O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, fevereiro 27, 2023

A IMPORTÂNCIA DA MITOLOGIA

E A SUA REALIDADE CAMUFLADA PELAS RELIGIÕES

El Assalto al Hades...

“A história da mitologia lança muita luz, pois os mesmos mitos foram restringidos com as mudanças as estratégias de ocultação, como iremos a ver.

A rebelião de Édipo, é assim uma proposta de rebelião das criaturas humanas contra o Poder adulto que as ameaçava: uma proposta de reivindicação dessa mãe e dessa mulher cuja existência foi apagada do mapa para construir essa sociedade; e de reivindicação também da capacidade da ternura e de colo ao homem, capacidade que ele recuperaria se rendesse o seu Poder às mulheres e às criaturas humanas.

Esta 1ª parte (do livro) que se apresenta agora é uma proposta de viajar a esse Hades, criado pelos primeiros mitólogos fundacionais da sociedade patriarcal, para ocultar a vida proibida.

O Hades foi inventado para desterrar as mulheres que resistiam a deixar de sê-lo e para enterrar a sua condição bondosa, socialmente benigna: as amazonas, as mulheres que queriam seguir sendo mulheres, reivindicando o mundo e os jardins, onde tinham vivido até então.”

ASSIM, "As mulheres perderam os seus costumes, os seus encontros, as suas danças voluptuosas, os seus banhos sensuais compartilhados entre irmãs, mães, tias, avós... corpo a corpo com suas criaturas... perderam a maternidade nascida do desejo e guiada pelo prazer de seus corpos: perderam sua forma própria de existência; uma existência movida pelo pulsar do ventre; perderam a liberdade do seu corpo e a consciência do mesmo. O desejo sexual na mulher passou a ser considerado lascivo e desonesto, para que quando emergisse na mulher, ela se sentisse culpada e abominasse e se distanciasse do próprio corpo."

 CASILDA RODRIGAÑEZ BUSTOS


A NOBREZA DA MULHER

 "O que na mulher a magnetiza é a manifestação da sua essência feminina, não o sexo, não o corpo. As mulheres modernas perderam todo o sentido de dignidade e transcendência." RLP

sábado, fevereiro 25, 2023

COMO A MEDICINA SEPARA A CRIANÇA DA MÃE...


"O amor maternal verdadeiro é visceral".

Como se priva a criança do amor materno e a mulher de exercer a sua função de mãe em nome de uma "ciência"... 

Esta é "Uma das crueldades mais devastadora que a sociedade patriarcal instauro já há muito tempo... acontece em cada nascimento de um novo ser quando o mesmo é AFASTADO da mulher/mãe com o pretexto de serem realizados os procedimentos de 'higienização' e blabla... blabla...
 
Porque é nesse instante preciso chamado 'exterogestação' quando a força libidinal do amor primário da mãe surge.
É nesse momento que "a emoção erótica condensa-se na sensibilidade da boca e do mamilo".
"Uma tremenda catexia libidinal entre ambos simbiontes para manter o acoplamento, ao lado de ou frente a, outras atividades; o desejo do ventre de fazer-se colo, o do peito de amamentar.
É esse momento que o Poder segue negando às mulheres e às novas criaturas.
Quando "Esse amor libidinal e visceral nasce no ventre jorrando e fazendo tremer todas as nossas células".
"O amor maternal verdadeiro é visceral".
Esse amor libidinal é um desejo radical, imperativo e absoluto que leva à símbiose primal entre mãe e criatura, essencial para a formação biopsíquica de qualquer ser.
A prova a temos no fundo do nosso ser: porque sermos visceralmente percebid@s, reconhecid@s e desejad@s é a nossa ansia mais profunda, um tipo de amor que buscamos desde sempre desde que frustraram a nossa símbiose primal.
Perceberam o porquê e as consequências de toda essa manobra cruel?"

Sabine Carlotti

Nota - A exterogestação consiste em um conjunto de estratégias que fazem o bebé depois que nasce associar a sua nova rotina ao conforto do útero materno.

"EXCERTOS extraídos de "O Assalto ao Hades" - Cassilda Rodrigánez

TESTEMUNHO DE UMA LEITORA...

"Bom dia e eu sou adepta do parto natural por isto mesmo. Creio haver mais intimidade perante isto que chamo de magia.  
(...)
Em 1980 a 1 de agosto a minha mãe já tinha as águas rebenta das ficou sentada sozinha num corredor sentada. Eu nasci de 9 meses. Porém a minha mãe só foi atendida para o meu parto porque eu pus a cabeça de fora e comecei logo a berrar chorar... nasci com anemia e a maior parte do tempo fui separada da minha mãe.
Eu hoje estou bastante comovida. Particularmente comovida. Não sei hoje se é alegria ou tristeza. Só sei que tenho a Mimi a janela ao sol á minha espera.

Tudo o que a gente precisa é de Mãe por uma Vida, desde com o devido cordão umbilical cortado, mas uma mãe deveria ser o nosso pilar para sermos pilares de nós mesmas e futuramente de outras mulheres amigas vizinhas desconhecidas e sermos pilares da Humanidade em geral.

“Agora como é que se resolve isto?”



“Arruinaram-me a vida. É horrível”: Susana é a primeira trans espanhola arrependida e reclama ter sido operada sem supervisão psiquiátrica
Por Pedro Zagacho Gonçalves em 13:29, 24 Fev 2023

Susana Domínguez é espanhola e tem 24 anos. Até há pouco tempo era Sebastião, depois de ter começado o processo de mudança de sexo com apenas 15 anos, mas arrependeu-se do processo que, agora, tem consequências irreversíveis. A jovem reclama mau acompanhamento psicológico e psiquiátrico e diz que os médicos e os hospitais públicos que a operara lhe “arruinaram a vida”.

