O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, julho 31, 2022

BRINCAR COM A VIDA...



 PLAY PLAY PLAY ... para homens?
 
"Bem vindos ao admirável mundo novo do absurdo, onde todos aceitam tudo. Tudo se aceita, tudo se permite, a crítica não é mais permitida, sob pena de censura.
O mundo normalizado dos freaks, onde a beleza foi substituída pelo ridículo. Aproveitem o pouco normal que ainda resta, enquanto os freaks não tomarem conta disto tudo."

PORQUE NÃO GOSTO DO LOBBY GAY

 Não gosto do lobby gay nem da sua cultura; não simpatizo com os movimentos sexuais e as suas variantes, sejam eles homo ou hetero ou derivados, todas essas designações ridículas (cis e trans e il e el) das  mais recentes e modernas, como sempre detestei o Sado-masoquismo e a pornografia!

Esta sociedade alienada, consumista e falocrática criou esta pressão diversão SEXUAL, para explorar a mulher ao criar este mito da mulher sexo-símbolo ou um travesti  do homem macho,  em que não se dá lugar ao SER diferente, seja ao homem feminino na essência, nem da mulher masculina como expressão natural da natureza humana, mas onde  tudo se pauta pela sexualidade genital, a mais básica, quase sempre abjecta ou viciada, instrumentalizada pelos meios de comunicação e os Midea.

Ao sobrevalorizar-se essa sexualidade como se ela fosse autónoma, que tem todo o ascendente e dominio sobre o ser, contribuiu para que os gays se tornassem actores e vítimas de uma idolatria falocrática, fanática e para isso, o próprio lobby vai acentuar esses valores num hiper-machismo em detrimento dos reais valores do feminino e do masculino, seja no homem seja na mulher.

Deste modo, mesmo os indivíduos mais evoluídos, ou ditos cultos, estão a cair neste paradigma viciado e sem qualquer consciência da essência do ser em si – a coexistência dos aspectos feminino e masculino dentro de cada ser e as suas dicotomias – e eles acabam por se desresponsabilizar perante uma verdadeira evolução e consciência ontológica, de uma ordem interior inata, digo ainda de uma consciência superior e de um Conhecimento profundo. Para eles a vida em si e a importância da sua dinâmica interna-externa é nula e só vivem para  manifestar os diferentes estereótipos, das aparências e formas corporais, sem entender como se processam a interacção dos pólos opostos complementares, feminino e masculino, o Yin e Yang dos orientais.

Se tivessem em conta que cada ser humano é os dois à vez e por isso não precisa de alterar o seu sexo nem mutilar o seu corpo para corresponder aos estereótipos que a sociedade, alienada da verdadeira essência do SER, lhe impõe. Uma sociedade doente que prefere mutilar as pessoas em vez de mudar a perspectiva dogmática dos seus credos, do seu deus e dos seus dogmas, como no Islão – que exige à partida uma aparência macho ou fêmea sem ter em conta a dualidade sexual do ser humano e a sua ambivalência e obriga os afeminados a fazer operações pagas pelo estado.

 Por mim acho aberrante que para satisfazer meras pulsões sexuais, relações efémeras, assistamos impávidos à manipulação da ordem biológica do ser e à mutilação do seu sexo sem que isso em nada diminua o conflito interior da pessoa humana. Sacrificar-se as pessoas às intervenções cirúrgicas julgando dar-lhes maior estabilidade ou satisfação sexual e humana, como se isso fosse um direito natural, cortar o pénis ou refazer um órgão contra a ordem natural do que nasce e do que é humano…

É lamentável porque todas estas manipulações não servem de forma alguma a uma verdadeira Consciência do SER em si nem ao evoluir da espécie…nem sequer altera o sofrimento psicológico das pessoas que vivem na maior ignorância do significado carmico do seu drama existencial.

Devíamos saber antes de tudo que se estamos em corpos diferentes do que desejaríamos é porque numa vida passada fomos outro sexo e estamos ainda debaixo da sua influência, uma memória celular, e que isso serve para aprender algo, ter uma lição de vida… É importante ter a experiência de um sexo ou de uma forma de estar e não mudar de sexo ou inverter as atitudes só porque se não está bem na sua pele… A dignidade do ser humano passa pela aceitação do seu ser sem o adulterar ou alterar de forma criminosa...  

Por todas estas razões não quero deixar-me embalar na onda das ideologias de género e de uma falsa compaixão pelo sofrimento dos pobres coitados que queriam ser mulheres…ou das pobres mulheres que querem ser homens e depois querem ser mães num corpo de homem…

O corpo de mulher é muito mais do que um corpo! Ele tem muito de magnetismo e alquimia e uma mensagem transcendente... ligada a alma, a anima – pois a Mulher é uma dimensão, o feminino uma essência. Nós não somos apenas um corpo, e o corpo é que não é o sexo (hetero ou homo, filha ou mãe), mas é um significado em si mesmo pela grandeza e pela sua beleza...    

No corpo da mulher há mil mistérios... e é nele que a alma se liga ao espirito e se unifica...e a vida nasce…

Eu sou mulher porque sou um todo e sou plena em mim mesma. Nasci mulher e morrerei como mulher independentemente de todos estes aspectos e tenho uma imensa pena que toda a mulher não se ame e não se honre no corpo que tem!

 Ser só alma - ou andrógino - e não ser corpo é um mito que não pertence à terra, noutra dimensão onde não há polaridades nem sexualidades...talvez, mas aqui passamos pelo corpo para transmutar e alquimizar o amor, mas não pelo sexo em si, que é só uma forma de "distracção".

Na verdade, a alma e o coração não têm sexo…e tudo o que mais falta à Humanidade é a dimensão da alma e do coração! Mais tarde ou mais cedo temos todos que perceber quem verdadeiramente somos, para lá da forma e do pensamento, a razão de sermos nesta nossa encarnação, independentemente de sermos o que aparentamos ser. 

rosa leonor pedro

sexta-feira, julho 29, 2022

AS VELHAS...



Episódio inédito - (Singularidades IV)

De tanto carregar os "fardos" dos outros acabou por ficar com as costas curvadas. Mesmo marreca. Ali mesmo, aos olhos de todos, a curvatura que se desenhava a meio da coluna era visível. E ninguém se importava. Ali, na aldeia onde nasceu, e de onde nunca saiu, havia mais mulheres como ela. Marrecas.
De tanto se curvar perante as necessidades dos outros ficou com a coluna completamente disforme. Primeiro o marido, depois os três filhos, todos homens, mais tarde os netos, cinco riquezas que eram a razão do seu viver já que do viver dela não havia ponta por pegar. Uma vida inteira assim. 72 anos a viver em função dos outros. Súbita fiel das vontades alheias.
Queria clima de paz e habituou-se a ficar calada. A dizer sim quando era não. Asas presas, metida numa gaiola e sem coragem de abrir a porta porque as chaves até estavam ali á mão. Em silêncio porque a paz no lar era o mais importante. Amigdalites constantes. Irritação na garganta porque os nossos silêncios têm que ir para algum lugar. Mas todos satisfeitos. Havia paz ali mas por dentro era só guerra. Estilhaços por todo o lado. Aquela sensação de que já só lhe restava contar os dias até que a dona morte a viesse buscar. Uma vida curvada perante os outros. Uma vida sem ter feito vénia a si mesma.
Texto original de Elsa Ribeiro Gonçalves
Julho 2022
Escrita com essência

A VELHA SÁBIA

“Nunca subestime a resistência da velha sábia. Apesar de ser arrasada ou tratada injustamente, ela tem outro eu, um eu primordial, radiante e incorruptível, por baixo do eu que sofre o ataque – um eu iluminado que permanece incólume para sempre. Está comprovado que a velha sábia tem uma envergadura de asas de seis metros, escondida por baixo do casaco, e uma floresta toda dobrada no seu bolso fundo. Decerto, podem-se encontrar debaixo da sua cama pantufas de sete léguas de lamê dourado. E através de seus óculos, quase tudo que pode ser visto há de ser visto. O tapetinho diante de sua lareira pode realmente ser um tapete mágico. Quando aberto, é provável que seu xale tenha a capacidade de acionar os cães do inferno ou então de invocar a mais estrelada das noites.”
 
Clarissa Pinkola Estés

quarta-feira, julho 27, 2022

A FRAUDE ESPIRITUAL



NÃO NOS DEIXEMOS ILUDIR PELA FARSA NEW AGE...

(Afinal eu é que sou mesmo bruxa! )

Nota - Texto escrito e publicado aqui  em 2013

Fico cada dia mais estarrecida com a proliferação das "mulheres medicina" que nascem como cogumelos, assim como das supostas xamãs e outras especialistas-parasitas e curandeiras-oportunistas que inventaram círculos e cursos e práticas antigas com que exploram a ignorância e a fragilidade das outras mulheres, submetendo-as a processos desestruturantes, desvirtuados e de risco para a sua saúde, e que são, além de alienatórias e prejudiciais ao desenvolvimento de um psiquismo saudável da mulher moderna que busca resgatar o seu feminino profundo - estas mulheres acabam por cair nas malhas dessas ditas terapeutas e iluminados que controlam a cena e o mercado e só contribuem para o seu atraso.
Nalguns casos admito a boa fé... Há mulher sérias e preparadas! Mas na maioria dos casos é apenas gente sem preparação, oportunista e falsa que se promove à custa de mentiras e manipulação das mentes fracas - normalmente as mulheres - sempre sujeitas ao controlo e a exploração dos outros, em nome seja lá do que for. Pode ser em nome de deus deusa ou um qualquer facilitador inspirado que lhes rouba o coração e a carteira, prometendo-lhe um oásis...uma boa cama e a ascenção a curto prazo...
Há igualmente espaços de difusão de produtos e imagens e ideias muito cheias de amor e de boa vontade, cosméticas e perfumes, oferecendo todo o tipo de curas e paliativos para todas as dores - mulheres que exibem uma ar sorridente e sempre positivo, falinhas mansas e coraçõezinhos... e vestes leves que se abrem ao vento. Abrem por todo o sitio Espaços onde vendem não importa o quê...meditações e reiki e leituras energéticas e cujo discursos do "amo-te muito" tentam convencer o comprador enquanto destilam raiva pura por dentro e uma ignorância constrangedora a raiar o imbecil...bem piores do que as das madames videntes e as bruxas a que as nossas avós recorriam para manter os maridos presos e afastar as amantes...
Para além das mezinhas e dessa conversa fiada (digo bem cara) temos ainda os "enteógenos" (drogas visionárias) que prometem a libertação...e uma realização acelerada...de histéricas... são as xamãs da treta que dormem com o Xamã sul americano.
Mas passo a palavra a uma amiga "anonima" cuja lucidez me traz uma enorme alegria de não me sentir tão sozinha neste desmistificar de tanta mentira que se espalha por ai, cada dia mais...
Qualquer dia nas televisões e na radio popular... em grandes palcos com concertos espirituais e meditações guiadas.
Sobre os "enteógenos" também há tanto a dizer... enteógenos entre aspas porque apesar de originalmente (quando usados de forma correcta e no contexto adequado) terem a capacidade de revelar o divino que há em nós, na era do narcisismo parece-me que expandem mais o ego do que a consciência...
Por exemplo (entre tantos possíveis!), as "mulheres medicina" que surgem agora como cogumelos em Portugal. Basta uma irresponsável vir do Brasil munida de "medicinas" e dar um curso, para passados três ou quatro meses termos uma leva de "mulheres medicina". Mais uma vez temos o "condão mágico" da new age: O que antigamente demorava três décadas (ou quatro ou cinco, ou uma vida!) a conhecer e integrar, agora demora três meses! E porquê? Porque estamos na Nova Era, e quem dita o que é verdadeiro ou falso, o certo e o errado, é o comandante da nave estelar, ou arcanjo, ou o ser de "luz". O que os antigos e genuínos guardiões das tradições aconselhavam: calar! estas mulheres decidem arrogantemente ignorar, e anunciar aos quatro ventos no facebook que são "mulheres medicina" (quando não o são!!). E isto tem um nome: charlatanice, fraude espiritual. Movidas pela vaidade, auto-iludem-se, iludem os outros, e tratam com leviandade o que deve ser tratado com extrema seriedade. Torna-se, assim, num perigo para os outros pois estas medicinas são tudo menos inócuas.
Esta mentalidade tornou-se numa epidemia nos últimos anos, e os resultados não tardaram a surgir: Já não é rara a notícia da morte de alguém, ou de abuso sexual por parte do "xamã", ou notícias de pessoas com problemas psíquicos de diversa ordem resultantes da participação nestas cerimónias (mortes e abusos esses abafados pelas autoridades locais na América do Sul enquanto o filão der...).
E assim continuarão... algumas iludidas de que se estão a curar, outras convencidas que ouviram o "chamado" para se tornarem mestres "espirituais", outras ficarão com a vida num caco, e ninguém fará nada... porque buscam sempre fora e porque tudo aceitam sem questionar.
Sónia
"A palavra enteógeno significa literalmente: "manifestação interior do divino", deriva de uma palavra grega obsoleta, que se refere à comunhão religiosa com drogas visionárias, ataques de profecia, e paixão erótica, e está relacionada com a palavra entusiasmo pela mesma raiz."


mães e filhas



 
“Será que vou parar de sentir que fui enganada por algo essencial?”

