O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, maio 28, 2023

“Colocarei inimizade entre ti e a serpente”

Javé sempre odiou as mulheres...



"A serpente é um símbolo que sempre foi presente nas duas partes da história humana, na gaiática – e não só no Neolítico- e na patriarcal. Temos um dente de mamute com três serpentes gravadas, com as suas cabeças perfeitamente desenhadas, datado do ano 24.000 a.c. Na primeira a serpente simboliza a geração da vida, o erotismo do corpo de mulher, o bem estar humano. A serpente vem da água mas é também da terra como a vida; é de agua e de terra, e além disso pela sua pele mucosa relaciona-se com o húmido. O seu serpentear e a sua flexibilidade são qualidades admiráveis, como as do tecido muscular e da vida mesma; e o seu movimento ondulante faz que associa-se com a voluptuosidade feminina; a sua renovação da pele em cada estação, o seu apego à terra, etc. Tudo isso, e num contexto de uma sensibilidade humana em sintonia gaiática fez dela símbolo da vida e desse remoto âmbito feminino do mundo das mães.
Na sociedade patriarcal, não foi por escolha, veio imposta como um símbolo da libido e da função feminina, integrado, como essa mesma função, nas relações sociais e dentro de cada ser humano, até a medula e no profundo das consciências e dos inconscientes.
Por isso os mitos sobre as origens de nossa sociedade patriarcal tem como um dos principais objetivos, dar a volta ao significado da serpente, para apoiar a mudança social. Zeus mata a Tifão, quem era o monstro da escuridão, para que a luz fizesse-se sobre a Terra; logo Apolo mata a filha de Tifão, a serpente Pitão. (...)
As fundações das principais cidades da Grécia patriarcal, tem quase sempre um mito de base que inclui a derrota de alguma serpente monstruosa por parte do herói: Cadmo, para fundar Tebas; Perseu para fundar Micenas, etc.
Quando começa a sociedade de realização do Poder em contra da realização do bem estar, a função feminina resulta um impedimento: primeiro ela é submetida pela força física; e os deuses e os heróis destinados a configurar o modelo de ser humano, devem lutar fisicamente e vencer as serpentes. Logo as amazonas que resistem são levadas com as suas serpentes para o Hades. Depois, como não era suficiente, veio a malignização da função feminina, ao dizer que na mulher está a origem do mal e que nenhum mal é comparável à maldade da mulher. Então, junto à satanização da sexualidade feminina, inventa-se o Inferno e sataniza-se também a serpente que a simbolizava.
Ante uma realidade com minúscula tão contundente e presente na vida quotidiana, tem que construir-se uma realidade contundente e presente no imaginário coletivo para neutralizá-la, e essa realidade é o Inferno, o demónio e o medo ao castigo eterno.
“Colocarei inimizade entre ti e a serpente” disse Javé explicitamente, ou seja, te retirarei a tua sexualidade: paralisarei o teu útero, tornaras-te ‘histérica’, parirás com dor e o homem te dominará, aí está o destino da nova condição da mulher."

O Assalto ao Hades - Cacilda Rodrigáñez

sexta-feira, maio 19, 2023

A RAIVA CONSCIENTE

 

Com o que é que estás zangada?


Eu era uma menina zangada. Lembro-me de ver coisas de que não gostava ou coisas que eram injustas, ou pessoas a mentir, abria a boca e deixava sair.

Fazia-me ouvir. Quer fosse na escola, com os professores, com os colegas, com os meus pais, com o meu irmão, com a minha avó.

Estava ligada à minha raiva e isso trouxe-me clareza em vários momentos e também me ajudou a tomar uma posição em relação a coisas que eram importantes para mim. Mas eu era uma criança e depressa descobri que não era seguro para mim expressar a minha raiva ou a minha clareza porque os “adultos” à minha volta não gostavam disso.

Cheguei a um ponto em que passei a ter medo de ficar zangada. Fiquei com medo do meu próprio poder. E bloqueei-o.

Para sobreviver, reprimi a minha raiva, para fazer parte, para ser aceite, para ser amada, tornei-me cada vez mais hábil em adaptar-me ao ambiente, às necessidades, humores, emoções e sentimentos das pessoas. Treinei-me a ler o espaço energético em que me encontro e a “prever” o que vai acontecer e a estar um passo à frente.

Não dizia o que queria, não dizia o que pensava, o que sentia, matava a minha clareza na hora. E fingia que não estava a ver o que estava a ver.