Foi em 2020 que voltou a ver o psicólogo que deu a aprovação para que fosse sujeita à mudança de sexo,
e cujo diagnóstico mais tarde permitiu que lhe fosse retirado o útero. Quis explicar-lhe que achava que se tinham enganado ambos. Não era um rapaz no corpo de uma rapariga, como o psicólogo lhe havia dito. Os transtornos que tinha afinal não tinham que ver com a transexualidade, tratavam-se de problemas de depressão e transtorno esquizofrénico, que a impediram de tomar a decisão correta, e que também não foram detetados pelo profissional de saúde mental que a acompanhava.

Desde que o tinha consultado pela primeira vez, passaram seis anos. Susana viu retirarem-lhe os seios e o útero, e foi sujeita a vários tratamentos com hormonas masculinas. Já era tarde de mais, pois o corpo tinha sido modificado de forma irreversível.

Pior, destaca a jovem, durante todo o processo nunca recebeu qualquer tipo de acompanhamento psicológico. O resultado foram tentativas de suicídio, que vieram deixar a descoberto sinais de transtornos de espectro do autismo, que o primeiro psicólogo consultado por Susana também nunca detetou
Segundo relata ao El Mundo, o psicólogo não fez caso dos antecedentes de doença do foro mental existente no histórico familiar, e confiou no autodiagnóstico de Susana, que dizia estar convencida de que os seus problemas seriam resolvidos através de uma mudança de sexo, por ter visto vídeos nas redes sociais sobre casos de transexuais que estavam felizes após a operação.

“Agora como é que se resolve isto?”, questiona a mãe de Susana, desesperada. A filha não tem aparelho reprodutor masculino ou feminino. Agora terá de mudar para hormonas femininas para tentar voltar ao ‘original’ o tanto quanto possível. Mas os danos são praticamente irreversíveis.

Agora, Susana e a família fizeram uma queixa forma contra o Serviço Galego de Saúde, denunciando o diagnóstico errado feito pelo psicólogo de disforia de género.
Este é o primeiro caso de uma pessoa trans que se arrepende do processo, mas outros casos têm surgido nos último anos no mundo.

No Reino Unido, por exemplo, em 2020 Keira Bell foi indemnizada após um tribunal concordar que não tinha maturidade suficiente quando, aos 15 anos, decidiu mudar de sexo.

O caso de Susana foi fruto da lei galega de não-discriminação por razão de sexo, de 2014, na altura em que Alberto Núñez Feijóo presidia à região. O diploma não prevê que estes casos tenham que ter obrigatoriamente acompanhamento psicológico durante todo o processo de mudança de sexo, e permite aos pacientes decidirem sozinhos se querem mudar de sexo.

A recentemente aprovada ‘Lei Trans’ estende o mesmo modelo a toda a Espanha e proíbe expressamente, contra a opinião da maioria das sociedades científicas espanholas, que qualquer profissional da saúde mental trate quem se autodetermine com um sexo diferente do seu. O acompanhamento psicológico só acontece nos casos em que o paciente assim o exija, e nos casos de problemas nas cirurgias e tratamentos de hormonas.

“Se o psicólogo não sabia ajudar-me, podia ter-me enviado a outro, em vez de arruinar-me a vida. A minha vida agora é horrível. Os psicólogos e psiquiatras não me têm ajudado e continuo a ter os mesmos problemas. A psiquiatra agora diz que não tenho nenhuma doença mental, que o que tenho não se cura com comprimidos, mas continua a receitar-me medicamentos e a fazer relatórios de ‘corta e cola’”, lamenta Susana, exigindo que seja indemnizada pelo diagnóstico errado que a prendeu num corpo que, afinal, não era mesmo o seu.


Gaia é a sinergia de todos os seres vivos



A desmistificação dos poderes patriarcais e das deusas e deuses...


A SINERGIA

"Gaia está aí, porém somos incapazes de vê-la, e por isso quando se fala de Gaia pensa-se num ente espiritual.
Gaia não é uma representação simbólica, nem uma deusa, nem a Mãe Terra com maiúscula. Gaia é o nome da vida da superfície da terra: porque o conjunto de processos materiais e vivos que se realizam constituem uma sinergia, um ente vivo autopoiético, é dizer, com capacidade e dinâmica própria de auto regeneração. Gaia é matéria pura ainda que não demasiada dura; isso sim, é matéria viva. Mas em absoluto não é um ente ideal ou metafísico.
Gaia está aí, porém somos incapazes de vê-la, e por isso quando se fala de Gaia pensa-se num ente espiritual. A evidencia oculta-se, e quando algo se intui, diz-se que é mágica o que são perceções sobre naturais. Não a vemos porque a ocultaram, ao deixá-la uma vez mais fora da Realidade pelo mecanismo de excluí-la semanticamente. E não a vemos porque também não temos a noção da sinergia, e não há uma palavra de uso comum que a represente: ‘sinergia’ é quando o tudo é algo mais que a suma das partes. Como nosso corpo é mais que a suma de órgãos e tecidos, e um órgão é mais que a soma de suas células, etc. Etc. Isso é evidente. Da mesma forma que, a pesar de tudo, dois mais dois não são quatro. Seres vivos não podem serem somados. As matemáticas cartesianas pertencem à Realidade na que os seres vivos desvitalizados, solidificados e convertidos em identidades e personalidades, são registados e levam um número de identificação.
Gaia é a sinergia de todos os seres vivos que habitamos na superfície da terra, porque entre tod@s fazemos algo que é mais e é distinto que a soma dos entes orgânicos que formamos a superfície terrestre, e cada ente orgânico vivo somos parte de essa sinergia, e si não fossemos parte de essa sinergia não existiríamos. Para que digam que ‘pertencemos’ a nossos pais!"


