O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, outubro 31, 2018

O HOLOCAUSTO DAS MULHERES







BRUXAS - O EXTERMÍNIO DAS MULHERES...

“No séc. XVII, desencadeou-se, como se sabe, uma campanha de extermínio contra estas mulheres, que passaram à história convertidas em bruxas. A natureza sexual dos jogos e círculos femininos foi também estudada a partir das letras das suas canções que chegaram até nós (1). O hábito quotidiano das mulheres se juntarem “para bailar”, e para se banharem, é ancestral e universal, e dá-nos um vislumbre do espaço coletivo de mulheres impregnado de cumplicidade e baseado na intimidade natural entre mulheres, que hoje apenas prevalece em recônditos lugares do mundo. Em África, existem aldeias onde as mulheres ainda se reúnem à noite para dançar (bailes claramente sexuais, como se pode ver numa reportagem do Sudão (2). A imagem das mulheres do quadro “o Jardim das Hespérides”, de FredericK Leighton (séc. XIX) é outro vestígio dessa relação de cumplicidade e de intimidade entre mulheres.
Os hábitos sexuais das mulheres remetem-nos para a sexualidade não falocêntrica das mulheres; para a diversidade da sexualidade feminina, e a sua continuidade entre cada ciclo, entre uma etapa e outra. Uma sexualidade diversa e que se diversifica ao longo da vida, cujo cultivo e cultura perdemos. (…) Vivemos num ambiente em que o sistema libidinal humano, desenhado filogeneticamente para travar relações humanas, está congelado. Hoje as mães vivem longe das suas filhas e as avós vão de visita a casa d@s net@s; a pessoa de família que nos dá a mão quando adoecemos vive no outro extremo da cidade, e mal conhecemos o vizinho ou a vizinha" (…) - Cacilda Rodrigañez Bustos


O HOLOCAUSTA DAS MULHERES

- Porque não se fala dele?

"As mulheres temem ser chamadas de bruxas por razões históricas de peso. A Inquisição foi criada em 1252 pelo papa Inocêncio IV e a tortura prosseguiu durante cinco séculos e meio até ser abolida pelo papa Pio VII em 1816. Entre 1560 e 1760 a perseguição de mulheres por bruxaria atingiu o seu auge. É chamado a este tempo o “holocausto das mulheres”. Estima-se entre cem mil e oito milhões o n.º de mulheres condenadas á morte na fogueira.


As mulheres mais temidas ou respeitadas foram as mais perseguidas. Entre as primeiras a serem queimadas, incluíam-se as parteiras e as curandeiras, as velhas que facilitavam o trabalho de parto e ajudavam as mulheres a darem á luz, que conheciam as ervas medicinais e cujos poderes provinham da observação e da experiencia. As mulheres com autoridade e experiencia ou conhecimentos, as mulheres excêntricas ou as mulheres com posses, normalmente viúvas também eram denunciadas, sujeitas a tortura e condenadas. Qualquer mulher idosa corria riscos, para sobreviverem, era preciso que não dessem nas vistas nem se distinguissem. Só as mulheres idosas invisíveis permaneciam vivas.
(...)
in As Deusas em cada Mulher, a Deusa Interior, de Jean Shinoda Bolen, Planeta Editora.

"Porquê atacar as mulheres?



"Difamem-me para que os meus perfumes me inflamem...
Agudizem o meu apetite para que eu me transvase
É o tempo do terno fruto
Rebelde como uma granada
Queimem-me
E enxuguem com o óleo dos meus poemas os pés
das mulheres virtuosas."


in Le Retour de Lilith
Jumana Haddad


A mulher e o poder…

"Porquê atacar as mulheres? Porque foram elas, durante séculos, acusadas de bruxaria, de pactuarem com o diabo entregando-se à cópula com a besta que lhes daria poderes sobre-humanos? Nessa desconfiança do feminino afastou-se na verdade a mulher do espaço político e da possibilidade de se expressar, de exercer poder, de destabilizar a hierarquia masculina vigente." *

"O feminino e o poder. Ditas feiticeiras, partilhando um saber de poções e mesinhas na Antiguidade, são torturadas e queimadas na fogueira como bruxas a partir do séc. XV. Armelle Le Bras-Chopard, especialista em ciência política, com uma importante obra editada sobre o tema do poder e da sexualidade, distinguida aliás em 2000 com o Prémio Médicis Ensaio, edita um apaixonante trabalho sobre a caça às bruxas que durará até ao século XVII. Afinal, 80 % dos condenados à fogueira por conluios com o diabo e feitiçaria eram mulheres... Porquê as mulheres? Uma pergunta a que a investigadora tenta responder estabelecendo surpreendentes paralelos com a forma como ainda hoje, em pleno séc. XXI, as mulheres são afastados do poder e da arena política. " (...)

"Atenta à íntima ligação entre a sexualidade e o poder, e como se pretendia afastar a mulher da esfera política e do poder de decisão, retirar-lhe autonomia e fazê-la sujeitar-se às leis escritas pelo homem, a autora proporciona-nos um documento único sobre a história da mulher e da sua ligação ao poder. Indo aliás mais longe, considera que esse afastamento da mulher do espaço político de decisão não se teria milagrosamente sublimado a partir dos finais do século XVII. Detecta e aponta - de forma bem objectiva e rigorosa - como ainda hoje a mulher é definida face ao poder. Por isso «As Putas do Diabo» se revela um documento de apaixonante e actual leitura." 


"O diabo é uma criação do homem.

Datável a primeira referência ao diabo (no século XII), Robert Muchembled analisa as diferentes representações do diabo ao longo dos séculos. Da necessidade da Igreja em criar um ideia de inferno à obsessão pelo combate às bruxas e feiticeiras, passando pela ligação ao corpo e pelo emergir do conceito de demónio interior no século XIX, «Uma História do Diabo» afirma-se, essencialmente, como uma história das ideias." (outro livro a assinalar…)

IN "AS PUTAS DO DIABO" 
de Armelle Le Bras-Chopard


segunda-feira, outubro 29, 2018

SER MULHER É MAIS DO QUE UM SEXO...



A CULTURA GAY É MACHISTA E FALOCRÁTICA

Um homem por se "sentir mulher" não deixa de ser homem e de ter os privilégios dos homens...ele não pode saber o que é o efeito do sexismo sobre a mulher… assim como a mulher ao se sentir homem não saberá de origem o que significa a supremacia do homem e a sua "liberdade" sexual...