A raiva era errada e perigosa, este era o thoughtware que eu estava a utilizar para me relacionar com a minha raiva.

No ano passado, fui pela primeira vez a um Expand the Box e apercebi-me de que podia escolher pensar de forma diferente sobre a minha raiva e os meus outros sentimentos (medo, alegria e tristeza). A possibilidade que me foi apresentada foi a de pensar neles como neutros, nem bons nem maus, apenas neutros e, a partir daí, relacionar-me com eles como uma fonte de energia e informação que posso usar na minha vida para fazer escolhas, tomar decisões e seguir impulsos, por exemplo.

Estava tão curiosa sobre isto, como é que pode ser? Como é que pode ser feito? Como é que pode ser experimentado ???

A resposta veio com uma prática chamada Standing Rage.

” Quem quer fazer isto?”

Algumas pessoas deram um passo em frente. Durante os minutos que se seguiram, assisti a algo que nunca esquecerei: um espaço de mais de 20 pessoas, dando espaço a 3 pessoas para entrarem em fúria total!!!

Fiquei em êxtase! O meu corpo físico estava tão vivo enquanto observava aqueles homens e mulheres a entrarem na sua raiva. Apetecia-me chorar, apetecia-me rir, apetecia-me fazê-lo !!!

“Quem quer ser o próximo?”

“Eu quero!”

E eu fui. Libertei a minha raiva, usei palavras, senti-a a percorrer-me. E quando terminei, vi pessoas a apreciarem-me por ter ido lá.

Nunca tinha experimentado algo assim antes. Aquelas pessoas estavam lá comigo, como eu tinha estado com os outros antes de mim. Estavam a olhar-me directamente nos olhos e a celebrar a minha raiva.

Sinto-me tão triste por tê-la reprimido durante tanto tempo. Sinto-me triste que outras mulheres o façam.

Depois de um dos momentos de cura que ali vivi, uma mulher olhou-me directamente nos olhos e estendeu-me a mão, convidando-me a um compromisso silencioso. Naquele preciso momento, não tinha consciência de que estava a comprometer-me com algo. Hoje sei que me comprometi.

Havia algo nos seus olhos, para além dos seus olhos. Algo em que penso muitas vezes. Ela sabia algo, sabia algo sobre ela e sobre mim. Sabia algo sobre as mulheres que ela havia descoberto, que tinha tocado de alguma forma e que estava a partilhar comigo nesse compromisso silencioso.

Eu não sabia dizer o que era. E eu queria-o tanto. Ela tinha um fogo nos olhos, um fogo na alma, uma selvageria profundamente enraizada em si própria, sem necessidade de palavras, sem necessidade de nada mais do que presença e ligação naquele pequeno momento em que nos encontrávamos.

Ela estava consciente do seu poder como mulher, mas também estava consciente do poder da sua raiva.

Pela primeira vez, tive a experiência de ser olhada nos olhos por uma mulher adulta. Uma Guerreira estava a olhar profundamente para o meu Ser e eu ouvi o chamamento.

Um chamamento antigo e profundo que liga todas as mulheres, de todo o lado, do lugar mais profundo de si próprias.

É uma semente, uma semente de tambor que cada uma de nós mulheres tem, esta semente está a dormir e é despertada com Raiva Consciente.

Esta semente torna-se então um farol, no meio do nevoeiro, ela brilha não importa o que aconteça e é agora visível para outras mulheres. Depois disto, tudo o que precisas de fazer é sair para o mundo e estar com, permitires-te ser vista, olhar para as outras mulheres nos olhos e estender a tua mão num compromisso silencioso e antigo.

Quando entrares nos domínios da tua Raiva, serás a semente que desperta outras mulheres. Quando entras nos domínios da tua Raiva, crias espaço para seres, para sentires, para dizeres sim e para dizeres não. Quando entras nos domínios da tua Raiva, tornas-te uma força de ligação de Gaia. Tornas-te um dínamo em Presença. Tornas-te uma Voz. Tornas-te Tudo.

Quando entras nos domínios da Raiva, crias um caminho que se torna visível para outras mulheres seguirem.

Ver uma mulher entrar em contacto com a sua Raiva é uma das coisas mais bonitas que já vi. Estar na presença de uma mulher que está a expressar a sua Raiva pura é tão inspirador, tão contagiante, tão poderoso.