Cacilda Rodrigañez Bustos em El Assalto al Hades
P 78


sexta-feira, fevereiro 24, 2023

A BUSCA DE UM AMOR



A NOSSA FERIDA DE AMOR...


...O desejo do amor exclusivo de alguém é talvez um sintoma de doença na humanidade, uma compulsão, um estigma que nos marca logo ao nascer neste mundo. Por mais que tenhamos consciência ou intuição dessa quase anomalia ela continua como um registo inconsciente, celular, de “algo” impossível de descartar por vontade própria, assim só porque disso temos consciência... Pode levar uma vida inteira a superar este anseio ou sonho, ou quem sabe muitas vidas nesta busca de amor...

À partida, a busca do "outro", na mãe ou no pai, no amante, a necessidade do consolo ou do abrigo, de protecção, de defesa, seja pois do ou da amante, quer na mulher quer no homem, é sinal da nossa separabilidade e incompletude à nascença, e somos forçados pela biologia e algo indeterminado a perseguir esse mal congénito e por isso todos queremos voltar a união com algo, seja aos braços de uma Mãe Maior ou ao seu útero, ou simplesmente à Origem - que no fundo é o AMOR-UNIÃO que todos/as procuramos - e essa é certamente a grande dor e a grande caminhada diria antes peregrinação na terra e a razão porque nascemos presos por um fio, um cordão umbilical e procuramos toda a vida o prolongamento desse fio no Fio de Ariana; Ainda a Mãe, a Mulher-Deusa ou Deus-Amor que nos faça sair do Labirinto, ou da nossa cegueira, espécie de doença congénita...

rosa leonor pedro


AS RELAÇÕES ENTRE MULHERES




AS RELAÇÕES ENTRE MULHERES...as saudáveis...e não evidentemente as relações entre mulheres competitivas e de rivalidade quando estão ainda divididas na sua psique, quase sempre umas contra as outras a começar pela mãe-filha...Esta e outras situações de vivências salutares entre mulheres só se podem passar entre mulheres equilibradas e integradas, conscientes do seu feminino profundo e que estão ligadas ao Principio Feminino. Que estão ligadas ao seu utero-coração...


"Nas mulheres, os estrogénios femininos aumentam a produção de oxitocina. Assim, a amizade entre mulheres refletem uma redução significativa na doença cardíaca, pressão arterial e colesterol. Talvez por essa razão, as mulheres geralmente vivem mais do que os homens. Um estudo da saúde referiu que, quanto mais amigas, uma mulher tem, o mais provável é envelhecer sem doenças físicas."


(Um estudo da University of California)

ADENDA

Respondendo a uma leitora: 

Falando de relações entre mulheres não pensei nas relações homossexuais entre mulheres. Na verdade não pensei nisso nem o que implica no caso mas sim da mulher que tem essa consciência do feminino em si e ligação a sua essência que move fundamentalmente uma ligação Utero-Coração e que não passa pela sexualidade expressa, neste caso, em forma de desejo de outra mulher. Falei vagamente disso no meu livro, Lilith a Mulher primordial, mas gostaria de abordar o tema com mais profundidade no próximo, espero.

O que de momento sinto e sei é que a carência de uma mulher da sua  mãe e de laços afectivos profundos baseados na confiança materna - o que acontece a uma mulher que não teve uma relação com a mãe que lhe transmitisse a essência desse feminino através da maternidade, uma vez que a Mãe é o primeiro objecto de amor da criança -, e desse modo compreendo que uma mulher sem mãe e até educada ou mesmo abusada  por um elemento masculino da familia, possa projectar já em adulta esse amor-necessidade noutra mulher que deseja...mas esta não é a unica explicação para a HOMO-AFECTIVIDADE. 

Há seres humanos que encarnaram uma determinada polaridade (macho ou fêmea) mas não se identificam com a qual nasceram, o que para mim pode ser o principio da homossexualidade, e assim esse ser tem preferência por seres do mesmo sexo,  assim como, por razões variadas, carmicas, hormonais, psiquicas e emocionais, traumas provenientes da infância, os pode levar a uma outra escolha ou pulsão que não a que corresponde ao sexo com que nasceu. Ai, seja qual for a razão ou mesmo sem razão nenhuma que explique, tudo bem, o ser humano tem o direito de viver de acordo com aquilo que sente. Só não tem o direito de impor nem de querer que todos os humanos se tornem gays e lésbicas e trans etc. 
Ame-se pois como se quiser e quem se quiser sem lesar as liberdades das maiorias em nome de minorias ou vice-versa. Ai estamos todos enganados. Há que respeitar a Natureza biologica dos seres e depois a vontade de cada um e sobretudo a alma de cada ser...e não partir para a descriminação ofensa ou violência verbal ou fisica etc., como está a acontecer no mundo. 

Amar ou não amar e ser amado é outro drama e não depende de nada... também ai não podemos impor nem exigir a ninguém que nos ame e ai sim, é  quando começa o grande drama da encarnação...o ego e a prepotência, ou a violência e a guerra... a força de um diante do outro, do homem sobre a mulher sobretudo...

