O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, setembro 20, 2003

ANANKE - A FORÇA DO ARQUÉTIPO


(...)
ELA É A ÚNICA DEUSA
SEM ALTAR NEM IMAGEM
A QUE SE POSSA REZAR. ELA NÃO
DÁ ATENÇÃO AOS SACRIFÍCIOS


"Sugeri que os eventos patologizados participam do próprio arquétipo. Eles são uma via para a experiência arquetípica que não pode ser completamente vivenciada a não ser desse modo. Disso resulta que os acontecimentos patologizados pertencem necessariamente ao arquétipo. Por consequência, eles são uma
NECESSIDADE DAS NOSSAS VIDAS.

A Necessidade significa um vínculo de servidão, fisicamente opressivo, a um poder inexorável.


A palavra latina para ananke é necessitas. Aqui também encontramos a noção de um “vínculo estreito” ou “laço íntimo” como o vínculo de parentesco, relacionamento consanguíneo. Necessitudines são pessoas com as quais alguém está estreitamente unido. (...) Uma necessaria é uma parente amiga. Estes laço significam igualmente laços naturais e morais entre pessoas. Isso indica que as relações familiares e os laços que temos em nosso mundo pessoal são circunstâncias onde vivenciamos a força da necessidade. Nossos esforços no sentido de nos livrarmos dos vínculos pessoais são esforços voltados a nos livrar do círculo apertado de ananke.

Os pacientes de terapia que se queixam de uma sensação de sufocação no círculo familiar, ou que se sentem estrangulados pelo conjugue, ou que caem vítimas de patologias na garganta e pescoço manifestam todos a necessidade. Sob esta perspectiva, o complexo de família é uma manifestação de necessidade, e a submissão aos laços parentescos é um modo de respeitar-lhe as exigências.

(...)
Ter tempo livre constela uma fantasia de estar livre da necessidade. Como o jugo físico da escravidão é a imagem concreta dentro da ideia de necessidade, assim a liberdade desse jugo expressa-se em fantasias de disponibilidade de tempo e lazer como felicidade paradisíaca, isenta de patologia.

Os autores trágicos, entretanto, valeram-se de ANANKE quando as coisas estavam piores. O Prometeu de Esquilo diz:"

Pobre de mim!
Lastimo-me pela tristeza presente,
Lastimo-me pela tristeza futura, lastimo-me
Interrogando quando virá o tempo
Em que ele há de pôr fim ao meu sofrimento.
Que digo? Já conheci tudo antes,
Tudo o que há de acontecer, soube-o com clareza;
Para mim,
Nada do que fere virá com uma face nova.
Assim, tenho de suportar o melhor que posso
A sina que me deu o meu destino,
Pois bem sei que contra a necessidade,
Contra a sua força, ninguém pode lutar ou vencer


in "ENCARANDO OS DEUSES" (DEUSAS)

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