A estrada de recuperação de uma infância sem o amor da mãe, apoio e sintonia é longa e complicada. Um dos aspectos da cura que raramente é tocado é o luto da mãe que precisávamos, que buscávamos, e sim – merecida. A palavra MERECIDA é a chave fundamental para o entendimento porque o motivo permanece esquivo para muitas mulheres (e homens): El@s, simplesmente não se vêm como merecedors@, porque interiorizaram o que as mães lhes disseram e fizeram como autocritica, concluindo erroneamente que têm uma falta, uma inutilidade ou simplesmente não podem ser amad@s.
Como filha não amada, aproximando-me da minha sétima década de vida, o papel que o luto desempenha na luta pela cura atingiu-me mais uma vez a semana passada, marcado pelo 16º aniversário da morte da minha mãe. Desde que escrevo com frequência sobre crianças não amadas, algumas pessoas acreditam erroneamente que penso constantemente na minha mãe. Nada poderia estar mais longe da verdade.
Após anos de ir e vir eu limpei a minha mãe da minha vida, 13 anos antes de ela morrer. A minha decisão foi tomada com quase 39 anos, quando motivada pela descoberta de que carregava uma filha, a minha primeira e única criança. Fui finalmente capaz de fazer pela minha filha ainda não nascida, aquilo que não tinha conseguido fazer por mim: livrar-me do veneno da minha mãe. Na expectativa de me tornar mãe, iniciei o processo de luto da mãe que eu merecia, não tendo nada a ver com a mulher que me deu á luz.
Quando eu aprendi que a minha mãe me estava a falhar há 16 anos atrás, eu deixei de a ir ver, com todas as pessoas da minha vida a dizerem-me que deveria ir para o “encerramento” - incluindo o meu terapeuta. Mas eu era sábia o suficiente para perceber que eles não caminharam o meu caminho sendo as suas perspectivas baseadas em romances e filmes de Hollywood. Momentos floridos em que as mães amam sempre. Na vida real, eu fazia a pergunta á qual sempre quis uma resposta: Porque não me amas? E ela se recusaria a responder, como sempre, mas desta vez o seu silêncio se estenderia pela eternidade. Também não assisti ao seu funeral. Mas sofri – Não por ela, mas por mim e pelas minhas necessidades não satisfeitas. E a mãe que eu merecia.

PORQUE É IMPORTANTE CHORAR A MÃE QUE PRECISAVAMOS – E PORQUE PODE SER TÃO DIFICIL

“Quando comecei finalmente a vê-la pelo que ela era e como ela nunca seria a mãe que eu precisava ou queria, comecei a defender-me e a estabelecer limites, e a sua raiva e insultos pioraram. Finalmente disse-lhe que não tolerava mais o seu comportamento e terminei todo o contacto. AGORA estou realmente de luto. Eu, finalmente vi a verdade e dói como o inferno. Encontro-me na idade em que alguns dos meus amigos começam a “perder” as suas mães para a velhice e suas histórias dos tempos das suas mães são dolorosas para mim…Acho que só agora iniciei o processo de luto e ainda continuou nele” – Annie.
Chorar a mãe que precisávamos é impedido por ambos os sentimentos, o de indigno de amor e, o mais importante, o que chamo de núcleo de conflito. Este conflito é entre a tomada de consciência da filha de como a mãe a feriu na sua infância e ainda assim ela sente a necessidade contínua de amor e suporte materno, mesmo na idade adulta. Este fosso despoleta a necessidade de se salvar e proteger contra a contínua esperança de que de alguma forma ela descubra o que poderia fazer para que a mãe a ame.
Este conflito pode prolongar-se por décadas, com a filha recuando e talvez sem contacto por um período de tempo, sendo puxada novamente para o turbilhão pela sua necessidade combinada pelas suas necessidades, esperanças e negação. Ela pode passar por cima da dor e arranjar desculpas para o comportamento da mãe, porque os seus olhos encontram-se no premio: O Amor da sua mãe. Ela coloca-se numa roda gigante sempre a girar incapaz de a desmontar.
Aquelas que cedem na batalha – evitando o contacto ou limitando a comunicação com as suas mães e/ou outros familiares – experimentam uma grande perda juntamente com um grande alivio. Para a filha curar a sua perda – a morte da esperança de que este relacionamento essencial pode ser salvo, necessita de ser chorado junto com a mãe que ela merecia.
A profundidade do núcleo de conflito pode ser vislumbrada na angústia daquelas filhas que permanecem na relação precisamente porque temem que se sentirão piores quando a mãe morrer. As palavras de Meg:
“Se eu a retirar da minha vida e ela morrer, sinto medo e vou-me sentir ainda pior, com mais dor do que aquela que sinto agora. E se ela mudasse e voltasse a si, eu ia sentir a falta dela? Então seria minha culpa. Como ela sempre disse que era.”

OS ESTÁGIOS DE LUTO QUE ECOAM NA RECUPERAÇÃO DA FILHA DESDE A INFÂNCIA
No livro “On Grief and Grieving”, Elizabeth Kübler-Ross and David Kessler, mencionam os cinco estágios de perda pelo qual Kübler-Ross é famosa – negação, raiva, negociação, depressão e aceitação – não foram criados para “tornar emoções confusas em embalagens perfeitas.” Em vez disso, enfatizam que todos experimentam o sofrimento de maneira única e individual. Nem toda gente passará por todos os estágios nem pela sequência esperada. Dito isto, os estágios são esclarecedores, especialmente quando vistos no contexto do percurso de uma filha não amada fora da infância, deixando claro porque o luto é parte essencial da cura.

NEGAÇÃO: Como os autores dizem: “ É a maneira da natureza deixar entrar o máximo com o qual conseguirmos lidar.” Com a experiencia da grande perda, a negação ajuda a amortecer o golpe imediato, permitindo á pessoa absorver a realidade. Isto é verdade para a morte mas também se aplica ao reconhecimento da filha da sua ferida. É por isso que pode levar anos ou décadas para a filha ver o comportamento da sua mãe com clareza. De forma contra-intuitiva algumas mulheres só vêem isso em retrospectiva depois da morte das suas mães.

RAIVA: Na esteira da morte, a raiva é a mais acessível das emoções, dirigida a alvos tão diversos como o falecido por abandonar o ente querido, Deus ou as forças do universo, a injustiça da vida, os médicos e o sistema de saúde, e Mais. Kübler-Ross e Kessler enfatizam que, por detrás da raiva, estão outras emoções mais complexas, especialmente a dor crua da perda, e que o poder da raiva da pessoa em luto pode ser, por vezes, esmagadora.
As filhas não amadas, também, passam pelo estágio ou estágios de raiva á medida que trabalham as suas emoções para a recuperação. A sua raiva pode ser dirigida directamente para as suas mães ou para outros membros da família que se mantiveram como suporte e falharam para as proteger e também dirigida para si próprias pelo não reconhecimento do tratamento toxico.
A raiva no Eu, “self”, infelizmente pode bloquear a habilidade de sentir auto compaixão; mais uma vez é o acto de lamentar/fazer o luto da mãe que se merecia que permite a auto compaixão por forma a criar raiz e florir.

NEGOCIAÇÃO: Esta fase tem normalmente a ver com a morte iminente – a negociação com Deus ou promessas de mudança, pensando “se apenas” tivéssemos feito X ou Y, teríamos sido poupadas á dor da perda. Com a morte esta fase é para ser passada através da aceitação da realidade. O caminho das filhas não amadas é marcado por anos de negociações, suplicas faladas ou não faladas na crença de que se alguma condição for atendida a sua mãe a amará e a apoiará. Ela poderá embarcar num percurso de agradar e apaziguar a mãe ou fazer mudanças no seu comportamento procurando em vão a solução que lhe trará o desejo final: O Amor da sua mãe. Assim como no processo de dor, é somente quando a filha deixa de negociar que ela pode começar a aceitar a realidade de que ela é impotente para arrancar o que ela precisa de sua mãe.

DEPRESSÃO: No contexto de uma grande perda, Kübler-Ross e Kessler apontam que estamos muitas vezes impacientes com a tristeza profunda ou a depressão que a acompanha. A sociedade quer pessoas que saiam da tristeza rapidamente e insistem em que se a tristeza persistir é porque necessita de tratamento. Em vez disso, eles escrevem que na dor “a depressão é a maneira pela qual a natureza nos mantém protegidos, fechando o sistema nervoso, para que possamos nos adaptar a sentimentos com os quais não conseguimos lidar”. Eles vêem isto como um passo necessário no processo de cura.
O terreno para a filha não amada é igualmente complicado. É normal sentir tristeza e depressão, pela forma como a mãe a tratou. Esta tristeza é muitas vezes expressada por sentimentos profundos de isolamento – acreditando que ela é a única filha não amada do mundo – e vergonha. A vergonha emerge do mito da mãe (que todas as mães são amorosas/que amam) e da sua preocupação de que a culpa é sua pela forma como a mãe a trata.
Da mesma forma de que as pessoas bem-intencionadas incitam para sair deste estágio de dor, também amigos e conhecidos, pessoas em quem a filha confia podem inadvertidamente marginalizar com comentários "Não poderia ter sido tão mau porque você acabou tão bem! "E outros comentários deste género.

ACEITAÇÃO: Kübler-Ross e Kessler, dizem que o mais importante é a aceitação da realidade embora não seja sinonimo de que está tudo bem com a realidade, mas é um ponto-chave. Trata-se de reconhecer a perda, identificar a permanência e até mesmo os seus aspectos infinitamente dolorosos, as mudanças permanentes a realizar na sua vida e em si e aprender a viver com tudo isso a partir desse dia.
Na perspectiva Kübler-Ross e Kessler a aceitação permite “remover a energia da perda e começar a investir na vida”.
A aceitação permite que o enlutado forje novos relacionamentos e conexões como parte da sua recuperação.
Tudo isto se aplica também às filhas não amadas, embora a aceitação permaneça, para muitas, fora do alcance. É por isto que chorar a mãe que se merecia é crucial.