Voltarei ao tema...
rlp

UMA QUALIDADE FEMININA




"A gravidade da ferida psicossomática no caso da criatura humana vem dada pela natureza da catexia libidinal, que é uma catexia e um tipo de libido para um estado de simbiose; um fluido PERMANENTE que deve impregnar a simbiose e produzir a mútua inter penetração harmoniosa. Suzanne Blaise, quando analisa a mulher paleolítica como 'agente da evolução humana' destaca a capacidade específica da mulher de 'ocupar-se permanentemente de outros', como uma QUALIDADE FEMININA que o homem não tem, e não como o resultado da nossa escravidão milenar.
 
Essa qualidade e intensidade -seu fluir permanente- da libido feminina está diretamente imbuída na expansão da vida, e por isso a sua repressão produz uma ferida tão profunda e básica na criatura humana. E por isso a frustração e desespero do bebê afastado da mãe depois de nascer manifesta-se com um choro tão desesperado e terrível."

Cassilda Rodrigánez Bustos - O assalto ao Hades
(tradução Sabine Carlotti)

sábado, fevereiro 18, 2023

" Toda a vida humana no nosso planeta nasce de mulher.



" Nascido de mulher. O que significa para os homens terem nascido de um corpo de mulher "  Adrienne Rich.  


" Toda a vida humana no nosso planeta nasce de mulher. A única experiência unificadora, incontestável, partilhada por todos, homens e mulheres, é o período de meses passado a formar-nos no colo de uma mulher. Uma vez que os pequenos do homem necessitam de cuidados muito mais tempo do que os outros mamíferos, e uma vez que a divisão do trabalho desde há muito estabilidade nas sociedades do homem atribui às mulheres a quase total responsabilidade pela criação dos filhos para além de os criar e amamentar, Nós temos as primeiras experiências de amor e de decepção, de poder e ternura, através de uma mulher.
Toda a vida e até na morte, guardamos a impressão digital desta experiência. No entanto, estranhamente, há pouco material que nos ajude a compreendê-la e a utilizá-lo. Sabemos muito mais sobre os mares que navegamos do que da maternidade... há muitos elementos a indicar que a mente masculina sempre foi obcecada pela ideia do dever a vida a uma mulher, o esforço constante do filho para assimilar, compensar ou negar o Feito de ter nascido de mulher.
As mulheres também nascem das mulheres. Mas sabemos pouco sobre os efeitos culturais deste facto, porque as mulheres não foram as protagonistas e as portadoras da cultura patriarcal... expressões como ' Estéril ' ou ' sem filhos ' foram utilizadas para lhe negar qualquer identidade adicional. O termo "não pai" Não existe em nenhuma categoria social.
O fato físico da maternidade é tão visível e dramático que o homem demorou algum tempo a perceber que ele também tinha uma parte na geração. O significado de "paternidade" continua a ser tangencial, exclusivo. Ser Pai sugere fornecer espermatozóides que fertilizam o ovo. Ser mãe implica uma presença contínua, pelo menos nove meses, e geralmente durante anos. A maternidade chega-se primeiro através de um ritual de passagem de grande intensidade física e psíquica - gravidez e parto - e depois com a aprendizagem dos cuidados necessários à criança, que não se conhecem por instinto. Um homem pode gerar um filho em um momento de paixão ou de violência, e depois repartir; também pode não rever mais a mãe, não se interessar pelo filho. Nestas circunstâncias, a mãe encontra-se confrontada com uma série de escolhas dolorosas, tornadas opressivas pela sociedade: aborto, suicídio, abandono da criança, infantil, criar um filho com a marca de "Ilegítimo", geralmente na pobreza e sempre no Fora da lei. Em algumas culturas, espera-lhe a morte pelas mãos da sua família. Algum que seja a sua escolha, a sua mente nunca mais será a mesma, o seu futuro como mulher está marcado por este evento... quase todas as mulheres, mesmo que como irmãs e tias, amas, professores, mães adoptivas, madrastas , foram mães porque dedicaram seus cuidados às crianças... para a maior parte de nós foi uma mulher que nos deu continuidade e estabilidade - mas também as repulsas e negações - dos nossos primeiros anos, e nossas primeiras Sensações, as nossas primeiras experiências sociais estão associadas às mãos, aos olhos, ao corpo, à voz de uma mulher... neste livro eu tentei distinguir entre os dois significados de maternidade, geralmente sobrepostos: A relação potencial da mulher com As suas capacidades reprodutivas e com os filhos; e o instituto de maternidade que visa garantir que esse potencial - e, consequentemente, as mulheres - permaneça sob controlo masculino ".


quarta-feira, fevereiro 15, 2023

DAR A VIDA NÃO É UM PODER , MAS UM FENOMENO DA VIDA


A semântica confunde sibilinamente os fenómenos da vida

Este texto coloca-nos diante de uma leitura revolucionária que diverge totalmente dos conceitos apreendidos nas ultimas décadas sobre o poder do homem e o poder da mulher e da deusa... vai contra todos eles e de um livro de referência para muitas mulheres sobre o culto do "feminino sagrado"...
Trata-se porém de finalmente saber fazer a diferença entre o que são as forças geradoras da Natureza Mãe e da Mulher e o Poder manipulatório do homem…
rlp