É uma dádiva ver uma tempestade tomar consciência de que é uma tempestade, um mar revolto, um tornado em chamas, que bênção.

Que bênção.
Com Amor e Raiva,

Sónia Maia Gonçalves

quinta-feira, maio 18, 2023

Segundo o mundo dos bruxos...



AS MULHERES SÃO MAIS INTELIGENTES...

"O ponto de aglutinação dos homens olha para fora e o das mulheres para dentro. Isto proporciona uma maneira diferente de interpretar e de perceber, uma visão diferente das coisas. Os bruxos têm insistido desde sempre nessa grande diferença entre homens e mulheres.
Segundo o mundo dos bruxos, as mulheres sabem coisas de uma maneira natural.
Sabem de uma forma que a mente masculina não pode conceber.
A socialização demanda que os homens ditem as normas, o que faz com que se sintam “sagrados”.
Para que este processo funcione, a socialização destroçou as sensações femininas.
As mulheres são mais inteligentes, mas não estão interessadas na taxonomia em estabelecer categorias. Taxonomizar é uma condição masculina. Deixem que eles estabeleçam suas categorias e medidas, vocês não têm por que fazê-lo. Para que teriam que fazê-lo?
Vocês devem ser conscientes do que os homens têm feito a vocês. Inclusive o desejo de liberação, do último século, por parte das mulheres tem sido criado e induzido pelos homens. Desta forma a mulher “liberada” repete os padrões masculinos.
Eles brincam com o papel de “coitados bebezinhos” que vocês cuidam e amamentam. Por que o permitem?..."

Excerto da palestra de Carlos Castanheda num Seminário de Mulheres em Los Angeles

Nota: A taxonomia é a ciência que descreve, classifica e nomeia os seres vivos. Através da taxonomia, as plantas, animais e outros organismos são descritos e organizados em categorias de acordo maioritariamente com as suas caraterísticas externas (morfológicas).


Temos de voltar a Essência primeira...



EM TODOS OS TEMPOS, desde que o patriarcado se instalou, e a teia constitutiva da natureza e da Mulher mãe foi desfeita, ANULADA a força original da mulher, o conhecimento humano foi todo ele submetido a uma única ideia e pensamento, o masculino- "penso logo existo" - e hoje ainda, quase todos os intelectuais e filósofos e psicanalistas partem das mesmas premissas erradas (de poder) sobre as mulheres - mesmos os mais modernos, adoptam em relação às mulheres as ideias e os conceitos de uma época passada. Tal como Freud, pensava "que as mulheres são intelectualmente inferiores, têm um super-eu mais fraco, são pouco talentosas para a sublimação, são narcisistas, invejosas, rígidas, etc.", a grande maioria dos "grandes homens" do conhecimento, referências em todas as universidades, pensam em relação a mulher como os mais preconceituosos religiosos e estadistas no mundo. Eles nunca vão para lá dos seus enunciados teóricos e religiosos, os mais arcaicos.
Perante o argumento de que as mulheres hoje em dia são na sua maioria também formadas nas universidades e académicas, essas mesmas mulheres académicas, professoras, advogadas, doutoras e escritoras, partem quase todas, das mesmas premissas que os homens seus guias e mentores e professores e mestres "consagrados" pelo sistema que as controlam e submetem e vulgarmente as "seduzem" - como recentemente se percebeu como nas universidades e lugares de relevo, os supostos homens sábios e mais velhos tenteriam a abusar das suas alunas etc., o que era tacitamente aceite e escondido ....
Na verdade, todas essas mulheres, não sabem a origem ou fonte da sua força nem sabedoria inata (pois não reconhecem o seu lado instintivo, o lado telúrico e ontológico que as liga ao útero e ao coração) e enchem-se de conceitos e pensamentos masculinos - adquirem um ego masculino - sobre a sua própria existência VAZIA tal como os homens.
AS mulheres não são existencialistas, tal como Simone de Beauvoir premissa da qual ela partiu, apêndice de Sarte, elas são essencialistas mas desconhecem a sua essência humana e divina. Elas são as iniciadoras dos homens (como diz Étienne Guillée) tal como são as mães d@s filh@s, as geradoras da espécie, e que alimentam a criança no ventre e depois no seu colo, elas são as criadoras do sentido de pertença e união... mas elas não sabem o seu Dom inato - perderam-se de sim mesmas e perderam o fio da meada...há muito que deixaram de ser as TECEDEIRAS da vida e do amor...
Temos de voltar a Essência primeira, à Matriz original do Mundo porque é o FEMININO essencial, o lado do Ser que nos levará de novo à Consciência do Sagrado na Terra e da Mãe!

rosa leonor pedro

segunda-feira, maio 08, 2023

A origem dos rituais iniciáticos...


