A IDENTIDADE PERDIDA DA MULHER
“A revolta da mulher é a que leva à convulsão em todos os estratos sociais; nada fica de pé, nem relações de classe, nem de grupo, nem individuais, toda a repressão terá de ser desenraizada
(...)
Tudo terá de ser novo. E o problema da mulher no meio disto, não é o de perder ou ganhar, mas é o da sua identidade.”*
Em 1972, ainda sob o regime fascista da ditadura** de Salazar que morre em 1970, dois anos antes do lançamento deste livro, Novas Cartas Portuguesas, escrito por estas 3 escritoras portuguesas (na foto), Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta, em 1972, assumidamente feministas, e que por seu teor mais ou menos livre mais ou menos erótico e ousado para época a que as mulheres davam voz e cuja narrativa fugia ao velho padrão católico, o da mulher esposa virtuosa e do dona de casa, foi logo censurado e levou as ditas escritoras a tribunal, tendo por isso levantado uma onde de solidariedade internacional e a muit@s escritores estrangeiros intervierem na defesa da liberdade da mulher.
Portugal na altura era um pais completamente mergulhado na miséria e no analfabetismo e as pessoas eram totalmente retrógradas, ignorantes e só pequenas elites e alguns intelectuais e artistas, socialistas e os comunistas em termos de ideologia, saiam deste padrão, ainda que os comunistas nunca tenham evoluído muito no que diz respeito a liberdade das mulheres. Constatei isso em França em 1973 precisamente por ter fugido à PIDE indo para Paris tal como muita gente jovem fazia, os homens para fugir a guerra (caso do meu irmão) de Angola e Moçambique assim outr@s (o meu caso) por contestar a ditadura.
Passados 45 anos após esta frase escrita por estas mulheres vanguardistas, uma delas ainda viva, e depois de sucessivas lutas feministas pela igualdade e pela liberdade das mulheres, com avanços e recuos e muitas divisões, chegamos de algum modo a um ponto em que poderíamos afirmar que colectivamente e finalmente as mulheres eram livres e senhoras de si, EMANCIPADAS, e que não só comandavam as suas vidas, as suas escolhas, como tinham o respeito dos homens...eram livres para dizer NÃO ou se divorciarem...
Mas não..., eis o discurso do marido ofendido na "sua honra"...e que leva ao FEMINICIDIO
"...és a maior puta do mundo; pensei que tinha casado com uma mulher séria e casei com uma puta da serra; a mim nunca me deixaste ir ao cú e os outros vão todos; (...); vou-te tirar a casa e no fim mato-te; tenho uma lista de pessoas aquém vou limpar o sebo) em primeiro lugar a ti e és uma mulher morta ".
(palavras proferidas pelo marido da vitima que o douto Juiz condenou)
E..., justamente no ano em que já temos juízas em barda, deputadas e ministras e as faculdades tem mais mulheres a formarem-se do que homens...quem diria que em pleno sec. XXI, em 2017, UM JUIZ EMBARGADO viesse a condenar uma mulher - aliás várias mulheres por ele condenadas - por adultério baseando-se na Bíblia como referência de acusação, de uma mulher que foi vitima da mais brutal violência doméstica, física e psicológica, da parte do marido e amante, que se uniram para a castigar - absolvendo os agressores, por considerar que a mulher adultera "uma ofensa a honra do homem" à luz da Constituição de 1887? e assim vemos como a repressão fascista e católica não foi nem de longe nem de perto desenraizada do povo nem dos Juizes...
Ora fui buscar esta citação das ditas escritoras por uma simples razão, para salientar que apesar das lutas e "conseguimentos" (até já tivemos uma Presidente da Assembleia da Republica - Assunção Esteves), das mulheres em termos de trabalho-profissões e doutoramentos, estamos agora diante de uma enorme ameaça que é este tremendo retrocesso cultural recente no mundo e em todos os países, nomeadamente na Europa, com a ameaça do migrantes muçulmanos e a sua anti-cultura e fundamentalismo contra as mulheres e que se reflecte agora na "justiça" do homem português...um mour@? na forma arcaica e bíblica e que é comum nos meios de comunicação social em que a mulher é denigrida e constantemente bode expiatório de todas as desgraças...A mulher é semrpe a primeira a cair em qualquer situação de crise como foi a dos Fogos em Portugal - todos os políticos homens e não só uma boa católica o fez...pediram a cabeça de uma Ministra.