A HISTÓRIA DE UMA FILHA

Uma das minhas leitoras usou o quadro de Kübler-Ross para descrever seu próprio luto como um trabalho em andamento. A sua mãe ainda está viva, portanto esta história ainda está a decorrer. Acho que seu relato na primeira pessoa, citado na íntegra, mas anonimamente, será de grande ajuda para muitas filhas que ainda se debatem.
Negação: “Eu não queria acreditar que uma mãe escolheria fazer isto á sua própria filha. Como poderia ela não me amar?
Raiva: “Eu fiquei com raiva durante muito tempo. Raiva pela sua atitude, pelo que nós poderíamos ter tido. Mas raiva acima de tudo por ela ter feito a escolha de preferir estar CERTA do que ter um relacionamento comigo. Ela poderia ter escolhido largar o seu ego narcisista. Isto foi o que mais me deixou chateada.”
Negociação: “Eu acho que não tive esta fase. Existiram sentimentos de “se apenas”, mas não se pode negociar com uma pessoa como ela. Simplesmente não funciona.”
Depressão: “Esta fase durou décadas. Quando a pessoa ainda está viva, penso que existirá sempre uma profunda esperança de reconciliação. Talvez ela venha por ai. Talvez no seu leito de morte ela tenha alguma epifania e perceba o que fez. Num último momento de clareza e confissão. Não sustenhas a respiração. Tem sido difícil ver os meus amigos e as suas mães terem boas relações. E tu pensas: “Porque não tenho isto? Também o mereço, porra!”
Aceitação: “Não sei se passarei plenamente por este estágio até que ela se vá embora. Uma das formas com que melhor lidei com ele foi ser a melhor mãe possível para os meus filhos. Eles conhecem a história da família. Eles entendem porque eu fiz o que eu fiz.”

O QUE SIGNIFICA CHORAR A MÃE QUE VOCE MERECIA?

Exactamente o que lhe parece – lamentar a ausência de uma mãe que a ouviria, que se orgulharia de si, que precisaria de si para a compreender da mesma maneira que você a compreendia. Uma mulher disposta a assumir os seus próprios erros e não a culpabilizá-la por eles, e - sim – alguém com quem rir e chorar.
Olho para o relacionamento com a minha filha e às vezes consigo ver como o meu Eu jovem a teria invejado.
Ainda me é difícil olhar para o passado e ver a inúmeras oportunidades que a minha mãe desperdiçou.

Peg Streep - escritora


AINDA O AMOR



"Viver sem amor...
É como não ter para onde ir
Em nenhum lugar
Encontrar casa ou mundo
É contemplar o não-acontecer
O lugar onde tudo já não é
Onde tudo se transforma
No recinto
De onde tudo se mudou
Sem amor andamos errantes
De nós mesmos desconhecidos
Descobrimos que nunca se tem ninguém
Além de nós próprios
E nem isso se tem."
*

Sim, eu queria escrever sobre esse desejo, esse sonho, esse anseio, essa espera, essa ansia, essa esperança, esse medo, esse erro, sempre o mesmo ou essa ilusão apenas projectada ou sublimado de mil maneiras que a mulher tem no homem, como podia ser na mulher, no filho, na mãe ou no amante num cantor, num actor, na dor de uma ausência, numa morte, numa separação, numa carência.
Quem somos nós assim tão frágeis à deriva de um sentimento e perdidas sem amor...na procura insana de um amor que está provado não existe e apenas foi reflectido e retratado nos mil milhões de romances de dor, de abandono, traição e ódio...
O que nos faz sentir essa falta de amor ou essa falha dentro de nós no nosso amago e que buscamos colmatar no outro/a...e que nos impulsiona a viver numa busca consciente ou inconsciente de uma amor ou um ideal...Pode ser uma causa suprema ou de uma beleza, uma perfeição, outros mundos e deuses e tudo o que não existe aqui na Terra e, de facto nada disso existe real e de forma durável?
Porque somos impulsionadas a amar sempre, a olhar para outro ser - homem ou mulher - e depender dele ou dela para sermos nós mesmas? Quem fez esta natureza, quem fez esta criatura que se busca e nunca se encontra e nunca se sacia a si mesma, que se vê separada de algo e não sabe como colmatar esse vazio? E porque procuramos fora o que é suposto encontrar dentro? Porque esta necessidade de beleza e de olhar o outro ser - mergulhar nos olhos do outro/a e sentir o céu e a terra estremecer - como me dizia alguém há dias...
Sempre pensei e penso que a idade nos tira as ilusões e destapa os véus...contudo este, o derradeiro véu do AMOR HUMANO este peculiarmente e não outro pelo outro, o sonho da "alma gémea", o "par alquímico", a alma que nos conhece e compreende e ama e como ninguém nos respeita e eleva sabendo que nunca, mas nunca aconteceu, a não ser pela fracção de segundos ou nos momentos alterados do apaixonamento, essa cegueira que nos prende por tão pouco tempo - conforme o tempo que levamos a cair em nós...e podem ser meses ou anos?
Quem nos fez ou criou assim incompletas, eles e elas, todas nós - onde está a nossa completude e inteireza de ser?
Será que a Mulher sendo ela mesma e inteira, que conhece essa fogo pode viver só e do seu dom e assim se dar sem nada esperar como uma MÃE?
É isso que procuramos sempre UMA MÃE QUE NOS ACALENTE E NOS SEGURE NO SEU COLO E NOS EMBALE NA DOR DE SERMOS SÓS?
Mesmo sabendo que essa mãe não é de carne e osso e só se manifesta in extremis...?
RLP
*poema de Ana Hatherly


A IMPORTÂNCIA DO UTERO

 DIZER QUE UMA MULHER PODE SER MULHER (OS TRANS) SÓ PELO ASPECTO E SEM UTERO, É A MAIOR ABERRAÇÃO DA HISTÓRIA HUMANA!


Durante 5 milênios foi o útero e não o coração o símbolo do amor e da vida.

"Quando a mulher se excita sexualmente, o útero começa a pulsar como um coração, um pouco mais lentamente.
Movido pela emoção erótica, palpita como uma ameba que se contrai e se expande, como o corpo de um sapo respirando.
Justamente, os Taironas - indígenas da Colômbia - representam o útero como um sapo.
Durante 5 milênios foi o útero e não o coração o símbolo do amor e da vida.
E sabemos pela Medicina Tradicional Chinesa que existe uma conexão direta entre o coração e esta entranha curiosa.
O útero também tem conexões nervosas com o neocórtex e sistema nervoso voluntário.
Portanto, quando a mulher recupera a unidade psicossomática útero-consciência pode, consciente ou semi-inconscientemente, acompanhar esse movimento ampliando a onda de prazer, de tal forma que ela possa vivenciar sua sexualidade de forma expandida, saudável e continuado.
O que acontece normalmente é que quando a menina chega à adolescência, devido à repressão da sua natureza, familiar e social, tem o útero tão rígido e contraído, que a mínima abertura do útero para deixar sair a menstruação, causa dor.
Mas o útero é recuperável, e crescemos de jovens com dismenorreias, que ao adquirir consciência do seu útero, visualizando-o, sentindo-o e relaxando-o, normalizaram seus ciclos.
Para recuperar a sensibilidade uterina a primeira coisa a fazer é explicar às nossas filhas desde pequenas que têm um útero, para que serve e como funciona. Explicar-lhes que quando se enchem de emoção e amor, o seu útero palpita de prazer. ”

Texto: Casilda Rodrigañez, no seu livro 'O Assalto ao Hades'