A Maternidade, condição estritamente feminina, terá sido o primeiro acto Mágico 
(seguido da produção do fogo).

As reminiscências da vida anterior à separação traumática no parto podem ser responsáveis pelas fantasias arcaicas de uma idade de ouro esquecida.

A origem dos rituais iniciáticos, em que se pretende emular um segundo nascimento do qual a mulher não participa, parece ser também a maternidade. Mulheres (quando lhes permitido) e homens renascem então, como filhas e filhos de um sacerdote masculino e de uma contraparte imaterial feminina - a escritura sagrada, a mãe de deus, ou o arquétipo da sabedoria.
Em todas as tradições religiosas mundiais ecoa o rapto da mais genuína e elevada forma de amor - o amor maternal, que foi então convertida e reconfigurada, num conceito abstracto e irrealizável de amor universal, amor cósmico e amor divino.
O amor e a conexão, ou o sentido de pertença, enraizamento e identidade, como necessidades biopsíquicas e espirituais dos seres humanos, permanecem insuperáveis. Esta relação do vínculo materno com a nova alma que reentra no mundo da vida, não conseguiu ser empalidecida pela criação de uma divindade que suprimisse a mãe e a mulher.

Uma dessas memórias longínquas, da glória do amor materno, sobreviveu no épico Mahābhārata. Inserida no livro Anuśāsana, a história é relatada pelo príncipe guerreiro Bhīṣma ao seu sobrinho Yudhiṣṭhira. Assim se traduz o texto:
Yudhiṣṭhira perguntou então a Bhīṣma: "Quem sente mais prazer durante a união sexual, o homem ou a mulher?" Em resposta, Bhīṣma contou uma história sobre o Rei Bhaṅgāsvana.
Bhaṅgāsvana era um rei piedoso que não tinha filhos. Para corrigir a situação o rei executou o o procedimento Mágico denominado agniṣṭuta. Uma peculiaridade desse ritual é que exclui o deus Indra. Por esta razão, Indra sentiu-se insultado e planeou a sua vingança.

Um dia, o rei foi caçar na floresta e Indra retirou-lhe a capacidade de orientação e a força vital, deixando o rei confuso e perdido. Vagueou sozinho e sentiu-se cansado, com fome e com sede, até que encontrou um belo lago com água pura. Depois de levar o seu cavalo a beber, entrou no lago para tomar banho e saciar a sede. Para sua surpresa, quando entrou na água, transformou-se numa mulher.
Ao olhar para a sua imagem reflectida no lago, sentiu-se confusa, envergonhada e ansiosa. Sem saber como reagir pensou em como cavalgar como uma mulher, e em como voltar para o reino, pensou nos seus súbditos e na reacção do povo. Mas o rei encheu-se de coragem, vestiu as suas roupas e cavalgou de volta ao reino, surpreendendo todos os que a viram. Explicou o que havia acontecido, pediu aos seus cem filhos que governassem e abraçou uma vida de retiro espiritual num eremitério na floresta, onde conheceu um espiritualista com quem contraiu um novo matrimónio, e deu à luz mais cem filhos.
 