“O livre O Cálice e a Espada de Riane Eisler é uma famosa obra que recolhe essas provas da sociedade pré patriarcal (por certo que faz uma boa compilação da mesma), para difundi-las tendencialmente. Eisler apresenta uma abstração simbólica - a Espada- para referir-se ao Poder da sociedade patriarcal, e outra - o Cálice- para referir-se à vida humana auto-regulada da sociedade pré patriarcal. O Poder da Espada, representa o Poder masculino arquetípico do patriarcado: o poder destrutivo, o poder de matar. O Poder do Cálice representa para Eisler, o Poder de dar vida. Dessa maneira contrapõe dois tipos de ´Poderes´, e parece que estamos ante uma obra mágica, feminista, etc. Mas já foi introduzido um equívoco linguístico, porque na manobra simbólica afastamos a verdadeira história; é uma vez mais uma simbologia manipuladora. Esta é a arte da metafísica: que não enxerguemos o que temos ante o nosso próprio nariz, inclusive dentro de nossas entranhas. Porque com essa contraposição o que fica ocultado é que ‘dar a vida’ não é um ‘Poder’ senão um fenómeno da vida que, como dizem Margulis/Sagan mantém-se a produzir mais de si mesma (a autopoiese, a capacidade de gerar).
Não é então um ‘Poder’ que se opõe a outro Poder; porque Poder somente há um, que é o que se opõe à vida; que se origina extorquindo e devastando a vida e mantém-se e expande ao prosseguir tal extorsão. Ou seja, justamente ao contrário da vida que “mantém-se produzindo mais de si mesma”.
Dos fenómenos de condição tão oposta e distinta no podiam semanticamente qualificar-se com a mesma voz, e isso é uma mentira conceptual a mais para que não distingamos entre o Poder e a vida: uma das linhas estratégicas do patriarcado que tem ido ajustando ao longo dos tempos.
O que se opõe, ou o que resiste ao Poder, não deve chamar-se ‘Poder’, a não ser que queiramos seguir o jogo; porque é a vida mesma que trata de regenerar-se sempre e em buscar alternativas para a sua auto-regulação e conservação a pesar das devastações sofridas e das coerções físicas e psíquicas.
Assim chegamos ao surgimento da deusa: para não desvelar a autêntica oposição aos deuses (das representações do Poder) à vida mesma, opõem-se aos deuses masculinos mortíferos, a espiritualidade de uma deusa benevolente; e assim mantém-se oculta a condição humana e perpetua-se a confusão e a mentira.
A semântica confunde sibilinamente os fenómenos da vida (posso andar ou correr, posso comer ou beber, posso engendrar ao um filho) com a realização do Poder que é sempre bloqueio ou destruição de esses fenómenos. A mesma voz, o mesmo verbo, o mesmo substantivo: poder; porém quantos significados mais antagónicos encerra! O verdugo e a vítima; a garra do Poder e a pele da criatura, confundidos. Esse é o melhor disfarce do Poder: a máscara da semântica.

Cacilda Rodrigañez Bustos em El Assalto al Hades

Nota: "O termo autopoiese significa “criar a si mesmo” e foi empregado como atributo definidor dos sistemas vivos. Assim, a vida seria um sistema organizado de forma circular e fechada que, por meio da produção, transformação e destruição de seus componentes, continuamente regenera a si mesmo. Em outras palavras, a vida é um sistema que se produz e se auto-transforma."

sexta-feira, fevereiro 10, 2023

"O espaço-tempo brota do teu caminhar; a cada passo constróis o chão."



"Aqui começa a dissolução dos sábios ('solutio') e dela emana a nossa prata viva."
Donum Dei, século XVII.

"Arentia e Arentio não podem ser compreendidos por outros meios que não os da Alquimia. Na mística de Arentia revela-se a polaridade feminina, húmida e passiva, do mercúrio que tudo dilui no dionisismo cósmico; já em Arentio, as formas são reveladas em angulações apolíneas, concentradas pelo poder solar do enxofre, princípio masculino que actua sobre as águas mercuriais, etéreas, fecundando-as. É a acção de Fohat sobre Koilon, do vento sublime que semeia de vida as águas primordiais da Terra. Espagiricamente, o mercúrio corresponde ao álcool da seiva; o enxofre ao seu óleo volátil, ou essencial, que impregna o álcool com os seus princípios activos, salutíferos. Se Arentio é concentração, Arentia é dissolução, espiral magnética que precipita no mundo a radiação estelar. Do Cosmos para o Cosmos, a deusa sublima-se na matéria salgada que lhe devolve a chave dos dias, libertando-a pela insustentável verdade que cega o néscio e cala o arrogante.
Arentia é um convite à expansão interior, ao movimento que nos conduz à plenitude em nós mesmos, é ela quem medeia a passagem do colectivo ao individual, do concreto para o absoluto onde se esvaem as luzes, as ilusões. A deusa diz-nos: "O espaço-tempo brota do teu caminhar; a cada passo constróis o chão."
In Caderno de Arentia - Issabella Garneche


A inveja é um correlativo da hierarquia patraircal


AS RELAÇÕES DE PODER...


"Em definitivo, se o equilíbrio atual entre os sexos se baseia numa relação de Poder, que em parte se produz de uma forma inconsciente, é lógico que o questionamento dessa relação leve a desestabilização e crise, ou quanto menos, a uma certa inquietude angustiante, sem saber muito bem como manejar isso. São 5000 anos de cultura condensada nos egos masculinos (e femininos).

A hierarquia das diferenças leva inevitavelmente a invejas, umas vezes conscientes e outras muito inconscientes. Às mulheres foi atribuída “inveja do pénis” (já que fomos umas castradas sem sexo); mas também existe uma inveja nos homens do sexo feminino latente, porque apesar da repressão inexorável da nossa sexualidade, sempre houve algo do sexo feminino indelével: as mulheres sempre parimos. E como diz Laing, no fundo do inconsciente masculino também existe a inveja do útero: A ‘inveja uterina’ da função biológica feminina é possivelmente mais profunda que a conhecida inveja do pénis atribuída às mulheres.
Quando o equilíbrio baseado na relação de Poder fica desestabilizado, aflora do inconsciente masculino a inveja uterina latente.