CONSCIÊNCIA E FERIDA DA MÃE




A FERIDA DA MÃE
 
"Uma das experiências mais duras que uma filha pode ter numa relação mãe/filha é perceber que a sua mãe investiu, de forma inconsciente, na sua pequenez. Para as mulheres nesta situação, é de partir o coração aperceberem-se que a pessoa que as deu á luz, de forma inconsciente, encara o seu empoderamento como uma perda para si própria. Em ultima análise, não é pessoal mas uma tragédia muito real da nossa cultura patriarcal que diz às mulheres que elas são “menos do que”. Todas desejamos ser reais, ser vistas de forma precisa, ser reconhecidas, e ser amadas pelo que realmente somos, na nossa completa e inteira autenticidade. Isto é uma necessidade humana. A verdade é que o processo de nos acedermos ao nossa nosso verdadeiro Ser envolve sermos desarrumadas, grandes, intensas, assertivas e complexas; tudo aquilo que o patriarcado retrata como sendo pouco atrativo na mulher.Historicamente, pois a nossa cultura tem sido hostil para com a ideia das mulheres como indivíduos de verdade. O patriarcado retrata a mulher atraente como a mulher que gosta de agradar, que procura aprovação, que cuida emocionalmente, que evita conflitos e é tolerante aos maus tratos. Até determinado ponto as mães passam esta mensagem às suas de filhas, de forma inconsciente, levando as filhas a criarem um falso Ser, geralmente sob a máscara da rebelde, da solitária ou, da boa rapariga. A mensagem principal é “tens de te manter pequena, de forma a seres amada”. Contudo, cada nova geração de mulheres vem com a fome de ser real. Poderemos dizer que a cada nova geração, o patriarcado está a enfraquecer e que a fome de ser Real está a fortalecer-se nas mulheres, e está de facto a começar a assumir uma certa urgência.
O anseio por ser Real e a ânsia de mãe. Isto representa um dilema para filhas criadas no patriarcado. O anseio para viver a sua verdadeira essência e o anseio de ser nutrida pela mãe tornam-se necessidades em competição; há um sentir que tem de se escolher entre elas. Isto acontece porque o teu empoderamento fica limitado ao nível que as crenças patriarcais foram interiorizadas pela tua própria mãe e ela espera que lhes correspondas. A pressão por parte da tua mãe para que te mantenhas pequena vem de duas fontes principais: 1) o grau a que ela interiorizou as crenças limitativas patriarcais da sua própria mãe, e 2) o nível da sua própria perda que resulta dela estar dissociada do seu verdadeiro Ser. Estas duas coisas estropiam a capacidade de uma mãe em iniciar a sua filha na sua própria vida. O preço de te tornares no teu verdadeiro Ser envolve, com frequência, algum nível de “ruptura” com a linha maternal. Quando isto acontece, estás a quebrar com as teias patriarcais internas da tua linha materna, o que é essencial para uma vida adulta saudável e empoderada. Isto normalmente manifesta-se em alguma forma de dor, ou conflito com a tua mãe. Rupturas com linha materna tomar várias formas: desde conflito e desentendimento até ao distanciamento e afastamento. É uma viagem pessoal e é diferente para cada mulher. Em última análise a ruptura está ao serviço da transformação e da cura. Faz parte do impulso evolucionário do acordar feminino estar mais conscientemente empoderada. É o nascimento da “mãe não patriarcal” e o início da verdadeira liberdade e individualização. Num dos extremos, para relacionamentos mãe/filha mais saudáveis, a ruptura pode causar conflito mas, serve de facto para fortalecer o laço e torná-lo mais autêntico. No outro extremo, para relações mãe/filha abusivas ou menos saudáveis, a ruptura pode despoletar feridas não sanadas na mãe, levando-a a atacar ou renegar completamente a sua filha. E em alguns casos, infelizmente, uma filha não verá outra hipótese a não ser manter a distância indefinidamente, para preservar o seu bem estar emocional. Aqui a mãe pode encarar a separação/ruptura como uma ameaça, não o resultado do teu desejo de crescimento, mas como uma afronta, um ataque pessoal e rejeição daquilo que ela É. Nesta situação, pode ser doloroso ver como o teu desejo de empoderamento, ou crescimento pessoal, pode levar a tua mãe encare-te como uma inimiga mortal. Nestes casos podemos ver de forma exacta o custo brutal que o patriarcado exerce no relacionamento mãe/filha. “Eu não posso ser feliz se a minha mãe for infeliz.” Já alguma vez te sentiste assim? Geralmente esta crença vem dor de ver a tua mãe sofrer das suas próprias privações interiores e da compaixão pela sua luta, sob o peso das demandas patriarcais. Contudo, quando sacrificamos a nossa própria felicidade pela da nossa mãe, estamos de facto a impedir a cura necessária que vem fazer o luto à ferida na nossa linha materna. Isso só irá manter a ambas, mãe e filha, aprisionadas. Não podemos curar as nossas mães e não podemos fazer com que nos vejam com exactidão, não importa o quão arduamente tentemos. O que traz a cura é o fazer o luto. Temos de chorar por nós próprias e pela nossa linha materna. Este pranto traz uma incrível liberdade. Com cada vaga de tristeza nós reconectamos-nos com as nossas partes que tivemos de renegar, por forma a sermos aceites pelas nossas famílias. Sistemas pouco saudáveis têm de ser rompidos por forma a encontrar um novo equilíbrio, mais saudável e de mais alto nível. É um paradoxo que curemos, de facto, a nossa linha materna quando cortamos com os padrões patriarcais na linha materna, não quando permanecemos cúmplices como forma de manter uma paz superficial. É necessário garra e coragem para nos recusarmos a compactuar com os padrões patriarcais que se mantêm há gerações nas nossas famílias. Permitirmos que as nossas mães sejam indivíduos liberta-nos a nós (como filhas) para sermos indivíduos. As crenças patriarcais alimentam uma diluição inconsciente, entre as mães e as filhas na qual só uma delas pode ser poderosa; é uma dinâmica de ou/ou baseada na escassez que as deixa a ambas desempoderadas. Para as mães que tenham sido particularmente privadas do seu próprio poder as filhas podem tornar-se “alimento” para a sua identidade atrofiada e um “saco” de despejo dos seus próprios problemas. Temos de deixar as nossas mães fazerem as suas próprias viagens e de deixarmos de nos sacrificar por elas. Estamos a ser chamadas a ser verdadeiros indivíduos, mulheres que se individuam das crenças do patriarcado e assumimos o nosso valor, sem vergonha. Paradoxalmente é a nossa individualidade plenamente assumida que vai contribuir para uma sociedade unificada, saudável e integra. Tradicionalmente as mulheres são ensinadas que é nobre carregar com o sofrimento dos outros; que o cuidar emocionalmente é um dever nosso e que devemos sentir-nos culpadas se nos desviamos desta função.
Neste contexto, a culpa não está relacionada com consciência mas com controle. Esta culpa mantém-nos diluídas nas nossas mães, esvaídas e ignorantes do nosso poder. Temos de perceber que não há uma causa real para a culpa. Este papel de cuidadoras emocionais nunca foi o nosso verdadeiro papel. É somente uma parte do nosso legado de opressão. Visto desta forma podemos parar de permitir que a culpa nos controle. Abster-se de cuidar emocionalmente e deixar que as pessoas vivenciem as suas próprias lições é uma forma de respeito pelo Eu e pelo Outro. O nosso excesso de funcionamento contribui para o desequilibro na nossa sociedade e desempodera activamente os outros, mantendo-os afastados da sua própria transformação. Temos de parar de carregar o peso dos outros. Fazemo-lo assumindo que é a mais pura futilidade. E temos de recusar-nos a ser guardiãs emocionais e depósitos de lixo daqueles que se recusam a fazer o trabalho necessário para a sua própria transformação. Contrariamente ao que nos foi ensinado, não temos de curar a nossa família inteira. Nós só temos de nos curar a nós próprios. Ao invés de te sentires culpada por não seres capaz de curar a tua mãe e os membros da tua família, dá a ti própria permissão para seres inocente. Fazendo isto estás a retomar a tua pessoalidade e a deixar de dar poder á ferida da mãe. Em consequência estás a devolver aos membros da tua família o próprio poder de vivenciarem a sua própria jornada. Esta é uma grande mudança energética que advém de conhecermos o nosso próprio valor, demonstrando-o na forma como nos mantemos no nosso poder, apesar dos apelos para o entregarmos a outros. O preço de nos tornarmos verdadeiras nunca é tão elevado como o preço de nos mantermos no falso Ser É possível que tenhamos reações da nossa mãe (e da nossa família) quando nos tornamos mais verdadeiras. Poderemos enfrentar mau humor, hostilidade, afastamento, ou difamação. As ondas de choque podem espalhar-se a todo o sistema familiar. E pode abanar-nos ver o quão rápido podemos ser rejeitadas, ou abandonadas quando deixamos de ser o motor de tudo e todos e incorporamos o nosso verdadeiro Ser. Contudo, esta verdade tem de ser vista e a dor suportada se queremos tornar-nos realmente verdadeiras. Por este motivo é essencial ter ajuda. No artigo “Mindfulness and the Mother Wound” (Consciência e a Ferida da Mãe) Philipp Moffitt descreve as quarto funções de uma mãe. Nutridora, Protectora, Empoderadora e Iniciadora. Moffitt afirma que o papel de Iniciadora “é o mais altruísta de todos os aspectos, porque está a encorajar uma separação que a vai deixar desprovida (de filha).”Esta função é profunda, mesmo para uma mãe que tenha sido completamente honrada e apoiada na sua própria vida, mas quase impossível para mães que tenham passado por grandes tormentos e não tenham curado suficientemente as suas próprias feridas. O patriarcado limita severamente a mãe na sua capacidade de iniciar a filha na sua própria pessoalidade, porque no patriarcado, a mãe foi privada de si própria. Configura a sua filha para a auto-sabotagem , o seu filho para a misoginia e o desrespeito pelo solo sagrado do qual viemos, a própria terra. É precisamente esta função como mãe que “proporciona a iniciação” que lança a filha para a sua própria e incomparável vida, mas este papel só é possível na medida em que a mãe tenha experienciado, ou encontrado a sua própria iniciação. Mas o processo de separação saudável entre mãe e filha é grandemente frustrado numa cultura patriarcal.
O problema reside no facto de maior parte das mulheres viverem uma vida inteira á espera que as suas mães as iniciem na sua própria vida, quando as suas mães são incapazes de lhes providenciar isto. É muito comum assistirmos ao adiamento do luto da ferida materna, com as mulheres a voltarem constantemente à “fonte seca” das suas mães, em busca da permissão e do amor que as suas mães absolutamente não têm a capacidade de lhes dar. Ao invés de fazer o luto completo, as mulheres tendem a culpar-se, o que as mantém aprisionadas. Temos de carpir a incapacidade das nossas mães de nos iniciarem e embarcar de forma consciente na nossa própria iniciação.
A ruptura é de facto sinal de um impulso evolucionário para nos distanciarmos dos enredos patriarcais da nossa linha materna, quebrar com a nossa inconsciente diluição nas nossas mães, fomentada pelo patriarcado e tornarmo-nos iniciadas na nossa própria vida.
Em última instância este luto cede lugar à compaixão e gratidão genuínas para com a nossa mãe e as mães que as antecederam.
É importante percebermos que não estamos a rejeitar as nossas mães quando rejeitamos as suas crenças patriarcais que dizem nos devemos manter pequenas para sermos aceites.
O que estamos de facto a fazer é reclamar a nossa força vital aos padrões impessoais e limitativos que mantiveram as mulheres reféns durante séculos.
Cria um espaço seguro para a necessidade de mãe. Apesar de sermos mulheres adultas ainda temos necessidade de mãe. O que pode ser devastador é sentir esta necessidade de mãe e saber que a tua própria mãe não consegue preencher esta necessidade, apesar de ter tentado o seu melhor. É importante encarar este facto e fazer o luto. A tua necessidade é sagrada e deve ser honrada. Permitir abrir espaço para este luto é uma parte importante do processo de seres uma boa mãe para ti própria. Se não carpirmos a nossa necessidade de cuidados maternais directamente, ela vai infiltrar-se inconscientemente nos nossos relacionamentos, causando dor e conflitos.
O processo de cura da ferida materna consiste em encontrar a tua própria iniciação para dentro do poder e propósito da tua própria vida. Isto não é um trabalho de auto empoderamento de pouca importância. Curar a ferida de mãe é essencial e fundamental; é um trabalho de qualidade em profundidade, que te vai transformar ao nível mais profundo e te vai libertar, como mulher, dos grilhões centenários que herdaste da tua própria linha materna. Temos de nos desintoxicar dos fios patriarcais na nossa linha materna, por forma a podermos assumir na nossa própria mestria.
Do papel da “Mãe como iniciadora”, o Moffitt diz:

 “Este poder de iniciar está associado com o Shaman, a Deusa, o Mago e a Mulher Medicina”. Á medida que mais e mais mulheres curam a ferida materna e consequentemente assumem firmemente o seu poder, encontramos finalmente a iniciação que procurávamos. Tornamo-nos capazes de iniciar, não só as nossas filhas, mas também a nossa cultura como um todo que está a passar por uma transformação massiva. Estamos a ser chamadas a procurar nas nossas entranhas aquilo que não recebemos. À medida que reclamamos a nossa própria iniciação por forma a curar a ferida materna, juntas como um todo, encarnamos progressivamente a Deusa que deu à luz um mundo novo."

Bethany Welsster



quinta-feira, julho 21, 2022

A ABERTURA DO CAMINHO




"Vivemos num tempo estúpido de facilitismos e superficialidade em que tudo se mistura e já ninguém sabe quem fala verdade. Todos se copiam e papagueiam "verdades" como espirito e "alma e consciência" e ninguém se entende. As "massas" não entendem o sentido da Realidade Última e confundem tudo com o relativo da vida superficial e rotineira que vivem sufocados pelo véu da mentira colectiva de uma pretensa cultura democrática que quer fazer chegar o conhecimento a todos, mas o Conhecimento sempre foi e é iniciático; só o individuo que conhece dentro de si as suas diferentes partes constitutivas, corpo-alma e espírito e os seus animais-instintos, pode chegar ao cerne do seu SER. E só alguns seres - de acordo com o seu esforço a sua evolução e sinceridade - chegam ao verdadeiro entendimento do que é Real e eterno dentro de si...

ASSIM, “A confusão criada pela imprecisão habitual das palavras alma e consciência é agravada pela rotina que preside ao seu emprego, rotina que atrofia o entendimento daquele que fala, tanto como daquele que escuta.
Num Tempo Novo é preciso uma linguagem nova, para se poder devolver à palavra o seu espírito original, o seu Verbo vivo, sufocado pela vida rotineira.
A palavra justa é um verbo mágico para o ouvido atento ao seu significado essencial, mas na sua deturpação ele ameaça (contamina) com a sua deformação todo o comportamento humano.
Poucas palavras causaram pela sua alteração tantas e funestas consequências como as expressões: “alma” e “consciência”, porque as realidades que exprimem são os elementos base do que constitui o ser humano não mortal, e que podem esclarecer o fim da sua existência.
De cada vez que um conhecimento iniciático foi suplantado por dogmas saídos das disputas teológicas, o sentido da “alma” e “consciência” sofreram variantes conforme as doutrinas religiosas ou os ensaios filosóficos que se tornaram autoridade nessa época. “

“O passado não pode impor a sua lei ao momento actual: só o momento presente traz à consciência humana a experiência que lhe convém.

A sabedoria não pode ser aplicada ao aperfeiçoamento das massas, mas a sua instauração directa para transcender (os limites) ser humano não pode se realizar senão individualmente.
Há o dever de diferenciar o ensinamento das realidades essenciais, conforme ele se dirija as massas ou ao individuo.
Há a necessidade de adaptar os termos utilizados às possibilidades receptivas dos nossos contemporâneos.
O emprego do sentido exacto das palavras decresce no sentido proporcional da cultura democrática, cuja instrução superficial vulgariza todas as noções, destrói o respeito do gesto e da palavra essencial, e deprava o discernimento pelo hábito do “mais ou menos”.
O discernimento não pode cultivar-se sem o acordar o sentido do REAL e do REALIVO; ora o que é real não pode ser conhecido senão por aquilo que no ser humano é real, quer dizer indestrutível.

Os diferentes estados do ser não mortal podem ser definidos só por uma palavra: “Consciência”, e ainda ele deve ser compreendido na sua essência!”

In LOUVERTURE DU CHEMIN – de Isha SCHWALLER DE LUBICZ

A dor pode ser o efeito de uma Karma ou de uma ignorância actual;: porque a consciência pode encontrar um meio de evitar a dor de um sofrimento necessário.
A dor é uma reacção do ser pessoal físico ou mental.
O sofrimentos é uma luta pela tomada de consciência de uma falha entre o ser REAL desejável e o estado efectivo ; essa falha provoca uma tensão para encontrar o estado são;
Se há resistência nos elementos pessoais (fiscos ou morais) há dor:
Se há uma aceitação consciente, a dor pode ser eliminada e reduzida ao sofrimento, quer dizer á prova e de cuja reacção vital pode mesmo tornar-se em prazer.
O sofrimento é a escola da consciência que não se pode ser adquirida sem ele.
A Compaixão aceita passar as provas do seu sofrimento humano para melhor as transmutar: esse é um gesto de puro Amor.