O rei, agora mulher, retornou ao reino para se reunir com seus filhos mais velhos. Apresentou os mais novos aos mais velhos, pediu que cooperassem pacificamente e retornou ao eremitério na floresta. Os seus 200 filhos tornaram o reino próspero, o que indignou o deus Indra que engendrou uma nova vingança.
O deus Indra, que queria prejudicar o rei, pensou que afinal lhe tinha concedido uma bênção.
Indra decidiu semear a discórdia entre os irmãos. Disfarçado de conselheiro ministerial incitou os irmãos a se odiarem. Seguiu-se a guerra em que os 200 filhos acabaram perder a vida, o que deixou Indra feliz.
A mãe, recebendo a notícia da morte dos filhos, chorou amargamente. E Indra, ainda disfarçado de conselheiro ministerial, dirigiu-se a ela e perguntou: - "Bela senhora, por que choras tão amargamente? Não é comum a uma mulher espiritualista (yoginī) reagir com lágrimas." A mulher explicou que outrora foi um rei, e que acabara de perder todos os seus 200 filhos.
Indra sentiu então o doce sabor da vingança. Desvelou a sua fisionomia como Rei dos Céus e explicou que se sentiu insultado por não ter recebido nenhuma oblação do rei e decidiu vingar-se fazendo com que seus filhos se matassem. A mulher pediu perdão ao deus Indra e explicou que não teve a intenção de insultá-lo, tinha seguido tão somente os procedimentos mágicos para poder gerar filhos.
Indra ofereceu-lhe uma bênção: "Posso ressuscitar cem dos teus filhos. Quais, entre os cem, gostarias que ressuscitasse?". A mulher respondeu: "Por favor, reviva os filhos que nasceram de mim nesta forma feminina." Surpreso, Indra perguntou: "Mas por que tens mais afeição por estes?" "O amor de uma mãe", explicou, "é mais forte do que o amor de um pai." Indra ficou muito satisfeito e ressuscitou todos os 200 filhos. Ofereceu-lhe ainda mais uma bênção: "Também te dou a opção de recuperar a tua forma masculina ou pode continuar a ser mulher. Qual é a forma escolhes?" "Prefiro permanecer como estou", disse ela. "Não quero ser um homem novamente." Indra perguntou a razão de tal escolha. Ela respondeu: "Eu conheci a união sexual tanto como homem quanto como mulher. Tenho mais prazer como mulher." *

Ananda Krishna Lila*
*A tradução do texto foi elaborada com a simplificação de algumas frases e palavras

sexta-feira, maio 05, 2023

O ego é um mecanismo de sobrevivência:


"O ego é tão patológico para a criatura humana como é o fratricídio para a fraternidade.

"Ronald Laing diz que a verdadeira saúde mental implica, de uma forma ou outra, a dissolução do ego normal. Até esse ponto o ego é uma perversa impostura.

Em realidade, como diz a Polla Records, não somos nada.
O ego é um dispositivo que fabricamos para nos adaptarmos a este mundo; porque de outra forma, psiquicamente não poderíamos suportar nem aguentar viver nele. A manipulação sistemática das reacções de sobrevivência, junto às imagens, os conceitos e outras formas de representação, formam, numa parte de nossa psique, o ego.
O ego é uma imagem falsificada de nossos sentimentos e emoções; uma determinada percepção de si e de como devem ser a nossas relações com os outros. Uma introjeção da sociedade em nosso corpo que faz com que nos tornemos agentes da realização do Poder, por activo e por passivo.
Origina-se como mecanismo de sobrevivência para ‘viver’ com os desejos anulados, e num entorno devastado onde levantaram um mundo que funciona ao revés da vida, com luta fratricida, competitividade, possessão. O ego é tão patológico para a criatura humana como é o fratricídio para a fraternidade."

O assalto ao Hades - Cacilda Rodrígañez

quinta-feira, maio 04, 2023

A doença mais perigosa é a infecção espiritual, um estilo de vida doentio

Incrível descrição a mais exacta e realista que jamais li sobre a America...