O agora o que este Juiz embargador fez e ditou a lei do alto da sua cátedra...foi o que a grande maioria dos homens pensa, políticos inclusive e NÃO DIZEM...porque a maioria dos homens saõ coniventes com essa mentalidade que é no fundo a sua. Porque NADA MUDOU nas mentalidades dos homens...
Estamos em 2017, como dizia e passaram 45 anos depois deste anunciado - Tudo terá de ser novo. E o problema da mulher no meio disto, não é o de perder ou ganhar, mas é o da sua identidade.”* - é que nada foi feito de novo e principalmente essa IDENTIDADE não foi resgatada desde logo nem as mulheres essas mesmas mulheres que lutaram e venceram...NÃO TEM QUALQUER CONSCIÊNCIA DA SUA IDENTIDADE, perderam-se como Entes e mulheres mulheres. A Mulher nõa sabe quem é...
E é este o ponto a que queria chegar...
Conquistou-se a "igualdade e a liberdade", mas que liberdade e igualdade? Na verdade a Mulher assumiu a identidade do Homem e travestida de homem, assumiu funções e cargos ...sendo oficialmente um homem de saias, com comportando e discurso masculinos, um ego masculino, defendendo as mesmas ideias do Homem, e os seus ideólogos de género, abstraindo-se completamente da sua natureza ontológica, da sua dimensão espiritual, que lhe dá identidade.
A verdadeira mulher não existe e a suposta Nova Mulher pós 25 de Abril, não se libertou do estigma do passado, do universo arcaico e patriarcal, continuando a ser a adultera e a puta... a pecadora e a tentadora do pobre homem que até lhe concedeu a igualdade e a liberdade de ser como ele...igual a ele!!!
Não, a mulher, Essa Mulher não é igual ao homem e não só não existe como está em risco de total desaparecimento sob a ameaça das ideologias de género que mais não visam do que a destruição do que resta da mulher como essência - coração, útero ovários, sangue e seios - e estamos de novo todas nós diante de uma Nova Idade Media, a das trevas, que pretende anular de vez a mulher como ente singular, afirmando-se que nem a mulher nem o homem existem, negando a existência dos princípios feminino masculino, e considerando que são meras construções culturais... na eleição de um mundo alienado e desregrado dando como natural os transsexuais, os transgéneros...etc.
A Verdade é que tudo isto e todo este caos humano tem todo a ver ca a falta de identidade da mulher e na sua divisão em duas espécies - a santa e a puta. Se não houvesse esta divisão não se poderia considerar a mulher uma puta...uma devassa ou uma adultera! Por isso é urgente que as mulheres se consciencializem de que travam neste momentos a maior batalha de sempre para recuperar a sua verdadeira identidade e serem Inteiras. Só assim TUDO SERÁ NOVO...
rlp
EM BUSCA DA VERDADEIRA IDENTIDADE FEMININA
"A mulher busca a sua identidade (...) mas o referencial interno, que é a sua própria terra psíquica, é negado. Ao fazer a substituição do seu ego feminino pelo ego masculino, fica desorientada e esquece que possui como potencialidades dentro de si mesma um princípio masculino que a pode ajudar"
"Na ansiedade de ser aceite socialmente, ela recusou a vivência dos princípios femininos, vistos como qualidades secundárias e inferiores, embora necessárias. "
"Pelo não reconhecimento da sua feminilidade (essencial) a mulher se afirma, como indivíduo, muito timidamente diante do homem. Ela procura vestir a máscara da objectividade masculina para ser aceite no seu mundo. E ele se impõe prepotentemente diante dela , exibindo a sua luz solar"***
*** O Casamento do Sol e da Lua - Raissa Calvacanti
** A ditadura salazarenta durou 40 anos e terminou no dia 25 de Abril de 1974
*Do livro Novas Cartas Portuguesas, Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta, 1972