O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, março 06, 2022

BELAS, POBRES E FÁCEIS!



BELAS, POBRES E FÁCEIS!

No meio de toda esta profunda confusão que estamos a viver, foram reveladas conversas de um “deputado” brasileiro enquanto visitava a Ucrânia sob ataque russo, ou alguma zona fronteiriça, que suscitaram profunda indignação e dor junto de mulheres e também de homens mais conscientes e responsáveis. Nos comentários que ouvi, dizia alguém que a maturidade emocional deste indivíduo seria inferior à de um menino de 12 anos. Acho esta comparação um insulto a qualquer criança de qualquer género e idade. Também não me parece que possamos usar qualquer termo de comparação do reino animal… a mentalidade machista, misógina patriarcal é da ordem da aberração pura e dura...
Vou apenas reproduzir o que é necessário da dita conversa para a minha argumentação, usando pinças, se possível, para não acrescentar mais perturbação e toxicidade ao caos instalado…

O tema era uma vez mais a objectivação da mulher, sem qualquer tipo de consideração pelas circunstâncias em que se encontram as refugiadas de guerra na Ucrânia neste momento, como faria qualquer AI (leia-se "robot") que tivesse sofrido um ataque viral anulando a função “empatia” e exacerbando a função “líbido”... Sabe-se lá se não é mesmo esse o problema de parte considerável dos machos humanos neste suposto universo holográfico em que vivemos!

Mas essas mulheres, segundo o subespécime humano em questão, ou AI sob ataque viral, teriam três requisitos “excitantes”: eram naturalmente “belas”, “pobres” e por isso mesmo “fáceis” - uma vez um indivíduo da mesma subespécie, disse-me que eu era uma “rapariga fácil”, como se espetasse com desdém uma faca no meu coração, mas o que ele na verdade estava mesmo a fazer era a dar-me motivação para o trabalho que faço hoje, ainda que o fizesse de forma boçal e retorcida…

Mas, entretanto, se analisarmos de outro ângulo, da perspectiva do estudo das bases e fundamentos do próprio sistema patriarcal, que produziu energúmenos deste tipo, o que podemos ver aqui é um grande contributo para a nossa compreensão das táticas usadas contra nós enquanto mulheres, para nos vergarem e colocarem ao serviço do dito sistema. De uma forma simplificada, pode ser assim resumido: para FACILITARMOS os desmandos dos patriarcas, fomos privadas do acesso à propriedade.

Só assim se compreendem os dados estatísticos que mostram a quota-parte que nos cabe da riqueza do mundo. Isto apesar de despendemos horas e horas de trabalho fundamental, que eles conseguiram provar, graças à sua inteligência artificial (só pode) atacada pelos vírus acima referidos, que é um trabalho menor, sem qualificação nem valor, e por isso não merecedor de remuneração. E culturas há em que o acesso à propriedade privada está mesmo vedado à mulher. E assim ficamos “fáceis” e acessíveis e descartáveis e alvo do primeiro predador de meia-tigela que nos apareça pela frente…
Leia-se este estudo da Oxfam (muitos outros existem sobre este tema):

“Segundo os cálculos da Oxfam, 42% das mulheres no mundo não podem ter um trabalho remunerado pela carga muito grande de trabalho de cuidados no âmbito privado ou familiar, frente a somente 6% dos homens. Embora cuidar de outras pessoas, cozinhar ou limpar sejam tarefas essenciais "a pesada e desigual responsabilidade pelo trabalho de cuidado que recai sobre as mulheres perpetua tanto as desigualdades econômicas quanto as de gênero", afirmou a ONG. A Oxfam calcula o valor monetário do trabalho de assistência não remunerada para mulheres acima de 15 anos, com US$ 10,8 trilhões por ano, ou seja, "três vezes mais que o valor do setor digital em todo o mundo", enfatiza a ONG.... –
Veja mais em https://economia.uol.com.br/.../mulheres-as-grandes...

Que, enquanto mulheres de todas as partes do mundo, compreendamos as bases e fundamentos da nossa própria dependência, silenciamento e irrelevância na tomada de decisões das estruturas que nos governam, as mesmas que conduzem os nossos filhos e filhas à morte nos campos de batalha para que o produto da rapina dos grandes oligarcas do mundo possa ficar a salvo!

©Luiza Frazão
5 de Março de 2022
Imagem: Pintura da artista ucraniana Oksana Bylic


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