Nós mulheres não nos podemos deixar enganar com esta suposta feminização do homem, como não nos podemos fiar nos que se dizem feministas e defendem a "mulher" que eles acham que é a mulher... porque toda esta “cultura” nada tem de feminino e quer-nos enganar…São aliás mais perigosos os homens que se dizem "feministas" do que os machistas - esses já sabemos com o que contar...
Essa cultura é essencialmente falocrática e de domínio masculino e mesmo que marginalizada dentro da sociedade ela pertence e é consequência do Sistema Patriarcal. Mas o mais grave é que, de uma forma refinada e subtil, e aparentemente inócua, ela tenta suprimir o papel da mulher em todos os sectores da vida como na vida do homem e a sua existência ou importância na sociedade…
Tal como os trabalhos que pertenciam as mulheres antigamente, como alternativa que lhes restava, sendo domésticas para ganhar algum dinheiro, que eram ser costureira, cabeleireira ou prostituta…todos eles foram usurpados, desde há décadas, em grande estilo pelos travestis, pelos estilistas da moda, pelos grandes cabeleireiros… e agora talvez seja a vez de imitarem também as "mães"! Eles querem ser mães… negando a maternidade e cumprindo a suas funções maternais.

Note-se eu não estou “contra” os homossexuais, nem contra os trans. mas não sou  a favor de uma sub-cultura que deturpa a realidade, como é o caso da ideologia de género, que rejeita a mulher em si e lhe pretende tirar o valor e a dignidade, que promove estereótipos degradantes e ostensivamente cria uma caricatura da mulher numa mascarada completa que nada tem a ver com a essência do feminino nem das questões do Feminino …sejam elas de género, de sexo ou de amor!

Apesar da minha simpatia pelos homossexuais, não tenho qualquer simpatia pela “causa gay” e mais, lamento e relevo o absurdo que é defender politicamente (correcto) o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Primeiro porque o casamento é uma instituição em vias de extinção, religiosa e caduca, que servia para garantir a filiação paterna, atribuído ao homem um papel de proprietário, com papel subalterno e inferior da mulher; segundo, porque é completamente hipócrita defender o casamento sabendo que ninguém hoje em dia aguenta mais de um ou dois anos com a mesma pessoa…principalmente os gays que nem aguentam seis meses, tirando as presumíveis excepções…

Para mim pois, *“Torna-se cada vez mais evidente diante dos desastres que ameaçam a terra, provenientes do domínio do masculino, que a salvação da humanidade se encontra na restauração dos valores femininos. A mulher tornando-se plenamente mulher, obrigará o homem a assumir a sua verdadeira virilidade." (…)


Sem dúvida que não é preciso, em espírito e verdade, ir mais longe buscar “a libertação da mulher”, e do homem, digo eu, porque o equilíbrio dos sexos e dos seres, é (ou devia ser) independente das nossas apetências ou preferências sexuais.
De facto, ser homossexual não significa ter comportamentos estereotipados nem fazer a defesa de grupos fechados, minoritários, mas sim em ser UM SER HUMANO em toda a extensão da palavra e com isso merecer o respeito. É isso que temos de resgatar e para tal, não tenho dúvidas, depende do resgate do feminino verdadeiro, tanto na mulher como no homem, e em dar de novo expressão à dimensão do feminino sagrado na Terra. Porque, *“As grandes realizações naturais seguem o mesmo processo e em definitivo, que não é outro senão o da maternidade, obra de fé e de vida, obra de amor e também de paciência e ternura” que só a verdadeira mulher e a Deusa podem dar.

rosa leonor pedro

(* Citação de Contos de Fadas e os Valores do Eterno Feminino – de Maria do Rosário Pontes )

HAJA LUCIDEZ



CLAREZA - HAJA LUCIDEZ

Kiddi Terf

"O que os homens "sentem em si mesmos " não altera o poder e os privilégios que lhes são dados nesta sociedade e o que as mulheres "sentem em si mesmas " não altera em nada a sua experiência do sexismo. Eu não "sinto em mim mesma" a necessidade de ser insultada de forma misógina de ser um objecto, abusada ou assediada sexualmente, e no entanto isso é-me imposto de qualquer maneira. Eu não escolhi ser tratada como uma mulher dominada pelo sistema patriarcal e nunca me senti confortável com a feminilidade. Isso faz de mim um homem?

Dissolver as categorias " Homem " e " Mulher " a fim de permitir a "fluidez do género " pode parecer progressista. Mas isso não é mais progressista nas circunstâncias actuais do que dizer que a raça não existe e que os brancos que não se "sentem" brancos ou que adoptam comportamentos estereotipados geralmente associados a pessoas de cor não teriam privilégio neste mundo. Se uma pessoa branca se atrevia a fazer isso, diríamos que é uma fraude e um comportamento desse tipo. Por que razão temos de aceitar a ideia de que um homem se apoderando dos estereótipos sexistas tradicionalmente associados às mulheres, poderia, como por magia, mudar de sexo e privar-se do seu privilégio de homem?"


O TEAR SECRETO DO CORPO FEMININO

“Em Um Quarto Só para Si, Virgínia Woolf descreve satiricamente a sua perplexidade perante os volumosos catálogos da biblioteca do Museu Britânico: porque é que há tantos livros escritos por homens acerca das mulheres, pergunta-se ela, e nenhum escrito por mulheres acerca dos homens? A resposta a essa pergunta é que desde o começo dos tempos os homens se têm debatido com a ameaça do domínio feminino. Essa torrente de livros foi instigada não pela fraqueza das mulheres, mas pela sua força, a sua complexidade e impenetrabilidade, a sua omnipresença aterradora. Ainda não nasceu o homem, nem sequer Jesus, que não tenha sido tecido, a partir de uma pobre partícula de plasma e até se converter num ser consciente, no tear secreto do corpo feminino. Esse corpo é o berço e a fofa almofada do amor feminino, mas é também o cavalete de tortura da natureza.”*  Camille Paglia



Os Hebreus, e a criação de modelos de mulheres aberrantes...

“O medo das mulheres, ou ginofobia, é um mal bem conhecido que remonta de muito longe na história da criação. Deus, diz-se, criou o homem à sua imagem. Mas seguramente não a mulher. Senão, ele não seria obrigado a renovar tantas vezes essa tentativa, criando tantos modelos de mulheres aberrantes, a acreditarmos nos múltiplos contos, lendas, mitos, midrashim e haggadah que, entre outros, nos transmitiram os Hebreus.”



In LA DÉESSE SAUVAGE de Joelle de Gavelaine


PORQUE OS HOMENS DEPRECIAM TANTO AS MULHERES...

“A atitude depreciativa que muitos homens têm em relação às mulheres é uma tentativa inconsciente de controlar uma situação em que ele se sente em desvantagem; muitas vezes ele procura eliminar o poder da mulher, induzindo-a a agir como mãe. Dessa maneira ele é liberto em grande escala do seu medo, pois na relação com a sua mãe quase todo o homem experimentou o aspecto positivo do amor da mulher. Mesmo assim não está totalmente livre de apreensão, porque ao fazer com a que a mulher seja mãe dele, ao mesmo tempo torna-se criança e está portanto, em perigo de cair na sua própria infantilidade. Se isso acontece ele pode ser dominado por sua própria fraqueza, e uma vez mais deixa a mulher o poder da situação. Consequentemente, a maioria dos homens aproxima-se de uma mulher com medo, não obstante seja um medo inconsciente, ou com a hostilidade nascida do medo ou, talvez, com uma atitude dominadora, para arrebata-la de um golpe. “ *


* In OS MISTÉRIOS DA MULHER
M. Esther Harding

sexta-feira, outubro 26, 2018

A INDIA DE ANTES...