A inveja é um correlativo da hierarquia. A inveja é um sentimento que impulsina ou facilita as relações hierárquico-expansivas, a rivalidade, a competitividade, etc., ou seja, a inveja é uma questão de Poder, das relações de Poder que estamos a questionar. Se na ‘inveja do pénis’ a mulher sentia ânsia de Poder, na ‘inveja do útero’ o masculino sente ânsia de conservação do Poder, medo de perdê-lo. Se nós mulheres temos que sair da perspetiva do Poder, deixar de viver nesse mundo para recuperar o nosso sexo e a maternidade, o homem tem que render o seu Poder e render as couraças levantadas contra o que ameaçava o seu Poder. Ainda que este tema seja abordado no Capítulo V, como adiantamento, isso na prática, como diz Laing, é uma dissolução de nossos egos. Com isso que digo, dá para reconhecer a imensa dificuldade que temos para recuperar a vida exilada no Hades. Como é lógico, a resistência será maior nos homens, porque é mais difícil render o Poder já conseguido que deixar de persegui-lo.

Mas também nós mulheres devemos derrubar um muro, já que o paradigma da salvação que constitui o nosso ego, é um pacto de submissão ao falo. Castradas, desprovidas de nosso sexo, nós mulheres precisamos do Poder do falo para sobreviver, e lutamos e rivalizamos por consegui-lo. Precisamos do Pai que nos salva. E como mudar de uma vez os paradigmas, se nem se quer podemos imaginar que há algo muito melhor que esse ideal de que casar-se com vestido branco com o homem da tua vida?

Por muito que no fundo saibamos que desde logo na vida quotidiana esse ideal não funciona, que o Poder do falo é omnímodo (total) e realiza-se com toda a violência necessária, tanto física como psíquica, (e isso não é uma frase senão fatos provados com as cifras do que chamamos eufemisticamente ‘violência doméstica’), é dizer que ainda que saibamos que é um ideal que se revelou como uma falácia, por não ter outra alternativa na nossa imaginação, encurraladas entre a compulsão de nosso ego e a pressão exterior da Ley, penhoramos a nossas vidas no intento de consegui-lo.

Porém por outra parte, somos criaturas que nos custa realizar nosso ego, nos custa ser os homens e as mulheres que nos ordenaram para sermos. Se estamos a escrever e a ler estas coisas, é porque também custa e produz sofrimento cumprir a ordem estabelecida. Temos que nos dar uma oportunidade, uma margem de confiança, deixar de lado as invejas e as ânsias de auto-afirmação social, e retirar um pouquinho as couraças para permitirmos ver o que é essa outra coisa que está no Hades.
(...)


O PECADO ORIGINAL

“É necessário reconstruir a contradição homem-mulher a partir da negação do corpo da mulher, e portanto aquilo que na Psicanálise tradicional aparece como enfermidade, neurose, desadaptação, etc. converte-se numa contradição material. A mulher encontra-se desde o princípio sem uma forma própria de existir, como se o existir da mulher já se encontrasse numa forma de existência (mulher, mãe, filha, etc.) que a negam enquanto mulher. Ser mãe significa existir e usar o corpo em função do homem, e por isso uma vez mais carecer de sentido e de valor do próprio corpo e da própria existência a todos os níveis.

Esta negação de si mesma esta interiorizada em níveis tão profundos que é como se as mulheres, ao longo de toda a sua história, não tivessem feito mais do que repetir esta história de autodestruição. Por consequência, o discurso sobre a violência masculina, sobre o vexame, a dominação, sobre os privilégios, etc. continuará sendo um discurso abstracto se não tivermos em conta o aspecto interiorizado desta mesma violência, a violência como autonegação, negação duma existência própria. A negação de si mesma é posta em marcha a partir do nascimento, a partir da primeira relação com a mãe, onde esta já não se encontra presente como mulher com o seu corpo de mulher, estando ali como mulher do homem e para o homem. (…)

O facto da menina viver a relação com a pessoa do seu sexo apenas através do homem, com essa espécie de filtro que existe entre ela e a mãe, é a razão mais profunda da divisão que encontramos entre uma mulher e outra mulher; nós as mulheres estamos divididas na nossa história desde sempre, não apenas porque cada uma de nós está unida socialmente ao marido, às e aos filh@s – este é apenas o aspecto visível da separação – a divisão dá-se a um nível mais profundo, ao não conseguirmos olhar-nos uma à outra, ao não sermos capazes de contemplar o nosso corpo sem termos sempre presente o olhar do homem. (…)

Num artigo em “L’Erba Voglio”… insistia na relação interrompida com a mãe, ou no mínimo deformada desde o começo precisamente porque a mãe não é a mulher, apenas “a mãe”, ou seja, a mulher do homem. Do facto de que a mulher não encontra na relação com a mãe o reconhecimento da sua própria sexualidade, do seu próprio corpo, procede depois toda a história sucessiva da relação com o homem como relação onde a negação de tudo aquilo que tu és, da tua sexualidade, da tua forma de vida, já se produziu.”

Lea Melandri, La Infamia Originaria (excertos),
citada por Cacilda Rodrigañez Bustos em El Assalto al Hades


quinta-feira, fevereiro 09, 2023

A FORÇA DA MULHER



"Toda mulher carrega dentro de si uma força natural, instintiva, rica em dons criativos e conhecimento inesquecível. "Mas a sociedade e a cultura têm engolido demasiadas vezes esta "Mulher Selvagem", a fim de a forçar a entrar no molde dos papéis atribuídos. "


Clarissa Pinkola Estès

quarta-feira, fevereiro 08, 2023

"Nossa civilização é doentia, hipócrita, psicopata.