A AMÉRICA - O Estado do Vazio


De apenas um Estado no mundo se disse que passou da barbárie para a decadência sem conhecer a civilização e esta primazia nada invejável é dos Estados Unidos da América.
Uma pátria sem pais, um não-lugar desprovido da transmissão natural de valores entre gerações caracterizado por uma única lei, a do mercado. A ética calvinista dos Padres Peregrinos que colonizaram a América do Norte, baseada no rigor, na moderação e no fanatismo determinou o espírito do capitalismo.
Para a Reforma Protestante só os predestinados são salvos para a vida eterna, os escolhidos são aqueles que através do trabalho criam riqueza, sinal da preferência divina.
A partir dessa doutrina aberrante, só poderia formar-se a perversa mentalidade da fortuna económica a qualquer custo, da exploração de todos os recursos naturais e dos mais fracos, do triunfo do egoísmo como sentimento característico do capitalismo. Uma nação fundada em semelhantes valores negativos só poderia tornar-se o posto avançado da decadência, o caldeirão das modas mais estúpidas e vulgares, onde a cultura é substituída pela tecnologia e a mente regride ao nível infantil.
A sociedade narcisista das aparências em que se deve ter tudo e imediatamente, sem sacrifício e sem o verdadeiro conhecimento que é o conhecimento espiritual. Destruindo deliberadamente as tradições para uniformizar o povo num só rebanho condicionado para o consumo compulsivo, as forças de subversão que agitam o mundo nos bastidores da história difundiram a mentalidade do capitalismo triunfante.
Ao anular o folclore da alma dos povos numa mistura patológica de usos e costumes, a sociedade multiétnica enfraquece as estruturas mentais. Culturas incompatíveis e línguas incompreensíveis determinam o empobrecimento da vida interior e o enfraquecimento do pensamento. A violência crónica da sociedade estado-unidense com os seus massacres sem motivo, com os motins raciais, com a delinquência que infesta os bairros mais pobres provoca reações agressivas como defesa psíquica contra o medo, desencadeando embates sociais cada vez mais sangrentos.
O medo do estranho é natural ma psique humana e manifesta-se desde os primeiros meses de vida, induzido por experiências de agressividade ligadas à separação da mãe. Um conjunto de estranhos, sujeitos diferentes e incompatíveis, desencadeia a violência, cuja causa é hipocritamente atribuída à difusão de armas, objectos inanimados e sem vontade, enquanto a verdadeira razão está no transtorno mental em massa característico da sociedade multirracial.
As tradições familiares e tribais geram harmonia, enquanto a existência despersonalizada do mundo tecnológico dos sem-pátria traz sofrimento e dificuldades.
Uma realidade plana sem propósito para além da acumulação, sem sonhos e ideias e uma vida sem espiritualidade estão na origem da alienação capitalista. Da civilização do ser à do ter para acabar no mundo artificial da aparência, ficção para impressionar os outros, outros narcisistas apanhados no redemoinho do exibicionismo.
O efeito final é a dissolução do humano no animal, a hibridação com a máquina, a perda do centro cujo estágio terminal é representado pelo Silicon Valley, símbolo do capitalismo de vigilância.
A falsa democracia americana, na realidade autocracia do dinheiro, é exportada com agressões armadas, com guerras de invasão, com bombardeamentos de povos livres para submetê-los à polícia do mundo.
Nunca guerra no próprio território, apenas ocupação de espaços alheios, corrompendo com o dinheiro os sátrapas locais que traem o seu povo e depois são deixados à mercê da sua vingança.
Noriega, Saddam, os líderes das Revoluções Laranja, da Primavera Árabe, idiotas úteis ao serviço do imperialismo americano, comprados, explorados e depois abandonados a um destino trágico.
Os EUA não são um império que encarne alguma autoridade espiritual, nem portadores de civilização, pela sua risível escassez intelectual, nem uma forja de cultura produzindo exclusivamente modas nocivas à alma. São só criadores de novos mercados e de novos escravos a serem explorados e do mais inferior tipo humano da história: o consumidor de comida de plástico que faz deles um povo de obesos. A civilização nutritiva é sua única conquista histórica, nem monumentos nem obras de arte, nem códigos legais nem panteões de Deuses, apenas técnica, dinheiro e vil materialidade.
O único verdadeiro estado desonesto que perpetrou o genocídio dos nativos americanos para lhes roubar as terras, destruiu cidades europeias com bombardeamentos e lançou bombas atómicas após a guerra.
No final da Segunda Guerra Mundial a abadia de Montecassino, fundada por Benedetto da Norcia em 529, foi arrasada por 144 bombardeiros americanos com um grande massacre de civis. Essa loucura não bélica foi fruto da mais total ignorância histórica, do desprezo pela arte e pela civilização que deu origem à cultura ocidental.
A doença mais perigosa é a infecção espiritual, um estilo de vida doentio e corruptor que reduziu o mundo a um banco. Povos com culturas milenares falam como americanos, vestem-se como eles, copiam o seu estilo de vida, traindo as suas origens e tradições.
Quando nos conformamos com o pior, somos piores do que eles.

Roberto Giacomelli

terça-feira, maio 02, 2023

AS SETAS ENVENENADAS DE EROS E OS TERRORES DE DEUS...




É MUITO IMPORTANTE COMPREENDER AS PROJECÇÕES
 (lembremos Eros e as suas flechas de amor...) 


Maria Luísa de Franz
A relação entre projeção e doença...