Cecília Meireles e o Oriente...

Os que te conhecem guardam para sempre o coração enternecido, ó Índia paciente, pois sabem dos vastos limites dos teus dramas, e admiram os caminhos que procuras para a conquista de uma felicidade sábia:– aquela felicidade, ó Índia, que se constrói com a disciplina da alma, e, por ser alta, é íngreme, e, para vencer o tempo, é vigorosa e suave, alerta, firme e diligente.
[...]
Por isso, os que te amam, embora não tenham nascido em ti, o Índia luminosa, do horizonte de suas várias pátrias, observam teu exemplo, e por ele se rejubilam desde agora, vendo antecipar-se em tua coragem, em teu trabalho, o Índia pacífica, em tua força espiritual e em tua mansidão, aquele retrato de um mundo que não envergonhará mais os homens futuros, quando, sozinhos, refletirem sobre seus compromissos, na terra, com os outros homens, e, dentro de si, com as leis profundas do invariável Deus.


“Cântico à Índia pacífica”,
in Poemas de Viagens, de Cecília Meireles

quinta-feira, outubro 25, 2018

A MULHER-MULHER



A MULHER DENTRO DO SISTEMA
 
Resumidamente: mulher foi dividida em dois tipos de mulher basicamente ao longo dos séculos ...a santa e a puta. Estes dois modelos, um de cada lado, antagonizados, nos romances e no cinema, na musica e nas telenovelas hoje, continua a ser o da esposa virtuosa e fiel e o da escandalosa ou ordinária provocadora que é uma ameaça aos maridos, generalizou-se esta dicotomia na mulher (e dentro da mulher) como se fossem duas categorias de mulheres - dependentemente de serem ricas ou pobres - claro, que as pobres eram ordinárias e as ricas umas senhoras etc. Este quadro manteve-se maios ou menos idêntico sendo que hoje em dia tudo está como que disfarçado, mas de qualquer forma é o que predomina no inconsciente colectivo de homens e mulheres: nós aceitamos a prostituição das mulheres como aceitamos o casamento como modelos de vida padrão e próprios desta sociedade. 
Mais recentemente (no ultimo século) com a afirmação das intelectuais e das feministas da igualdade e toda esta farsa da emancipação, esses modelos foram mais ou menos disfarçados e coloridos de muitas cores e até enchidos como os chouriços de silicone e plásticas...bumbus e e seios perfeitos e depois as femen - mulheres livres e sem problemas que tem tantos homens como os homens mulheres e as vadias misturaram tudo isso num cocktail malotove? que é a ordem do dia em todo o mundo civilizado e depois temos as milhares e milhões de desgraçadas sem eira nem beira, as mulherzinhas, as coisas nenhumas, essas barrigas de aluguer por contrato, que são as mães das populações de países inteiros e que as Simones de Beauvoir e outras famosas escritoras no cimo da sua cátedra ou púlpitos ...existencialistas, marxistas ou católicas vieram com as teorias e as idealizações sobre a liberdade da mulher se é que nasce ou não nasce mulher...MAS NA VERDADE O QUE ESTÁ Á VISTA É QUE TUDO ESTÁ NA MESMA. É o inconsciente colectivo que dita o domínio do homem na violência doméstica, o feminicídio e a violação cada vez mais evidente não só na guerra como no que se passa de facto no mundo e nas casas e não nas nossas conversas de café digo de internet. E isto muito grosso modo.

rlp

A TRANSCENDÊNCIA




"Depois aparece um Graal, mantido entre duas mãos de uma donzela bela e delicada, nobremente vestida, seguindo os valetes. Quando ela entrou com o Graal, uma claridade tão grande se expandiu pela sala que as velas empalideceram, como as estrelas ou a luz quando o sol se levanta"...


in O Homem entre o Céu e a Terra de Étienne Guillé


A VER SE NOS ENTENDEMOS DE VEZ...

" Com a linguagem vibratória, a tradução da mulher dá a letra Z. E a constela de Adão seria a letra Z, que significa responsabilidade. Ora, a letra Z pertence ao mundo transcendental. A mulher já é portadora do mundo transcendental (A Virgem Maria, Ísis, as virgens negras etc.). O homem, em contacto com a mulher, teria acesso ao germe da iluminação. E o casal alquímico exteriorizaria isso.
Chegarei mesmo a dizer que, nesta evolução do conhecimento, a mulher leva vantagem, mas não sei se ela sabe disso. Ainda mais que na situação actual ela se choca com o poder do homem. Sejamos claros: constitutivamente não existem relações de superioridade ou de inferioridade entre o homem e a mulher. Tudo depende do contexto sócio-cultural da época considerada cujas consequências extremas se manifestam nas sociedades do tipo patriarcal e matriarcal. O facto principal que se expressa no caso ideal é a complementaridade da infra-estruturas constitutivas de cada um…O resultado no mais alto nível vibratório de tal complementaridade é a fusas integral dos duplos que se traduz por um alargamento prodigioso do campo de consciência do casal alquímico. Trata-se de um verdadeiro processo de transcendência cujas consequências são múltiplas, principalmente transformações profundas e duráveis de cada um dos componentes do casal. Penso mesmo que esse estado ideal e final do casal alquímico, caracterizado pela fusão dos duplos, continua após a morte física. Mas atenção: eu não digo que tal resultado do casal alquímico seja verdadeiramente realizável.” (…)



Etienne Guille - O homem entre o Céu e a Terra



segunda-feira, outubro 22, 2018

ONDE ESTÃO @S LEITOR@S DO BLOG?



JÁNÃO HÁ LEITORES INTERESSADAS EM COISAS SÉRIAS…?

Parece-me que o Facebook e o Twitter tirou as pessoas do sério e hoje ninguém é capaz de ler ou comentar qualquer trecho mais longo do que 3 frases…

rlp

A MULHER E A NATUREZA




“A PASSAGEM DO CULTO DA TERRA AO CULTO CELESTE DESLOCOU A MULHER PARA A ESFERA INFERIOR”*. 