Deus pai ou Deusa mãe ?
 
"Dessa dualidade - Deus Pai ou Deusa Mãe - vai nascer uma dupla visão da Deusa dos tempos primordiais: Virgem prudente ou Virgem louca? A questão parece banal, mas ela compromete todos os séculos que irão seguir-se, não apenas no plano puramente estético, mas naquele muito mais carregado de consequências, da especulação religiosa. (...)
Isto denota uma considerável evolução das mentalidades: tudo se passa como se tivesse querido, conscientemente ou não, eliminar a imagem de uma mulher divina forte em proveito de um homem divino todo poderoso, cuja relação com a mulher se limitaria a uma relação filho-mãe. "
(...)

IN A GRANDE DEUSA  - Jean Markale


ESTE É UM TEXTO publicado em 2014 (de autor anonimo?) e que continua super actual... diria, mais do que nunca evidente!

"Nossa civilização é doentia, hipócrita, psicopata. Autoridades religiosas nos ensinaram que somos pecadores, que somos um erro da Natureza, um erro de Deus: estranha concepção do Divino.
Deus seria um pai incompetente, que mandou seu filho único sofrer, de maneira inútil, para salvar a turma de vagabundos que somos e fracassou. Não é bem assim: Deus não é neurótico, nem somos vagabundos.
Há cinco mil anos atrás, mais ou menos, ocorreu uma revolução, quando a humanidade passou da vida perigosa da caça, devendo enfrentar feras, para a vida mais tranquila dos pastores de rebanho. Antes, quem dominava era a mãe, a vida, a intuição da mãe, capaz de avisar os caçadores: "Não vão por aí, tem feras. Mas, para lá, vão encontrar caça." Com a vida mais tranquila dos pastores, essa faculdade pareceu menos importante e o Pai pôde tomar o Poder. Ele tinha medo do Poder feminino: proibiu. Faz cinco mil anos que é proibido ser mulher. Ser mulher é um pecado imperdoável em um mundo patriarcal. A Bíblia começa pela culpa, continua pela culpa, acaba no Apocalipse da culpa e a culpa é de quem? Da mulher!
A imagem máxima em nosso mundo interior é a imagem de um Deus Pai. E a Mãe? Fazemos de Deus uma palavra masculina: é um erro de gramática que, de maneira subtil, condiciona nosso inconsciente. Rezamos o "Pai Nosso", sem perceber que essa oração distorce nossa inteligência, nossa alma, nossa sensibilidade, nosso destino. Deveríamos rezar "Pai Nosso, Mãe Nossa. Mãe Nossa, Pai Nosso". Os Evangelhos contam que Jesus ensinou essa oração. Os Evangelhos não estão bem informados. Existe ainda um monólito da Babilónia, gravado dois mil anos antes de Cristo, que contém, palavra por palavra, essa oração patriarcal. Somos condicionados a perceber apenas a metade masculina do Divino, apenas a metade masculina da Realidade. Mas quem percebe apenas a metade, não é capaz de compreender a metade! Esse mundo que rejeitou a dimensão feminina da Realidade não é um mundo masculino, mas apenas um mundo patriarcal, um mundo de pastores de ovelhas. Até hoje, algumas pessoas se dizem Pastores. Não somos ovelhas. Somos gente.
Jung, de maneira confusa, fala dos arquétipos que condicionam o inconsciente colectivo. Os egípcios antigos tinham uma concepção clara dos arquétipos. Usavam, conscientemente, os arquétipos. Quando mudava a época, o momento da evolução, tinham a energia, a coragem de destruir templos, para edificar novos templos aos novos Deuses, aos novos arquétipos capazes de orientar uma civilização. A civilização deles perdurou quatro mil anos.
O novo arquétipo capaz de orientar nossa civilização patriarcal em agonia, o novo Deus é a Deusa. Claro que o Divino, no plano espiritual, não tem forma, nem masculina, nem feminina. Mas, no plano astral, no subconsciente, tem uma forma. Consoante a forma que subconscientemente damos ao Divino, a forma que, subconscientemente, damos à Realidade, nossa vida é neurótica ou sadia. Nossa vida era neurótica.
Estamos diante do desconhecido. Os valores femininos foram rejeitados. Nenhuma teoria pode nos ajudar. Uma teoria é apenas um fragmento de Realidade e, pior ainda, lida apenas com o conhecido. Mas, se usarmos a imagem simbólica da Deusa, se imaginarmos e amarmos a imagem máxima do feminino, vamos fazer isso de maneira racional, sabendo o que estamos fazendo. Nossa imaginação vai compreender. Nossa sensibilidade vai compreender.
Vamos sentir, perceber a imensa dimensão feminina do Universo. Então, vamos também perceber a verdadeira dimensão masculina da Realidade. Vamos perceber a Realidade e a Realidade é linda: é divina.
Para descer ao mais profundo, precisa subir ao mais alto. Para dominar o subconsciente mais escuro, precisa ter acesso ao supra consciente. A viagem para encontrar Lilith começa com uma viagem a Urano, uma viagem ao supra consciente."*
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in janela da alma


terça-feira, fevereiro 07, 2023

Nascemos e crescemos com essa ferida...



A FALTA DA MÃE É A NOSSA FERIDA DE AMOR...

