O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, outubro 09, 2018

MEDEIA...



"A cura, tanto para a mulher ingénua quanto para a que teve os instintos fragilizados, é a mesma: tente prestar atenção à sua intuição, à sua voz interior; faça perguntas; seja curiosa; veja o que estiver vendo; ouça o que estiver ouvindo; e então haja com base no que sabe ser verdade. Esses poderes intuitivos foram concedidos à sua alma no instante do nascimento."


Clarissa Pinkola Estés

AGORA OUVIMOS VOZES.

" Pronunciamos um nome, e, como as paredes são permeáveis, entramos no tempo que foi o seu, encontro desejado. Sem hesitações, ela responde das profundezas do tempo ao nosso olhar. Infanticida? Pela primeira vez esta dúvida. Um encolher de ombros, desprezo, um voltar costas, ela já não precisa da nossa dúvida, nem dos nossos esforços para lhe fazer justiça, afasta-se. Antecipa-se-nos? Foge de nós? As perguntas perderam o sentido pelo caminho. Mandámo-la embora, ela vem ao nosso encontro das profundezas do tempo, nós mergulhamos nele, passamos por épocas que, é o que tudo indica, não nos falam de forma tão clara como a sua. E há-de haver um momento em que nos encontramos.
Somos nós que descemos até aos Antigos? São eles que nos apanham? Tanto dá. Basta estender a mão. Passam-se para o nosso mundo com a maior das facilidades, estranhos hóspedes, iguais a nós. Nós temos a chave que abre todas as épocas, por vezes usamo-la despudoradamente, deitamos um olhar apressado pela fresta da porta, ávidos de juízos precipitados. Mas também deve haver maneira de nos aproximarmos passo a passo, com um certo pudor diante do tabu, dispostos a arrancar aos mortos os seus segredos, mas assumindo o preço de algum sofrimento. O reconhecimento das nossas fraquezas - era por aí que devíamos começar.
Os milénios dissolvem-se, sujeitos a fortes pressões. Deve então manter-se a pressão? Pergunta ociosa. Falsas perguntas fazem hesitar a figura que se quer libertar das trevas da cegueira que nos impede de a conhecer. Temos de a avisar. A nossa cegueira forma um sistema fechado, nada a pode refutar. Ou teremos de nos afoitar no mais íntimo da nossa cegueira e autocegueira, e avançar, sem mais, uns com os outros, uns atrás dos outros, o ruído da derrocada das paredes nos ouvidos? Ao nosso lado, é essa a nossa esperança, a figura de nome mágico que em si faz convergir os tempos, processo doloroso. Nessa figura é o nosso tempo que em nós se abate. A mulher bárbara.
AGORA OUVIMOS VOZES.


IN MEDEIA vozes - de Christa Wolf



" As histórias das mulheres são tão poderosas, inspiradoras e aterradoras como a própria deusa. E, na verdade, estas são as histórias da Deusa. Como mulheres, nós a conhecemos porque somos ela. Cada mulher, por mais impotente que ela possa sentir, é uma célula dentro da sua vasta forma, uma encarnação da sua essência, e a história de cada mulher é um capítulo na biografia do sagrado feminino."

Jalaja Bonheim,

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