“É correcta a identificação mitológica entre a mulher e a natureza. O contributo masculino para a procriação é fugaz e momentâneo. A concepção resume-se a um ponto diminuto no tempo, apenas mais um dos nossos fálicos pico de acção, após o qual o macho, tornado inútil, se afasta. A mulher grávida é demonicamente (diamon), diabolicamente completa. Como entidade ontológica, ela não precisa de nada nem de ninguém. Eu defendo que a mulher grávida, que vive durante nove meses absorta na sua própria criação, representa o modelo de todo o solipsismo, e que a atribuição do narcisismo às mulheres é outro mito verdadeiro. A aliança masculina e o patriarcado foram os recursos a que o homem teve de deitar a mão a fim de lidar com o que sentia ser o terrível poder da mulher. O corpo feminino é um labirinto no qual o homem se perde. É um jardim murado, o hortus conclusus do pensamento medieval, no qual a natureza exerce a demónica feitiçaria. A mulher é o construtor primordial, o verdadeiro Primeiro Motor. Converte um jacto de matéria expelida na teia expansível de um ser sensível, que flutua unido ao serpentino cordão umbilical, essa trela com que ela prende o homem.”*


* Camille Paglia 




quinta-feira, outubro 18, 2018

A MULHER INTEIRA





OS MISTÉRIOS DA MULHER


"Não raramente ouvimos a informação de que não há nenhuma diferença essencial entre homens e mulheres, excepto a diferença biológica. Muitas mulheres têm aceite esse ponto de vista e têm feito muito para alimentá-lo. Têm se sentido contentes em serem homens de sais e assim perderam o contacto com o princípio feminino dentro delas mesmas. Essa talvez seja a causa principal da infelicidade e instabilidade emocional hoje em dia. Ora, se a mulher está fora de contacto com o seu princípio feminino, que dita as leis da integração, não pode assumir o comando do que é, afinal de contas, o domínio de feminino, ou seja, o das relações humanas. E, até que o faça, não poderá haver muita esperança de ordem nesse aspecto da vida. Muitas mulheres sofrem seriamente na sua vida pessoal por esse abandono do princípio feminino.
São incapazes de relacionamentos satisfatórios, ou podem mesmo cair em neurose pela inadequação do seu desenvolvimento nessa área, que é das mais essenciais. Por essa razão, a relação de uma mulher com o princípio feminino dentro de si mesma não é um problema pessoal, mas também um problema geral, até universal para todas as mulheres. É um problema da humanidade.
(...)
É preciso considerar que a essência ou princípio feminino NÃO PODE SER ENTENDIDA ATRAVÉS DE UM ESTUDO INTELECTUAL OU ACADÉMICO. A ESSÊNCIA ÍNTIMA DO PRINCÍPIO FEMININO não se permite tal ataque, o sentido real da feminilidade sempre escapa ao interrogador directo. Essa é a razão pela qual as mulheres são misteriosas para os homens – isto é, para o homem que persiste em tentar compreender intelectualmente a mulher."

Livro de M. ESTHER HARDING


QUE MULHER É A MULHER

O Feminino Sagrado, apesar de tão profanado no passado e tão vulgarizado já nos nossos dias, apresenta-se como a grande alternativa à consciência de um feminino fracturado em duas mulheres, permanentemente dividido dentro de si e em conflito em quase todas as mulheres dos nossos dias.

Porque é obvio que falta à mulher de hoje, a mulher que conquistou um lugar na sociedade e que luta pelos seus direitos e igualdades, que luta pela sua afirmação, a Dimensão Ontológica do seu ser; todas essas conquistas não a põem em contacto com a mulher autêntica, a mulher ancestral, a mulher eterna, porque ela é apenas a metade mulher que negou uma parte de si através da religião que a aprisionou no dogma e viciou essa dimensão. Assim hoje vemos essa dicotomia da santa e da puta a tomar lugar na luta social e familiar de todos os dias.

A mulher intelectual, assumida na sua pretensão de tudo saber e a feminista, a mulher que se julga liberta de preconceitos, tanto como a mulher religiosa, medrosa e culpada, não querem encarar esse lado Sombra do seu ser, essa parte que falta essa parte que se afronta ao espelho, porque se lembra de coisas atávicas que lhe valeram perseguições e também a grande alienação da sua própria mística. Desse modo, umas e outras, perderam a dimensão secreta do seu ser interno, a coesão entre o seu corpo a sua alma e o espírito e enquanto não equacionarem o seu ser ao nível dessa totalidade que são, seja ao nível das energias cósmicas por um lado, o céu, e ao nível das energias telúricas, da terra, seja, por outro, de que ela é a representante privilegiada dessas mesmas energias, e sem essa coesão ela não conquista verdadeiramente nada para si nem para a Vida na sua real dimensão.

E é esta sua essência primeira e matriz feminina sonegada na revelação do milagre do Amor e da Concepção, considerada impura e pecadora pelos padres, que a mulher se perdeu completamente na banalização e na vulgaridade das vidas quotidianas sem essa dimensão do Sagrada do Feminino, parte integrante do SER MULHER inteira.


Se a mulher não recuperar essa Dimensão, se ela não entrar de novo em ressonância com o seu verdadeiro feminino, aquele que ficou anulado na fronteira das reivindicações materiais dentro das concepções ideológicas da sociedade capitalista ou positivista marxista, ela nunca atingirá um patamar de verdadeira realização interior ou de dignidade e limitar-se-á a viver a parte exterior do seu ser e quase apenas o seu lado masculino…

Rosa Leonor Pedro


Mulheres & Deusas - republicando

não há inteligência sem coração...






Eu acho que não há inteligência sem coração. A inteligência é um dom, é-nos concedida, mas o coração tem que a suportar humildemente, senão é perfeitamente votado às trevas.

AGUSTINA BESSA-LUIZ


A Saturação da Servidão

Hoje estão em causa, não as paradas, que é tudo em que as multidões são adestradas, ou a guerra, a que se convidam; está em causa toda uma dinâmica nova para criar o habitat duma humanidade que atingiu a saturação da servidão, depois de há milénios ter dado o passo da reflexão. As pessoas interrogam-se em tudo quanto vivem. A saturação da servidão não é uma revolta; é um sentimento de desapego imenso quanto aos princípios que amaram, os deuses a que se curvaram, os homens que exaltaram. (...) 
Mas foi crescendo a saturação da servidão, porque a alma humana cresceu também, tornou-se capaz de ser amada espontaneamente; tudo o que servimos era o intermediário do nosso amor pelo que em absoluto nós somos. Serviram-se valores porque neles se representava a aparência duma qualidade, como a beleza, o saber, a força; esses valores estão agora saturados, demolidos pela revelação da verdade de que tudo é concedido ao corpo moral da humanidade e não ao seu executor.
Um grande terror sucede à saturação da servidão. Receamos essa motivação nova que é a nossa vontade, a nossa fé sem justificação a não ser estarmos presentes num imenso espaço que não é povoado pela mitologia de coisa alguma. Somos novos na nossa velha aspiração: a liberdade é doce para os que a esperam; quando ela for um facto para toda a gente, damos-lhe outro nome.


Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'

ENTRE A TERRA E O CÉU



A VISÃO MATERIAL DA VIDA...

