, superou a sua dor escrevendo e amando...
rlp
Deixo-vos um texto dela belo e pungente:


Pertencer

Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.
No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho.
clarice lispector