"Em cada processo de projeção, há um remetente, ou seja, aquele que projeta algo em outra pessoa, e um receptor, aquele em quem algo é projetado. Curiosamente, estes dois aparecem como dois fatores altamente importantes na história da medicina.
A projecção é encontrada na concepção generalizada entre os povos nativos de projéteis da doença, uma flecha mágica ou algum outro, geralmente um míssil apontado que deixa a pessoa que atinge doente.
Um deus, um demónio ou uma pessoa má atira FLECHAS (projécteis) mágicos nas pessoas.
Extrair o projétil permite que a vítima seja curada. No Antigo Testamento, o próprio Deus atira tais flechas...
(Jó 6:4): “Porque as flechas do Todo-Poderoso estão dentro de mim, o veneno bebe o meu espírito: os terrores de Deus se colocam em ordem contra mim. ”

Ou há poderes demoníacos invisíveis (Salmo 91): 
“Não terás medo do terror de noite; nem da flecha que voa de dia; nem da peste que anda na escuridão; nem da destruição que desperdiça ao meio-dia. ”

Entre as pessoas comuns, geralmente são calúnias venenosas que são experienciadas como tais flechas. (Cf. Jeremias 9:3,8; Salmo 64:4. ) Também podemos notar a relação da palavra alemã Krankheit, que significa "doença", e kränken, que significa "ferir emocionalmente. ”

Ainda hoje falamos de "barbos" e "comentários apontados. ” Na Índia, a palavra salya significa "ponta de seta", "espinho", ou "esplinter", e do médico que remove tais flechas dos corpos de pessoas doentes, diz-se que ele funciona "como um juiz que remove o espinho da injustiça de um julgamento. ”

O espinho é obviamente algo como um mau efeito que criou uma incerteza legal. Psiquiatras e psicólogos sabem que formas pontiagudas ou afiadas nos desenhos e pinturas dos pacientes representam impulsos destrutivos."*

NOTA pessoal:

AS PROJECÇÕES acontecem entre psiquiatras e pacientes, entre mestres e discípulos, entre terapeutas e doentes, nas relações comuns entre pessoas em geral e principalmente no amor ou na paixão em que essa projecção é mais forte ou fatal -  sendo quase sempre uma projecção de foro emocional mais ou menos intensa de um ser para outro ser...em que um é "ferido" ou fica "doente" de amor... O ser fica prisioneiro, dependente do outro...e ai começam todos os emaranhamentos psíquicos  de tortura humana em nome do amor -  ciume, odio, raiva, posse -, que não é mais do que todo o tipo de carência do sujeito a espera de preenchido ou de ser amado...por outro...
Nas mulheres cuja dependência do homem é total, isso acontece de forma viciada e violenta. Mas é essa a história do romance e das tragédias, desde Edipo, entregue pela mãe ao rei que o manda matar...etc. Os mitos dizem-nos quase tudo. Lá estão as chaves do nosso drama. 

rlp


*Maria Luísa de Franz
A relação entre projeção e doença
Psicoterapia, página 121

comentários



Minhas amigas, e leitor@s...


Nem sempre respondo aos poucos comentários que ainda possam fazer, mas quero dizer-vos que eles são muito importantes para mim, leio todos, embora nem sempre possa responder a nivel pessoal as questões que me são colocadas de foro privado. Normalmente procuro responder com textos que possam elucidar essas mesmas questões, mas não posso entrar em aspectos muito subjectivos relativos aos dramas das mulheres que o vivem na pele...espero que me compreendam e não deixem de dar sinais da vossa presença. Tentarei sempre esclarecer através da escrita e não deixo nunca de ter em conta as vossas contribuições em termos do conhecimento dos dramas que todas vivemos e manter a minha visão alargada daquilo que penso ser a nossa necessidade.

Um forte abraço a Tod@s

rlp 

segunda-feira, maio 01, 2023

Homens e mulheres: eles tornam-se "olhadores" e elas "olhadas"




Quem olha o que vemos quando nos olhamos num espelho?