"A visão material da vida que temos de nos servir unicamente dos cinco sentidos é frustrante. Ela nos mostra apenas uma faceta limitada da realidade, e sua própria estrutura nega a existência eventual de um diamante em bruto a descobrir nos espaço-tempos transcendentes que sempre lhe serão estranhos."
(...)

A MÁQUINA POLITICA

"A máquina fez do ser humano um escravo, e essa dependência não se manifesta apenas na crise económica e no aumento dramático da taxa de desemprego. A inteligência regride e a consciência também enquanto muito seres se consideram em paz com a sua consciência contentando-se em participar de obras humanitárias. É evidente que assistimos ao declínio da civilização pós-industrial, comparável ao fim do Império."

AS DUAS FACETAS DO SER…

"Para o ser espiritual que existe em nós (eu não o destaco do outro, mas para compreende-lo eu invoco artificialmente uma dualidade), é preciso tomar consciência das duas facetas do ser. Penso que o fracasso da sociedade dita de consumo, do espetáculo, está consumado. E é claro que uma grande mutação está em curso. Essa grande mutação está acontecendo em todos os seres." (...)



O AMOR

"Uma troca vibratória de tal modo intensa entre dois seres que transcende cada um deles. Nesses momentos privilegiados, sentimos uma energia muito especial invadir o nosso ser. Somos irradiados de luz, transformados. Quando dois tipos de energias vibratórias complementares se encontram, elas podem se fundir se não existir nenhum freio da parte de um dos dois protagonistas e um novo ser começa a emergir: o casal alquímico. É um momento inesquecível e não é possível falar de complementaridade strictu sensu: devemos invocar então uma verdadeira sinergia, que tem sua fonte nos espaços-tempos transcendentes, dando acesso, ao menos, ao menos transitoriamente, à eternidade. É condição necessária para que o germe do casal comece a crescer.
(...)
Quando falo de casal alquímico, é geralmente homem-mulher, mas, como esta é uma escala distanciada da sexualidade strictu sensu, é possível imaginar casais homem-homem ou mulher-mulher.
No verdadeiro casal alquímico, nenhum dos dois componentes se nutre da “substância” do outro, substância tomada no sentido mais nobre do termo. Existe um prodigioso crescimento qualitativo das energias vibratórias do conjunto homem e mulher.
(...)


A BUSCA DA MULHER MITICA

"A satisfação das necessidades materiais mesmo não elementares não conduzirá nunca a progressos correspondentes da consciência. O inverso não é verdadeiro, ou seja, não é necessário privar as pessoas a todo o custo, fazê-las sofrer de qualquer modo, para as fazer evoluir, o que significaria que temos que adoptar um comportamento masoquista ou sádico. De facto, penso que existe no casal alquímico uma dinâmica subtil. Pode ser que eu tenha acesso melhor ao meu duplo descobrindo-o no olhar do outro, o olhar do outro desempenhando o papel de espelho para ver a outra face de minha dupla alquímica, e reciprocamente. Estou interessado na busca do absoluto. Humanamente, eu só tinha três soluções. Seja a mulher mítica, seja todas as mulheres com os seus limites desesperantes, seja nenhuma, e minha liberdade estava condicionada pelos meios que eu utilizaria para descobrir essa mulher ideal. Para mim esse esforço e esse caminho de conhecimento são ligados ao sagrado, à busca da mulher mítica." *


* IN O HOMEM ENTRE O CÉU E A TERRA - ETIENNE GUILLÉ
Étienne guillé - biólogo e professor e escritor

sábado, outubro 13, 2018

"Desde o início dos tempos...



"Desde o início dos tempos, a alma chora tristemente por amor e afecto.
O amor é a força mais poderosa do Universo, e todos desejam vivência-lo de alguma ou outra maneira.
Nós não queremos experimentá-lo temporariamente, em vez disso queremos senti-lo para sempre. Este é verdadeiramente o nosso direito inato. Podemos retirar tanto da vida, enquanto a nossa necessidade mais essencial, a necessidade de amar e ser amado, continua por cumprir. O poder do Amor é inimaginável.
A atracção do amor é o elemento mais fundamental e formidável encontrada em todas as circunstâncias no mundo. Tudo o resto pode ser eliminado e esquecido se entrarmos em contacto com o verdadeiro amor e afecto.
Quando alguém desafia o princípio do amor, tem que aceitar a derrota. O amor é o princípio mais substantivo."


Srila Narayana Maharaj



"Uma pessoa inteligente, com a mestria em compreender o mundo ao seu redor e pela aplicação de lógica sonante, alcança o benefício real da sua inteligência. Por isso, algumas vezes é possível agir como mestre espiritual instrutor de si mesma."

ātmano gurur ātmaiva
puruṣasya viśeṣataḥ
yat pratyakṣānumānābhyāṁ
śreyo 'sāv anuvindate


Os Puranas

"Eu penso que quem não está ou deseja estar na estrada real está perdido. Que o germen desta perdição é a "cultura" profana. Que a estrada real é fascinante. Que só nos podemos aperceber da fascinação de cada coisa que nela circula quando descobrimos a persona que cada coisa esconde debaixo da sua individualidade. Que só a tradição iniciática contem orgânica e intelectualmente a ideia dessa persona puramente interior - base da REALIZAÇÃO, da acção que conduz o ser "para além de todo o estado condicionado, seja ele qual for para o estado do SER - soterrado debaixo de cada individualidade humana - que ultrapassa todas as contingências e reúne em si a integralidade de todos os estados do REAL."


in LUZ CENTRAL- ERNESTO SAMPAIO


O PENSAMENTO COLECTIVO É ESTUPIDO



A POLITICA AS MASSAS E OS MANICOMIOS

"Na vida de hoje, o mundo só pertence aos estúpidos, aos insensíveis e aos agitados. O direito a viver e a triunfar conquista-se hoje quase pelos mesmos processos por que se conquista o internamento num manicómio: a incapacidade de pensar, a amoralidade e a hiperexcitação."
(…)
"Nenhuma ideia brilhante consegue entrar em circulação se não agregando a si qualquer elemento de estupidez. O pensamento colectivo é estúpido porque é colectivo: nada passa as barreiras do colectivo sem deixar nelas, como real de água, a maior parte da inteligência que traga consigo."

Fernando pessoa

terça-feira, outubro 09, 2018

MATRIARCADO E PATRIARCADO



SOCIEDADES MATRIACAIS: 

"Faz sentido que "qualidades "femininas" tais como o cuidado, a compaixão e a não-violência fossem altamente valorizadas nestas sociedades. O que não faz sentido é concluir que as sociedades em que os homens não dominavam as mulheres eram sociedades em que as mulheres dominavam os homens." [...] 
Riane Aisler


Anália Bernardo

(Excerto)

(…)

"Gimbutas comprovou a tese de Jean Ellen Harrison, especialista em mitologia grega de Cambridge nos anos 30, a primeira a assinalar que as deusas gregas procediam de uma época histórica pré olímpica, e que o casamento de Hera e Zeus, não existia em suas origens. Este casamento forçado refletia o trânsito, às vezes dramático e violento, das culturas matrilineares para as patriarcais, após a conquista armada, e a inversão dos mitos de origem. Inclusivamente diferenciava os deuses guerreiros dos agrícolas da idade matrilinear: Hermes, Pã, Dionísio, indicando que o culto às deusas não excluía o Sagrado Masculino, porém não adorava um deus pai guerreiro e dominador, nem deidades masculinas que violentavam e matavam deusas e mulheres, como ocorre nos mitos tardios, surgidos daquela conquista e reforma.

Para Harrison os mitos gregos consistiam em tentativas, às vezes grosseiras e desesperadas de tentar modificar as crenças na Grande Mãe, suplantando-as com conceitos político-religiosos, como o mito de Atena, nascida da cabeça de Zeus, armada como uma guerreira, substituindo a ancestral Atena, uma deidade sem pai, padroeira de sabedoria e da inteligência, e assim apresentar os deuses arquipatriarcais (como Harrison os qualificou) como sendo primevos, melhores e supremos.
(…)
"Robert Graves difundiu fora do âmbito académico o trabalho de Harrison, porém foi Gimbutas quem proporcionou as provas arqueológicas sobre as ondas invasoras patriarcais, assim como a cosmovisão cultural e religiosa quanto às Deusas Mães, até então considerada por muitos como simples “cultos de fertilidade”.

Por sua parte, a antropóloga Margaret Murray apresentou provas da Tradição das Bruxas como um Xamanismo europeu cujas origens se remetem aos Xamãs paleolíticos e siberianos.
As neojunguianas Silvia Brinton Perera, Marion Woodman, Jean Shinoda Bolen e Clarissa Pinkola Estés, realizaram uma tarefa similar à arqueológica, com o intuito de desenterrar o arquétipo da Grande Deusa, das profundezas do inconsciente pessoal e coletivo, de mulheres aonde a cultura e o ego patriarcal o mantinham recluso, reprimindo-o, para que as deusas não outorgassem poder espiritual, emocional e cultural ao corpo, à sexualidade, à liberdade e à consciência das mulheres.

Para as junguianas, os mitos tardios, como o de Atena nascendo da cabeça de Zeus, foram apreendidos profundamente pelas mulheres que cresceram sendo educadas segundo o ideário feminino da mentalidade patriarcal, tendo que adotar nos últimos períodos modos patriarcais, a fim de serem reconhecidas como “Filhas do Pai” e obter êxito profissional e intelectual."




MEDEIA...



"A cura, tanto para a mulher ingénua quanto para a que teve os instintos fragilizados, é a mesma: tente prestar atenção à sua intuição, à sua voz interior; faça perguntas; seja curiosa; veja o que estiver vendo; ouça o que estiver ouvindo; e então haja com base no que sabe ser verdade. Esses poderes intuitivos foram concedidos à sua alma no instante do nascimento."


Clarissa Pinkola Estés

AGORA OUVIMOS VOZES.

" Pronunciamos um nome, e, como as paredes são permeáveis, entramos no tempo que foi o seu, encontro desejado. Sem hesitações, ela responde das profundezas do tempo ao nosso olhar. Infanticida? Pela primeira vez esta dúvida. Um encolher de ombros, desprezo, um voltar costas, ela já não precisa da nossa dúvida, nem dos nossos esforços para lhe fazer justiça, afasta-se. Antecipa-se-nos? Foge de nós? As perguntas perderam o sentido pelo caminho. Mandámo-la embora, ela vem ao nosso encontro das profundezas do tempo, nós mergulhamos nele, passamos por épocas que, é o que tudo indica, não nos falam de forma tão clara como a sua. E há-de haver um momento em que nos encontramos.
Somos nós que descemos até aos Antigos? São eles que nos apanham? Tanto dá. Basta estender a mão. Passam-se para o nosso mundo com a maior das facilidades, estranhos hóspedes, iguais a nós. Nós temos a chave que abre todas as épocas, por vezes usamo-la despudoradamente, deitamos um olhar apressado pela fresta da porta, ávidos de juízos precipitados. Mas também deve haver maneira de nos aproximarmos passo a passo, com um certo pudor diante do tabu, dispostos a arrancar aos mortos os seus segredos, mas assumindo o preço de algum sofrimento. O reconhecimento das nossas fraquezas - era por aí que devíamos começar.
Os milénios dissolvem-se, sujeitos a fortes pressões. Deve então manter-se a pressão? Pergunta ociosa. Falsas perguntas fazem hesitar a figura que se quer libertar das trevas da cegueira que nos impede de a conhecer. Temos de a avisar. A nossa cegueira forma um sistema fechado, nada a pode refutar. Ou teremos de nos afoitar no mais íntimo da nossa cegueira e autocegueira, e avançar, sem mais, uns com os outros, uns atrás dos outros, o ruído da derrocada das paredes nos ouvidos? Ao nosso lado, é essa a nossa esperança, a figura de nome mágico que em si faz convergir os tempos, processo doloroso. Nessa figura é o nosso tempo que em nós se abate. A mulher bárbara.
AGORA OUVIMOS VOZES.


IN MEDEIA vozes - de Christa Wolf



" As histórias das mulheres são tão poderosas, inspiradoras e aterradoras como a própria deusa. E, na verdade, estas são as histórias da Deusa. Como mulheres, nós a conhecemos porque somos ela. Cada mulher, por mais impotente que ela possa sentir, é uma célula dentro da sua vasta forma, uma encarnação da sua essência, e a história de cada mulher é um capítulo na biografia do sagrado feminino."

Jalaja Bonheim,

O SACRIFICIO DA MÃE


EXCESSO DE MÃE - FALTA DE MÃE?

(…)
"Mas voltando à ideia do sacrifício da Mãe, ele aconteceu quando este modelo em que a mãe era central foi substituído por aquele que temos em que ela está sob a alçada do pai. O poder da Mãe, que refletia ou emanava do tipo de divindade cultuada, a Grande Mãe Criadora, passou para segundo plano quando a divindade mudou de género e passou a ser o Pai. Todo o modelo mudou, os valores que regiam a sociedade mudaram, o imperativo tornando-se agora o domínio e a conquista em vez de a proteção da vida. Fomos expulsas/os do paraíso, acabou-se a Idade de Ouro, pela lei da espada patriarcal, como tão bem nos refere Riane Eisler nessa obra absolutamente ímpar que é O Cálice e a Espada (Via óptima, Porto). Assim, já só por um acaso temos o tipo de maisonnée (um termo popular francês que define não só a casa como o coletivo de pessoas que nela vive ou que gravita à sua volta) do filme Mamma Mia, que nos fornece uma visão, obviamente muito idealizada, do genuíno reino (ou seria raino?) da Mãe, ou tão genuíno quanto o sistema que respiramos permite, e que em resumo é uma Mãe com poder e autoridade.