A piedade é um reflexo pessoal diante da dor do outro apreciada pelo eu (pequeno); é a reacção do humano (inferior) que receia por si mesmo ter uma dor semelhante, ou então é a condescendência do benfeitor que se desculpa, por esse gesto de ser privilegiado.
Em todos os casos, é a impressão relativa da sua própria sensibilidade, uma apreciação pessoal.
Como é que o homem ignorante poderia decifrar a multiplicidade das causas e dos efeitos? Os senhores da compaixão que oferecem a sua beatitude para minorar o sofrimento humano, não tirariam a ninguém as provas necessárias para a sua evolução.
Estas palavras revoltarão aqueles que fazem parte “deste mundo”, porque eles praticam a piedade a fim de eles mesmos beneficiarem dela directamente (paga pelo bem que fazem). É por isso que é importante diferenciar a piedade arbitrária e a falsa caridade do altruísmo compassivo e desinteressado.

A natureza não tem qualquer piedade; ela obedece as directivas “providenciais” do seu Devir. Cada animal segue as leis da sua espécie , sem piedade pela espécie que captura e que assegura a sua sobrevivência; mas fora desta caça necessária, encontramos numerosos exemplos de atitudes altruístas que nos homens se atribui logo à piedade: devotamente de uma fêmea para com as crias de outra mãe…cuidados de alimentação levadas pelos seus congéneres a um animal ferido…sacrifício do individuo que expõe a sua vida para defender os jovens da sua tribo…
A característica deste altruísmo é que ela obedece a uma certa consciência inata de solidariedade animal, na qual não intervém nem cálculo nem juízo. Não existe piedade, mas justiça no sentido de obediência a uma lei da espécie.(e que é inerente a todos)
O Ser Humano estando no cimo do reino animal, encontra-se numa situação intermediária entre esta animalidade e o reino superior (sobre-humano) da qual a suprema qualidade é a totalidade das consciências da Natureza, e a consciência das suas consciências.
Entre os dois estados extremos, o ser humano ocupa uma situação incerta, entre a sua consciência instintiva obnubilada pelo seu mental, e a consciência espiritual cujo germe, escondido nele, não se encontra desenvolvida.
Neste estado intermediário em que o ser comum (que reage automaticamente ao instintivo animal) ele julga-se senhor da sua consciência cerebral, e tem a ilusão dirigir os seus actos e os seus sentimentos por um livre arbítrio aparente.
Na realidade, esse livre arbítrio não é senão a possibilidade de escolha entre obedecer ao chamado do reino (consciência) superior ou a obediência à lei do animal humano ao qual pertence o seu ser (consciência) inferior.
De acordo com a sua submissão a uma ou a outra destas directrizes, ele pode elevar a sua consciência ao sobre-humano ou sofrer a lenta evolução do animal humano.
(…)
Quanto ao altruísmo causado por um sentimento real de solidariedade provocado pelo sofrimento de alguém, pode haver duas fontes. A primeira é a consciência instintiva da solidariedade da espécie (animal e humana): é o altruísmo do animal e o do ser humano que escutam a sua consciência inata. A outra fonte, que é a consciência da solidariedade espiritual da Humanidade, é um grau superior deste altruísmo quando totalmente isenta de egoísmo, e que é a mais alta compaixão, impessoal e desinteressada. A “Via do Coração” é a que conduz directamente a ela.”
(…)

DE ISHA SCHWALLER DE LUBICZ – IN L’ OUVERTURE DU CHEMIN


quinta-feira, julho 14, 2022

Lilith



malumoreira.mm

LILITH, a mulher primordial que se recusou ser submetida ao paradigma patriarcal e por ele foi banida e propagandeada como demoníaca, subtraindo, assim, da mulher, a dimensão ontológica de sua psique oceânica.
Livro de @rosaleonorpedro, autora também de Mulher Incesto/ Mulheres e Deusas e Antes do Verbo era o Útero, que tem dedicado sua Vida ao despertar do FEMININO PROFUNDO em nós - Ela, LILITH.

Capa - Lilith with a Snake by John Collier, 1886. Oil on canvas.

adoro ser uma delas



 Alexandra Gondin:

" Trata-se de falar dum poder ancestral que está nas raízes de tudo o que é feminino. A força motriz que tudo move, que naturalmente É.
Costumo dizer que quando se persegue e humilha alguém... por alguma coisa é...
E sempre se fez tudo para que as Mulheres fossem desvalorizadas, negando-lhes o poder, a força, a sabedoria que está na sua essência. Eu sei : medo, por medo.
Mas não adianta.
Nobres, dignas Mulheres.
Adoro ser uma Delas."

"Lilith é como uma prova de fogo na vida da mulher



Maria Graça Duarte:

"Lilith é como uma prova de fogo na vida da mulher. Ao enfrentar essa revelação interior, que a avassala, e amar-se a si mesma, sentir-se a si mesma, a partir de dentro e do fundo de si, como possuída por um amor que sobe da base, ao chacra do coração, e se eleva à coroa e a transfigura."

É essa mulher que eu venho a reatar, há uns anos. Nesta altura, já na menopausa, tenho uma maior disponibilidade e maturidade para este trabalho de restauração da minha essência, sem embarcar em folclores e o livro da Rosa Leonor Pedro ajuda a chamar os processos pelos nomes e a reorientar o foco para o trabalho individual de cura.
Sem devaneios e mesmo que muitas vezes, o desespero e a dor pareçam difíceis de suportar, realço que continuo a acreditar no amor....puro....de coração....e acho que é com um grande amor que a Rosa Leonor Pedro nos mostra diariamente o lugar onde nos encontramos e a necessidade constante de reconhecermos a mulher primordial Lilith .
Maria
Maria Graça Duarte



domingo, julho 10, 2022

SOMOS FANTASMAS - COMO ZOMBIES



O ROUBO DO PRESENTE !

Texto de JOSÉ GIL (filósofo)


“Há pelo menos uma década e meia está a ser planeada e experimentada quer a nível do nosso país, quer na Europa e no mundo uma nova ditadura - não tem armas, não tem aparência de assalto, não tem bombas, mas tem terror e opressão e domesticação social e se deixarmos andar, é também um golpe de estado e terá um só partido e um só governo - ditadura psicológica.
Nunca uma situação se desenhou assim para o povo português: não ter futuro, não ter perspectivas de vida social, cultural, económica, e não ter passado porque nem as competências nem a experiência adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o tempo da formação e o da esperança foi porque fomos desapossados do nosso presente. Temos apenas, em nós e diante de nós, um buraco negro.
O «empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu. O poder destrói o presente individual e coletivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho. O Governo utiliza as duas maneiras com a sua política de austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes: stress, depressões, patologias, border-line, enchem os gabinetes dos psiquiatras que os acolhem. É o massacre dos professores. Em exemplo contrário, com os aumentos de impostos, do desemprego, das falências, a política do Governo rouba o presente de trabalho (e de vida) aos portugueses (sobretudo jovens)
O presente não é uma dimensão abstracta do tempo, mas o que permite a consistência do movimento no fluir da vida. O que permite o encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro - para que possam irradiar no presente em múltiplas direcções. Tiraram-nos os meios desse encontro, desapossaram-nos do que torna possível a afirmação da nossa presença no presente do espaço público. 

Actualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais.
O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si»
. A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convivio. A solidariedade efectiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil. Um fenómeno, propriamente terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço continuando, paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância, vida, estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar num ser espectral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si.
Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do povo português.
Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria-nos do nosso poder de acção. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país."


quarta-feira, julho 06, 2022

Deus, desculpe, é muito parecido comigo. É negra e é mulher”

 



Paulina Chiziane, a primeira escritora africana a vencer o Prémio Camões, continua a celebrar este galardão junto do povo, mesmo dos que não sabem ler, ao mesmo tempo que os “que se acham mais sábios” ainda recuperaram do choque.

“Uma boa parte daqueles que se julgam os mais conhecedores, os mais sábios, sempre me olharam assim com aquele arzinho de doutor, eles no pedestal e eu sempre no chão - sempre gostei de pôr os pés no chão - e foi uma surpresa, um choque para alguns deles, mas ainda bem que foi assim, porque na verdade eu escrevo em português”, disse, em entrevista à agência Lusa, em Lisboa, onde se encontra a realizar um conjunto de atividades sobre a sua obra.

A autora reconheceu que nunca imaginou existirem tantas pessoas tão interessadas em ouvi-la e em ler o que escreveu e só lamenta não ter braços para “os abraçar a todos”, os que vivem em África, Portugal, Brasil e em outros países que não falam português.

O que mais a surpreendeu foi “a celebração popular” e até de pessoas que não sabem ler, “porque as pessoas sempre olharam para o Prémio Camões como uma coisa muito distante dos africanos, sobretudo das pessoas de raça negra”.

“Sou a primeira pessoa de raça negra, negra bantu, a receber o prémio”, disse, contando que “as pessoas sempre olharam para este prémio com uma distância”, como “o prémio dos outros”.

“Se [o vencedor] não é um branco, vai ser um mulato, mas negro e ainda por cima mulher…”, afirmou, referindo-se à forma como o galardão era visto.

E prosseguiu: “Agora, em todas as caminhadas, nós encontramos aqueles durões que acham que são os donos da língua portuguesa e são os donos da sabedoria”.

África vive em pandemia desde os tempos coloniais

“Se não foi a pandemia das guerras e dos terrores, dos horrores, foram as doenças. Nós, africanos, estivemos sempre num círculo de inferno. É por isso que esta pandemia a mim não me assustou”, afirmou a escritora moçambicana à agência Lusa, em Lisboa, onde se encontra a divulgar a sua obra.

E acrescentou: “É preciso reconhecer que em África a morte é gratuita. Basta andar na rua. Basta nascer para morrer ou para sofrer. Embora estejamos independentes, ainda há muitos problemas para resolver. Somos este continente pobre, empobrecido”.

Em relação à covid-19, recordou que o continente africano se debate com inúmeros casos de malária, além de cólera ou peste. “E quando não é isso, são as guerras”.

“O meu país, aquilo que eu pude vivenciar, foram a guerra de libertação nacional, com as suas mortes, massacres e tudo, tanto portugueses como moçambicanos, matavam e morriam, não sei porquê, depois tivemos a guerra civil, que foi uma outra pandemia e durou 16 anos, depois foram aquelas guerras de apoio ao Zimbabué, África do Sul, etc”.

“E no meio de tudo isso, se não é cólera no centro do país, é a peste no norte do país, e a malária em todo o país. Agora covid… covid é mais uma”, declarou.

A escritora acredita que estas dificuldades históricas foram um dos aspetos que fez com que “a África estivesse muito tranquila. Não houve tanto pânico e nem houve assim aquele número de mortes que se diz que houve. E há muitas razões também”.

“Para além de ser o hemisfério sul, é preciso reconhecer que nós temos poucos transportes públicos e poucos lugares para estarmos muito juntos, como os estádios de futebol, temos poucos comboios, andamos mais a pé e mais expostos ao sol. Então isso também foi uma vantagem para nós. Temos uma vida mais natural. Aquilo que parecia muito mal, acabou revelando-se como sendo benéfico”, disse.

“Claro que sofremos e estamos ainda a sofrer, mas o africano está habituado a sofrer. Que pena!”.

Em relação aos países ricos, Paulina observa que, “alguns países do ocidente e alguns países da América, sentiam-se senhores do mundo, detentores de uma grande ciência. Mas a covid mostrou as limitações do ser humano e as limitações de toda a ciência e da tecnologia”.