"O "Bem" já é natural nas mulheres devido a sua função de maternidade, ou seja, o "bem" tinha que existir nas "mães" para que estas pudessem cuidar dos filhos."
Jan val Ellam

...O desejo ou obsessão do amor em geral e em exclusivo de alguém que nos preencha e complete é talvez um sintoma de uma doença baseada na imperfeição da humanidade, um estigma que nos marca logo ao nascer neste mundo que é assinalada como fonte de "pecado" por sermos filhas e filhos de Eva? Trata-se então como que de uma imperfeição congénita, uma condenação a priori, uma incompletude em que sofremos a separação de algo essencial ao nascermos...
Nascemos e crescemos com essa ferida, e por mais que tenhamos consciência ou intuição dessa quase anomalia - essa falta que nos projecta na busca incessante de algo - ela continua ou existe como um registo inconsciente, celular, impossível de descartar por vontade própria, assim só porque disso temos consciência... Nada podemos fazer para colmatar esse vazio...ele é existencial. 
Podemos levar uma vida inteira a tentar superar este vazio no anseio ou sonho, ou quem sabe levamos muitas vidas para entender o mistério... 
À partida, a busca de nós mesm@s leva-nos a busca do "outr@"", e começou na mãe ou no pai, no amante depois, mas todas somos vitimas dessa necessidade de consolo ou do abrigo, de protecção, e até de defesa, seja pois através d@ amante quer na mulher quer no homem, e isso é o sinal da nossa separabilidade e incompletude à nascença, por isso todos queremos voltar aos braços de uma Mãe Maior ou ao seu útero, ou simplesmente à origem - sendo que o homem e busca isso na sexualidade tentando entrar de novo no utero da mãe o que no fundo representa a busca desse AMOR-UNIÃO que todos/as procuramos - e essa é certamente a grande dor da solidão aquando da nossa caminhada na terra e a razão porque nascemos presos por um fio, um cordão umbilical e procuramos toda a vida o prolongamento desse fio, o Fio de Ariana; Ainda e sempre a Mãe, a Mulher-Deusa ou um Deus-Amor que nos faça sair do Labirinto, ou da nossa cegueira congénita...queda na matéria...
Mas eu pergunto, haverá no ser humano essa possibilidade de em si mesmo conseguir colmatar essa ferida ou esse vazio pela plenitude em si, ou cabe apenas a mulher, possuidora do dom da maternidade e da ternura, do "bem", essa qualidade e que quando ela Mãe falha, o mundo se desmorona aos olhos da criança de do adulto?
Haverá na mulher e nesse mistério inato do seu ser que nos serve de matriz e nos alimenta e nos forma enquanto seres equilibrados porque amados, a resposta a essa separação da origem?
A ser assim, a divisão da mulher e a criação da sua cisão e condenação pelo sexo, "o pecado" da criação ou o erro cósmico do criador caido? - levou a mulher perseguida pelo deus iracundo a alienar-se desse seu dom e poder e por isso a humanidade hoje é deficiente e cruel - uma humanidade sem Mãe - e portanto surge e prolifera o predominio da violência através do poder masculino em resposta a essa ferida, domina as sociedades, sendo a Mulher-Mãe uma das suas maiores vitimas?
rosa leonor pedro


um choque eléctrico...



A FALTA DA MÃE NO MUNDO, UMA VIDA SEM VIDA. O ERMO EMOCIONAL.
É a falta do amor da Mãe e ódio-inveja da mulher e do Útero que gera imagens grotescas e aberrantes como estas que estão a ganhar espaço numa sociedade totalmente alienada da sua essência e da essência do feminino.


"...um mundo sem a divindade MÃE é um mundo material desprovido de cor e vida, de matéria despida de significado, um mundo desvitalizado transformado em pedra.
(...) 
se é através das mulheres que muitos homens recebem alguns ingredientes essenciais à manutenção da vida, é lógico que tais homens se esforcem por controlar as mulheres, em especial se não gostam particularmente delas e não querem admitir a sua própria dependência.
(...) 
A sexualidade, criatividade e a procriatividade estão afectadas, por uma ferida que está presente quando estamos desligados do que sentimos.
A sexualidade pode manifestar -se então, maquinalmente, ou ser considerada como uma proeza em que um indivíduo se tornou perito, ou como uma expressão de poder e domínio. (Valores acalentadas pelo patriarcado, com a ênfase na aquisição de poder, levando à perda da alma e desvalorização da anima, ou do Feminino, tanto na mulher como no homem )
A criatividade é inibida por um juiz crítico (interno ou externo ) , céptico, denegrido ou perfeccionista. A atitude que prevalece é a exploração ou uso das pessoas como um recurso descartável.
Quando o rei ferido e dominador governa como arquétipo acima da cultura, família ou personalidade, acaba por surgir um ermo onde nada se desenvolve. O mandato do rei é para acumular poder e erigir defesas seguras. Acontece que são esses os valores que também governam numa cultura patriarcal. Tempo e energia para sentimentos pessoais, laços emocionais, expressividade e individualidade, amigos íntimos, (...) são concedidos de má vontade.
Não se ter acesso a essas fontes de renovação pessoal mina, finalmente, a capacidade de ser criativ@ , de disfrutar a sexualidade ( não a pornografica ) e a sensualidade, de se ter sentido de humor ou de se ser afectuos@ .

QUANDO É QUE HÁ TEMPO?

A matriz maternal que as mulheres oferecem sustenta a vida.
Uma explicação pela perda devastadora que grande parte dos homens sente quando as mulheres os deixam , e, para o seu frequente comportamento estranhamente irracional e até destruidor, que muitas vezes depende muito mais da perda dessa matriz ( a mãe partiu ) do que com a perda daquela mulher em si.
O PODER DA DEUSA, QUE SE MANIFESTA POR MEIO DAS MULHERES, É UMA MATRIZ EMOCIONAL que convida a uma fusão ou simbiose inconsciente e transmite uma sensação de "chegada a casa "."

"" Jean shinoda bolen - psiquiatra / escritora