Porque, não nos iludamos, não é por vivermos numa família de mulheres nem por lá em casa a última palavra ser a da mãe, que podemos dizer que ela tem poder genuinamente seu. Nenhuma mãe com poder emanado do seu próprio coração e forma de estar no mundo deixaria que um filho seu fosse para a guerra, por exemplo, consentiria numa forma de progresso que implique destruição da natureza, ou aceitaria na sua cama um homem a tresandar a carnificina e a outros abusos de poder e profunda insensibilidade ao sofrimento alheio. O poder que nos parece muitas vezes emanar da mãe no tipo de sociedade em que vivemos é na verdade o poder patriarcal que ela assume como seu sem o ser, tendo perdido o rasto dos verdadeiros valores que em estado selvagem, de antes da domesticação patriarcal, emanariam do seu coração de mulher.

Por que referi então no título que temos “excesso de mãe”? Porque a mãe que temos, desempoderada e desautorizada, e até infantilizada, por ter passado da alçada do pai para a do marido sem saber quem ela própria é nem ter amadurecido como adulta, é essencialmente uma mãe permissiva, que nessa profunda distorção patriarcal que é a ideia do sacrifício, permite tudo aquilo que não deveria permitir, não sabendo impor, com receio de perder o amor da sua descendência, limites nem fronteiras e sem ser senhora do seu verdadeiro sim nem do seu verdadeiro não, incapaz de fornecer qualquer modelo de força, coragem, coerência ou autenticidade, valores que criem cidadãos e cidadãs responsáveis, capazes de governar um mundo. Em vez disso, ela reproduz seres imaturos como ela, mimados pelo seu excesso de proteção sem exigência de contrapartidas de responsabilização pessoal, os egoístas, vaidosos, enfatuados e corruptos dirigentes que temos e os cidadãos impotentes e assustados que em vão procuram refúgio nas saias duma mãe arquetípica, a Nossa Senhora dos templos cristãos, cuja única capacidade que parece ter é a de comungar do seu sofrimento. "


© Luiza Frazão

A VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA



MULHERES PENSEM NISTO - pensem...por favor!


"Tem sido dado ênfase à violência doméstica que atinge as mulheres, na forma física. Acontece que, absolutamente mais comum e infinitamente mais danosa é a violência psicólogica, que não acontece apenas no ambiente doméstico sendo que esta, por ser continuada no tempo, até mesmo sem ser identificada pela vítima, é a forma de abuso mais difícil de ser identificada, porque não deixa marcas evidentes no corpo ( exceto talvez, uma postura corporal ). A agressão psicológica pode ficar camuflada em doenças alérgicas e auto-imunes.

Ela é comumente camuflada pela sutileza das relações intra-familiares mas causa sofrimento e conduz a mulher à alterações de comportamento, postura corporal e/ou reações psicossomáticas. Ainda o fato de esta mulher, acossada, diminuida em sua autoestima, repassar aos filhos, o amargor, mesmo que involuntária e inconscientemente levando à perpetuação, igualmente perversa ao criar modelo deste tipo de violência na vida adulta dos filhos.

O abuso psicológico também permeia todas as outras modalidades de abuso e isto é o mais dramático, pois exacerba o nível de possibilidades de toda a família em apresentar distúrbios de ordem psicológica adentrando nas suas relações afetivas, dificultando-as. O acúmulo da vivência desse tipo de violência, faz elevar os índices de freqüência aos hospitais psiquiátricos, elevar globalmente o nível de disturbios mentais, bem como elevar o índice das estatísticas dos suicidas.

Pode-se considerar que essa forma silenciosa de violência, vivida pela mulher casada no seu cotidiano, é pouco ou nada considerado até agora. Mas essa violência não acontece apenas com as mulheres, muito mais às crianças e adolescentes, vítimas mais disponíveis.

No caso das mulheres casadas, consideramos que se de um lado existe o criminoso, em geral o marido, agindo através do poder financeiro e econômico, cultura do ciúme e mais atual, a evitação da independência da mulher no imaginário que está em formação, da ascendência profissional vista como concorrência, do outro lado está a própria mulher que, principalmente, se ama o marido, aceita a posição de vítima como uma demonstração de amor. Com certeza não é difícil alcançar que o poder econômico e financeiro do marido pode servir de alavanca da medida e do grau de dependência financeira da mulher em relação ao parceiro.

Esta mulher casada, que ama o companheiro, quando vítima de atrocidades psicológicas tende, quase sempre ao sentimento de culpada, invariavelmente. Ou não consegue identificar a capacidade do companheiro em arquitetar e manietar. Sente-se confusa pois não acredita na possibilidade de intenção e mesmo não acreditam ser esta, uma forma de violência. Não acredita que o marido a está fazendo sofrer deliberadamente fazendo-a sentir o sabor do poder que ele detém.

A "confusão" sentida e vivida pela mulher vítima de atrocidades psicológicas reside, na maioria das vezes, no equívoco de "confundir" os sentimentos. Desvalia, ódio, rejeição. Esta mesma mulher que pensa que ama, pode não amar o marido. Muitos outros motivos podem estar contribuindo para que ela viva o sentimento de "confusão". Medo de encarar outra realidade que ela pensa ser mais difícil, que ela pensa que não vai conseguir alcançar. O medo da separação, do divórcio. O medo de ter "fracassado" no seu casamento e por fim, também a possibilidade de ela confundir-se no sentimento de culpa e perder-se no desconhecimento da auto-punição ou auto-destruição.

Essa violência pode estar sendo demonstrada através da ridicularização do físico mulher - gorda, magricela, pele e osso, velha, relaxada, não capaz de ganhar dinheiro para ajudar a família etc - da incapacidade intelectual - burrinha, desinformada, fora da realidade. Atitudes constantes de censura, pressões, cobranças, comparações, a exemplo.

Pode-se considerar que a forte pressão psicológica alcança características de tortura quando movida por objetivo definido da qual a vítima é o meio. Muitos exemplos poderiam ser extraídos. O marido que premeditadamente força a pressão psicológica até que ela chegue a atingir níveis insuportáveis pela vítima que cede diante da fragilidade psicológica e emocional. Esse objetivo pode ser, conseguir o descrédito da mulher ao ser considerada mentalmente incapacitada para administrar patrimônio, por exemplo. Outro tipo de tortura com objetivos de conseguir informações; essa seria a tortura política e objeto de outro enfoque."

(- Encontrei esse artigo e achei interessante. Pouco ou quase nada se fala sobre isso.)

(texto enviado por uma leitora, sem autoria)




segunda-feira, outubro 08, 2018

AQUILO QUE HOMENS E MULHERES NÃO QUEREM VER...