"A fase chamada "stade du mirroir" (fase do espelho) pelo psicanalista Jacques Lacan aparece entre o 6º mês e o 18º mês: é o momento em que a criança percebe que a imagem que ele vê no espelho é "ele".
Já que o espelho é hoje em dia um objeto banal e omnipresente, esquecemos que foi ausente na maioria das vidas humanas. (...) É muito provável que nas sociedades sem espelhos, o "sentimento de si" constrói-se diferentemente que na nossa.
A fase do espelho é já uma forma de desdobramento. Acontece de forma simétrica para os membros dos dois sexos. Porém perto da idade de 6 ou 7 anos, as meninas cindem-se diferentemente dos meninos. O desdobramento é mais profundo e mais permanente. De forma não simétrica, eles tornam-se "olhadores" e elas "olhadas". Em muitas ocasiões, a partir desse momento a menina manterá com o seu espelho uma relação angustiante para não dizer neurótica. Não contente ao ver o que ela vislumbra de si, ela 'criticará' a sua aparência, porque não é mais a través dos seus próprios olhos que ela a vê senão através dos olhos interiorizados do outro, de muitos outros.
Em cada existência de mulher, existe um antes e um depois do desdobramento. Antes, não sabíamos. Éramos espontâneas. Acostumávamos coincidir bêtement (como o fazem os animais) com o nosso corpo. Corríamos, riamos, saltávamos a corda, rolávamos desde o topo da colina até abaixo(...) cantávamos a pleno pulmões. Agora, nos olhamos correr, rir, saltar... Nos tornamos, diz a lengua inglesa, self-conscious: há outr@ 'eu' que julga e mede o 'eu', algumas vezes gentilmente, porém muitas vezes duramente.
Num estúdio importante titulado Ways of Seeing o escritor de origem británica John Berger encontrou fórmulas poderosas para evocar o sentimento do desdobramento próprio às mulheres.

" Uma mulher deve constantemente vigiar-se a si mesma. Encontra-se permanentemente acompanhada por assim dizer pela imagem que ela tem de si mesma. Desde a sua mais tenra infância foi-lhe  ensinado que tinha que vigiar-se a si mesma constantemente. Assim ela termina considerando o observador e a observada nela como dois elementos constitutivos porém distintos da sua identidade de mulher. Ela deve vigiar tudo o que ela é e tudo o que ela faz porque a maneira como os outros a percebem, e em última análise a maneira como  os homens a olham, é da mais alta importância para o que costuma ser considerado "sucesso na vida". O seu próprio sentimento de ser é substituído pelo sentimento de ser se apreciar a si  mesma  através do olhar do outro".

Berger segue dizendo: "Os homens olham as mulheres. As mulheres olham-se a si mesmas sendo "olhadas" por eles. Isso determina não só a maioria das relações entre homens e mulheres, senão também a relação das mulheres com elas mesmas. O observador no interior da mulher é masculino, a observada, feminina. Assim a mulher transforma-se em objeto -e mais particularmente em objeto visual, ou seja em imagem".

Reflets dans un oeil d´homme - Nancy Huston

O NOVO MUNDO




MENTIMOS PORQUE TEMOS MEDO

"Aonde quer que vá, encontrará pessoas mentindo para si . E, à medida que a sua consciência aumenta, vai reparar que você também mente para si mesmo. Não espere que as pessoas lhe digam a verdade, porque também mentem para si mesmas. Você precisa confiar em si mesmo e escolher acreditar ou não no que alguém lhe diz.
Quando realmente enxergamos outras pessoas como elas são, sem levar para o lado pessoal nunca poderemos ser feridos pelo que os outros digam ou façam. Mesmo que os outro mintam para você, não há problema. Estão mentindo porque têm medo. Têm medo de que descubra que eles não são perfeitos. É doloroso retirar a máscara social. Se os outros dizem uma coisa e fazem outra, você estará mentindo para si mesmo se não prestar atenção nos atos deles. Se for verdadeiro consigo mesmo, irá poupar um bocado de dor emocional. Dizer a si mesmo a verdade pode magoar, mas você não precisa ficar ligado a essa dor. A cura é iniciada e toma-se apenas uma questão de tempo para que as coisas melhorem para si." - Don Miguel Ruiz


CHEGAR AO FUNDO DAS NOSSAS CÉLULAS...

"Este mundo de insinceridade que existe dentro de nós, é uma coisa assustadora – nas nossas células, nas…oh! …" - Mère

"... o Novo Mundo não tolera um segundo de traição, nem um grão de pó de mentira – senão não se passa, e ele põe-nos fora e sabe ser perfeitamente brutal. Antigamente falava-se de “dragões” e de “serpentes” que guardavam o “Tesouro” – é uma tradução imagética do real. Tu não brincas com um dragão; se tu não fores puro, ele queima-te. Portanto a batalha é a pureza, é a sinceridade, é a honestidade, a simplicidade verdadeira e divina, senão és posto fora, e a segunda vez será pior do que a primeira. Não nos aproximamos das coisas graves e sérias sem perigo – mas o perigo é só para a insinceridade e para a impureza. " - Satprem

O SEGREDO DE PANDORA

…é o segredo de todas nós, mulheres!


“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “



In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam