O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, outubro 31, 2018

"Porquê atacar as mulheres?



"Difamem-me para que os meus perfumes me inflamem...
Agudizem o meu apetite para que eu me transvase
É o tempo do terno fruto
Rebelde como uma granada
Queimem-me
E enxuguem com o óleo dos meus poemas os pés
das mulheres virtuosas."


in Le Retour de Lilith
Jumana Haddad


A mulher e o poder…

"Porquê atacar as mulheres? Porque foram elas, durante séculos, acusadas de bruxaria, de pactuarem com o diabo entregando-se à cópula com a besta que lhes daria poderes sobre-humanos? Nessa desconfiança do feminino afastou-se na verdade a mulher do espaço político e da possibilidade de se expressar, de exercer poder, de destabilizar a hierarquia masculina vigente." *

"O feminino e o poder. Ditas feiticeiras, partilhando um saber de poções e mesinhas na Antiguidade, são torturadas e queimadas na fogueira como bruxas a partir do séc. XV. Armelle Le Bras-Chopard, especialista em ciência política, com uma importante obra editada sobre o tema do poder e da sexualidade, distinguida aliás em 2000 com o Prémio Médicis Ensaio, edita um apaixonante trabalho sobre a caça às bruxas que durará até ao século XVII. Afinal, 80 % dos condenados à fogueira por conluios com o diabo e feitiçaria eram mulheres... Porquê as mulheres? Uma pergunta a que a investigadora tenta responder estabelecendo surpreendentes paralelos com a forma como ainda hoje, em pleno séc. XXI, as mulheres são afastados do poder e da arena política. " (...)

"Atenta à íntima ligação entre a sexualidade e o poder, e como se pretendia afastar a mulher da esfera política e do poder de decisão, retirar-lhe autonomia e fazê-la sujeitar-se às leis escritas pelo homem, a autora proporciona-nos um documento único sobre a história da mulher e da sua ligação ao poder. Indo aliás mais longe, considera que esse afastamento da mulher do espaço político de decisão não se teria milagrosamente sublimado a partir dos finais do século XVII. Detecta e aponta - de forma bem objectiva e rigorosa - como ainda hoje a mulher é definida face ao poder. Por isso «As Putas do Diabo» se revela um documento de apaixonante e actual leitura." 


"O diabo é uma criação do homem.

Datável a primeira referência ao diabo (no século XII), Robert Muchembled analisa as diferentes representações do diabo ao longo dos séculos. Da necessidade da Igreja em criar um ideia de inferno à obsessão pelo combate às bruxas e feiticeiras, passando pela ligação ao corpo e pelo emergir do conceito de demónio interior no século XIX, «Uma História do Diabo» afirma-se, essencialmente, como uma história das ideias." (outro livro a assinalar…)

IN "AS PUTAS DO DIABO" 
de Armelle Le Bras-Chopard


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