Uma NOTA só -  nem sempre concordo com a autora citada nem com tudo o que diz ou escreve, mas há questões muito fundamentais que ela denuncia com grande acutilância e que é de ter em conta...No caso destes excertos do livro concordo em absoluto: o sexo e a sexualidade não mudou nada desde a barbárie…as feminista iludiram as mulheres de que estas eram livres e podiam ser como os homens e nada lhes seria infligido...
rlp

in MULHERES LIVRES HOMENS LIVRES - Camille Paglia 


"Lutamos pela liberdade e pela igualdade sexual a todos os níveis. Mas à medida que o tempo foi passando a realidade nua e crua sobrepôs-se. O velho principio de dois pesos e duas medidas protegia as mulheres. Quando tudo é permitido, são as mulheres que ficam sempre a perder.

As jovens de hoje não sabem o que querem. E sentem que o feminismo não trouxe felicidade sexual. As manifestações de violência publica relacionadas com a violação em encontro amoroso são um modo de recuperarem as velhas normas sexuais que a minha geração tinha destruído. Porque de facto nada sobre os sexos mudou realmente muito. 
(...)
O feminismo ao cobiçar o poder social, é cego em relação ao poder cósmico e sexual da mulher.
Para entender a violação, é necessário estudar o passado. Não houve nem nunca haverá harmonia sexual. cada mulher deve ser responsável pela sua sexualidade, a chama vermelha da natureza. Deve ser prudente e cautelosa aos sítios onde vai e com quem sai. Quando comete algum erro, deve aceitar as consequências e fazer auto-critica, exigindo de si mesma nunca mais voltar a cometê-lo.
 (…)
A única solução para os casos de violação em encontros amorosos é a plena consciência que a  mulher deve ter de si própria e o auto-controlo. A principal linha de defesa de uma mulher é ela própria. Quando ocorre uma verdadeira violação deve comunica-la a policia. 
(…)
É absolutamente necessário lutar para que as mulheres percebam que são RESPONSÁVEIS, que a sexualidade lhes pertence. Elas tem um poder enorme sobre a sua sexualidade. Só depende delas usá-lo correctamente e serem sensatas quanto aos sítios que frequentam e em relação ao que fazem. E é devido a esta atitude que me acusam de ser "anti-mulheres"? Porque estou a restituir o bom senso ao discurso sobre a violação?"

in MULHERES LIVRES HOMENS LIVRES - Camille Paglia

domingo, outubro 07, 2018

VIOLAÇÃO E MISOGINIA


 Misoginia é definida como o ódio dos homens às mulheres...  

"A misoginia funciona como uma ideologia ou sistema de crença que tem acompanhado o patriarcado ou sociedades dominadas pelo homem por milhares de anos e continua colocando mulheres em posições subordinadas com acesso limitado ao poder e tomada de decisões. [...] Aristóteles sustentou que mulheres existem como deformidades naturais e homens imperfeitos [...] Desde então, as mulheres em culturas Ocidentais tem internalizado seu papel como bodes expiatórios da sociedade, influenciadas no século XXI pela objetificação das mesmas pela mídia com seu autodesprezo culturalmente sancionado e fixações em cirurgia plástica, anorexia e bulimia." Michael Flood

MAS EXISTE MISOGINIA TAMBÉM NAS MULHERES?

A foto mostra os dois jovens há 10 anos numa discoteca a dançar ...

Deixo-vos um texto tirado do facebook de uma mulher sobre um tema na berra, a suposta Violação de uma mulher modelo americano por CR7, futebolista multimilionário e que nega essa acusação tendo porém pago pelo seu silêncio etc. O caso passou-se há quase dez anos e só agora o assunto vem para a Ribalta na sequência do ME TOO. Não vou tecer considerações sobre o assunto  no momento, mas creio que o texto se refere as reacções das mulheres contra a mulher, a modelo e a favor do famoso jogador que por sinal é bastante polémico, mas considerado um herói nacional. 

"Que estou eu a pensar?

Estou a pensar que nunca julguei existirem tantas mulheres misóginas neste país. Mulheres que falam das outras mulheres sem qualquer respeito por si próprias. Mulheres que me envergonham, mulheres que não me representam, mulheres que deviam ser consideradas incapazes como educadoras e mães. Sim, porque uma mulher que ensina a filha que se entrou no quarto de um homem tem de 'sujeitar-se' ao que ele bem quiser, ainda que saia de lá em cacos, não tem capacidade de educar ninguém.
Desde pequenas que nos ensinam a esconder-nos, a reprimir-nos, a autocensurar-nos. A não falar com desconhecidos, a não olhar, não ouvir, não sorrir. A medir todos os gestos e atitudes. Ainda nem bem conhecemos a anatomia do nosso corpo e já nos foi inculcado que os nossos joelhos devem manter-se bem colados um ao outro, não vá alguém (um homem!) descobrir-nos a cor das cuecas. As mamas tapam-se mil anos antes da puberdade, porque os mamilos (só os femininos!) são algo de que nos devemos envergonhar, imagine-se que algum homem os vê, poderia descontrolar-se, coitado, os homens nunca saíram das cavernas, toda a gente sabe isso, em cada um deles dorme um troglodita pedófilo que qualquer pedaço de pele ou mucosa à vista pode despertar, com consequências imprevisíveis. Desde o berço que nos cobrem de vergonha, medo, nojo até. Se ainda assim crescemos a gostar de nós próprias e do/a outro/a e de sexo, valha-nos deus!, das duas uma, ou somos putas, ou somos muito ingénuas, ou quem sabe as duas coisas.
Aos homens ensina-se que há dois tipos de mulheres, as honradas e as putas e que se excluem mutuamente. E se alguns (e felizmente há muitos!) escapam a essa dicotomia, logo haverá gente muito bem intencionada a adverti-los (porque quem avisa amigo é) para terem cuidado com aquela mulher, porque se ela fosse séria não andaria assim vestida/despida, whatever.
Este caso fez vir ao de cima uma maré de podridão e indigência moral, a mesma que já pululava pelas caixas de comentários, pelos cafés de bairro, pelas discotecas onde uma mulher "já sabe o que a espera".
Andava praqui sem muita vontade de comentar o assunto, pois é mais do mesmo e nem tenho bem a certeza de que não seja contraproducente alimentá-lo, mas dei por mim a pensar nas eleições de amanhã no Brasil e como tanta gente se espanta com a quantidade de mulheres que apoiam o coiso. Não percebo qual é o espanto. Julgam que na tuga é diferente? Andam muito distraídos. Só vou citar dois nomes, ambos de "mulheres" (sim, as aspas são intencionais): Maya e Varela. E não, não colocarei aqui os links. Bem basta o que já li e ouvi. Só não sei quando irá passar este nojo que sinto."

Myriam Zaluar - jornalista freelancer