"Deus é uma mulher e negra"

Em entrevista à agência Lusa, em Lisboa, a primeira escritora africana a vencer o Prémio Camões disse que gostaria de voltar a trabalhar com as pessoas nas prisões, ou que já estiveram na prisão, sobretudo mulheres, porque “é algo que nunca foi falado”.

O primeiro contacto, em parceria com Dionísio Bahule, resultou no novo livre da galardoada escritora: A voz do cárcere.

“Uma das lições que eu aprendi das mulheres que estão nas prisões é que elas, primeiro, não são ouvidas; e nós, que não estamos na prisão, que estamos em liberdade, às vezes inventamos campanhas para sensibilização, para o combate à violência doméstica e outros males, mas nós não ouvimos quem sofreu de uma forma direta e quem sofreu uma prisão”, contou.

A maior parte das mulheres, que Paulina ouviu, matou os maridos ou ex-companheiros. “Elas diziam: Eu sempre fui educada para ser fraca. Eu julgava que era frágil e eu julgava que era uma boa mulher, aquela mulher que não faz mal a ninguém. Fiquei surpreendida com meu poder e com a minha força. Mas descobri quem eu era no momento fatal? Meu marido é um homem forte, mas veio morrer nas minhas mãos”.

A escritora defende que se ensine a mulher “a conhecer a sua verdadeira força, porque isso vai-lhe permitir gerir essa força e não esperar que essa força aflore no momento fatal”.

“Dizia uma delas: Se eu soubesse que tenho mais força que o meu marido, hoje não estaria na prisão, teria tomado outro rumo para lutar pela vida dos meus filhos”, prosseguiu.

Chiziane gostaria que as campanhas de prevenção da violência doméstica fossem “reformuladas” e que a própria sociedade reconheça que “educar a mulher para a fraqueza não é retirar a fraqueza, porque é um momento crítico da vida dela, em que essa força sai, aquilo que se chama um certo salto mortal”.

Sobre ser uma mulher na prisão, a escritora descobriu que as diferenças de género, também aqui, são abismais.

“O marido abandona, os pais abandonam, os irmãos vão nos primeiros dias procurar saber alguma coisa sobre elas e no fim é o abandono total. Mesmo nas visitas isso é visível. As mulheres têm menos visitas que os homens”, disse.

Pelo contrário, “quando é um homem preso, a mãe está sempre presente, a esposa vai sempre, os filhos visitam. Então, a família fica muito mais despreocupada e dá mais apoio ao homem em presídio, porque a mulher fica completamente abandonada e depois com este lamento”.

Na "hora de sair da prisão, para a maior parte das mulheres, é um sofrimento terrível, porque realmente estiveram ausentes e as coisas correram, os filhos ficaram ao deus dará. Uns com sorte de ser adotados por alguém, a quem chamaram de mãe, quando a mãe estava ausente”.

A escritora acredita que “todas as sociedades poderiam crescer um pouco mais se tivessem tempo de ouvir os relatos e as histórias das mulheres, das mulheres na prisão ou das pessoas que vivem na prisão, porque os homens também, há muito homens sofrendo”.

“Eu já era adulta e me julgava senhora de algum saber quando eu entrei na prisão. Foi quando eu percebi que sempre estive ausente do mundo, porque aquele é um mundo que merece a nossa atenção”.

Esta experiência a ouvir mulheres presas veio reforçar a sua ideia de “Deus é mulher. Não pode ser outra coisa”.

“Para mim, depois de Deus é a mãe. Olhando para esta experiência da prisão, para os diferentes tipos de família, quando a mãe está ausente, os filhos estão perdidos. Mas não é apenas nos seres humanos. Mesmo nos animais, quando a mãe está ausente no primeiro período da vida, não há sobrevivência passível”.

“Há um Deus invisível, que dizem que é o tal que criou tudo. Mas, na terra, existe uma deusa que vela pela sobrevivência de todas as espécies. E esse Deus é uma mulher”, explicou Chiziane.

“Agora, Deus é negra e por uma razão simples: se o ser humano foi feito à imagem e semelhança de deus, então Deus, desculpe, é muito parecido comigo. É negra e é mulher”, sublinhou.

*Por Sandra Moutinho (Texto) e Manuel Almeida (Fotos), da Agência Lusa

terça-feira, julho 05, 2022

EM BUSCA DA MULHER ABSOLUTA




UM ESCLARECIMENTO AS MULHERES QUE ME LEEM...


Queria dizer as mulheres que me leem e por acaso ou não discordam de mim e procuram partilhar o melhor de si, não duvido, algumas vezes tentando corrigir ou completar com o que pensam e sentem - na melhor das intenções - a minha abordagem da Mulher e do feminino, procurando incluir o homem, seja ele o par seja deus ou seja como a outra polaridade e que cada uma vive a sua maneira. E eu respeito e só respondo pela muita consideração que me merecem! Mas queria clarificar que o meu saber e o meu trabalho (escrita) é sobre a consciência de mim como mulher em si, é a dimensão do feminino que trata (não em relação ao homem: deus pai amante e filho ou irmão) e portanto não escrevo sobre a complementaridade macho-femea ou sobre o par ideal, ou outro qualquer ideal ou crença, fé ou filosofia...
Integradas em mim, as polaridades feminina e masculina, o facto é que nasci mulher e como mulher vejo-me como um todo, um ser integral e tendo chegado ao núcleo do meu ser, a essa mulher essência, a mulher que vive em si e por si, desse modo não preciso de par. Aliás a minha vida ou destino assim o ditou. Por outro lado, nesta vida, praticamente do masculino em si nada sei, a não ser, certamente o que de encarnações na terra na outra polaridade vivi e recordo. E recordo vivamente o suficiente para me concentrar na MULHER que sou e na mulher a despertar em cada mulher!
Assim, o meu foco é exclusivamente a busca da mulher absoluta. O par já o vivi de muitas maneiras dizem me as bruxas e os astrólogos... e que do amor a dois tudo sei... Ah sim, amo os homens e as mulheres como seres humanos, sejam eles homo-afectivos ou o que quer que sejam desde que não traiam a sua essência. Compreendam. Mas não discuto Deus nem o Homem ou a sua História. Apenas o que vivo sendo eu Mulher em toda a sua dimensão e grandeza. É nisso que me fixo.
rosa leonor pedro

domingo, julho 03, 2022

A Importância da Mulher / A Consciência de Si







Palestra
Por Rosa Leonor Pedro


Casa do Fauno, 25/06/22

Parte 1



Viemos muito mais cedo do que era suposto, para visitar a Casa do Fauno, mas foi mesmo em cima da hora. E uma das amigas que me trouxe perguntou se eu estava nervosa. Não estou nervosa, estou um bocadinho tensa. E a tensão vem do coração. Vem de que este tema que eu abordo, e a maneira como eu o abordo, é de facto completamente, digamos, espontâneo e ad hoc. Tenho aqui o texto escrito, que o Alexandre publicou, e aqui algumas notas vagas, mas normalmente falo conforme as pessoas que estão, conforme as pessoas querem, desejam, conforme as pessoas estão abertas, conforme o eco que eu sentir. Não sou propriamente eu que falo. Não estou a canalizar nada. Mas, digamos assim, não é a minha ideia, não é o meu discurso, nem é a minha narrativa que me importa, importa-me aquilo que aconteceu com o livro, que é falar ao coração das mulheres e de alguns homens sensíveis, que estão abertos, não só ao seu feminino, mas sobretudo à magia da mulher.

E eu penso que é extremamente urgente ressuscitarmos e falarmos e defendermos o valor da mulher porque estamos a sofrer muitas ofensivas, contraofensivas daquilo que se ganhou, daquilo que se evoluiu, embora não tenha sido totalmente verdade, a libertação, a emancipação da mulher, pelo menos em certa medida eram, mas agora estamos a sofrer uma ofensiva terrível, perniciosa, insidiosa e muito sinistra, que é reduzir a mulher àquilo que eles agora andam aí a publicitar; já não somos mulheres, somos sis. Sis género, que é: uma mulher que, se por acaso, se identifica como ser mulher e com corpo da mulher…porque, se eu nascer mulher e me der na cabeça que não estou muito bem na minha pele e gostava de ser homem, então já não sou mulher. E nós estamos neste resvalar para uma coisa tão horrenda, tão estúpida, sem fundamento algum, portanto eu tenho, de facto, uma consciência de que chegámos aqui porque a verdadeira mulher, a mulher real, a mulher integral, como eu gosto de lhe chamar, não existe há muito tempo. E porque ela não existe há mais de duas, três, quatro décadas, quer dizer, o que existia da mulher original, em termos substanciais, seria, como está aqui destacado, companheira, amante ou deusa iniciadora, que era a mulher mítica, mas que era adorada pelos Cavaleiros, pelos Templários, pelos trovadores que cantavam a musa, pelos poetas, e que também o homem respeitava enquanto mulher, sua mulher, mãe dos filhos. Tudo isso, digamos, converteu-se numa outra coisa, que, através da dita luta pela emancipação e igualdade da mulher com o homem, sem uma consciência ontológica, sem uma profunda consciência do que é o feminino, essência do feminino, transformou realmente a mulher num homem de saias. E portanto é fácil apanhar essa mulher e agora impingir-lhe uma série de conceitos e de ideias que as leva finalmente a alienar dessa sua essência e essa alienação da sua essência – que permite de alguma maneira, e eu vi, porque publiquei uma coisa que me escandalizou, que foi ver justamente um trans, que teria sido mulher, claro, porque teria um útero e tinha tido uma criança e era uma imagem monstruosa de um ser… lamento, mas mais parecia um bicho do que um ser, e não estou a falar para estar a deformar ou a dizer mal do ser, que tem a sua problemática, estou a pensar no sofrimento do próprio ser, que deixa de ser mulher, não é homem, não é nada, e depois vai ter uma criança que vai amamentar, meio homem, meio mulher, uma mãe que amamenta de barbas. Quer dizer, isto fere completamente, não só os preconceitos que ainda possamos ter, eu não sou uma pessoa conservadora ou religiosa, de maneira nenhuma, mas, e sou uma pessoa muito aberta, tenho um percurso de vivências dentro do mais abrangente que possa ser na compreensão do ser humano e das suas vicissitudes humanas, inclusive, isto não tem nada a ver com preferências sexuais, o ser humano é livre de ser hétero, homo ou o que quiser, só não deve ser livre é para mutilar-se e desnaturar a sua própria natureza e a da mulher. E portanto eu estou muito apreensiva e muito angustiada com o que se está a passar. E eu pergunto-me a mim mesma, mas porquê? Já tenho 75 anos, a caminho dos 76, vou cá estar pouco tempo, não vou ver nada de especial, mas porque é que eu teimo nisto? E eu teimo nisto porque a alma, como disse o Alexandre, a alma, é aquilo que se está a perder. É a mulher por excelência, é a anima. É a mulher que anima. É a mulher que é mãe. Eu espero que ninguém estivesse à espera que eu viesse falar de Alquimia, de alquimia o que vos posso dizer é esta frase fantástica de uma escritora, ela sim alquimista e também poeta, que diz: “A visão da mulher tem um papel importante na obra alquímica. A mulher que se vê companheira amante iniciadora é a projeção de um oposto a integrar nessa união superior a que se aspira. É a força transformadora, ela mesma transformada, em mineral, animal ou ainda um dos elementos, ou um astro, ou logo em divindade.” E, portanto, aquilo que é ênfase do meu discurso é de que é urgente e necessário que, tanto a mulher, como o homem defendam a sua identidade. Um homem é um homem, uma mulher é uma mulher, um homem nasce homem, uma mulher nasce mulher. Já basta os equívocos naturais da natureza, quando acontece haver algo dissonante, seja a nível hormonal, seja qualquer que seja, sabemos que há seres que nascem com os dois sexos ou sexo indefinido e tudo isso. A medicina opta normalmente pela vontade do pai, “Ai, eu quero menino”. Afinal, devia ser menina. Há tudo isso, como há o mito da Hermafrodita, o mito da Androgenia, realmente é uma coisa muito bonita porque seria a solução do conflito do casamento dos opostos, porque nós estamos a lidar com elementos opostos complementares, mas a maneira como nós vivemos em sociedade é sempre em oposição, não sabemos integrar os opostos.

Eu, ontem, vi um vídeo muito interessante de uma indiana que faz uma medicina integrativa e eu fui ver e curiosamente o que é que era, ela é de origem indiana, estuda os vedas e é Ayurvédaica e depois nasce em França, o país de Descarte, “Eu penso, logo existo” e juntou as duas coisas e então a medicina dela é baseada na alma e na integração de todos os opostos. Que é no fundo a alquimia, que é sempre o casamento dos opostos, rei e rainha.

Portanto, nada mais tenho a acrescentar em termos de alquimia, a não ser a força da energia, a vibração, o magnetismo, as forças cósmicas e telúricas que, na mulher, têm um exponente máximo e que está completamente calado e mudo e ocultado e foi esquecido. Para mim, nem que seja apenas uma pessoa aqui que acorde um pouco para a sua interioridade e, claro, seria melhor ler o livro, tem lá muita, muita informação e para mim foi uma dádiva muito grande ter podido realizar e concretizar este livro desta maneira e com a colaboração também da Zéfiro e do Alexandre, que é um homem muito especial, e assim espero que os homens que estejam aqui também sejam especiais, porque estão, porque não é muito comum, embora a alquimia seja mais comum ao homem do que à mulher interessar-se.

Portanto, o que é que eu vos queria dizer? É pôr a ênfase todo no feminino. As mulheres, e os homens no masculino. Porque a ideia de que um homem viril ou um homem másculo não tem feminilidade…Tem. Quanto mais feminino, mais viril, ao contrário destas nuances estúpidas que vêm justamente de não se conhecer o verdadeiro masculino, nem o verdadeiro feminino. Portanto a mulher foi masculinizada e agora estão a querer feminizar o homem. Por todas as vias e de todas as maneiras. A começar logo na criancinha. Portanto isto é assustador. E as pessoas dizem “Ah, mas não, que disparate!”. Mas a ofensiva é tão lacta, tão vasta, tão permanente e estão a atacar-nos de todo o lado, nas televisões, nos cartazes da rua, ao ponto de as escritoras, por exemplo, a escritora da saga “Harry Potter” está sempre a ser perseguida e condenada e todo o lobby gay a impedi-la de se manifestar e de se expressar, porque ela disse que é mulher. Simplesmente afirmou que era uma mulher.



Para além da questão do retrocesso nos quatro estados nos Estados Unidos em que já vai ser penalizado o aborto (não que eu seja a favor nem contra, porque é uma questão de consciência, é uma decisão que a mulher livre deve tomar em consciência) o problema não estava em abortar, estava em ter consciência. E há aqui uma coisa terrível, eu digo coisas terríveis, a ênfase que se pôs na sexualidade é tão excessiva foi uma manobra, e foi uma manobra de exploração da mulher, e a mulher caiu completamente nessa ratoeira, ela pensa-se um ser sexual. E hoje li uma coisa interessante: qual foi a forma ardilosa que o sistema teve, para converter a mulher, quando a mulher se começou a emancipar, com a sua liberdade, o que é que eles fizeram? Começaram a elogiar as mulheres libertinas, e então criou na mulher, na própria mulher, o sentimento que a mulher estava naquilo, aquilo que para as mães delas era abuso e violência, para elas, agora, era de livre vontade, já é liberdade, mas estão, na mesma, da mesma maneira, a corresponder apenas ao desejo do homem e à vontade social política e económica.

Toda a ênfase que nos possamos pôr no nosso feminino, na busca do nosso feminino, na compreensão da mulher, e tanto homens como mulheres é extremamente urgente. Se cada uma de nos hoje sair daqui com esta consciência que é nossa, que é vossa, que não sou eu que transmito porque ela está em nós, se eu puder acordar um pouco, ou estimular um pouco, o que for o caso.

Eu estava nesta angústia existencial nestes dias, não era por causa da palestra, mas foi engraçado que acordei a meio da noite e vi o telemóvel. E então tinha lá uma expressão de uma amiga brasileira, que respondeu a uma pergunta inconsciente e que teria a ver com esta palestra. E ela dizia: “O feminino não é um género. É uma dimensão.” É uma dimensão de consciência. E essa dimensão – se agora se fala tanto na 5ª dimensão, andamos todos a querer ascender, sem realizar sequer a terceira… fica tudo igual… os trabalhos dão trabalho…portanto, é essa dimensão do feminino que nós temos que alcançar. E ficamos todos a ganhar, não só as mulheres, como os homens também, porque os homens há muito tempo que estão desprovidos da companhia da verdadeira mulher. Em parte culpa deles, mas em parte também da mesma vitimização que as mulheres têm, da educação que se teve. Portanto, no meu livro eu falo de uma personagem absolutamente polémica, que é Lilith, e que, penso eu, por inspiração, nos ocorreu, me ocorreu, com a ajuda do Alexandre, na escolha do título “Lilith, a mulher primordial”. E há um momento em que eu pergunto: “E agora, como é que vais sair desta? O que é que te garante que ela é a mulher primordial? E como é que começamos a nossa busca?” Nós temos um ser, nós temos uma alma que constantemente nos está a apelar para a transcendência. O livro já foi publicado há dois anos. Felizmente, tem tido imenso sucesso. Tenho tido feedbacks fantásticos de mulheres comuns, não da área, não da área do feminino sagrado, são mulheres comuns, que vivenciaram na pele de alguma maneira esta divisão que a mulher sofre, está aqui uma mulher egípcia, e estávamos a falar um pouco nas mulheres no oriente e no ocidente… as diferenças serão assim tão abismais? Não serão, por assim dizer.

A questão fundamental do problema da mulher, todo o drama da mulher dentro do catolicismo, dentro das religiões patriarcais, que não é só o catolicismo, as religiões judaico-cristãs, muçulmana, árabe, etc., a hindu de alguma maneira, mas a hindu não tanto, porque a hindu não sofreu uma influência católica, mantém a mitologia hindu, mantém originalmente a história do mundo sem alteração, enquanto que as nossas mitologias, sobretudo a grega e a alemã foram totalmente adulteradas e escondidas e ocultadas pelos católicos, pela igreja, que destruiu centenas e centenas de bibliotecas e livros e livros apócrifos, que destruiu todo o património da humanidade em termos de conhecimento das nossas origens, de onde é que a gente veio, como é que tudo isto começou? Que é uma Mitologia. E de Adão e Eva. E para trás de Adão e Eva. Muito para trás. 40 Mil anos. Então é aqui que começa a mulher primordial. E realmente chegou-me às mãos recentemente, nem há um ano, um livro e um palestrante, um brasileiro, um homem sério, embora eu tenho sempre muita dificuldade com aqueles discursos de ascensão, mas ele veicula uma informação muito interessante e há um livro dele que se chama justamente “O Sorriso de Pandora”. E eis senão quando, ao ler o livro, e ao ouvir algumas palestras deste senhor, vim a descobrir que eu não sabia nada sobre o Mito de Pandora.

A ideia que nós temos de Pandora já é desvirtuada, já é negativa, já é intencionalmente destrutiva da mulher, que é: Pandora traz uma caixa de todos os males para o mundo. E é a mulher. Portanto a mulher é uma peste, a mulher é um demónio, Lilith é um demónio. E Pandora. E quem é Pandora? Então, tenho andado a rever o Mito. Pandora era uma das Deusas, supostamente filha de Zeus, nem sei se irmã, porque eles são bio dermes, não são seres biológicos e não têm polaridade sexual e portanto não há homens e mulheres, também não copulam, mas não sei como é que é; deve ser por ovos, plasma, ou sei lá, mas vivem aqui ao lado, ao nosso lado, num universo paralelo, e onde fazem as suas maldades, continuam a fazer, porque não morrem, nós é que morremos, porque nascemos de uma criação imperfeita, e estamos aqui a pagar um preço qualquer por um erro desse suposto criador, (eu disse que dizia coisas terríveis).

Então, quem é Pandora? Pandora é uma filha dele, supostamente, que gostava muito de vir à Terra, e eles têm a capacidade de se metamorfosear e onde é que ela vinha? Isto é pura loucura, não ouçam, ela adorava ir aos laboratórios químicos de Prometeu e Pimeteu, que estavam a criar umas criaturas muito interessantes… não estão a adivinhar quem seriam essas criaturas…? Porque eles eram deuses, ou demiurgos, gigantes, não morrem e estiveram na Terra durante milhares de anos, mas foi tudo isto que a igreja apagou, tudo o que não obedece cegamente e não faz o que a gente quer, sobretudo as mulheres.

Então, parece que a Pandora achava muita piada àqueles seres que eles estavam, em laboratório, a tentar criar, à revelia de Zeus, que só queria seres impregnados do seu ADN, ou do seu genoma. Então, apercebeu-se, ele tinha um contencioso muito grande com o Prometeu e o Pimeteu, mas aquilo leva muitos anos lá do outro lado, leva milhares de anos para qualquer coisa, porque eles não têm tempo nem espaço, nós é que andamos aqui à pressa, desculpem eu estar a rir, mas eu estou a rir-me de mim, da minha vida e da nossa concepção da vida e da história do mundo. E então ela gostava muito de passear nesse jardim, que poderia ser o tal laboratório, como o era Éden, também era um laboratório muito interessante, e por aí adiante, e eles gostavam muito de brincar com estes animais que viviam na Terra e fazer as suas brincadeiras, as suas experiências, ao ponto de Zeus, que acaba por ser Jeová, ou Brama, aborreceu-se e castigou a Pandora de vir à Terra à revelia dele, e ainda por cima ir ter com os inimigos dele. Então, fez com que ela fosse castigada e todos os deuses do Olimpo tinham de lhe dar um dom mau, negativo, de forma quando ela viesse à Terra destruir sobretudo …– a Caixa de Pandora afinal seriam tubos de ensaio com vírus para destruir aquela espécie que os outros estavam a criar.

Ela vem com todos esses malditos dons, mas também tinha uma característica, ela tinha de ser a mulher mais bela, mais sedutora, mais perversa, mais…absolutamente tudo que se pudesse imaginar de mais terrível pelo próprio Zeus sobre as mulheres ao longo da história, sobre nós, em geral.

E então, ela veio à Terra, castigada, por Zeus, e acabou por se apaixonar efectivamente por aquela espécie e tomou a poção da árvore do Bem e do Mal, que ele diz ser plantas xamânicas, que a converteu, de facto, na primeira mulher com essas características todas de beleza, mas que lutou toda a sua vida, que são milhares de anos, pelo menos vinte mil anos, em que o poder feminino, através desta mulher, dominou na Terra e criou o mito alusivo às Amazonas. Eu tive primeiro esta intuição, quando li isto e pensei, se calhar é o que corresponde às Amazonas e mais tarde este indivíduo diz que corresponde realmente ao nosso mito, contra as quais foram lutar os heróis greco-romanos, para dominar. A questão é então que Deus, Javé, Jeová, Brama, muito chateado com o poder da mulher durante 20 mil anos (lamento muito dizer, mas é um homem que diz isso) a mulher atingiu o grau de homo sapiens, neste caso devia ser humano sapiens, e o homem ficou num estadio um bocadinho sem pensar. E isso foi muito grave, por isso as comunidades eram de mulheres. Mas esses 20 mil anos pairam no nosso inconsciente, pairam no nosso ADN, nosso e dos homens, evidentemente, é toda uma história a levantar, a tentar perceber, porque entre os mitos modernos, os mitos católicos e os mitos daqui e acolá, o que é mais mito, menos mito? Há alguma coisa verdadeira? Não há. Neste momento, então, acabou tudo. E querem acabar connosco também Que é a vingança total.

Conclusão: lá Zeus conseguiu umas tribos que iam restando por aí, que existiam em certos sítios, ele foi buscar uma espécie qualquer, dentro do genoma que ele queria implantar e lá formou o Adão e Eva. Portanto, Lilith nem sequer é a primeira mulher de Adão. Ou melhor, vem muito antes de Adão e escolhe um primeiro par humano para procriar.

A partir desse momento, a procriação deixou de ser em ovos, em pormenor eu não sei, e a partir daí começou a haver esse equilíbrio entre a Mulher e o Homem com a finalidade de fazer evoluir o homem também, em relação àquilo que a mulher tinha descoberto, despertado, em termos de consciência individual humana, que estragou o propósito todo do dito Javé - Zeus é que nós humanos agora temos condições especiais para superá-los em Amor e em Bondade, que é aquilo que eles não têm de todo.

Se nós lermos a Bíblia, espero que não haja aqui ninguém cristão, lamento, mas não posso deixar de dizer isso, eu constatei isso ao longo de 30 anos, ou 40 ou 50, tudo o que eles dizem é contra a mulher, é mau demais, é feio demais, é destrutivo demais. E eu percebi isto. Deus não ama a mulher? O que é isto? “Porei a inimizade entre ti e a serpente, tu pisas-lhe a cabeça e ela morde-te o calcanhar. Dar-te-ei dores de morte para parir. Obedece ao homem”. Há uma passagem na Bíblia que é: Chega um homem, vizinho ou amigo do dono da casa, que está a ser perseguido por bandidos, ou o que for. E ele não faz mais nada: entra, entra; e manda as filhas entreter os homens. Claro que as filhas são violadas e mortas e acabou-se a história. Está tudo bem. E as pessoas leem a Bíblia com isto. E não se indignam.

Portanto, depois de toda esta ficção científica moderna, depois disto tudo, poderia concretamente falar-vos daquilo que é para mim o problema mais grave que a mulher sofre nesta atualidade sem qualquer tipo de informações, a nível nenhum, que é aquilo que eu chamo a cisão da mulher. Uma cisão que, à partida, divide a mulher em dois estereótipos, em dois arquétipos, digamos, e andamos aqui do caco para o caquinho, há anos e anos e décadas que andamos de um lado para o outro, ou seja, ou somos as santas do lar, os somos as prostitutas da rua, do bordel.

Isto vai evoluindo e depois, por fases, para nós há uma fase ascendente da New Age, que trouxe toda uma série de conceitos absurdos, estapafúrdios, que foi uma forma, para mim, armadilhada de apanhar a mulher novamente no culto de Deus, do mestre e sem passar pela integração da consciência de si e das duas mulheres divididas.

Esta cisão agora como é que ela se reverte? Vocês podem olhar e ver bem o que é que se passa. As nossas mães eram senhoras bem-comportadas, sofriam à brava e calavam, e calavam tudo, ou praguejavam. Nós começámos a falar. A minha geração rebelou-se. Eu andei a fugir à PIDE, para as mulheres votarem. Mas eram poucas mulheres. Pouquíssimas. E dizia poemas, e depois tive mesmo de fugir para Paris, para não me prenderem e para a minha mãe não ficar perdida, coitada. Mas fiz esse percurso todo e evoluí num certo sentido, ou o que fosse, e agora vejo que as mulheres mais novas, de 40 ou 50 anos, que eu pensava que já seriam as filhas da minha mãe, eu aos 50 anos ….digamos assim, as mulheres de 50 anos já deviam não ter passado por tudo o que eu passei, mas passaram, e as filhas, agora, estão do outro lado, ou seja, já não são as santas do lar, nem as esposas fiéis, nem as meninas bem-comportadas, e, se vocês olharem, eu digo isto, a maneira de vestir, não estou a reprovar, não é conceito, estou só a dar um exemplo de como a cultura, a tradição, como se invertem e não se transforma, nem muda nada.

Então a mulher achou que podia despir-se, é a marcha das vadias, ou as Femmen, vão para a rua nuas, e para os sítios e para as coisas, vão fazer mais do mesmo que têm feito delas, por vontade própria. Contra não sei o quê. Portanto, a rapariga moderna de hoje em dia está convencidíssima que é livre, e vai buscar o arquétipo oposto, e pela maneira de vestir nós verificarmos o qual é o retrato, digamos assim. Numa fase intermédia de idades, a minha mãe dizia: “Mas tu vais assim para a rua, que horror, e tu vais com essa roupa vestida!” Não, agora as adolescentes vão para a rua com calcões curtíssimos e as mães estão ao lado e os pais e anda toda a gente a passear e está tudo bem, como se não fosse nada.

Dizer isto parece o quê? Retrógrado? Conservador? Mas o instinto sexual e humano e do homem não muda. Ela olha e … E a mulher supostamente evoluiu, pensou que se tinha emancipado, mas o homem não se preocupou com isso, ele não precisou de se emancipar, ele manteve-se na mesma, e a visão que ele tem da mulher é a mesma que o pai tinha!

Agora, onde é que o homem sofre? Eu gosto muito de fazer este parêntese. Onde é que o homem sente esta cisão da mulher, a mulher sofre esta cisão diretamente na sua vida e no seu coração, em termos de: se for muito sensual, muito bonita, muto provocante, ai que horror, eu sou uma…como e que eu faço… é mais forte do que eu… e depois, se é casada… toda esta luta, e vice-versa …quantas prostitutas não desejariam ser donas-de-casa, madames. E passam a madames do bordel. Eu estou-me aa rir porque isto é quase caricato, a nossa vida, e nós levamos tudo isto a sério e continuamos a romantizar coisas tão absurdas.

Mas voltando a esta questão da cisão, todas as mulheres sofrem horrores, da sua adolescência…

Nós não medimos o sofrimento que nos é causado deste conflito interior, ao longo…até desde meninas, olhem para aquelas meninas lindas, que são depois mutiladas e mortas como esta criança foi, por miséria humana, vemos meninas lindíssimas, super sensuais, crianças, e, se olharem para essas meninas, no âmbito familiar, vocês vão ver o incómodo, a perturbação. Eu tenho uma amiga que se zangou comigo por causa do meu discurso, porque já tem 40 anos e ainda está fixa com o que ela sofreu, de menina… era ousada, atrevida, lindíssima, com uns cabelos fantásticos… e sofreu repressões do pai, do tio, … toda a gente a tratá-la mal, “Não vás assim…”

Ir contra a natureza selvagem e indómita da mulher, ir contra aquilo que a mulher tem no mais íntimo de si, que é o instintivo e o selvagem, é uma parte da natureza. Claro que é preciso ser educada, claro que é preciso ser protegida, mas não castrada. E tenho a certeza que não há aqui ninguém, nenhuma de nós, que não tenha sido ferida, tantas vezes, e algumas de morte por ser aquilo que os pais não querem, por ser aquilo que a sociedade não quer e de qualquer maneira não arranjou lugar nenhum, só se se vender ou submeter ao sistema, só se se sujeitar à ordem vigente em tudo, tudo, tudo, ou então disfarçar muito bem.

Algumas mulheres perguntam-me: “Então e depois de eu ter uma certa consciência de mim como mulher e conseguir conviver com essa mulher livre dentro de mim, que tem vontade de se expressar, como é que eu faço no emprego?”

Não atires à cara de ninguém, faz como as serpentes. Sê astuta. Não temos que…

Agora tenho outra amiga foi maltratada pela mãe, uma mulher cheia de fogo e de loucura, há muitos casos destes, até pela educação. Foi maltratada pelo marido, que terá sido preso e enfim…e vai fazer e vai-se vingar… Vai-se meter mais no mesmo. Ninguém ajuda nestes casos. A mulher está sozinha. E então, o que é que acontece? Fruto desta divisão, que foi uma divisão inteligentíssima, letal, dividiu-se a humanidade mulher em duas espécies de mulher que lutam uma contra a outra. Não há uma mulher que seja empática com a outra, estão sempre (entenda-se, a remorder/ criticar).

Como é que os homens sofrem, indiretamente, esta cisão das mulheres, entre casar com a menina séria, mas feia e chata, que o pai quer, ou casar com aquela gaja giríssima que ele viu ali na esquina. Também é um conflito, também é um problema, ele pode estar apaixonado por uma mulher proibitiva e vai ter de casar, como na Índia, como em todo o lado, com aquilo que foi uma encomenda, e vai ter que casar com a mulher séria, boa para o lar, que cuide dos filhos, que cuide da casa. Eu espero que os senhores não estejam muito incomodados com o meu discurso, porque o facto como os homens acabam por sofrer isto também é dramática, porque eles também sofrem ao longo da vida, e sofrem ainda muito mais, e é toda uma psicologia, uma psicose, toda uma neurose existencial coletiva, que é: os filhos da mãe e da puta. Não há pior ofensa, nem mágoa, para um homem do que ser chamado… porquê?

Essa cisão da mulher, em duas, que divide a mulher em duas espécies de mulheres, afeta o homem, indiretamente, porque ele ama a mãe, pelo menos a mãe, ele ama, à partida. E depois? Se a mãe não é realmente uma senhora? E é horrível. Eu conheço muita gente traumatizada, muita gente ferida, e aqui começam situações e cenas que a gente lê aqui e outros exemplos.

Basicamente, eu estou só a aflorar alguns aspetos, do meu discurso habitual, mas, sinceramente, eu não sou nada boa vendedora da cobra… da serpente… mas, sinceramente, aconselho o meu livro, porque este livro me ultrapassa e de facto tenho recebido sobretudo feedback de mulheres normais, digamos assim. Porque as inspiradas e mesmo as mulheres que se dizem do Sagrado e coisas assim… embora eu esteja de coração e alma com elas, porque na verdade até fui uma das pioneiras do começo, há vinte e tal anos, comecei com esta coisa do Sagrado Feminino, em Portugal não havia quase ninguém. Mas depois há toda uma consciência que se alrga...

Isto é, a Deusa não nos salva. Fia-te na virgem e não corras. Não é ninguém que nos salva. Somos cada um, homens e mulheres, que se salvam a si próprios. Portanto, a questão desta palestra ser a alma e a alquimia, é realmente aquilo que se está a perder. E queria saber o que se perdeu com o afastamento da mulher das profundezas, com essa mulher magnífica, magnânima, que era a mulher dos princípios, e eu pensava que a não conseguia localizar, e finalmente esta história da Pandora, da Caixa da Pandora, que eu vou investigar mais, a não ser que ela tenha mais alguma coisa para me dizer, para o próximo livro, é realmente a mulher primordial. E digo-vos, eu não sabia. Foi um risco poético, um título poético, a mulher primordial, que responde a todas estas dúvidas que eu vos suscitei. Não sou investigadora nem estudiosa, eu sou uma visionária da alma humana, devo ser uma alma muito velha e que teve este carma de vir falar para as mulheres acerca do feminino, porque as mulheres não falam delas.

Nesta Conferência da Deusa de 2022, percebi algo que me deixou muito triste… há 2 anos eram cerca de 200 mulheres, este ano foram cerca 60? E porquê? Porque cada uma delas que se julgou já com ”diploma” fez a sua própria “capelinha” (Espaços) onde são elas as mestras e, portanto, as mulheres nunca se juntam e continuam a dividir por coisas de nada e isso é lamentável.

(…)

Voltando, para terminar, à questão da anima, a mulher é anima, é a nossa alma, é a alma que anima o homem, não quer dizer que o homem não tenha alma, tem, Jung disse que era o animus, mas depois inverteu aqui os factores, baseado certamente na questão das polaridades a integrar e disse que o homem era a anima e que a mulher representava o animus, porque ele não sabia desta cisão, não sabia da mulher, tal como Freud não sabia da mulher, nem nada, ele próprio diz: “Ao fim de 30 anos, eu não sei o que é que a mulher quer”.

A história tem muito para nos ensinar.

A EXCELENTE TRANSCRIÇÃO DE AUDIO PARA ESCRITA FOI FEITA POR 
FATIMA REMÉDIOS a quem agrdeço a disponibilidade e a fidelidade ao discurso...